How Could This Happen To Me? escrita por Emmy Tott


Capítulo 10
O que ele anda dizendo pra você?


Notas iniciais do capítulo

Desculpem pela falta de criatividade do título do capítulo... eu fiz uma capa para a fic, queria saber se vocês gostaram...



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A cozinha estava toda bagunçada. A mesa estava repleta de livros e cadernos, alguns amontoados a um canto, e a maioria deles, abertos, exibindo suas páginas cheias de teoremas e explicações. Mas o único que ela estava usando agora era uma apostila, já bem velha, que David havia trazido com ele. Assim que chegou, ele anunciou que iriam fazer diferente daquela vez, já que ficar apenas explicando não estava sendo muito útil, pois Bel não conseguia acompanhar o seu raciocínio.

Assim que chegou, ele disse que seria melhor que Bel aprendesse fazendo alguns exercícios, pois na prática, ela entenderia melhor. Bel não estava muito certa daquilo, mas decidiu tentar mesmo assim.

Agora já tinham-se passado uns dez minutos, e Bel continuava debruçada sobre a apostila, esforçando-se ao máximo na resolução dos exercícios. Enquanto isso, David a observava sem que ela notasse. A presença de Bel o atormentava. Sabia o tinha que fazer, mas duvidava que tivesse coragem para tanto. Entretanto, estando ali, tão próximo dela, ele nem se lembrava mais de Chuck e suas ameaças. Bel era diferente de todas as garotas que David estava acostumado, e isso mexia com ele de alguma forma.

Depois de um tempo, ela parou de repente com o lápis no ar, entre a folha de papel e o seu rosto. Bel coçou a cabeça e franziu o cenho, confusa. Algo não estava dando muito certo nos exercícios.

–O que foi? Precisa de alguma ajuda? – perguntou David, solícito, se levantando da cadeira em que estava, para se postar às costas da garota, de onde podia ver com mais clareza o que ela havia feito.

–Eu preciso de toda a ajuda do mundo – desesperou-se Bel – está errado! Está tudo errado! Os resultados não batem com o gabarito... Acho que eu nunca vou conseguir resolver um exercício de física sozinha!

Ela suspirou cansada, enquanto deixava o lápis cair sobre o caderno. Ela se sentia derrotada, mas David não ia deixar que ela desistisse assim tão facilmente. Após raciocinar um pouco sobre o ombro de Bel, ele disse:

–Você não pode dizer isso! Não está totalmente errado. Você só trocou as medidas, por isso não bate com o gabarito, viu? – ele apontou para os locais onde a garota havia errado.

–Acontece que eu sempre faço alguma coisa errada, e o exercício nunca dá certo! Não sei o que acontece comigo – desculpou-se Bel.

–Mas você não pode desistir! Você é inteligente, só precisa de um pouco mais de treino...

Dizendo isso, David curvou-se, estendendo o braço direito por cima de Bel para pegar a borracha. Ao fazer isso, sentiu sua pele roçar de leve a pele da moça. Bel sentiu as maçãs do rosto corarem. David apagou alguns números no papel e escreveu outros, corrigindo os exercícios. Quando terminou, seu rosto estava quase colado ao de Bel. Foi então que ele virou-se para ela, a voz pouco acima de um suspiro:

–Viu? Você só precisa se concentrar mais...

–Você tem tanta paciência comigo, Dave!

–Isso é fácil quando a aluna é tão aplicada – ele disse, sorrindo.

E mais uma vez eles se olhavam intensamente, mutuamente, os olhos refletindo o profundo desejo da alma. Em silêncio, eles pediam um pelo corpo do outro. Eles estavam tão próximos que podiam sentir a respiração quente vinda do outro. David deixou sua mão direita pousar sobre a direita da garota, fazendo com que ela desviasse brevemente o seu olhar.

–Dave, eu...

Mas o que ela ia dizer realmente, David nunca chegou a saber, porque, assim que a ouviu pronunciar seu apelido, ele não se conteve mais. Puxando a mão de Bel para si, ele fez com que a garota se aproximasse ainda mais, fazendo seus lábios se encostarem. Bel não teve como resistir àquilo. Tomada pelos seus sentimentos, ela abriu a boca, oferecendo-a, e David correspondeu lhe beijando intensamente. Enquanto se beijavam, sua mão percorreu toda a extensão do braço direito da moça. Ao chegar ao pescoço, ele envolveu-a em um abraço quente e apertado. Mas Bel, lutando contra os seus desejos, o afastou, empurrando o peito do baixista com as mãos. David, surpreso, se afastou depressa. Achou que tivesse se precipitado demais.

–Me desculpe! Eu não sei o que deu em mim...

Bel se levantou da mesa, ficando de costas para ele. A respiração ainda estava ofegante. Ela tentou se controlar, respirando fundo.

–Tudo bem, você não precisa se desculpar!

–Mas eu...

–Olha, David... o problema não é você... sou eu... – ela disse bruscamente, voltando-se para ele mais uma vez.

–Quê? – perguntou David, sem entender.

–Acho que é melhor você ir embora agora!

–Mas...

–Vai, Dave! Por favor...

Ele se aproximou dela, e, olhando fixamente em seus olhos, disse:

–Eu vou... mas eu volto!

E saiu, deixando para trás uma Bel totalmente confusa.

***

Peggy não demorou muito até descobrir que Pierre havia mesmo mudado. Ela não sabia ao certo o que havia acontecido naquele dia, mas tinha quase certeza de que aquilo tinha alguma relação com Chuck. Ele prometeu fazer da vida dela um inferno, e já estava conseguindo. Mas uma vez ele envenenava as pessoas contra ela. Mas o pior de tudo era saber que Pierre nunca acreditaria nela. Chuck era seu melhor amigo e Pierre confiava muito nele. Ele nunca acreditaria que, às suas costas, Chuck a ameaçava sem nenhum motivo aparente. Para ele, o amigo tinha finalmente entendido o quanto Peggy significava para ele, parando de implicar com ela. Mas Peggy sabia que aquilo não era apenas uma implicância boba, e que Chuck não desistiria até vê-los separados de novo. Porém, ela não pretendia desistir do seu amor assim tão facilmente. Acreditava que aquilo era só uma fase passageira, e que logo as coisas iriam melhorar.

Ela o esperava à mesa, para tomarem o café da manhã juntos. Porém, quando Pierre desceu as escadas, anunciou:

–Eu vou ter que sair...

–E eu posso saber pra onde você vai assim tão cedo?

–Temos uma reunião com a gravadora para acertarmos algumas coisas do novo CD, eu não te disse isso?

–Não, não disse... aliás, você não tem conversado muito comigo ultimamente, quase não para em casa.

–É o meu trabalho – defendeu-se Pierre.

–E você não acha que anda trabalhando demais? Você passa mais tempo fora de casa do que aqui, parece até que está me evitando.

–Eu não estou te evitando, mas é que...

–É que o que, Pierre? Você acha que foi um erro ter me trazido pra cá, não é?

–Não, é claro que não! Ter você aqui em casa foi a melhor coisa que me aconteceu.

–Então qual é o problema?

–Não tem problema nenhum – ele suspirou, cansado – mas você tem que entender que eu tenho uma vida lá fora. Tem pessoas me esperando e coisas que eu preciso fazer, e isso não tem nada a ver com você.

–Pessoas como o Chuck? – ela questionou em tom de aborrecimento – o que ele anda dizendo pra você, Pierre?

–Nada, ele não me diz nada! Porque é que você desconfia tanto assim dele?

–Porque? Você não acha estranho ele, de repente, resolver me deixar em paz e parar de implicar comigo?

–Não, ele apenas entendeu o quanto estava sendo infantil e parou com aquilo. Ele percebeu que não podia mais agir como quando estávamos no colégio, e eu acho que isso foi um grande progresso.

–Eu acho que você não devia confiar tanto assim no Chuck.

–E porque não? Ele é meu amigo desde criança e eu sei que ele nunca faria nada que me prejudicasse. Ele pode ser meio cabeça dura às vezes, mas é uma boa pessoa, eu o conheço muito bem.

–Será que conhece mesmo?

–Mas é claro! Olha Peggy, eu já estou ficando atrasado, é melhor ir andando!

Ela apenas suspirou em resposta, contrariada, e se pôs a mexer sua xícara de chá. Pierre se aproximou, e, curvando-se para ela, lhe plantou um beijo em sua bochecha, antes de dizer, como despedida:

–Eu já volto, está bem?

Peggy não respondeu. Ela permaneceu imóvel até que ele desaparecesse pela porta da frente. Já tinha perdido as contas de quantas vezes ele lhe prometera a mesma coisa, mas sempre chegava cada vez mais tarde. Ela já não suportava mais ser sempre deixada em segundo plano. Se sentia muito sozinha e deslocada. Ela havia prometido para si mesma nunca mais se lembrar daquele baile, mas ali, sem ninguém, isso era praticamente impossível. Os minutos foram passando lentamente, enquanto ela se relembrava mais uma vez de cada detalhe daquele dia maldito. O dia em que os sonhos de Peggy foram destruídos.

Chovia. Uma chuva fina e gelada. Mas ela também podia senti-la dentro de si. Parecia que a chuva consumia todo o seu corpo, fazendo com que ela se sentisse ainda pior. Deitada de bruços no sofá, as mãos tapando o rosto, ela chorava. Era um choro profundo, doído. Em sua mente, só conseguia pensar em como ele pode ter coragem de fazer uma coisa daquelas com ela. Logo ela, que sempre esteve do seu lado, lhe apoiando, lhe dando forças, enquanto todos os outros não estavam nem aí para ele. Pierre não podia ter feito aquilo. Não tinha o direito de faze-la sofrer daquela forma. Como ele pôde?

Sentando-se no sofá, ela afastou o cabelo, com raiva, tentando esquecer de tudo. Talvez tudo aquilo fosse só um pesadelo. Em suas mãos, porém, ainda tinha a prova de que tudo era verdade. O papel estava todo borrado e amassado, de tanto que ela lera, tentando encontrar alguma coisa em que se apoiar. Mas tudo o que ela fizesse, era apenas uma forma de tentar se enganar. A verdade estava ali, bem à sua frente. Pierre a enganara, a fizera acreditar que ele estava disposto a ir com ela ao baile, quando na verdade, já tinha outro par. Ele só queria rir dela, assim como os seus amigos faziam sempre. Como ela tinha sido idiota em acreditar nele. É claro que ele nunca ia querer saber dela, afinal, haviam mil outras garotas no colégio que fariam de tudo para ficar com ele. Como dizia Chuck, Peggy não estava à altura de Pierre.

Mais uma vez ela olhou para o papel. O maldito papel, a prova de que Pierre jamais gostou dela. Ela levou um susto quando, mais cedo, a mãe lhe dera um envelope com o seu nome. Disse que um garoto do colégio havia trazido, pedindo que ele fosse entregue a Peggy. Ela logo pensou que fosse de Pierre, mas se enganara. Ao abri-lo, levou um choque tremendo quando descobriu uma foto em que aparecia Pierre aos beijos com Eillen, a garota mais popular do colégio. Ao tira-la do envelope, uma segunda folha caira ao chão. Nela, estava escrito apenas algumas palavras em letras desiguais e coloridas, que tinham sido recortadas de revistas e jornais, e que diziam: “Pierre te enganou, nunca quis ir ao baile com você. Enquanto te falava coisas gentis, às suas costas, ele ria de você. Assinado, um amigo”.

As palavras a machucaram como punhais afiados contra o peito. Tudo estava acabado. Não teria mais baile, nem Pierre, nem nada. No dia seguinte ela iria para os Estados Unidos e nunca mais o veria. Mas seria melhor assim. Ela já estava prestes a subir as escadas, para ir se deitar, quando a campainha tocou. Os pais já estavam dormindo. Ela disse a eles que não se preocupassem, que ficaria bem. Eles nem sabiam que ela não iria mais ao baile, ela não queria que eles soubessem.

Secando os olhos com as mãos, ela pensou em Julian, seu irmão mais velho, que estivesse voltando mais cedo para casa. Talvez ele tivesse esquecido as chaves. Mas não era Julian. Assim que ela abriu a porta, descobriu Fred ali parado, com uma expressão preocupada no rosto.

–Fred, o que faz aqui?

–Fiquei preocupado com você. Vim ver se estava tudo bem, e já vi que eu estava certo, não é? Você andou chorando... o que aquele Pierre idiota fez com você?

–É uma história meio complicada... entra que eu te mostro – ela murmurou.

Fred era um dos únicos amigos de Peggy no colégio. Os outros todos sempre ficavam do lado de Chuck e da turminha dele. Peggy desconfiava que ele gostava dela, e que, por isso, vivia falando mal de Pierre para ela. Ela achava que ele sentia ciúmes quando via os dois juntos, mas agora, acabou descobrindo que ele sempre esteve certo. Pierre só queria humilha-la.

Depois de ouvir tudo o que ela dizia, Fred se mostrou muito revoltado com Pierre.

–Eu te avisei que ele não prestava, mas você nunca me deu ouvidos. Quem ele pensa que é pra fazer isso? Quem ele pensa que é pra te fazer sofrer assim?

–Eu sei que eu fui uma idiota, que não devia ter acreditado nele! Mas eu estava apaixonada...

–Eu sei... olha, não fica assim, Peggy – ele se aproximou dela, lhe afagando a face para reconforta-la – era isso que ele queria, te ver sofrer.

–Mas eu não posso evitar...

–Eu sei como você deve estar se sentindo, mas você precisa ser forte agora para ir ao baile e mostrar pro Pierre que você não está nem aí pra ele.

–Quê? Ir ao baile depois disso tudo? Como é que você acha que eu vou chegar lá?

–Eu vou com você! Vou ficar do seu lado! Quero só ver se ele tem coragem de fazer alguma gracinha com você comigo por perto.

–Você não precisa fazer isso! É sério, deixa esse baile pra lá, vai ser melhor...

–É claro que não! Você não pode abaixar a cabeça para aqueles idiotas! Eu não vou deixar, nem que eu tenha que te arrastar a força!

Mesmo triste como estava, Peggy conseguiu esboçar um meio sorriso. Era bom saber que, apesar de tudo, ainda podia contar com um amigo como Fred. Depois de limpar o rosto, refazer toda a maquiagem e rearrumar o cabelo em um coque alto e firme, ela saiu acompanhada por Fred. Com ele, ela se sentia mais segura.

O baile já havia começado há muito tempo, e agora as músicas que tocavam eram mais lentas. Assim que chegou, a primeira pessoa que Peggy viu no salão foi Pierre, dançando abraçado com Eillen. Peggy sentiu suas pernas bambearem, o coração quase parou, mas Fred a amparou. Então era tudo verdade. Pierre tinha mesmo ido ao baile com Eillen.

Depois dessa visão, ela não conseguiu prestar atenção em mais nada. Tudo o que queria era sair correndo dali e sumir, para sempre. Queria nunca mais ter que olhar para Pierre novamente. Mas o baile já estava no fim e ela não precisou esperar muito. Fred a levou de volta para casa. Porém, antes que Peggy pudesse abrir a porta, ele a parou.

–Tem certeza de que você vai ficar bem?

–Tenho, já disse! Amanhã tudo isso vai passar...

–Eu gosto tanto de você, não queria te ver sofrendo assim por causa dele! A minha vontade era de dar um soco na cara daquele Pierre!

Ela sorriu.

–Você não precisa...

–Pelo menos fiz você sorrir – ele disse, a olhando nos olhos. Foi só então que Peggy percebeu que ainda estava de mãos dadas com ele.

–Fred...

Mas ela estava fraca demais para afasta-lo. Ele chegou bem próximo dela, beijando seus lábios. Ela estava carente e, depois de tudo o que passara, era bom saber que alguém a queria. Mas aquilo não estava certo. Peggy o afastou aos poucos, com delicadeza.

–Isso não está certo, Fred!

–Mas porque não?

–Mesmo sabendo que ele não presta, eu ainda gosto do Pierre. Não quero te magoar com falsas esperanças.

–Mas porque nós não podemos tentar ficar juntos? Eu posso te fazer esquecer dele!

–Eu acho que você merece alguém que goste de você de verdade... amanhã eu estou indo pros Estados Unidos, eu quero me concentrar nos estudos agora, quero me formar, ter o meu diploma. Só assim eu vou conseguir esquecer do Pierre e de tudo.

–Mas...

–Vai embora Fred! Vai viver a sua vida. A última coisa que eu quero agora é me envolver com mais alguém...

–Você tem certeza disso?

–Tenho!

Ele continuava a olha-la, mas agora os olhos não apresentavam mais o mesmo brilho de antes. Peggy não queria ter magoado o amigo, mas não tinha outra escolha. Porém, mesmo sofrendo, ele se mostrou compreensivo, como sempre. Segurando as mãos de Peggy entre as dele, Fred as levou até seus lábios, dando um último beijo carinhoso como despedida.

–Se cuida, tá? – foram as suas palavras de adeus.

–Você também – Peggy respondeu, antes de entrar em casa e fechar a porta, deixando-o para trás.

Ela estava exausta. Parecia ter acabado de correr uma maratona inteira. Lá em cima, sua cama a esperava obediente. Peggy já tinha alcançado os primeiros degraus da escada, quando escutou o toque da campainha novamente. Seria Fred mais uma vez? Ou será que Pierre veio tentar se desculpar com ela? Lá em cima, seus pais ainda dormiam. Nem imaginavam tudo o que a filha tinha passado naquela noite. Apreensiva, ela abriu a mesma porta que fechara segundos antes. Mas não era Fred. Nem Pierre, tampouco.

Peggy fechou os olhos com firmeza, tentando esquecer aquilo tudo. Agora que se via ali, mas uma vez sozinha, tinha medo. Medo de sofrer de novo. Medo de estar fazendo tudo errado, e de que tudo se repetisse, como há anos atrás. Tinha medo de que Pierre a estivesse enganando de novo. Tentando afastar esses pensamentos de sua mente, Peggy saiu de casa para ver os pais. Tinha que se distrair de alguma forma. Pierre a amava, ela podia ver isso em seus olhos todas as vezes que ele se aproximava dela. Tinha que tirar aquilo da cabeça. Chuck não ia conseguir separa-los, ela não ia deixar que ele se pusesse entre os dois.


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