No som da escuridão escrita por Aquila Aria


Capítulo 6
O Círculo


Notas iniciais do capítulo

Quero pedir desculpa por demorar tanto para postar. Tive alguns problemas durante esse tempo, mas prometo postar mais rápido. Peço desculpa também pelos erros...
Espero que goste ♥ :3



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Sentei ao lado de Rick e comecei a fazer carinho em seu rosto. Ele acordara enquanto eu estava conversando com Tyler e não dormira até então. Já eram três horas da manhã e eu ainda não havia conseguido dormir ainda. Meu irmão me encheu de perguntas no momento em que eu sentei ao seu lado, mas logo se calou, pois estava com dor de cabeça. Não me deu o trabalho de responder todas as perguntas, apenas dei-lhe respostas curtas. “Eu não sei”, “Talvez” e “Vamos esperar para ver” eram as coisas que eu mais dizia enquanto ele não parava de falar.

   - Nós já vamos pousar logo e então eu contarei tudo o que sei. Por hora, tente dormir. – Apertei a mão de meu irmão e levantei.

   - Aonde você vai? – Ele segurou minha mão antes que eu pudesse soltá-la.

   - Vou pegar algo para beber. Não precisa se preocupar, logo eu volto. – Beijei sua testa e saí do quarto. O avião estava silencioso, mas havia pessoas acordadas no salão de jogos. Estavam todos conversando baixo para não acordar aqueles que estavam dormindo.

   Não conseguia tomar uma decisão sobre o que Tyler me dissera. Todas as opções eram ruins e me separavam de pessoas que eu amava. Ele havia sido bem claro, queria uma resposta antes do amanhecer.

   “- O envelope que está com você contem seus novos documentos. Nós a bancaremos em tudo, não vai precisar se preocupar com dinheiro em nenhum momento. Mas você sabe que precisa deixá-los para trás, – ele me encarou por alguns segundos antes de completar – mesmo que vá doer em ambas as partes, é necessário. – Seus expressão fria me fazia pensar se aquele homem havia medo de alguma coisa. – Agora que seus poderes se manifestaram, os devoradores de almas irão vir atrás de você, e todos os humanos que estiverem próximos a você, irão pagar pelo seu fardo. Você tem duas opções, venha conosco e abandone seu passado, ou permaneça com sua família e os exponha ao risco de morrer da pior forma possível.”

   Esbarrei no balcão do bar por estar andando desatenta enquanto lembrava das palavras que aquele homem frio havia dito. Eu realmente não sabia o que fazer naquela situação. Meus pais...  Conseguiria abandoná-lo?

   - Está tudo bem, Áquila? – Saí de meu devaneio rapidamente quando me dei cona de que Lydia de observava do outro lado do balcão. – Você precisa de alguma coisa?

   - Eu vim pegar algo para beber. – Me sentei no banco que ficava de frente para ela.

   - Estou bebendo um suco de uva maravilhoso, aceita?

   - Sim. – Sorri. Aquela mulher parecia tão feliz com toda a situação. Será que todas aquelas pessoas tiveram que passar pelo mesmo que eu? Estava com medo de perguntar e acabar desencadeando uma má reação dela. Mas não custava tentar. – Lydia, posso lhe fazer uma pergunta?

   Ela se virou, me entregou o copo e se sentou novamente.

   - Claro.

   - Você não é como eu, não é?

   - Não. Sou humana, como seu irmão e seus pais. – Seus olhos puxadinhos ficavam menores quando ela sorria.

   - Por que está aqui então? – Talvez eu estivesse me intrometendo demais, mas não podia deixar de perguntar.

   - É uma boa pergunta. – Ela podia estar dizendo aquilo apenas para que não me sentisse tão mal por ter perguntado. – Bom, é uma longa história. Tenho certeza de que ainda vou ter muito tempo para lhe contar tudo. Logo vamos fazer um pouso que não estava nos planos e eu vou lhe dar todas as instruções.

   - Está bem.

   - Não se sinta tão pressionada, Áquila. Você vai perceber que estamos lutando pela mesma causa e então vai entender a importância das medidas que tomamos a cada segundo.

   - Acho que vou voltar para o quarto. – Deixei o copo sobre o balcão, sorri e voltei andando para o corredor escuro. Minha cabeça estava doendo e eu sentia tinha vontade de me jogar da janela do avião o tempo inteiro. Quando cheguei ao quarto, Rick já roncava esparramado pela cama. Sentei na poltrona ao lado da cama e peguei no sono rapidinho.

   Horas depois Lydia me acordou para avisar que já havíamos pousado e eu precisava ficar no avião enquanto todos os outros saíam para fazer algo importante. Não gostei muito da ideia de ficar sozinha no avião e tive certeza de que aquilo não seria nem um pouco legal quando descobri que estávamos próximos a uma fazenda mal assombrada em Minas Gerais. Tyler disse que eu não deveria sair do avião por nada e eu traduzi isso como “realmente há fantasmas aqui”. Ser atacada por um grupo de garotas malucas, ser sequestrada e torturada por um bando de psicopatas ou cair de um avião que explodiu no meio do céu não era nada comparado a estar na presença de um fantasma.

   Todos saíram do avião e nos abandonaram lá, sozinhos e “seguros”. Até Lydia havia ido com eles. Aquilo não me agradava nem um pouco. Estava frio naquele lugar e ventando tanto que as árvores pareciam se desgarrar do chão. Eu não sairia daquele avião de forma alguma.

   Minutos depois de o grupo ter saído comecei a ouvir batidas na porta do avião. Alguém estava desesperado para entrar e eu, desesperada para decolar com aquela lata voadora.

   - Áquila! Abre logo! – Gritou a pessoa do lado de fora.

   - Ótimo! Agora até mesmo o fantasma sabe meu nome... – Choraminguei ao lado de Rick.

   - E se for alguém do grupo? – Perguntou Rick. – Podem ter mandado alguém para ficar conosco. É melhor você abrir logo.

   - Mas e se for um fantasma?

   - Um fantasma não seria tão educado a ponto de bater na porta antes de entrar.

   Fazia sentido.

   Corri para abrir a porta do avião, mas peguei uma garrafa de vinho vazia para que pudesse me defender caso não fosse aluem do grupo. Mas, para a minha sorte, era o rapaz de cabelo até o ombro. Ele entrou rapidamente e fechou a porta atrás de si mais rápido ainda.

   - Por que demorou tanto para abrir? – O homem se jogou no chão ofegante. – Tá ventando demais lá fora, sabia?

   - Desculpa, achei que fosse um fantasma. – Me abaixei ao lado dele e toquei no seu ombro. – Você está bem?

   - Sim. Vou ficar aqui para garantir que fiquem seguros, apesar deste avião ter vários selos de proteção. – Ele levantou e estendeu a mão para mim. – Fique tranquila, nenhum fantasma pode entrar aqui.

   - Me sinto muito melhor agora, mas... Por que estamos aqui? – Perguntei.

   - Soubemos que uma das chaves nove chaves do portal está por aqui.

   - Chaves do portal? Está falando daquela parada que as trevas não podem abrir?

   - Exatamente! – Ele sorriu e se virou para a porta. – Lá fora está parecendo um campo de guerra então, não tente sair. Onde está seu irmão?

   - Na sala de jogos. Ele já está conseguindo andar sem se apoiar em mim.

   - Isso é ótimo, logo ele vai estar novinho em folha.

   - Finalmente uma boa notícia. – Sorri.

   O homem saiu andando pelo corredor enquanto eu parava para olhar o vento destruindo tudo lá fora através da janela do avião. Eu estava realmente com medo de algo de ruim acontecer comigo e com meu irmão. Aquela era uma situação nova e eu não sabia como lidar com o perigo.

   Como o vento pode estar tão forte?  Pensei.

   De repente um grito de socorro me fez estremecer enquanto procurava algo pela janela. Não vinha de dentro do avião, vinha de fora. Eram gritos desesperados e que estavam longe, mas eu ainda podia ouvi-los. Corri para a sala onde meu irmão e o outro homem estava. Eles já estavam se preparando para começar uma partida de algum jogo no vídeo game quando eu cheguei desesperada.

   - Vocês estão ouvindo os gritos? – Perguntei.

   - Não se preocupe, os outros estão lá fora. Eles vão ajudar. – Respondeu o homem ainda vidrado na tela da TV.

   - Mas e se eles não estiverem ouvindo?

   - Áquila, não podemos sair daqui de forma alguma. Lá fora está muito perigoso e você não sabe controlar seus dons ainda. – Ele olhou para mim. – Não se preocupe, os outros vão ajudar.

   Sentei na poltrona ao lado da porta e fiquei observando os dois jogarem enquanto os gritos continuavam. Era algo tão agonizante que eu não parava de bater com os pés no chão, não conseguia suportar o fato de não sair para ajudar. Levantei novamente, não conseguindo ficar sentada e perguntei se eles iriam querer algo para beber. Rick pediu um suco e o outro rapaz disse que estava bem.

   - Tem certeza? – Perguntei.

   - Hm... – Ele sorriu. – Vou querer um suco também. – Seus lábios se contraíram, como se ele estivesse se segurando para não dizer algo. Não falei mais nada, apenas sorri e disse que traria os sucos.

   Quando eu estava prestes a sair do cômodo, um grito incrivelmente alto ecoou pelo avião. O som foi tão potente que me deixou atordoada por alguns segundos antes de eu sentir o desespero da voz que gritava meu nome. Não pensei duas vezes antes de sair correndo até a porta do avião.

   - Áquila! Não faça isso! – O homem vinha correndo atrás de mim, mas eu não dei atenção ao que ele dizia e abri a porta mesmo assim.

   Saí correndo pela tempestade sem conseguir ver muita coisa. Os galhos das árvores eram jogados para todas as direções pelo vendo destruidor. Meu coração batia tão rápido que meu peito chegava a doer. Seguir a voz era o de menos, o pior era conseguir desviar dos troncos de árvores desabados pelo chão e das coisas que eram lançadas pelo ar. Se eu fosse atingida por alguma daquelas coisas, com certeza, me machucaria feio.

   Quanto mais eu adentrava à floresta, mas escuro e confuso ficava o caminho. Os gritos estavam mais altos e eu podia ouvir a voz rouca e desesperada pedindo ajuda. Não sabia exatamente o que faria, mas não conseguia deixar de tentar ajudar. O desespero e medo na voz me fazia correr inconsciente para o meio do caos, sem nem mesmo saber o que me esperava.

   Me deparei com três grandes árvores caídas barrando o caminho, não havia como contornar e passar pelo lado, o caminho era estreito demais e as frutas desabavam dos galhos como meteoros. Voltar para o avião não era uma opção,  já que eu teria me jogado na tempestade a toa. Talvez eu conseguisse escalar o tronco sem ser levada pela ventania, mas os troncos estavam empilhados, dois em baixo e um em cima, e ainda haviam os galhos pontudos e fartos de folhas. Já era tarde demais para voltar, eu tentaria passar.

   Contornei dois galhos que impediam meu caminho até os troncos, prendi meu cabelo e me apressei. Me apoiei no primeiro tronco, passei o pé esquerdo por cima das folhas e tentei me apoiar na madeira. Quando fui passar o pé direito para o segundo tronco, quase me desequilibrei por ser atingida no braço por um galho grande. Gritei de dor, mas não soltei os galhos do segundo tronco. A ventania não ajudava em nada.

   - Por favor! Socorro! – Os gritos voltaram a ecoar pela floresta. No momento em que consegui pular para o segundo tronco, mais pedaços de coisas vieram como meteoros na minha direção.  Pulei para o outro lado do tronco rapidamente para não ser atingida e quase torci o tornozelo.

   Depois que consegui descer para o terceiro galho, pulei de volta para o chão e saí correndo em direção aos gritos. Cheguei a uma parte muito mais escura da floresta, onde o vento não estava tão forte e a luz do sol não conseguia atravessar as folhas dos galhos das árvores. Havia um círculo perfeito entre as árvores, parecia ter sido planejado, já que todas as árvores cresciam em volta dele sem nem mesmo ter um pedaço de raiz dentro da marcação de limite feita de cogumelos. Chegava a ser estranho a forma que os cogumelos haviam nascido exatamente um do lado do outro. Não pensei muito antes de me aproximar lentamente. Passando por trás das árvores que se encontravam fora do círculo, fui ficando cada vez mais maravilhada com os detalhes. Cada árvore envolta do círculo continha uma marcação, talvez um nome gravado em outro idioma.

   Fiquei tão distraída que não percebi que os gritos haviam parado no momento em que entrei na parte escura da floresta. Talvez a pessoa tivesse desmaiado, ou talvez até mesmo o pior tivesse acontecido. Áquila, sua idiota! Eu não sabia o que fazer naquele momento, estava perdida no meio da floresta e não sabia como voltar para o avião. Todo meu esforço não havia servido de nada e talvez eu estivesse prestes a ser a próxima vítima de algum monstro ou fantasma. Continuei andando entre as árvores e tentando ler as palavras gravadas nos galhos grossos. Eram difíceis o suficiente para que eu não entendesse nem mesmo uma letra. Mas havia uma árvore em especial que me parecia ter sua gravura em algum idioma conhecido. A árvore estava do outro lado do círculo e seria muito mais conveniente e fácil atravessar ao invés de dar a volta por ele. Hesitante, me aproximei lentamente da linha de cogumelos estranhos e pus o pé direito dentro do círculo. Esperei alguns segundos para ver se a algo de estranho aconteceria, mas como nada aconteceu, pisei com o pé esquerdo.

   Quando já estava a uma distância boa para conseguir ler o entalho na arvore, parei no mesmo lugar e comecei a tentar decifrar as letras. Eram bem parecidas com letras gregas. Eu havia estudado grego quando estava no quinto ano, mas não me lembrava de tudo então me esforcei para decifrar o que estava escrito.

   - A... – Falei em voz alta enquanto lia devagar. – F... Não, acho que pode ser um “Q”. – Me aproximei mais um pouco da árvore, mas ainda sem sair do círculo. – U... I... L... Espera, esse é o meu...

   - Áquila! – Alguém gritou meu nome atrás de mim e eu me virei rapidamente. Tyler estava do outro lado do círculo, com os braços esticados na minha direção e segurando uma espada na mão direita. – Saia de perto da árvore devagar e venha andando na minha direção.

   Ele não parecia estar brincando, estava bem sério. Não precisou falar duas vezes para que eu me afastasse da árvore e começasse a ir até ele.

   - Ótimo! Não olhe para a árvore. – Ele abaixou a espada e se aproximou da linha de cogumelos.

   Continuei andando e aumentando os passos para chegar mais rápido nele, mas parei subitamente quando um estrondo horroroso atingiu meus ouvidos. Me joguei no chão, pus as mãos nos ouvidos e fechei os olhos. Não teve coragem de me mexer novamente até ouvir a voz de Tyler gritando comigo.

   - Levante! – Senti algo frio tocar em meu ombro e o segurei, obviamente achando que era a mão de Tyler, mas não era.

   Havia uma sombra atrás de mim. Algo horrendo e assustador. Sem olhos, boca ou qualquer vestígio de rosto. Era uma mancha escura que pairava bem próxima à mim. Tinha braços,  mas não tinha pernas. Parecia uma sombra com um buraco escuro e infinito no lugar da face. A criatura emitiu uma espécie de rosnado que fez com que tudo ficasse em silêncio, não podia se ouvir mais nada nem ninguém ao redor.

   Comecei a me arrastar na direção oposta à criatura, em direção a Tyler. A grama que tocava minhas mãos estava fria como neve. Tudo a minha volta estava coberto por uma cortina de neblina extensa e gélida.

   - Áquila você precisa sair do círculo por onde entrou! – Gritou Tyler. Ele estava a uma distância de dez passos de mim e não havia entrado no círculo. 

   - Venha para mim, águia. – As palavras ditas pela criatura me fizeram ficar mais assustada ainda. Ela estava se aproximando cada vez mais do meu rosto e eu não conseguia levantar do chão,  pois minhas pernas tremiam.

   - Não chegue perto! – Gritei. A criatura emitiu um som estranho que eu deduzi com uma gargalhada sinistra.

   - Sua alma é minha. – De repente a sombra se jogou sobre mim e eu fui envolvida por uma onda de dor. Era como se estivessem esmagando todos os meus ossos ao mesmo tempo. Gritei e me debati, mas isso só fez com que a criatura sentisse mais prazer. Ele estava sugando minha energia, eu podia sentir seu deleite em minha dor.

   - Pare! Por favor! – Implorei. A cada segundo que passava eu ficava mais fraca.

   - Use sua essência! – Ouvi a voz de Tyler berrando bem no fundo da escuridão e tentei despertar algo dentro de mim, mas a única coisa que saiu foi um grito de pavor e dor. Aquela maldita chama não aparecia quando eu queria!

   Estava quase cedendo à escuridão.  Cada sentimento ruim e dor me deixava mais fraca para lutar contra a criatura que me atacava sem piedade. Respirar estava difícil e  manter a consciência, mais ainda. Eu chorava cada vez mais baixo, não conseguia me aguentar mais. Virei minha cabeça para o lado e vi Tyler com a expressão indecifrável atrás do limite do círculo. Tentei reunir todas as forças que ainda me restavam e sussurrei:

   - Me ajuda... – Depois que as palavras saíram da minha boca, eu fechei os olhos e desisti de resistir.

   A dor dilacerante diminuía cada vez mais até se tornar uma dorzinha suportável. Aquela tortura já devia estar acabando. Eu morreria por burrice.

   De repente o grito atordoante da criatura me fez abrir os olhos. A dor havia parado, minha energia estava desgastada e fraca, mas ainda conseguia sentir a escuridão vagando dentro de mim como se procurasse algo. A criatura não estava mais sobre meu corpo e eu podia ver os galhos das árvores sobre minha cabeça e ouvir gritos confusos no fundo da minha consciência. 

   Fiquei jogada no chão até sentir alguém me puxar para cima e me segurar firme no braço. Joguei minha cabeça para o lado e vi o rosto suado de Tyler se contorcer em esforço. Ele me segurava pela cintura com um braço e mantinha a espada firme com o outro. E ele estava dentro do círculo,  tinha ido me salvar. Isso me fez pensar no quão vulnerável e inútil eu era ao lado daquele homem.

   - Temos que sair daqui antes que surjam outros. – Sua voz grave atingiu meus ouvidos de leve, como se eu estivesse quase surda. Mas ele parecia estar gritando... Eu estaria perdendo a consciência? – O portal do círculo vai se fechar assim que passarmos por ele. Consegue se manter apoiada em mim?

   Assenti com a cabeça e então ele diminuiu a força com que me segurava. Obriguei minhas pernas a aguentarem meu peso por alguns minutos.

   - O Ceifador ainda está atrás de nós então vou jogá-la para fora e prender ele aqui dentro novamente. Assim que eu passar pela linha de cogumelos, arranque um deles do chão. Não faça isso antes, se eu estiver dentro do círculo quando fizer, serei aprisionado com a criatura.

   Apesar dele ter falado tudo bem rápido, consegui compreender que não deveria tirar o cogumelo antes dele sair. Sussurrei um “tá bem” e então ele entrou em ação.  Tyler começou a andar comigo apoiada em seu ombro. Cada passo era uma tortura, eu estava ofegante e exausta. Torcia cada vez mais para que tudo desse certo e conseguíssemos sair dali vivos.

   Quando estávamos bem próximos da saída, Tyler disse que a criatura tentaria impedir e que ele voltaria para aprisionar o monstro. Faltando dois passos para sairmos do círculo, a sombra surgiu na minha frente urrando de ódio.

   - Vai! – Tyler gritou antes de me jogar para fora do círculo e acertar a sombra com a espada. A criatura desapareceu e reapareceu atrás dele. Eu havia caído de joelhos depois da linha de cogumelos.

   A criatura atacava o homem com rajadas de algo que parecia areia negra e brilhante. A areia rodeava Tyler enquanto ele apenas usava sua espada para afastar as sombras. Eu estava desesperada do lado de fora do círculo,  queria poder fazer alguma coisa para ajudar, mas não conseguia nem mesmo ficar de pé sem ter que me apoiar em algo.

   Em um momento da batalha, Tyler foi ferido no abdômen e caiu xingando no chão.  Esse foi o momento perfeito para a criatura atacá-lo novamente. Neblina negra começou a tomar conta de todo o círculo e eu não conseguia mais ver nada lá dentro. Parecia uma tempestade limitada apenas dento do limite de cogumelos. Tudo ficou em silêncio por alguns segundos e eu comecei a me desesperar imaginando que talvez Tyler tivesse morrido.

   Aquilo não teria acontecido se eu tivesse ouvido a todos e tivesse ficado no avião com os outros. Como eu havia sido idiota... comecei a chorar mais ainda ao pensar no quão tola eu fora. O homem morreria por minha causa e eu estava impossibilitada de ajudá-lo.

   De repente uma luz forte rasgou o véu da escuridão e afastou toda a neblina para longe. No meio do círculo estava o homem corajoso que fora me salvar, ajoelhado ao lado de sua espada jogada ao chão. Ele brilhava tanto que eu mal podia olhar para ele. Tyler levantou com sua espada e veio correndo na minha direção. Sua roupa estava rasgada, seu cabelo bagunçado e seu corpo sujo. Atrás dele, mais é mais criaturas monstruosas surgiam e rugiam para ele. Elas voavam para cima dele, furiosas e famintas. Ele as atacava com a espada, que agora queimava em chamas azuis, mas continuava correndo. Quando ele estava prestes a passar pela linha, uma das criaturas puxou a camisa rasgada do homem, mas o tecido cedeu e a criatura ficou com o pedaço cinza da camisa nas mãos. Tyler se jogou para fora do círculo e no mesmo momento eu arranquei um cogumelo da linha. Uma onda roxa subiu do chão, na reta de todos os outros cogumelos, na hora em que um deles foi retirado.

   Respirei fundo e me encolhi sobre os joelhos que não paravam de tremer sobre a terra fofa. Os monstros estavam presos dentro do círculo graças a uma barreira invisível.  Finalmente eu estava fora de perigo, ou não. Tyler arfava ao meu lado, jogado no chão. Ele olhou para mim e depois para dentro do círculo. Acompanhei seu olhar e vi o pedaço da sola de sua bota jogado próximo de onde a onda roxa havia subido.

   - Conversamos no avião. – Seu olhar já dizia o quão irritado comigo ele estava. O homem levantou e me puxou pelos braços. Como eu ainda não tinha forças para caminhar sozinha, ele me enlaçou com um dos braços e cedeu seu ombro para que eu pudesse me apoiar.

   Depois de toda aquela situação assustadora, eu só sabia chorar.


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Notas finais do capítulo

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