How Could This Happen To Me? escrita por Emmy Tott


Capítulo 12
Amor e Decepção


Notas iniciais do capítulo

Me desculpem pela demora. Estava para postar esse capítulo a séculos, mas alguns imprevistos me atrapalharam a vida...
Enfim, aí está ele, em homenagem a nossa querida Zebra que fez aniversário ontem *O*



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Quando Peggy chegou a casa dos pais, ela já tinha conseguido se acalmar um pouco e não chorava mais. Porém, a briga com Pierre ainda atormentava a garota. Ela precisava conversar com alguém para desabafar, e sabia que a melhor pessoa para isso era a sua amiga Bel.

-Mãe, onde está a Bel? – ela perguntou assim que entrou na casa. Seu pai não estava em casa àquela hora por causa do trabalho.

-Peggy! Você vai entrando assim e eu não mereço nem um abraço? Que filha mais desnaturada! – indignou-se Margareth.

-Desculpe, mãe! É claro que a senhora merece um abraço – ela disse, abraçando a mãe rapidamente e tentando parecer o mais natural possível.

Peggy não queria envolver os pais naquela história, eles já tinham problemas demais para se preocupar e ela precisava resolver os seus sozinha.

-Aconteceu alguma coisa para você estar aqui tão cedo? Não era pra você estar no escritório à uma hora dessas?

-Era sim, mas... eu resolvi tirar o dia de folga para ficar com vocês, que tal? Papai vive reclamando que eu não venho mais aqui...

-Seu pai é um cabeça-dura, você sabe disso, mas... me diga uma coisa filha: está tudo bem entre você e o Pierre?

-É claro que está! Porque não estaria?

-Não sei, você chegou tão estranha em casa...

-Mãe! Você não me respondeu onde a Bel está – desconversou Peggy.

-Porque você quer tanto assim falar com ela?

-Porque ela é minha amiga e eu estou com saudade das nossas conversas, só isso... o que tem de mais em alguém querer conversar com um amigo?

-Porque você não me diz o que está acontecendo?

-Mas eu já disse que não está acontecendo nada! Agora me diz aonde foi a Bel!

-Bem, eu não sei pra onde ela foi!

-Como assim não sabe?

-Bel tem andado muito estranha ultimamente, quase não fala mais com a gente, vive pelos cantos da casa suspirando e sonhando acordada... acho que ela está apaixonada!

-Apaixonada?

-É... outro dia mesmo ela recebeu um telefonema do David convidando-a para irem tomar sorvete. Os dois não se desgrudam mais!

-Você acha que ela está com ele agora?

-Eu não só acho, mas como tenho certeza também!

***

-Eu acho tão linda a vista dessa cidade! Adoro ver os prédios e as casas passando pela janela do carro – disse Bel enquanto admirava a paisagem pendurada na janela.

-Mas lá nos Estados Unidos vocês também podem ver – respondeu David na direção do carro.

-É, mas... não é a mesma coisa – ela riu enquanto se virava para ele – você ainda não disse pra onde está me levando...

-Por que é surpresa – disse David sorrindo.

Bel voltou a admirar as ruas movimentadas de Montreal enquanto deixava sua mente vagar a procura de alguma coisa que pudesse sanar a sua curiosidade. Mas, por mais que tentasse, ela não conseguia. Estava ansiosa demais para raciocinar e, com David ao seu lado, isso se tornava praticamente impossível.

Porém, quando David finalmente parou o carro, Bel pôde perceber que ele não a tinha levado para nenhum lugar especial, afinal. Estavam diante de um prédio de médio porte, como tantos outros em Montreal, mas não menos charmoso. Bel olhou para ele, intrigada, como se quisesse perguntar com os olhos o que David pretendia com aquilo. Mas ele apenas a olhou de volta, lhe lançando um sorriso meigo e encantador.

-O que é isso, David? – ela perguntou, não se contendo mais de curiosidade.

-Bem-vinda a minha casa – ele lhe respondeu, simplesmente, agora sorrindo como um garoto que acaba de ser pego em uma travessura.

-Su-sua caa-sa? – gaguejou Bel, meio assustada com a revelação.

-É, minha casa! Queria te mostrar o meu apartamento, por isso te trouxe aqui – esclareceu David, enquanto estacionava o carro na sua vaga da garagem do edifício.

David soltou o cinto de segurança, e fez menção de abrir a porta do carro, mas ao olhar para a sua mais nova namorada, ele percebeu que ela estava congelada, os olhos vidrados e as mãos seguravam firmemente o cinto, como se a sua vida dependesse dele.

-O que foi, Bel? Você está bem? – ele lhe perguntou, de forma carinhosa.

David já estava se acostumando com o jeito atrapalhado de Bel, mas, ás vezes, ele tinha medo de estar pisando em ovos, já que seu comportamento se tornava, por vezes, imprevisível. Ela permaneceu estática e, por um momento, David achou que tinha sido uma péssima idéia leva-la até lá. Mas, para a sua surpresa, ela virou-se para ele, dizendo:

-Ham... eu estou bem – e sorriu, antes de acrescentar – eu só não esperava que você me trouxesse aqui...

-Então... vamos?

-Ãhn... claro – Bel soltou o cinto com um pouco de dificuldade e abriu a porta para que pudesse sair do veículo.

Os dois entraram no elevador de mãos dadas, Bel deixando-se conduzir por David. O elevador estava vazio, exceto por um sujeito ao canto que Bel julgou muito estranho. Ele estava com as mãos enfiadas nos bolsos da calça e olhava ocasionalmente para o lado em que os dois esperavam, os olhos vazios, sem emoção alguma. Quando o elevador finalmente chegou no andar pretendido, David puxou Bel para fora, fazendo com que o tal sujeito saísse de seu campo de visão.

David abriu a porta, deixando Bel passar. Era um apartamento pequeno, mas aconchegante.

-Desculpe pela bagunça... casa de músico – desculpou-se David, encolhendo os ombros. Bel apenas sorriu.

-Você tem uma bela vista daqui de cima – ela comentou, enquanto se aproximava da janela semi-aberta para admirar melhor a paisagem.

-É... mas eu quase não fico aqui, então nem dá para aproveitar direito.

Em seguida, David mostrou todos os cômodos para Bel. Era difícil dizer qual deles estava mais desorganizado, já que tudo parecia estar fora do lugar. Por fim, eles pararam no quarto de David, onde Bel se sentou em uma das beiradas da cama.

-Como você consegue achar alguma coisa aqui? – perguntou Bel.

-Ah, é fácil! Eu posso achar o que quiser de olhos fechados – ele respondeu, arrancando risadas de Bel.

-Eu acho que eu nunca vi tanta zebra junta – ela acrescentou.

-Fãs... em cada lugar que a gente vai, eles sempre me dão uma.

-Acho que daria para encher um zoológico inteiro só de zebras com essas aqui – Bel concluiu, fazendo David rir.

Controlando a vontade de rir, ele se sentou ao lado de Bel, observando-a. Ela parecia mais atrapalhada do que nunca. Foi só então que David percebeu o quanto ela estava apreensiva. Como da primeira vez, ele tomou as mãos dela entre as dele, tentando acalma-la. Bel se estremeceu por inteiro com o simples toque de David. Ele olhava diretamente e fixamente para seus olhos medrosos, quando se aproximou ainda mais dela, dando-lhe um longo beijo apaixonado. Quando seus lábios enfim se separaram, Bel disse:

-Você não acha isso muito precipitado?

-Eu te amo, Bel – ele disse. Seus olhos continuavam a encara-la com insistência.

-Eu... – ela suspirou, antes de continuar – tenho tanto medo, Dave...

Então ele a abraçou carinhosamente. Bel apoiou sua cabeça sobre o peito de David e fechou os olhos, enquanto ele lhe acariciava as costas.

-Eu só quero cuidar de você – David disse, em um sussurro, lhe plantando um beijo sobre o couro cabeludo.

Bel se sentiu tão protegida nos braços de David, que por um momento chegou a esquecer do mundo lá fora, de suas dúvidas, seus medos, tudo. Mais uma vez ela se sentiu totalmente invadida por seus instintos e seu amor por David. Ela queria aquele momento. Queria tê-lo só para si. Lentamente, Bel levantou sua cabeça, encarando David de forma decidida. Ele lhe sorriu. De repente, eles viram seus lábios se unirem novamente, dessa vez de forma intensa e arrasadora. Bel se sentia cada vez mais entorpecida à medida em que sentia a língua de David passeando dentro da sua boca, invadindo e explorando cada pedacinho dela. David deitou-a sobre a cama, intensificando as carícias. Bel sabia que não havia mais como recuar. Estava totalmente entregue. Em todos os seus 17 anos de vida, Bel nunca sentira coisa mais incrível do que a que ela experimentava agora.

***

A demora de Bel estava deixando Peggy agoniada. Já fazia mais de uma hora que a garota estava fora, e Peggy nunca precisou tanto de sua companhia como agora. O apoio da amiga era fundamental para ajuda-la a superar suas freqüentes discussões com Pierre. Mas, naquele momento, ela estava mais preocupada com a amiga do que com ela mesma. Bel era ingênua, e Peggy tinha medo de que David se aproveitasse disso de alguma forma, fazendo-a sofrer.

-Sossega, menina, Bel já deve estar quase chegando – disse Margareth, tentando acalmar a filha – ela sabe se cuidar.

-Eu espero que saiba mesmo – respondeu Peggy, ainda andando desinquieta pela sala e estalando insistentemente os dedos.

-Pare com isso, Peggy! Você está me deixando nervosa – replicou Margareth – venha, vamos comer o pudim de leite condensado que eu fiz para você.

-Eu não quero comer nada, mãe!

-Mas você adora pudim... só para fazer o tempo passar mais rápido...

Peggy olhou para a mãe, que lhe sorria.

-Está bem, vamos lá então – disse Peggy, dando-se por vencida.

***

David nunca se sentira tão leve em toda a sua vida. Os últimos momentos passados com Bel pareciam não ter terminado ainda. Ele imaginou que não se sentiria melhor se estivesse flutuando sobre as nuvens. Ao seu lado, Bel dormia como um anjo. O anjo de David. Ele poderia ficar ali para sempre, velando atenciosamente o seu sono, se não fosse pelo toque estridente e irritante da campainha. David se levantou, mal-humorado, pensando seriamente em estrangular a pessoa que acabara de atrapalhar todos os seus sonhos.

David deixou Bel, que ainda dormia, e abriu a porta, resmungando baixinho. Mas, assim que viu quem estava do outro lado, sentiu seu coração gelar. Arregalou os olhos, quase não acreditando no que estava vendo. Quando teve coragem para abrir a boca, sua voz quase não saiu:

-Ch...Chu...ck?

-O que foi, David? Parece que engoliu um sapo.

David observou Chuck por um momento. Ele parecia casual e descontraído. Talvez não soubesse que Bel estava ali.

-O que você está fazendo aqui, Chuck?

-Que isso, David? Isso é jeito de tratar um amigo? Parece até que você está me escondendo alguma coisa...

-Eu não...

David não pôde concluir a sua fala, porque Chuck adentrou no apartamento, esquadrinhando tudo a sua volta.

-Como se nós tivéssemos segredos um para o outro – ele acrescentou, encarando David.

-Chuck... o que você quer?

Chuck sorriu, daquele jeito que David já conhecia e que o fazia sentir um arrepio estranho percorrer toda a extensão de sua espinha.

-Vim para te dar parabéns.

-Não estou entendendo... – disse David, sentindo-se cada vez mais desconfortável.

-É claro que você está entendendo, David – falou Chuck aumentando o volume da voz, como se quisesse que todos do prédio escutassem o que ele tinha a dizer – você conseguiu!

-Chuck, não – desesperou-se David. Porém, Chuck continuou falando.

-Você ganhou a aposta! Eu duvidei que fosse conseguir, mas você acabou conquistando mais uma. Mais uma dentre todas as outras de David Desrosiers! Parabéns, David!

O apartamento era pequeno demais para que Bel não ouvisse a conversa dos dois na sala. Com o coração aos pedaços, Bel abriu a porta que dava para o cômodo, ainda não acreditando no que acabara de ouvir. Mas, por mais que lhe doesse, ela precisava saber a verdade.

-Aposta? – ela perguntou a Chuck, sem coragem para encarar David.

-Sim, aposta. Depois daquela noite da festa, eu disse a David que ele nunca iria conseguir nada com você, mas ele disse que ficar com você seria fácil, que você era boba o suficiente para acreditar em tudo o que ele dissesse. Então... nós fizemos a aposta...

-Isso é... verdade? – perguntou Bel, os olhos cheios d’água.

Chuck assentiu com a cabeça, sério. Bel sentiu as lágrimas escorrerem pela sua face. Tudo o que vivera há poucos minutos antes, agora parecia tão distante, como se tivesse acontecido em uma outra vida, com uma outra Bel. Quando ela finalmente virou-se para olhar David, ele negava com a cabeça, desesperado. Mas a culpa em seu rosto o denunciava. Ela se encheu de coragem, antes de lhe dizer, com a voz fraca e falha:

-Tudo o que você me disse... tudo o que vivemos juntos... era tudo mentira!

-Bel, e... – David começou, tentando lhe dizer que estava errada, que tudo era um grande engano. Porém, ela o interrompeu antes que ele pudesse terminar de pronunciar “eu”.

-Eu não quero ouvir mais nada! Nunca mais quero te ver de novo na minha frente, David Desrosiers!

Sem mais, Bel saiu correndo porta afora, as lágrimas escorrendo abundantemente sobre a face. David ainda tentou para-la, indo atrás e gritando:

-Bel, espera! BEL! – mas Chuck o agarrou pelo braço, impedindo-o de continuar.

-Deixe ela ir, David. Vai ser melhor assim – disse.

Ele encarou o amigo por um instante. Teve vontade de esmurra-lo, de sair para a rua e gritar para Bel que a amava mais do que a própria vida, que não acreditasse em Chuck, que tudo aquilo era mentira. Mas tudo o que ele fez foi apoiar as costas na parede da sala e esfrega-la lentamente por toda a sua extensão, até que pudesse se sentar ao chão e, finalmente, chorar com as mãos sobre o rosto.

Chuck fechou a porta que Bel deixara aberta e esperou até que David se acalmasse um pouco. A conversa dos dois ainda não tinha terminado.


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