Let me know escrita por Loretha


Capítulo 19
Conversa esclarecedora


Notas iniciais do capítulo

Eu amei escrever esse capítulo! E, depois de um tempinho, finalmente pude focar em um só personagem ❤️ Boa leitura :)



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Adrien abriu os olhos, piscando diversas vezes. Não que estivesse claro, mas ele não reconheceu o lugar e aquilo o deixou desnorteado. Sentou-se para olhar ao redor, mas a parca luz que entrava pela fresta de uma porta não foi suficiente para que ele pudesse ver o recinto.

Sua cabeça doía e seus ombros pareciam pesar uma tonelada. O suor escorria por suas costas e pescoço, fazendo sua camisa se colar ao corpo.

— Plagg? — Chamou, esperando uma resposta do amigo. 

Tinha uma sensação ruim na boca do estômago e temia que se relacionasse com o que havia acontecido.

Plagg apareceu se espreguiçando como tivesse tirado um bom cochilo. A áurea verde do kwami iluminou melhor o lugar.

— Que lugar mais horrível que você arranjou pra dormir, Adrien. — Reclamou o pequeno ser, fazendo uma careta.

Aproveitando a luz que vinha do kwami, Adrien pôde olhar melhor o espaço em que se encontrava.

Era uma sala pequena, e o barulho que vinha de algo no canto parecia mais alto a cada vez que as batidas do coração de Adrien se acalmavam. O cheiro de metal quente era forte, assim como o de ferrugem. 

— Estamos numa sala de máquinas?

— Parece que você invadiu uma despensa que por acaso guarda um aquecedor. — Disse Plagg, flutuando perto de cabeça de Adrien. — A vantagem é que você não ficou do lado de fora, já que está frio. A desvantagem é que você está suado ao extremo e suor fede. E estou com fome.

Adrien balançou a cabeça, ignorando a pontada de dor que fez pontinhos escuros nublarem sua visão.

— Do cheiro do queijo Camembert você não reclama.

Plagg balançou a cabeça.

— E nunca farei isso. Você está bem?

Não. Adrien não se sentia bem e achava que a sensação ruim que dominava seus pensamentos não o faria ficar melhor.

O garoto levantou com um pouco de dificuldade. Plagg desapareceu, deixando Adrien a sós com seus pensamentos e isso era algo que ele não queria.

A expressão de Ladybug ainda era nítida em sua mente e aquilo era torturante, assim como o frio que fazia sua nuca gelar a cada vez que pensava no akuma. A borboleta ainda parecia estar esmagada sob sua palma.

Meio cambaleando, Adrien abriu a porta. O vento frio da madrugada sacudiu seus cabelos. A claridade escassa da aurora ainda não iluminava a cidade de Paris. 

— É melhor voltar logo. — Plagg apareceu novamente, dessa vez parecendo realmente preocupado. 

— Você tem forças pra me transformar?

Plagg balançou a cabeça.

— Desculpa, Adrien, mas eu mal consigo sair do miraculous por mais de dois minutos. 

Com isso, desapareceu novamente.

— Vou ter que fazer do jeito antigo. — O garoto falou para o nada. 

Andou mancando até a amurada do prédio e olhou para baixo. Procurou a escada de incêndio. Parecia perigosamente velha e inclinada. Se ele caísse, não sobraria um osso inteiro.

Uma porta foi aberta abruptamente fazendo Adrien se esconder atrás de uma pilha de caixas que havia ali em cima.

— Sei que está aí, Adrien Agreste. — Falou uma voz grave. 

O garoto hesitou. Espiou por cima de uma caixa e quase caiu de alívio. Um rosto conhecido. Ou quase.

— Eu conheço o senhor. — Falou, saindo do esconderijo.

O velho balançou a cabeça, mas seu rosto não parecia nada feliz ou meramente satisfeito ao ver Adrien. Talvez por ter invadido um lugar privado, pensou o garoto.

— Vista isso e me siga. — O homenzinho corcunda jogou um casaco grande para ele e voltou-se para as escadas. — Nao fale nada e não mostre o rosto.

Sem fazer perguntas, Adrien vestiu o casaco e cobriu o rosto com o capuz. 

Os dois desceram as escadas em silêncio. O único som era da bengala do velho batendo no chão e a respiração pesada do garoto.

Enquanto desciam, pôde analisar melhor o homem que o guiava. Ele estava, talvez, mais curvado que antes e se apoiava mais firmemente na bengala. Apesar disso, caminhava com confiança e destreza, como se conhecesse cada curva e cada degrau da escadaria.

Adrien se perguntava o motivo de todo o sigilo. Por que não podia mostrar o rosto? 

Teve a resposta quando chegaram ao térreo. O porteiro do prédio, um homem sonolento, assistia o noticiário no volume mínimo, mas ainda sim

— ... está desaparecido desde a manhã passada. Ainda não temos informações precisas, mas Natalie, a secretária de Gabriel Agreste, diz que pode apenas ser um ato rebelde do garoto, que ultimamente tem agido com impulsividade. Só podemos esperar que não seja mais uma vítima dos sequestradores que estão levando nossas crianças.

— Mestre Fu. — Endireitou-se o porteiro, acenando com a cabeça para o velho, em seguida analisou Adrien com uma carranca muito mal disfarçada. — Bom dia.

— Obrigado, Estevan. — Disse o velho, sorrindo amavelmente. 

O porteiro assentiu e abriu o portão para que os dois saíssem.

— Mestre Fu? — Chamou Adrien, enquanto seguia o homem.

— Sim?

— O que está acontecendo? Quer dizer, sei que me ajudou a sair do prédio... — O garoto hesitou. — mas eu posso ir sozinho daqui. 

O velho estancou de repente, fazendo Adrien quase esbarrar em suas costas.

— Seu miraculous pode estar infectado. — Disse, sem se virar. —

Adrien engasgou com o ar. Tudo bem, aquilo não era coincidência. Havia muito pensava sobre a ligação do velho com o miraculous, mas não sabia que era tanto a ponto de ele saber sobre o que acontecia.

— Infectado?

— Vamos.

O velho recomeçou a andar, ignorando a pergunta de Adrien.

— Eu não vou a lugar algum com você até que me diga pelo menos uma coisa. Eu não faço nem ideia de quem seja você! — Uma pausa. — Ok, eu faço.

— Você precisa proteger seu miraculous, seu kwami. Confie em mim, quero ajudar. — Mestre Fu agora olhava para Adrien. Seu rosto não deixava de trazer conforto para ele.

— Tudo bem. — Suspirou, cansado. 

***

A sala em que Adrien se encontrava era grande e confortável, como a almofada a qual estava acomodado. O chá que Mestre Fu havia preparado estava intocado sobre a mesinha no centro da sala, fumegando, ainda quente, na xícara de porcelana branca. 

A mente do garoto ainda era caos, mas o silêncio da sala e o cheiro do chá tinham um efeito tranquilizante sobre ele. Seu corpo ainda doía, mas conforme Plagg descansava, melhor ele se curava.

— Queijo Camembert. — Mestre Fu falou, colocando um prato cheio de queijo na pequena mesa.

Plagg apareceu, aparentemente faminto, como sempre, e logo começou a devorar cada pedaço de queijo.

Um outro prato foi colocado na mesa, para Adrien. Uma sopa colorida, cheia de coisas que o garoto não sabia nomear. A fome cutucou seu estômago, vazio desde o dia anterior. 

— Vai fazer bem. — Garantiu Mestre Fu.

A primeira colher de sopa foi estranha ao paladar do garoto, mas a segunda e as seguintes foram recebidas com gosto. O calor da mistura deixava uma sensação boa conforme era digerida. Aquilo era melhor do que qualquer comida que um chef gourmet poderia fazer.

Enquanto Adrien comia, Mestre Fu bebericava o chá, observando os convidados com olhos atentos. Plagg já havia comido tudo e descansava sobre o prato. Adrien não deixou de notar que era o foco principal, mas não se deixou intimidar pelo olhar do velho.

Quando terminou, limpou a boca com as costas da mão. Olhou para Plagg cochilando e então para Mestre Fu.

— Você provavelmente já sabe do que eu quero falar. — Começou o homem. — Sabe que tem algo errado no seu interior.

Adrien sequer pensou em protestar. Sim, ele sabia que algo estava muito errado desde a noite em que viu Hawk Moth no telhado do Hotel.

— Eu vi tudo. Sei o que está acontecendo. A questão é se você sabe o que está fazendo ao seu miraculous. — Continuou Mestre Fu.

O garoto baixou a cabeça. Sua atenção caiu sobre o kwami que dormia um sono inquieto.

— Eu... eu sinto algo. — Levou a mão ao peito, massageando o lado esquerdo, querendo extinguir aquela sensação que o queimava por dentro, bem no coração. — O tempo todo. Sinto agora mesmo... e isso está acabando comigo.

Mestre Fu assentiu. Adrien viu a preocupação e a culpa se desenharem em seu rosto. Ele se achava culpado por aquilo?

— O miraculous da joaninha é o único que pode absorver os akumas sem sofrer danos. — Falou, olhando para Adrien como uma pessoa que explica as regras do mundo para uma criança que não sabe diferenciar o certo do errado. — Você não mata o akuma esmagando a borboleta. Você mata a borboleta e absorve o akuma. Isso que está sentindo é a consequência.

Adrien ouviu tudo, mas as palavras não pareciam coerentes o suficiente na sua mente confusa.

— Isso pode piorar? — Perguntou, depois de um longo silêncio, quebrado apenas pelo ronco de Plagg.

— Não sei. — Mestre Fu balançou a cabeça, pensativo. — Nunca aconteceu nada pior. A única vez que vi isso... Terminou antes que piorasse.

— Então já aconteceu? — Um fio de esperança pareceu se desenrolar em espiral. — Então eu vou consertar isso?

A expressão do homem fez o fio virar uma bola de linha indefinida, sem início nem fim.

— Não acabou do jeito mais promissor. — Respondeu, desviando os olhos do garoto pela primeira vez.

— Eu vou... perder o miraculous? — Quis saber, girando nervosamente o anel no dedo. — Você quer de volta, não é?

— Não! Se você ficar sem o miraculous perderá qualquer chance que tivermos de resolver isso. Foi o que deu errado. O portador do miraculous o tirou e..

— Ele morreu. — Interrompeu Adrien, sentindo o calor da sopa se esvair.

Mais uma vez o silêncio na sala. Diferente do interior do garoto. Dessa vez a frequência do caos em sua mente se intensificou. Eram tantos pensamentos e todos tão altos que Adrien queria levar as mãos à cabeça e gritar para que ficassem quietos.

Levou as mãos ao rosto, escondendo os olhos sob as palmas arranhadas pela luta do dia anterior.

— Você só precisava me deixar a par? — Perguntou, sem se mover ou erguer os olhos.

— Sim. Se não soubesse poderia absorver mais akumas. — Respondeu Mestre Fu sem emoção na voz.

— Preciso ir. — Adrien disse, levantando-se. — Plagg, vamos.

O kwami despertou e se espreguiçou, alheio a tensão que parecia criar forma.

— Obrigado pela sopa. — Disse sem olhar nos olhos do homem. — Plagg, transformar!

Correu para fora antes que Mestre Fu pudesse dizer algo.

A saída súbita tinha nome. E uma voz que ele sabia que podia calar o barulho em sua mente.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Adrien vai sair dessa? Vai conseguir proteger o miraculous do gato e também ficar protegido? Mestre Fu vai conseguir ajudar a resolver as coisas?



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