Let me know escrita por Loretha


Capítulo 18
Areia e terra


Notas iniciais do capítulo

Galerinha, como eu amo esse capítulo e olhem que ele nem é totalmente o mais bam! Boa leitura :D



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Os olhos de Chat Noir ardiam, ainda que tentasse limpar a vista, a areia não saía. Ele estava ajoelhado atrás da claraboia de um prédio, se protegendo das coisas que Névoa Seca arremessava. Dali, ele apenas ouvia o som da luta e das pessoas gritando assustadas com a ventania.

— Chat Noir, levanta! Precisamos de ajuda! — Chamou a voz de Rena Rouge através do barulho.

— Eu não estou enxergando, como vou ajudar exatamente?! — Gritou, irritado. 

Num dos piscar de olhos, viu alguém se aproximar. Uma mancha vermelha e indefinida, bem na sua frente.

— Deixa que eu te ajudo. — Falou uma voz próxima ao seu rosto. Uma voz que ele conhecia bem.

— Ladybug? 

Mãos delicadas tocaram suas bochechas. Um leve calor se espalhou por seu corpo. 

— Eu sumo por um tempinho e você desaprende a acabar com esses vilões malvados, Chat Noir? — Ladybug perguntou.

— Desculpe, my lady, é que estou cego de amores por você. — Respondeu sorrindo, mesmo que sentisse seus olhos lacrimejarem. 

Ladybug deu um soco em seu ombro, mas riu. 

— Vem, levanta, precisamos tirar essa areia dos seus olhos, mas aqui não dá. — Ladybug puxou Chat Noir para que ele ficasse de pé e circulou um braço em sua cintura, para dar apoio. — Você está horrível, Chat Noir!

Ele riu e deu de ombros.

— Uau, obrigado, não era o que eu esperava, mas...

— Não, não assim. Seu rosto está sagrando. — Ladybug parou e pareceu puxar algo. — Vamos descer, segura. 

Chat Noir ouviu o ioiô ser jogado para cima. Colou seu corpo mais ao de Ladybug e juntos pularam. O som da ventania e as pedrinhas de areia batendo em sua pele diminuíram. Seus pés parecia ter pousado num tapete bem felpudo. 

Ladybug empurrou Chat Noir pelo cômodo, até ele sentir a superfície gelada de uma pia sob suas mãos. Sem demorar, ele tateou a extensão até achar a torneira, ligou e enfiou a cabeça debaixo da água fria. Piscou algumas vezes para tirar a areia dos olhos e limpar a vista. 

— Melhorou? — Ladybug perguntou, atrás dele. Estava batendo impacientemente o pé no chão. 

Chat Noir desligou a torneira e ergueu a cabeça, sacudindo os cabelos molhados. Olhou para Ladybug, vendo seu rosto pela primeira vez naquele dia e sorriu presunçoso.

— Melhor agora. 

A garota revirou os olhos e jogou uma toalha em seu rosto. 

— Vamos! 

Os dois voltaram pela mesma claraboia que tinham entrado. O caos do lado de fora ainda era o mesmo. As duas garotas lutavam contra Névoa Seca, parecendo ter a vantagem de duas contra uma, porém a tempestade não facilitava.

Quando Ladybug e Chat Noir se aproximaram, Queen Bee se distraiu com a chegada dos dois e não percebeu quando um guarda-sol saiu voando em sua direção, acertando-a com força.

— Quem é essa? — Ladybug virou-se para Chat Noir e, ao contrário do que ele esperava, ela parecia mais preocupada do que irritada com o fato de terem duas novas integrantes na equipe.

— Queen Bee.

— Depois a gente conversa. — Arremessou seu ioiô e foi ajudar Queen Bee.

Sozinho, Chat Noir sentiu a nuca arrepiar. O que Ladybug diria quando estivesse a sós o deixava nervoso.

— Ei, você vai ficar ai parado? O Akuma está no cinto! — Rena Rouge gritou, segurando Névoa Seca em fios de eletricidade desconectados. 

Ao ouvir a palavra akuma, Chat Noir viu Ladybug se levantar, trazendo consigo Queen Bee, quase desmaiada. 

Um frio se espalhou por seu peito. No fundo, sabia que algo estava errado, mas na superfície de seus pensamentos, ele queria apenas mostrar para Ladybug que podia fazer algo. Que havia feito algo enquanto ela esteve ausente.

— Eu cuido disso! — Expandiu o bastão e saltou para o lado de Névoa Seca. 

Quando Chat Noir quebrou o cinto e libertou o akuma, tudo pareceu correr em câmera lenta.

Sua mão brilhou num tom diferente quando ele ativou o cataclismo. Um verde doentio, escuro e ligeiramente perigoso, nada parecido com a habitual cor, geralmente tão viva. Aquilo parecia queimar sua pele e, de alguma forma, gelar seu coração.

Seu olhar cruzou com o de Ladybug no momento que ele fechou seus dedos ao redor da borboleta. Viu quando a garota, estática, deixou Queen Bee escorregar para o chão. 

O mundo ficou em silêncio, exceto por um som agudo no fundo da mente de Chat Noir. 

A luz em seu anel tirou sua atenção do rosto de Ladybug. Era a última carga. Ele precisava sair dali.

Quando se moveu, a velocidade normal retornou. Ainda havia gritos na rua, pessoas correndo, uma criança chorando.

— Chat Noir! — Ouviu alguém gritar, mas ele já estava longe.

Mas não longe suficiente.

 

                  ***

 

— Não podemos ir à Paris. — Félix balançou a cabeça, quase que freneticamente. 

O rosto já pálido, pareceu adquirir um tom ainda mais preocupante, até seus olhos pareceram perder a cor.

— Por quê? — Freya perguntou, alheia a a expressão do garoto.

— Podemos chegar em segurança. — Dominic tentou.

— Não, é uma armadilha. — Félix puxou o ar com força.

Sem dar mais nenhuma explicação, saiu do cômodo em passadas duras, deixando os irmãos a sós.

Evitou bater a porta quando saiu para o corredor, mesmo quando tudo que queria fazer era descontar sua raiva em algo. Não sabia exatamente porque apenas a menção da cidade de Paris fazia sua cabeça disparar, mas a sensação não era boa.

Ignorando sua decisão anterior de não agir como uma criança birrenta, chutou um vaso de plantas com força, que girou alguns segundos antes de tombar, quebrado, derramando a terra escura no carpete caro.

Félix bufou e se abaixou para ajeitar a bagunça, antes que alguém decidisse sair  quarto. Ajoelhado no chão, catava os pedaços do vaso no meio da terra.

O flash de memória o pegou de surpresa. 

Estava frio e a chuva cairia a qualquer momento, mas nenhum dos garotos sequer se importava com a ventania que sacudia seus casacos para todos os lados.

"Eu vou sentir sua falta, D'Artagnan." 

O garotinho secou as lágrimas e então juntou um montinho da terra úmida e a jogou sobre o pequeno buraco cavado no chão, onde, dentro, uma caixa de madeira guardava a alma de seu pequeno hamster.

"Descanse em paz, D'Artagnan." 

Mãos tocaram os ombros do garotinho, que se virou e abraçou a mulher que acabava de chegar.

Os cabelos loiros dela, arremessados pelo vento, escondiam o rosto.

"Sinto muito, meu amor."

O choro baixo da criança parecia capaz de partir um coração.

"Você pode terminar, Félix?", a mulher perguntou, pegando o garotinho loiro no colo.

Ela virou o rosto, tirando as mechas do cabelo da frente dos olhos para ter uma visão melhor de Félix.

— Félix? — Alguém chamou, mas a voz parecia distante, como se viesse do final de um túnel sem saída. 

Sentiu um ardor do lado do rosto que o fez recobrar os sentidos. Quando abriu os olhos, encontrou Freya sorrindo.

— Desculpa, mas você não acordava. — Ela o ajudou a sentar. — Vai acabar tendo que se acostumar com isso, caso não pare de desmaiar por ai. Não é nada legal, sabia? 

Pontadas de dor levaram sua atenção para a mão direita. Havia apertado um pedaço do vaso com tanta força que fez um corte considerável na palma.

Freya deu um pulo para longe dele, o que deu espaço para Dominic se aproximar.

— O que aconteceu? — Perguntou — Você foi atacado?

Félix balançou a cabeça. A memória estava tão fresca em sua mente que bastava piscar para ver o rosto de sua mãe enquanto ela segurava a criança no colo. Parecia uma memória tão pessoal, tão dele, que não queria compartilhar com mais ninguém. De certa forma, sabia que não ajudaria em nada ele falar sobre aqueles flashs.

— Eu só tive uma dor de cabeça. 

— Uau, que dor de cabeça, ein. — Freya comentou. Ela estava tão quieta que Félix estranhou. — Olha o que você fez.

Ele analisou a mão, vendo o corte abrir conforme ele tentava esticar a mão.

— Quanto tempo fiquei desmaiado?

— Tem pouco mais de cinco minutos que você chutou, sem querer — Dominic fez sinal de aspas — o vaso de plantas, então saímos para ver o que tinha acontecido. 

— Pouco tempo. — Félix ponderou, ficando de pé e limpando a calça com a mão boa. — Por que achou que fui atacado? Não daria tempo de ver alguém, quando vocês saíram do quarto?

— E vimos. — Freya disse, sua voz anasalada. — Uma mulher no elevador. 

— Por que está tapando o nariz? — Perguntou Félix olhando para ela. 

A garota deu de ombros, tirou a mão do nariz e cruzou os braços. Não demorou muito ela fez uma careta e saiu correndo para o quarto.

— O que ela tem? 

— Sangue. — Respondeu Dominic apontando para a mão de Félix. 

— A Freya não gosta de ver sangue? Sério?

Dominic riu, assentindo.

— Não fala que eu te contei isso.

Félix sorriu. De todos as coisas que imaginou que pudessem fazer Freya correr, nenhuma delas era sangue.

No quarto, encontraram ela estendida no sofá com uma almofada no rosto. 

— Espero que nada tenha sido comentado em minha ausência, Dominic. — Disse através da almofada.

— Absolutamente nada.

Félix balançou a cabeça e passou direto para o banheiro. Abriu a torneira e começou a limpar o ferimento. Com a porta entreaberta, ouviu Dominic falar com a irmã.

— Acha que era ela? 

— Pouco provável. — Freya respondeu. — Ela não se arriscaria assim, chegando tão perto do Félix.

Depois de um silêncio prolongado, Dominic voltou a falar, mais baixo ainda, mas Félix havia se aproximado da porta para ouvir melhor.

— Se for ela, só pode significar que estamos perto.


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Notas finais do capítulo

Creio que saibam quem é D'Artagnan, mas para quem não sabe, ele é um dos mosqueteiros e bem, eu estou lendo o livro, precisava de um nome pro hamster e usei do meu mosqueteiro ♥ E isso casou muito bem, já que... Bem, Adrien gosta de esgrima, é de Paris, então :D



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