How Could This Happen To Me? escrita por Emmy Tott


Capítulo 11
Cada vez pior




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O Shopping ainda estava muito vazio àquela hora. As pessoas costumavam chegar só uma hora mais tarde, horário em que elas já haviam saído do serviço e aproveitavam para relaxar um pouco, fazer umas comprinhas e colocar a conversa em dia.

Andando lado a lado em um dos largos corredores, David e Bel não estavam nem um pouco preocupados com a falta de movimento do lugar. Eles tinham acabado de sair de uma sorveteria e agora passeavam despreocupados, admirando as vitrines das lojas e as fontes luminosas que faziam parte da decoração, tornando-o um lugar muito bonito e agradável para um encontro. Bel ainda não tinha terminado de tomar o seu sorvete, e David apontou para um banco em que eles pudessem se sentar.

-Eu pensei que você não fosse aceitar o meu convite depois daquele dia – falou David enquanto Bel se ajeitava no banco.

-E eu não ia mesmo aceitar, mas você acabou descobrindo o meu ponto fraco: sorvete. Eu não resisto a um sorvete de chocolate com calda de morango! – Bel disse, levando mais uma colherzinha do doce à boca.

-Sabe quem também adora sorvete?

-Quem?

-O Jeff! Mas ele tem alergia a lactose e passa mal toda vez que toma um.

-Poxa... deve ser chato não poder comer uma coisa que você gosta tanto...

-Ah, mas ele não liga, mesmo assim ele toma sorvete quase toda semana.

-Ué, mas você não disse que depois ele passa mal?

-É, mas... bem, depois é depois, não é?

-Que maluco – ela disse, rindo. David a imitou.

David esperou até que ela terminasse o seu sorvete para poderem voltar a andar a esmo pelo Shopping. Não tinha planejado nada de especial, mas só de estar ali com ela já era mais do que suficiente. Bel tinha o incrível dom de tornar todos os momentos que passavam juntos especiais, e David achava aquilo maravilhoso. Porém, quando recomeçaram a andar, ela o surpreendeu com uma pergunta:

-Porque você está fazendo isso, David?

-Isso o quê?

-Bom, primeiro você se oferece para me dar aulas particulares de física, depois esse convite para tomar sorvete. Porque tudo isso?

Aquela pergunta o deixou desconcertado por um momento. Não esperava que ela percebesse alguma coisa suspeita, já que ele vinha se comportando de forma tão natural. Teve medo de que Bel pudesse desconfiar de suas intenções, de que ela descobrisse sua ligação com o Chuck. Mas aquilo era impossível, ela não podia saber de nada. David tentou se controlar para pensar em uma resposta satisfatória. Mas ele não precisou de muito esforço para isso. Na verdade, David se assustou um pouco quando descobriu que não precisava de uma desculpa, porque ele tinha uma resposta sincera para aquilo, e ela não podia ter vindo a sua boca de forma mais natural:

-Porque eu gosto de você!

-Quê? – Bel parou de chofre ao ouvir aquilo.

David parou também e se postou à frente da garota, olhando diretamente para seus olhos castanhos e brilhantes. Ele não sabia bem o que estava fazendo, as palavras simplesmente iam saindo antes que ele pudesse pensar sobre elas:

-Bel... eu gostei de você desde aquele dia da festa. Você chegou com aquele seu jeito, toda atrapalhada... eu não sei como nem por quê, mas você mexeu comigo de alguma maneira. Você era completamente diferente de todas as garotas que eu conhecia, era sincera e pura e... linda...

-David... isso é sério? – murmurou Bel.

-É... é claro que é! Bel, você mexe comigo de um jeito que... de um jeito que nenhuma outra garota mexeu... eu não sei o que acontece comigo, mas quando eu estou com você é como se de repente tudo se encaixasse...

-Dave... – Bel não conseguiu dizer nada mais inteligente do que isso.

Os olhos de David brilhavam como nunca e Bel achou que pudesse ver as estrelas dentro deles. Lentamente, ele foi se aproximando dela. Mas Bel desviou seu olhar para uma vitrine, tentando quebrar o clima.

-Que... bonito... – ela gaguejou enquanto apontava para um ursinho de pelúcia da loja.

Mas David não se deu por vencido. Ele pegou as mãos de Bel e a puxou para mais perto de si, fazendo com que a garota voltasse a olhar para ele.

-Porque você faz isso comigo, Bel? Do que é que você tem medo?

-Não é medo, David! É... insegurança, só isso... sabe, eu não planejei me envolver com ninguém aqui no Canadá, mas...

-Você não gosta de mim, é isso?

-Não! Pelo contrário... eu gosto de você com todas as minhas forças, e é por isso que eu fico assim, tão insegura. O único medo que eu tenho é de estar me envolvendo demais com você e acabar me machucando...

-Você acha que eu vou te machucar?

Bel apenas encolheu os ombros. David ainda tinha suas mãos entre as dele e as subiu até a altura dos braços, apertando-os com firmeza, enquanto lançava um olhar penetrante sobre os olhos de Bel.

-Escuta, Bel! Eu nunca faria isso com você! Nunca pensaria em te fazer mal de alguma forma! Eu quero ficar com você, entende? Quero ficar pra sempre com você... eu quero que entenda que você se tornou muito importante pra mim e que eu faria de tudo para te ver feliz e que... eu nem sei porque estou falando isso tudo... eu só queria que você entendesse...

-Chega, David, não precisa dizer mais nada – agora Bel sorria para ele de uma forma quase que mágica, e por um momento David não soube o que fazer. Só queria ficar ali para sempre, vendo ela sorrindo.

-Isso quer dizer que...

-Eu confio em você – ela finalizou, segurando o rosto de David entre as suas mãos.

Ele afrouxou o aperto nos braços de Bel. Dentro dele, era como se mil pássaros voassem, explodindo em felicidade. Bel aproximou-se ainda mais de David, dando-lhe um longo beijo apaixonado. Dessa vez ela não iria fugir. Estava nos braços de quem ela mais queria no mundo e não ia deixar que aquele momento lhe escapasse mais uma vez. David a enlaçou entre seus braços em um abraço forte e apertado. Ele podia apostar todo o dinheiro que tinha nos bolsos de que era o cara mais feliz do universo.

***

O clima estava tenso na casa de Pierre nos últimos dias. Toda vez que ele saía de casa, era como se um vendaval passasse por todos os cômodos. Por mais que se esforçassem, eles não conseguiam se entender. Pierre sempre chegava em casa com um problema novo e, no resto do tempo, ficava de mal-humor. Peggy não conseguia entender o que estava acontecendo, nem o por quê de tudo aquilo. A cada dia que se passava, ela era obrigada a ver os seus sonhos serem destruídos mais uma vez sem poder fazer nada. Naquele dia, porém, ela tinha decidido colocar, de uma vez por todas, um ponto final naquela história. Chuck não podia manipular a vida deles para sempre. Peggy estava disposta a contar toda a verdade sobre ele, e Pierre teria que acreditar nela.

Já passava das onze, e Pierre continuava dormindo. Sentada na beirada da cama, Peggy o observava enquanto esperava para poderem conversar. Longos dez minutos se passaram até que Pierre finalmente resolveu abriu os olhos. Bocejando e esfregando os olhos, ele também se sentou. Percebendo que Peggy o esperava, ele a olhou com uma expressão confusa.

-Peggy? Quantas horas são?

-Já passa das onze! Onde é que você esteve ontem à noite? Quando eu fui dormir já era uma hora da manhã e você ainda não tinha chegado – Peggy acusou, enquanto se levantava da cama, se postando a frente de Pierre.

-Ah, você já vai começar com isso de novo? – aborreceu-se Pierre, enquanto abria outro bocejo.

-Pierre, nós precisamos conversar sobre tudo isso que anda acontecendo!

-Mas eu acabei de acordar... – resmungou Pierre de mau-humor.

-Acontece que eu não agüento mais essa situação! Preciso entender o por quê disso tudo!

-Não tem nada pra entender, isso é coisa da sua cabeça... tudo está como era antes, agora me deixa dormir... – ele disse, mergulhando a cabeça mais uma vez nos travesseiros.

-Pois eu aposto como tudo isso tem a ver com o Chuck – desesperou-se Peggy. Ela já tinha chegado ao seu limite, e agora estava disposta a dizer tudo o que achava, mesmo contra a vontade de Pierre.

-De novo essa história de Chuck? – Ele disse, se levantando mais uma vez.

-De novo sim! Será que você não percebe que é ele quem está fazendo isso tudo? Ele quer nos separar, e vai acabar conseguindo se você continuar assim...

-Mas do que é que você está falando? Eu já disse que o Chuck é meu amigo, e ele nunca faria isso comigo – impacientou-se Pierre, ficando de pé – antes era ele quem implicava com você, agora é você quem fala mal dele... sinceramente, eu não sei o que acontece com vocês dois, parecem dois malucos!

Pierre deu as costas para ela e foi andando até a porta, de onde pretendia sair para não ter mais que ouvir as acusações de Peggy. Mas antes que ele pudesse alcança-la, Peggy voltou-se para ele com uma determinação de que ele não sabia que ela fosse capaz:

-O Chuck não é quem você pensa que ele é!

-Então me diz você já que acha que o conhece melhor do que eu!

O que mais machucava Peggy era o olhar de desconfiança de Pierre. Mas agora ela já tinha ido longe demais para recuar.

-Será que você não entende que ele quer te destruir? Está fazendo isso porque quer que você sofra.

-Sei... e porque ele faria isso?

-Porque ele tem inveja de você. Sempre teve!

-Inveja de mim? – Pierre parecia acreditar cada vez menos nela - Peggy, isso é loucura! O Chuck sempre teve mais dinheiro que eu, ele sempre teve tudo o que ele queria, porque ele teria inveja de mim?

-O problema do Chuck nunca foi o dinheiro. Ele tem inveja de você porque você sempre foi melhor do que ele, desde a época do colégio! Você sempre foi melhor em tudo, sempre tirava as melhores notas, as garotas do colégio eram todas doidas por você, enquanto que ele sempre ficava em segundo plano. Ele tinha inveja porque, mesmo sem os seus pais, mesmo não tendo ninguém na vida, você conseguia ser mais feliz do que ele e ter todas as atenções voltadas para você. Ele queria ter tudo o que você tinha. Ele queria ser você, entende?

-Não! Na verdade eu não estou entendendo nada. De onde foi que você tirou isso tudo?

-Ora, do colégio, é claro! Eu podia ter poucos amigos, mas sabia muito bem de tudo o que acontecia naquela escola. Eu não acredito que você nunca tenha notado nada...

-Espera aí! Se o Chuck me odeia tanto assim como você diz, então me responde uma coisa: porque foi que ele me chamou para tocar no Simple Plan? Seria de se esperar que ele convidasse outra pessoa que fosse do agrado dele, você não acha?

-Mas não é óbvio? Porque você era o melhor! Ele tentou mais que tudo encontrar alguém que fosse realmente bom no vocal, mas acabou descobrindo, para o seu azar, que nenhum outro timbre se comparava ao seu. Então, ele foi obrigado a engolir toda a sua raiva para te convidar a tocar junto com ele, afinal, ele não queria se a sua banda se afundasse antes mesmo de gravar o primeiro CD por falta de um vocalista decente. Esse foi um sacrifício que ele teve que fazer pelo bem do Simple Plan.

Pierre ouviu a tudo aquilo boquiaberto. Nunca imaginou que Peggy pudesse achar tudo aquilo de Chuck e ficou, antes de mais nada, surpreso com isso.

-Olha, você não acha que está indo longe demais?

-Longe demais? Será que você entende que essa é a mais pura verdade, Pierre? O Chuck te odeia, sempre teve inveja de você! É por isso que ele quer que a gente se separe!

-Quem vai acabar separando a gente é você se não parar de dizer essas coisas!

-Mas Pierre...

-Não, escuta, Peggy! Eu e o Chuck somos amigos desde crianças, desde muito antes de a gente conhecer você. Ele não é assim, você está enganada.

-Você não ia achar que eu estivesse enganada se tivesse ouvido tudo o que ele me disse. Ele quer estragar a sua vida!

-Chega, Peggy! Chega disso! Eu não sei como você chegou a essa conclusão, mas isso é mentira! Chuck é meu amigo e eu confio nele...

-Ele nunca foi seu amigo de verdade – disse Peggy com a voz exaltada. Ela estava ficando cada vez mais irritada com aquela conversa. Tinha que fazer com que Pierre acreditasse nela antes que Chuck o envenenasse ainda mais, mas, quanto mais tempo passava, mas ela se desesperava com a falta de confiança de Pierre.

-Nunca mais diz isso, Peggy! Chuck é meu amigo, nós temos uma banda juntos, somos sócios em uma marca de roupas e, apesar das nossas diferenças, sempre fomos cúmplices e leais um ao outro! Você não pode ficar dizendo essas coisas, isso é tudo mentira! Além disso, Chuck nunca me deu motivos para que eu desconfiasse dele... já você – as duas últimas palavras saíram antes que ele pudesse refreá-las. Ele se arrependeu de ter dito aquilo na mesma hora em que acabava de pronunciá-las.

-Ah, quer dizer então que você não confia em mim? É muito engraçado você dizer isso justo para mim!

-Peggy, eu não quis dizer...

-Eu sei muito bem o que você quis dizer, Pierre! E quer saber de uma coisa? Eu não vou mais ficar aqui discutindo isso com você! Se você prefere acreditar no Chuck ao invés de mim, eu não tenho mais nada o que fazer. Se você quer cair e se esborrachar no chão, o problema é seu. Eu tentei te avisar. Eu tentei fazer com que você enxergasse a verdade, mas você, como sempre, prefere dar ouvidos ao Chuck, não é?

Dessa vez foi Peggy quem virou as costas para Pierre. As lágrimas já começavam a escorrer pelo seu rosto, e ela queria sair dali antes que ele notasse. Peggy desceu as escadas correndo com Pierre em seu encalço, tentando faze-la parar:

-Peggy! Peggy, espera! Para onde é que você está indo?

-Eu vou para a casa dos meus pais. Pelo menos lá eles acreditam em mim. E nem tente vir atrás, Pierre! Eu preciso ficar sozinha agora...

Peggy alcançou a porta e saiu sem olhar para trás. Pierre ainda tentou impedi-la, gritando:

-Peggy, espera! Não faz isso, vamos conversar – mas ela já estava longe.


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