Let me know escrita por Loretha


Capítulo 24
Plano: parte dois


Notas iniciais do capítulo

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Pedir uma autorização a Chloe para entrar nas Catacumbas de Paris talvez não tenha sido a melhor ideia de Alya. Ela percebeu isso quando a loira entregou o envelope pardo em suas mãos e mostrou aquele sorrisinho que só uma Bourgeois como aquela menina sabia dar.

— Temos um acordo. — Disse quando cruzou os braços enquanto esperava Alya abrir o envelope. As sobrancelhas erguidas demonstravam sua curiosidade ao pedido da menina. 

Alya hesitou. O envelope parecia quente e pesado, como se mais do que uma simples assinatura estivesse guardada lá. 

— Chloe... Olha... — Começou, mas foi interrompida.

— Nós temos um acordo. Eu não sei o que é que tem lá, nem por que seria tão importante, mas sei que, o que quer que você ou Rena Rouge queiram nas Catacumbas...

— Eu acho que Nino está lá. — Cofessou Alya, sem nem pensar duas vezes. 

Chloe engasgou com a própria respiração, surpresa com a sinceridade das palavras da garota. Alya esperou não ter errado dessa vez, em confiar sua confidência logo na Bourgeois mais perversa de Paris. 

— Nino? — Perguntou a loira numa voz falha. — Alya, você não pode ter tanta certeza. Não pode se arriscar a procurar alguém sozinha.

Os olhos de Alya ardiam enquanto ela tentava conter as lágrimas. Balançou a cabeça, negando o que acabava de ouvir pela segunda vez. 

— É a melhor pista que eu tenho. E eu não estarei sozinha. Peça qualquer coisa em troca dessa autorização, mas, por favor, que não seja respostas sobre isso — Disse com a voz embargada, sacudindo o envelope — Sabe que é perigoso.

Deu as costas e saiu dali o mais rápido que pode. Sentia que já tinha se humilhado o suficiente, não precisava chorar também na frente de Chloe.

A aula começaria logo, ainda tinha tempo para lavar o rosto e talvez passar na biblioteca.

Engoliu o choro enquanto seguia para o banheiro. A tristeza foi se transformando em raiva a cada passo que dava e aquilo trazia uma dose de determinação nova para o que precisava fazer. E daí que as pessoas não acreditavam que ela conseguiria achar Nino? Ela acreditava e era o suficiente.

Entrou no banheiro empurrando a porta com força. Tirou a mochila das costas e a deixou no chão. Ergueu o envelope. Percebeu que suas mãos tremiam, mas não sabia dizer se era pela raiva ou o pelo choro sufocado. Hesitou um segundo, temendo que Chloe  a tivesse enganado, mas então rasgou o lacre. 

A autorização era autêntica, carimbada e assinada pelo prefeito. A primeira parte do plano estava concluída. 

— Como vamos fazer isso? 

Alya quase gritou quando seu kwami apareceu ao seu lado, pairando no ar.

— Trixx! Que susto você me deu! Eu... esqueci momentaneamente que você existia.

Trixx balançou a cabeça. Olhou para o que Alya segurava e sorriu.

— Você conseguiu! Isso é um avanço.

— É... Mas agora eu não faço ideia do que fazer. Poderei entrar mais fundo na galeria, mas ainda vai ter guardas e provavelmente turistas. Não acho que isso serve para o turno da noite.

Conforme pensava, Alya ia esquecendo a raiva e o medo. Sua mente estava focada apenas em como prosseguiria. Estava tudo organizado, mas agora que tinha começado mesmo a executar seu plano, sentia a insegurança pesar.

— Eu também tenho que me preocupar com a Chloe — Falou, olhando para o papel em suas mãos. — Não acho que ela vai deixar isso barato e também tenho medo de que me siga. Com certeza ela está curiosa.

— Acha que ela suspeita de algo? 

— Não, não. Bem, não exatamente. 

O sinal tocou alto no corredor.

— Vem, tenho aula agora. Mais tarde pensamos em algo.

             ***

O mapa dos Subterrâneos de Paris estavam estendidos sobre a cama de Alya. Não eram precisos, ela sabia, mas eram melhores que nada. Repassava o plano mentalmente enquanto arrumava a bolsa que levaria.

— Então eles deixam que você entre lá, além do ponto onde outras pessoas podem entrar, usando apenas esse papel como convite? — Trixx perguntou, depois de comer um pedaço de bolo de laranja.

— Já disse que sim, Trixx. Talvez eu não precise. É para emergências ou algo assim. — Respondeu Alya sem nem parar de correr de um lado a outro do quarto, procurando tudo o que fosse necessário. — Bem, não sei se vou poder entrar em todos os túneis e ainda tem os guias, que não podem sair do nosso pé, mas vou dar um jeito, se alguém me achar sozinha, sei as desculpas decoradas.

Trixx continuou comendo o que restava do pedaço de bolo, avaliando Alya de onde estava sentada.

— Estou esquecendo algo? — A menina olhou o quarto todo, as mãos na cintura.

Satisfeita, fechou o zíper da bolsa.

— Você consegue Alya! — Trixx levantou voou com um sorriso confiante. Alya agradeceu mentalmente por isso, pois precisaria de toda a confiança possível para o que tinha que fazer.

***

As pessoas na fila não eram muito variadas. Na maioria, jovens adultos curiosos para explorar os túneis fúnebres, na expectativa de ver algo novo e assustador.

Alya era a única da sua idade ali. Pelo menos, pensou que fosse. Avistou entre os ombros das pessoas, um cabelo loiro brilhante, amarrado num rabo de cavalo. Alya abaixou a cabeça e soltou um suspiro irritado.

— Estou passando, passando, saia da frente! — Chloe empurrou uma mulher do seu caminho, ignorando a carranca dirigida a ela.

A menina loira parou na frente de Alya com um sorriso infernal. Suas roupas pareciam inadequadas e extremamente desconfortáveis para explorar os subterrâneos, mas não foi com isso que Alya se preocupou imediatamente.

— O que exatamente você está fazendo aqui? — Perguntou rude, sem se preocupar com qualquer reação negativa que a outra poderia ter.

— O que as pessoas vem fazer em lugares como esse! Que pergunta estúpida, Alya, pensei que fosse mais inteligente. — respondeu, sem tirar aquele maldoso do rosto.

Alya bufou e deu as costas para Chloe, dando uns passos para seguir a fila que tinha andado. Mais um empecilho.

Além de despistar o guia e os turistas, teria agora a dificuldade extra em despistar alguém que estaria com a atenção ligada diretamente nela.

— Você não quer passar na frente, senhorita Bourgeois? — Alya provocou, olhando para trás por cima do ombro.

A loira sacudiu a mão e balançou a cabeça.

— Não, não. Aqui está óootimo! Nada melhor que visitar esse lugar... — Chloe franziu o nariz com nojo e encarou Alya com determinação — esse lugar muito divertido, acompanhada da minha colega de sala mais nerd de todos os tempos.

É, com certeza Chloe daria trabalho. Felizmente, isso não desanimou Alya. Pela expressão da loira, ela queria estar em qualquer lugar que não fosse aquele.

Alya não entendia uma coisa: Chloe sabia o que ela tinha ido fazer. Sabia muito bem que não era apenas um passeio turístico normal, que Alya tinha ido procurar Nino, porque ela mesmo havia dito que aquela era a melhor pista que teve em meses, mas... Ainda assim, ali estava Chloe, firme na decisão de segui-la pelos túneis, mesmo sabendo também dos possíveis perigos, então por que ela estava fazendo aquilo?

— Senhorita? Entrada, por favor? — Pediu a mulher, tirando Alya de seus devaneios.

— Ah, certo... Aqui, estou com o guia. — Entregou o ticket meio amassado. — Desculpe, estava no bolso da calça.

A guarda assentiu e indicou a entrada com a cabeça.

— Olá, srta. Bourgeois! Nunca imaginei que a senhorita gostasse de passeios assim. Seu ticket?

— Aqui está. — Alya não se virou, mas percebeu que a voz de Chloe pareceu mais dura. — As pessoas deveriam parar de achar coisas a meu respeito.

Os turistas se amontoavam, tirando fotos, fazendo perguntas e atormentando o coitado do guia com histórias de fantasmas.

— Pois bem, pessoal! Vamos seguir em uma fila dupla. Como expliquei antes, cuidado com os avisos. Não entrem nos túneis que estão fora do nosso caminho e por favor, repito, por favor, não se percam do grupo.

Alya olhou para trás, para Chloe, que olhava ao redor com a mão apertando o nariz. Quando reparou que Alya olhava, baixou a mão e cruzou os braços.

O passeio foi iniciado. Havia um arco logo no começo do ossuário e sobre ele, uma placa de pedra onde estava escrito “Pare! Aqui é o Império da Morte. Alya sentiu um tremor correr pelo seu corpo.

— São mais trezentos quilômetros de extensão e vinte metros de profundidade! Claro que não vamos conhecer todos os túneis. — O guia anunciou, apontando para o longo corredor que se estendia diante do grupo. — As pedras desses foram usadas na construção da cidade e antes eram apenas túneis de mineração, só na segunda metade do século 18 que virou esse incrível ossuário. Vocês sabem o motivo?

— Os cemitérios estavam cheios, não era? — Um rapaz respondeu timidamente, olhando para os crânios presos nas paredes.

— Exatamente! E estavam tão lotados, que os restos mortais começaram a aparecer da terra, haviam sepulturas abertas e tudo mais. O cheiro e as doenças que traziam incomodavam as pessoas, mas as autoridades só tomaram atitudes quando uma enchente levou os corpos para uma propriedade ali perto.

Todos olhavam as paredes com outros olhos agora, criando uma imagem do passado.

— Então trouxeram os corpos para cá com descaso, mas logo viram que seria necessário uma organização, para que coubessem todos.

Alya foi ficando para trás, olhando um e outro túnel fora da rota, analisando qual seria melhor. O mapa que tinha comprado na entrada, marcava em vermelho a rota do guia.

Ela também estava de olho em Chloe. A garota havia mergulhado na explicação do guia, distraída, assim como todos os outros, aquela talvez fosse sua deixa.

Aproveitou o momento e entrou em um vão apertado, cheio de ossos. Seguiu no escuro até a luz fraca do corredor principal desaparecer. O ar era pesado, terroso e não era agradável estar cercada de tantos restos humanos.

Tirou a mochila das costas, com cuidado para não mexer nas paredes, e pegou a lanterna. O feixe de luz era direto e claro. Guardou o mapa do guia e pegou o que tinha feito.

— Isso é assustador. — Trixx surgiu.

— Eu sei, estou com medo. Mas eu não posso estar errada. Nino está em algum lugar.

Com a mochila nas costas, seguiu caminho, pisando na terra úmida conforme andava. Não ouvia mais nada além da própria respiração e aquilo era horrível. Depois de um tempo olhando apenas para os crânios, começou a imaginar que as cabeças a seguiam com suas órbitas vazias. Sua respiração estava acelerada e o grito preso na garganta. Tinha que ter lido sobre assombrações!

Alya parou um pouco para ajustar a respiração. O túnel agora não era tão apertado, mas os ossos pareciam mais desorganizados e mais velhos. Olhou o mapa. Logo aquele corredor se abriria em uma sequência de outros corredores.

Um barulho chamou a atenção de Alya. Arregalou os olhos tremendo e escutou. Passos correndo. Não um, pareciam vários.

— O que é isso? — Trixx apareceu, o rostinho assustado.

— Não existem fantasmas, não existem fantasmas — sussurrou a menina angustiada, suando frio. — Esses caras estão mortos faz mais de um século, não existiam zumbis nessa época... Existiam? Vamos, Trixx.

Ajeitou a mochila nas costas e começou a correr na direção do centro de túneis. O que quer que fosse aquele barulho, não a veriam se ela se escondesse em um deles.

Um grito raivoso explodiu no ambiente abafado.

Alya parou. Os sons que seguiram aquele grito indicaram que havia algo errado. Estava acontecendo uma luta naquele espaço limitado e ela precisava fazer alguma coisa além de correr e se esconder.

— Trixx, agora.

No momento que se transformou, alguém pulou fora do túnel e aterrissou de costas para ela, postada na frente do corredor numa posição de defesa.

— Se prepara, eles estão vindo. — Falou Queen Bee, olhando para o rosto de Rena Rouge, em seguida baixou a voz. — Depois nós conversamos, Alya Césaire.


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Notas finais do capítulo

Eu tenho uma conta no twitter (@MarianaD13), caso eu demore muito, podem conversar comigo lá, me ajudarem a desbloquear esses bloqueios que tenho. Bem... Acho que ficou grandinho o capítulo, mas depois de tanto tempo, é bom.



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