No som da escuridão escrita por Aquila Aria


Capítulo 7
Decisão




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  Assim que entramos no avião, todos vieram correndo para dos ajudar. Tyler me entregou para um homem que eu não conhecia e se jogou no sofá de couro. Fui levada, no colo, até o quarto e depositada com cuidado na cama. Agradeci e logo caí no sono. Estava a exausta e precisa descansar o máximo possível antes de receber uma grande bronca. Tyler havia ficado calado durante todo o percurso até o avião, ele só falou quando precisou me avisar de algum tronco ou buraco no chão. Ele ainda era um desconhecido para mim, mas um desconhecido que se arriscou para salvar minha vida em uma situação que eu mesma havia criado para mim. De alguma forma, eu já me sentia segura ao lado daquelas pessoas. Elas pareciam estar falando a verdade.

   Se toda aquela história de haclers e deuses fosse realmente verdade, então eu estava em uma situação bem mais complicada do que eu imaginava. Não conseguia pensar em como contaria tudo para Rick e também não queria que ele fosse embora. Se eu realmente tivesse que deixar minha família para trás, queria que meu irmão estivesse ao meu lado. Eu nunca havia feito nada sem ele. Sempre estivemos juntos nos piores momentos e sempre estaríamos.

   Acordei meio tonta e com dor de cabeça. Lydia estava no quarto, sentada ao meu lado na cama e bem atenta a cada movimento meu. Assim que tentei me sentar ela segurou meu braço e pediu que eu ficasse deitada e esperasse ela trazer remédios para mim. Obedeci e continuei jogada na cama como um saco de batata. Meu corpo inteiro latejava, parecia que eu havia lutado em um ringue.

   A mulher alta e incrivelmente bela abriu a porta cinco minutos depois e sentou ao meu lado na cama. Ela não parecia estar irritada e não demonstrava nenhum desapontamento no rosto, isso me deixou realmente mais calma. Talvez eu não fosse levar uma bronca tão ruim assim. Lydia me entregou um comprimido branco e um copo de água antes de suspirar.

   - Olha, não importa o que ele diga, não tente discutir. Por favor, apenas ouça o que ele tem a dizer e assuma seu erro. – Ela, com certeza, estava falando sobre Tyler e estava falando bem séria.

   - Ele deve estar bem bravo comigo, não é? – Engoli o remédio com a ajuda da água e lhe devolvi o copo.

   - Eh... – Ela fez uma careta e então sorriu de forma acolhedora. – Eu entendo que você quis ajudar. Eu teria feito a mesma coisa se não soubesse o perigo que estava correndo, mas tente nos ouvir mais da próxima vez. É tudo novo pra você e estamos tentando ajudar.

   Ela estava certa. Eu fui teimosa e impulsiva, não deveria ter agido daquela forma. Por burrice, coloquei a minha vida e a de Tyler em risco.

   - Desculpa. Eu prometo não fazer isso novamente, mas eu ainda estou assustada com toda essa situação.

   - Eu sei. Não se preocupe, é normal que esteja. – Ela olhou no relógio em seu pulso. – Tyler estará a esperando na sala onde jantamos, por favor, se apronte e vá direto para lá. Nós pousaremos em breve e seu irmão já está em melhor.

   - Nossa... Você é uma ótima secretária. – Brinquei.

   - E pombo correio também. – Ela riu e se levantou. – Suas roupas estão na cômoda. Até mais. – Ela sorriu e saiu do quarto logo em seguida.

   Ok. Agora eu preciso tomar coragem para sair.

   Me vesti com as roupas que Lydia havia deixado para mim, uma blusa social preta e uma calça jeans, e tentei dar um jeito no meu cabelo rebelde, mas no final eu apenas prendi ele como um rabo de cavalo. Tentei pensar no que diria, mas lembrei do conselho que recebi, “não importa o que ele diga, não tente discutir”. Eu tentaria ficar calada.

   Saí do quarto com o coração na mão. O homem que estava no jogando com meu irmão antes de eu sair do avião estava encostado na parede ao lado da porta do quarto, me esperando. Ele não disse nada quando pedi licença para passar, apenas ficou me encarando sério. Eu nãoo sabia se estava envergonhada por não ter obedecido a sua ordem e não sair do avião, ou por ele estar me olhando fixamente.

   Abaixei a cabeça para evitar contato visual e então ele tocou meu braço de leve. Minha primeira reação foi me afastar até bater contra a porta fechada do quarto, mas depois me senti uma idiota por vê-lo rindo da minha cara.

   - Me desculpe, mas tinha que ver sua cara de assustada... – Ele se aproximou com andar descontraído. – Meu nome é Victor, senhorita.

   Bufei e virei o rosto.

   - Venha. – Ele deu um tapinha de leve no meu ombro. – Tyler vai acabar explodindo o avião com a impaciência que ele tem. – Victor virou para o corredor e eu o segui atrás.

   - Ele está muito bravo? – Perguntei baixinho. Mesmo sabendo qual era a resposta, eu queria que alguém confirmasse antes de eu mesma confirmar.

   - Eh... – Ele virou o rosto para olhar para mim. – Não quero que você se assuste antes de ver como ele realmente está.

   - Ah... – Ele vai me matar — Tá.

   Victor me escoltou até a sala onde Tyler me esperava. A porta estava fechada, mas eu podia sentir a presença do homem que estava do lado de dentro. Eu realmente odiava receber bronca de alguém, ainda mais quando eu não tinha intenção de errar. Respirei fundo e encarei a maçaneta preta por alguns segundos antes de receber incentivo do homem ao meu lado.

   - Vai dar tudo certo. Não precisa ficar tão nervosa assim...

   - Está bem. – Girei a maçaneta lentamente e abri a porta. Entrei na sala de vagar, tentando não fazer barulho nenhum, apesar de não ter necessidade de silêncio.

   Tyler estava sentado em uma poltrona. Ele levantou o olhar do livro que segurava assim que entrei. Meu coração disparou, minhas pernas congelaram e a vontade de sair correndo veio instantaneamente. Me aproximei bem devagar, esperando que ele falasse alguma coisa, mas ele ficou em silêncio me observando chegar perto. Quando estava a uma distância boa, isto é, segura, porém não muito distante, decidi falar.

   - Você queria me ver? – Sorri levemente para parecer que eu estava arrependida do que havia feito.

   Ele levantou e minha mente disparou o alarme.

   Não saia correndo, Áquila, não sai correndo. Eu dizia mentalmente.

   - Eu vou ser breve. – Sua voz quase fez meus ouvidos sangrarem de tão grave. – Você está de castigo.

   - Eu entendo que queira me matar e... – Demorei para me dar conta do que ele havia dito. – Eu estou o que?

   - De castigo. – Esperei para ver se sairia alguma espécie de risada maligna depois, mas ele permaneceu com a expressão séria.

   - Você está brincando não é. – Gargalhei e ele continuou me encarando. Foi então que fiquei séria. Castigo?— Quantos anos acha que eu tenho?! – Gritei.

   - Fez por merecer. – Ele voltou a se sentar.

   - Que? - Me aproximei. – Não sou uma criança! Brigue comigo como um adulto! – Gritei novamente, mas ele me ignorou e continuou sua leitura. – Ah, sério? – Joguei a cabeça para cima e coloquei as mãos na cintura. Suspirei me ajoelhei. Ele não olhou para mim, mas se ajeitou na poltrona quando me aproximei de suas pernas. – Tyler, por favor, eu não fiz por mal, pode parar de me ignorar? – Falei calmamente.

   - Levante. - Ele abaixou o livro e olhou para mim.

   - Eu prefiro ficar assim. – Estava sentindo dor na perna, desde o momento em que a criatura me atacou.

   - Como quer ser tratada como uma adulta se age como uma criança? – Suas palavras realmente me irritaram. Era incrível a forma como ele conseguia ser frio sem remorso.

   - Você só sabe fazer grosseria com as pessoas? – Levantei rapidamente e senti meu joelho vacilar, mas não demonstrei.

   - Colocou nossas vidas em risco e quer ser tratada bem? Você merecia estar trancada no quarto agora! – Ele gritou e ficou de pé novamente. – Acabou de chegar e já causou mais confusão que qualquer um aqui. – Tyler começou a se aproximar ameaçador e eu recuei. – Primeira lição: não faça nada sem minha permissão!

   - Eu não quis... – Á medida que ele se aproximava eu me afastava. Seus olhar de superioridade me assustava, mas ao mesmo tempo me dava vontade de gritar com ele.

   - Mas fez!

   - Eu já pedi desculpa e disse que não farei novamente. – Finalmente bati contra a parede. Não tinha mais como me afastar. Ele se aproximou mais e socou a parede ao lado do me rosto.

   - É a terceira vê que me arrisco por você, - Sua voz saiu baixa e ameaçadora. – espero que não aconteça mais.

   Prendi a respiração e me segurei para desabar no chão. Assim que ele se afastou, ainda me observando, voltei a respirar. Desencostei da parede, dei um passo em direção á porta e disse:

   - Obrigada por me salvar, mas eu não pedi isso. – Caminhei até a porta e a abri, mas antes de saí eu parei. – Só estou aqui porque não tenho outra opção melhor.

   Quando saí, ouvi ele se jogando na poltrona e afundando na mesma. Era um alívio não estar mais naquela sala e poder respirar fora dela. Caminhei pelo corredor me apoiando na parede, no meio do caminho esbarrei com Lydia. Ela parecia curiosa, mas não fez nenhuma pergunta, apenas me acompanhou até onde Rick estava e saiu para procurar alguém.

   Meu irmão me abraçou como se não me visse há anos. Isso me deixou realmente surpresa, já que passávamos a maior parte do tempo brigando.

   - Nunca mais faça algo idiota novamente. – Disse ele enquanto me afogava em seu pescoço. – Victor não me deixou ir atrás de você...

   - Desculpa. – Eu o apertei e me afastei para ver seu rosto, mas logo voltei a abraçá-lo. – Precisamos conversar.

   Eu estava com medo de contar o que sabia para Rick e ter que deixá-lo. Queria que, pelo menos, ele ficasse ao meu lado nessa confusão. Me sentei ao lado dele no sofá e comecei a contar a história que Tyler me contara, mas não mencionei todos os detalhes, pois não lembrava de tudo. Rick ficou bem interessado, ele não me interrompeu para fazer nenhuma pergunta. No final, segurei suas mãos e expliquei tudo o que eu sabia sobre o que eu era e sobre ter que deixar nossos pais para trás e nunca mais vê-los.

   Seus olhos estavam voltados para nossas mãos entrelaçadas, mas pareciam perdidos no nada. Quando terminei de falar, Rick continuou em silêncio. Levantei seu rosto com delicadeza e sorri, pois apesar de tudo, não queria que ele fosse tão afetado quanto eu.

   - Mesmo querendo que você siga comigo, você tem o direito de escolher o que fazer. Mas preciso que me diga agora. – Eu estava fazendo muito esforço para conter as lágrimas. – Se disser que quer voltar para casa, eles o levaram de volta amanhã de manhã.

   - O que acontece com você se eu quiser voltar para casa? – A voz dele estava tão fraca que apertou mais ainda meu coração.

   - Eu ficarei bem. O mais importante para mim é...

   - Não é isso! – Meu irmão estava com olhos cheios de lágrimas. – É óbvio que nossos pais não concordariam com isso então teriam que arrumar uma maneira de fazê-los acreditar que você ficaria bem. A única forma que eu pensei foi... Fazendo com que eles se esqueçam de você. Isso não é verdade, é?

   Infelizmente, era verdade. Tyler havia dito que existia uma forma de fazer isso acontecer, e após isso, meus pais acreditariam que haviam tido apenas um filho, o Rick.

   - Desculpa. – Sussurrei.

   Fiquei em silêncio até Rick dizer mais alguma coisa, sua decisão.

   - Eu não concordo com isso, mas não posso deixar você correr risco sozinha. – Meu irmão respirou fundo e então olhou fixamente em meus olhos. – Eu vou com você.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! :3



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