No som da escuridão escrita por Aquila Aria


Capítulo 8
Situação nada constrangedora




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   - Para que eles utilizam essas coisas? – Meu irmão pegou uma das injeções com líquido dourado dentro. Arranque o objeto da mão dele e lancei minha mão em seu pescoço.

   - Não meche! – Após colocar a injeção de volta na mala, abri a porta e saí do quarto puxando Rick comigo.

   Nós já havíamos pousado e estávamos hospedados, todos, em uma pousada bem no meio do nada. A cidade mais próxima era longe o suficiente para eu desistir de ir andando. Disseram que era preciso reabastecer o avião e que existiam coisas para serem resolvidas por perto, mas não disseram quais eram essas coisas. Sempre tinha aquele suspense e falta de informação.

   Eu estava ajudando o pessoal a guardar as malas nos quartos e separando as bagagens, já que todos estavam ocupados em uma “missão” e eu não servia para nada no meio deles, apenas para ser salva nas piores situações. Rick estava me ajudando, do jeito dele, mas estava.

   - Podemos comer agora? Essa era a última. – Rick trancou a porta e saímos andando de volta para nosso quarto.

   - Também estou com fome, mas não tenho dinheiro aqui. Dependemos deles agora. – Eu estava, pela primeira vez na vida, percebendo o quão ruim era ter certos tipos de limitações. – Podemos pedir alguma coisa na cozinha da pousada e falar para colocar “na conta”. O que acha?

   - Uma boa ideia, mas sabe que se eles não vão achar ruim?

   - Melhor do que morrer com fome. – Peguei Rick pelo pulso e saí correndo com ele pelo corredor até chegarmos ao primeiro andar, que era onde ficava a cozinha da pousada.

   Uma mulher baixinha, morena e de cabelo grisalho perguntou se estávamos ali para pegarmos nossa janta. Disse que sim antes de ver a mulher entrando pela porta da cozinha e voltando com uma cesta coberta com um pano. Ela pediu que sentássemos à mesa e começou a organizar nosso jantar sobre ela. Alguns ajudantes vieram trazendo suco, arroz, feijão, peixe, salada e mais alguns aperitivos e os deixaram sobre a mesa. Antes de nos deixar a sós com o banquete super cheiroso, a moça disse que se quiséssemos qualquer coisa, era só pedir diretamente a ela.

   Fiquei surpresa por não precisar ter falado muita coisa e mais surpresa ainda por saber que eles não nos haviam deixado com fome. Pensaram em nós antes de sair para a tal missão. Sem hesitar, eu e meu irmão comemos toda aquela comida deliciosa antes de dar meia noite. Depois que terminamos, voltamos para o quarto e decidimos pensar sobre nosso futuro. Mas a ideia não durou muito já que Rick dormiu dois minutos depois que deitou na cama. Ele simplesmente apagou.

   Fiquei sentada na poltrona da varanda, observando aquela imensidão estrelada sobre mim que era o céu. Já sentia falta dos meus pais, mas talvez –só talvez- eu tivesse tomado a decisão certa. Algum tempo depois de ficar sentada apenas olhando para as estrelas, vi algumas motos pararem em frente à pousada. Eles haviam chegado. Esperei um pouco até dar tempo de subirem as escadas, entrarem em seus quartos e tomarem banho e trocarem de roupa. Para ser mais exata, aguardei 40 minutos. Quando já tinha certeza de que havia dado tempo suficiente, saí do quarto e bati na porta do quarto de Tyler. Queria agradecer pelo jantar e por tudo o que ele havia feito por mim e meu irmão. Depois de pensar um pouco percebi o quão egoísta e mal-agradecida eu estava sendo, tendo em mente que ele me salvou da morte duas vezes e colocou sua vida em risco por mim para fazer isso.

   Hesitei um pouco antes de dar duas leves batidas na porta. Eu me sentia extremamente desconfortável conversando com ele, ainda mais agradecendo e admitindo meus erros. Dez segundos se passaram e eu já estava arrependida de estar ali, mais cinco e eu já cogitava voltar, quando se passaram exatamente trinta segundos e já estava dando meia volta. Foi nesse exato momento em que ele abriu a porta e eu me virei novamente, tentando descobrir de onde eu tirara a ideia tosca de ir até lá para agradecer. Mas todos os meus pensamentos desapareceram quando eu vi aquela perfeita imagem de músculos super bem definidos e com pequenas gotas de água pairando sobre a pele úmida e recém-lavada. Era tão constrangedor que chegava a ser engraçado.

   Minha primeira reação foi desviar o olhar para o meu pé, depois prender a respiração tentar não ficar vermelha. Suponho que não tenha dado muito certo, mas eu não tinha muita opção naquele momento. Senti uma onda quente dentro de mim e de repente um calor desconfortável, a vergonha estava estampada na minha cara, mas eu ainda tentava assumir o controle da situação.

   Ele quebrou o silêncio constrangedor depois de alguns lentos segundos de tortura. Mas eu podia jurar que ele estava achando graça da minha situação antes de voltar meu olho para seu rosto de feição séria e cansada.

   - O que você quer? – Ele perguntou antes de bocejar. Seus olhos estavam caídos, como os de quem trabalhou o dia inteiro e só desejava estar dormindo naquele momento.

   - E-eu queria agradecer pela janta e pelo quarto. – Estava tão arrependida de estar ali.

   - Achou que eu a trataria como prisioneira? – Ele cruzou os braços sobre o peito, chamando minha atenção naquela direção, o que me fez voltar ao estado de desespero mais uma vez.

   - Claro que não! – Respondi enquanto desviava minha atenção para seu rosto novamente, ma não estava ajudando em nada. – Eu só queria agradecer mesmo.

   Ele revirou os olhos, como se estivesse de saco cheio da minha idiotice. Eu não sabia se saía correndo ou se continuava pagando papel de idiota.

   - Sinta-se como parte do grupo, não precisa me agradecer. – Apesar de parecer incomodado comigo, sua afirmação me pareceu sincera. 

   - Tudo bem. Acho melhor deixar você descansar, parece que acabou de voltar da guerra. – Me afastei um paço da porta para demonstrar que estava de saída.

   - É, eu estou cansado, e agradeço a você por isso. Nunca tive que pôr tanto minha vida em risco em menos de 48h. Parabéns.

   - Desculpa. Eu não estou muito acostumada a ter que lidar com acontecimentos sobrenaturais, só a TPM da minha mãe, mas acho que isso não é pior do que aquilo que eu vi nesses dias.

   Ele riu. Pode ter sido um simples sorriso cansado e fraco, mas me deixou fascinada saber que ele era capaz de fazer aquilo.

   - Tudo bem, você vai acabar se acostumando uma hora ou outra. – Ele bocejou novamente. – Eu vou dormir agora, faça o mesmo, pois sairemos para andar um pouco de manhã.

   - Ah, sim. – Eu sorri sem graça. – Boa noite então. – Comecei a recuar pelo corredor enquanto via ele acenar.

   - Boa noite. – E finalmente fechou a porta.

   No longo caminho de meio corredor para o meu quarto eu fiquei pensando em como eu poderia parar de pensar naquela imagem. Quanto mais ela passava pela minha cabeça, mais vermelha eu ficava. Depois que deitei na cama não demorei muito para cair no sono, estava ansiosa para fazer perguntas sobre tudo o que não haviam me explicado direito.


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Notas finais do capítulo

Sorry por qualquer erro. >.< Espero que gostem.



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