Eyes On Fire escrita por Brê Milk


Capítulo 39
Chapter 34: Demônio maior


Notas iniciais do capítulo

"In a nocturnal state of mind
Children of the night
But it's the only way alive
This black hole's pulling me inside
Of this black heart, this black soul"

- Unlike Pluto (Everything Black)



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ALEC VOLTURI

 

 

Ele não acreditava em seres celestiais e nada relacionado a crenças religiosas, porém, naquele momento, podia jurar que estava admirando um ser angelical. Cada traço, respiração, pedaço de pele não era nada mais do que divino. Observa-la da maneira que estava fazendo era uma benção que não merecia e Deus e o próprio diabo sabiam disso.

Porque Alec Volturi estava condenado ao inferno e ainda assim queria Brooke Evern com a mesma urgência que queria ser absorvido de seus pecados.

Ali estava ele: prestes a pegar um voo de volta para a Itália após falhar pela primeira vez em uma missão e com seu império ameaçado e ainda assim, nada disso parecia tão grave quanto o fato de estar deixando a morena que observava dormir ao seu lado, para trás. Nada se comparava com a ideia de destruir os sentimentos da Evern e magoa-la novamente, embora estivesse mentindo para si mesmo ao dizer o contrário.

Ele a magoaria no fim. E nem mesmo pensar na reação de Aro, Marcus ou Caius ao descobrirem sobre sua relação com a Descendente se equiparava ao tópico da própria. Era oficial: Alec Volturi estava apaixonado por Brooke Evern e não havia mais como voltar atrás.

Agora só não sabia como abandona-la.

O som de passos se aproximando e parando atrás da porta do quarto retirou o vampiro da nuvem de pensamentos. Pelo cheiro familiar já sabia de quem se tratava, mas ainda assim, as faíscas prateadas de anunciação que adentraram por baixo da brecha da porta e iluminaram o quarto deram um bom indício ao Volturi.

Rolando os olhos, ele saiu silenciosamente da cama deixando Brooke e atravessou o cômodo em um segundo, abrindo a porta e encarando Kian com cara de poucos amigos.

 

— Espero que tenha um bom motivo para estar batendo na porta de uma adolescente a esta hora da madrugada.

 

O feiticeiro rolou os olhos e seguiu o vampiro até metade do corredor deserto e escuro. Pela primeira vez desde que o verão começara, era uma madrugada de temporal em Forks. Os trovões do lado de fora faziam as paredes reverberarem e o vento dançava pela casa, sacudindo as cortinas e provocando zumbidos.

 

— Você não contou para ela que está indo, não é? - A voz de Kian ecoou pelo corredor em um misto de aborrecimento e incredulidade, o familiar semblante de reprovação.

 

Alec odiava aquele olhar. Muitos séculos antes, ele indicava que estava cometendo algum erro. Aquilo não havia mudado.

 

— Não é da sua conta - retrucou, tentando encerrar o diálogo ali. Virou as costas e caminhou dois passos, depois deu meia volta e então colocou as mãos na cintura, virando-se para o Archetti: - Mas, se fosse, o quão ruim seria?

 

Kian assobiou, balançando a cabeça.

 

— Muito. Mas você não está pedindo um conselho, está?

Alec rosnou baixinho, fechando a cara.

— Foi o que pensei, velho amigo - disse o feiticeiro. Ele calou-se alguns segundos depois e respirou fundo, rolando os olhos para a figura atormentada que o vampiro havia se transformado. - Sei que minha opinião não conta muito, mas, se posso dizer, acho que está cometendo um erro em não falar com Brooke sobre estar indo embora. Por isso bati na porta dela, antes que você pense besteiras. Andei observando vocês nesses últimos dias e é visível que está acontecendo algo. Ela é uma garota bastante especial e é alguém por quem vale a pena lutar. Então lute para ficar ao lado dela, porque se você não o fizer, outros farão.

 

Houve um momento de silêncio onde os dois se entre olharam, as palavras se desdobrando nas entrelinhas. Não demorou muito para serem entendidas e mais um trovão ecoou.

 

— Você, por exemplo? - Indagou Alec, estreitando os cantos dos olhos.

 

— Talvez. Mas depende dela, então sabemos que não. Conheço Brooke desde do dia que nasceu, por isso posso afirmar que no fim de tudo, ela escolherá você. Sempre vai ser você. Por isso ela merece mais do que simplesmente ser abandonada sem explicação.

 

O Volturi permaneceu em silencio, digerindo as palavras ácidas do Archetti, confrontando o olhar acusador do mesmo. Mesmo no escuro da noite, ambos poderiam ver. Mas havia mais coisa nele, mais sentimento. Havia certa urgência, calor, expressividade. Alec reconheceu aquele tipo de olhar: era o mesmo que via refletido em seus olhos quando se olhava no espelho após ter decidido aceitar o que sentia pela Evern.

Kian suspirou, aparentando arrependido por ter começado aquela conversa. Ele balançou a cabeça e se preparou para voltar para um dos muitos quartos de hóspedes da mansão Cullen, porém, paralisou ao ouvir a pergunta do vampiro.

 

— Você gosta dela?

 

O feiticeiro o lançou um olhar por cima do ombro e os balançou.

 

— Um pouco mais do que você gosta. Só não tive a minha chance ainda para demonstrar - respondeu Kian, um pequeno sorriso arrogante surgindo nos lábios. - Está com medo disso virar uma disputa pelo coração da Evern?

 

Alec o lançou um olhar atravessado, sentindo-se irritado com o rumo da conversa indesejada. Aproximou-se bruscamente do feiticeiro e cuspiu:

 

— Não preciso disputar algo que já é meu, Kian. E se quiser continuar com suas mãos no lugar, mantenha distância da Evern até minha partida.

 

— Eu sempre farei o melhor por ela, mas isso não significa que estou desistindo dos meus sentimentos- retrucou Kian, serenamente. Seus lábios se moveram lentamente, pontuando cada sílaba com precisão: - Então, se apresse e quebre o coração dela novamente. Terei tempo o suficiente para remenda-lo depois que você se for.

 

Alec rangeu os dentes, controlando o impulso de avançar contra o feiticeiro naquele momento. Com a deixa, Kian fez um aceno com a cabeça e desapareceu diante dos olhos do vampiro, o sorriso cínico nos lábios desaparecendo junto com ele. O Volturi rosnou, furioso. Para ele, o remoto pensamento de Brooke ficar com Kian era inconcebível e agitava uma fúria entorpecida dentro de si.

Kian desejava o amor da Evern e Alec desejava mata-lo por isso.

Porém, era inevitável. Como alguém poderia resistir a Brooke Evern quando nem mesmo ele havia conseguido? Ela era uma pessoa incrível e merecia ser amada, mesmo que pelas pessoas erradas. Ela merecia o amor e a chance de tê-lo. Merecia amar e ser amada na mesma intensidade, se não mais.

E de repente, Alec Volturi queria ser o responsável por todas aquelas coisas. Queria ama-la e ser amado de volta. Queria ser o cara que a teria nos braços todas as noites e manhãs nos piores e melhores dias. Contudo, sabia que seria o contrário. Ele era aquele que iria quebrar seu coração e magoa-la como nunca antes, porque era o que tinha que fazer. Era o que sempre fazia.

No fim das contas, Kian estava certo como sempre.

 

Maledizione!

 

— Sinta-se a vontade para xingar em sua língua, mas só depois que eu amaldiçoa-lo na minha - A conhecida voz suave e (naquele momento) zangada ecoou pelo corredor, pegando o Volturi de surpresa: - Você é um otário, Alec Volturi!

 

Ao se virar, ele encontrou a híbrida dos Cullen.

Conhecia Renesmee Carlie Cullen há sete anos. Na primeira vez que a vira, na clareira, ela ainda era uma criança especial que representava uma ameaça para seu clã. Depois de todo aquele tempo, aquilo havia mudado e a garota havia crescido e se tornado apenas especial. Calmaria e gentileza apareciam na mente do Volturi sempre que pensava nela, contudo, nenhum dos dois predicativos poderiam ser usados para descrever a híbrida naquele momento.

Não havia nada de calmo ou gentil no jeito que ela o encarava.

 

— Você perdeu o juízo ou ainda está dormindo, híbrida? - Indagou Alec, cruzando os braços, irritado.

 

— Estou completamente sã e desperta, diferente de você - disparou ela, se aproximando a passos duros. Ao parar de frente para o vampiro, ergueu a mão e apontou o indicador rente ao rosto dele, os olhos brilhantes de descontentamento, o cabelo desalinhado, erguendo o rosto e empinando o nariz:

 

— Eu escutei sua conversa com Kian. Como pôde fazer isso com a Brooke?

 

— Eu ainda não fiz nada - respondeu Alec, impaciente, abaixando o dedo da ruiva. - E sugiro que você abaixe o tom antes que acorde as poucas pessoas que dormem aqui e retorne ao seu quarto antes que eu esqueça que estou na sua casa e que não seria de bom tom machuca-la.

 

Renesmee riu, uma risada de escárnio. Mesmo no escuro, era possível detectar a mágoa e o cinismo em sua expressão facial. Na cabeça do Volturi, estar parado no meio do corredor do andar de cima com o filhote do clã Cullen discutindo sobre aquele assunto, parecia ser uma cena patética. Ele havia se tornado patético, de qualquer forma.

A Cullen resfolegou, balançando a cabeça.

 

— Kian está certo. Você vai quebra-la e sabe disso.

 

— Isto não é você ou Kian quem decide. Aliás, este não é um assunto aberto a opiniões alheias

 

— Pois deveria ser - Atalhou Renesmee, rangendo os dentes. Havia desprezo em seu tom pela primeira vez na vida. - Porque obviamente todo mundo tem a mesma opinião sobre o rumo da história. E quer saber de uma coisa, Alec? Eu apostava em você. Eu apostava em vocês dois, na paixão avassaladora que eu enxergava quando os via juntos. Mas, agora que vejo a pessoa egoísta e covarde que você é, eu mudei de ideia. Sabe o quão difícil é encontrar alguém que nos ame com a mesma intensidade que o amamos de volta nesse mundo horrível e devastador? Você ao menos tem ideia, depois de sabe-se lá quantos anos você tem? Não? Porque eu sim, e Brooke também. Foi por isso que ela segurou sua mão e quis estar com você, mesmo sabendo o tipo de pessoa que você é. Então acho que você deveria levar isso em consideração antes de ir sem dizer adeus, Volturi.

 

O clarão de um trovão do lado de fora resplandeceu pelo corredor, reverberando pelas paredes e se esvanecendo pelo ar. Houve uma longa pausa silenciosa antes do rosnado do vampiro ecoar pelo lugar, sendo abafado por mais trovões.

 

— Eu deveria mata-la por se meter nos meus assuntos e por me ofender dessa forma, híbrida - proferiu ele, dando um passo na direção dela, o veneno ardendo em seus lábios.

 

— Deveria, mas não vai. Porque eu não menti e você sabe disso - Renesmee rebateu, exibindo um sorriso melancólico antes de sussurrar a última parte com desprezo: - É melhor sair da minha casa antes que eu acorde Brooke para se despedir e ver o covarde que você é.

 

As palavras ácidas pesaram nos ouvidos de Alec e ficaram ecoando em sua mente. Ele teve o súbito impulso de fazer muitas coisas enquanto as ouvia (a maioria delas envolvia a morte da híbrida mais adiante), mas sabia que não mudaria nada sobre aquela meia hora que se transcorreu.

O Volturi exalou.

 

— Pode não parecer, mas estou fazendo isso por ela. Mesmo que ela me odeie no fim, vai estar tudo bem. Porque mesmo que ela quebre, ainda estará viva e poderá se remontar. E isso, Renesmee Cullen, é uma sorte que não posso oferece-la se continuar ao meu lado no mundo em que vivo.

 

Engolindo todos os outros incontáveis argumentos ofensivos e maldosos que não fez, Alec a deu as costas e se pôs para fora da mansão sem olhar para trás. Correu como um louco pela madrugada fria, sentindo a raiva entorpecida se misturando com o amargor da angústia de seus pensamentos conflitantes. As ruas, edifícios e objetos em sua visão eram apenas borrões turvos que começavam a se tingir de vermelho ao passo que o veneno em sua boca se acumulava e sua garganta ardia.

Ele precisava se alimentar.

Mais dois quilômetros depois e ele parou, na esquina de um bar em um subúrbio nos limites de Forks. Era uma viela pouco iluminada e deserta exceto pela movimentação dentro do bar. O som de um coração e o familiar cheiro agridoce de sangue humano o atraiu até o fim da rua, onde ele pôde encontrar um catador revirando a caçamba de lixo.

O Volturi torceu o nariz, mas não perdeu o lanche. Sem hesitar e silenciosamente, caminhou até a sua presa e quebrou-lhe o pescoço sem mais delongas. Aquela noite não estava com paciência para brincadeiras. Desse jeito, se serviu até a última gota. Quando terminou, soltou o corpo de qualquer maneira dentro da caçamba e limpou os cantos da boca, sem se preocupar com o catador morto. Colocaria aquele na conta dos assassinatos em série.

Alec expirou e ajeitou as lapelas do sobretudo. Estava satisfeito, embora ainda se sentisse irritado; coisa que ele tentaria resolver com algumas doses de vodca pura. Afinal, havia um bar ali.

Assim, o vampiro deixou o corpo para trás e caminhou até a entrada do bar, como se nada houvesse ocorrido.

O cheiro de álcool e fumaça de cigarro misturado com suor impregnavam o lugar pequeno e abafado. Menos da metade das mesas espelhadas estavam ocupadas aquela noite por homens mal encarados e algumas garçonetes transitavam com garrafas de cervejas baratas.

Alec se deslocou da porta e caminhou silencioso até o balcão onde puxou um banco e sentou-se sozinho. O barman atrás do balcão esfregava o mármore e parou por alguns segundos para olha-lo de soslaio, esperando o pedido. Era magro e tinha cabelos compridos e oleosos cor de areia.

 

— Vodca — Pediu Alec. — E pode deixar a garrafa.

 

O homem rolou os olhos antes de soltar o pano e se virar, pegando uma garrafa e um copo e o enchendo. Em seguida, o deslizou na direção do Volturi.

 

— Se beber a garrafa toda sai mais caro — disparou o barman, mal-humorado, entregando a garrafa.

 

O vampiro se limitou a dispensa-lo com a mão e ignora-lo em seguida. Então, levou o copo de vodca a boca e o virou em um gole só. Encheu o copo novamente e repetiu o processo mais três vezes até começar a se sentir mais relaxado.

Enquanto saboreava o amargor da bebida, deixou que sua audição aguçada corresse livre, podendo captar as conversas do bar. A única que chamou sua atenção veio da pequena televisão instalada na parede do lugar, cujo se tratava de uma reportagem sobre as mortes de Forks.

 

"Noticiário local de Forks, sexta-feira de junho.

Após o assassinato em massa que ocorreu na Forks High School, as autoridades da cidade encontram-se alertas ao próximo passo do assassino, segundo fontes do departamento de investigação. Contudo, com os recentes acontecimentos e perdas, está claro para a população que o crime está tomando proporções maiores que o esperado e que a polícia envolvida não está tendo resultados ou eficácia. Os assassinatos, que parecem mais ataques animais ou monstruosidades cometidas por humanos, já somam mais de uma centena junto com os desaparecimentos..."

 

O copo na mão de Alec se estilhaçou em pedaços enquanto murmúrios reverberavam pelo bar. Aquela reportagem só comprovava o que ele já sabia: estava fracassando como nunca antes. Estava perdendo em seu próprio jogo, o que significava que havia um monstro pior do que ele a solto. E não estava disposto a competir por tal título.

 

— Quem quer que seja que está fazendo isso, deve ser o próprio diabo — A voz do barman o tirou dos pensamentos, o levando a olha-lo.

 

O homem havia voltado a esfregar o balcão, recolhendo os cacos de vidro. Parecia mais taciturno do que antes e o fitava de forma estranha, como se soubesse de um ou outro segredo que o resto das pessoas desconhecia.

 

— Até o diabo tem um ponto fraco — retorquiu Alec, alcançando os olhos dele, revelando a cor escarlate dos seus. — Basta encontrá-lo e então o bastardo vira cinzas.

 

— Cuidado, garoto — Advertiu o barman, calmo. Seus olhos eram azuis safira e se vidraram no vampiro em sua frente: — Lembro de ter conhecido alguém como você há uns sete meses atrás. Foi no mesmo dia que a primeira reportagem sobre os ataques foi ao ar. Logo em seguida minha filha apareceu morta a alguns metros daqui. Tenho quase certeza de que quando o sol raiar amanhã, irão ser achar um corpo próximo em condições pouco piores que o da minha filha. Você é como ele, mas faz menos estragos.

 

— Como quem? — perguntou Alec, totalmente interessado pela resposta. — Quem é ele?

 

O barman se inclinou sob o balcão, parecendo estranhamente obstinado e melancólico.

 

— Não tenho um nome ou uma descrição e a lembrança de seu rosto desapareceu da minha mente. Mas eu o vi e desde então uma voz sussurra na minha cabeça: O inimigo ao lado, vestido de amigo. Comece desse ponto. — suspirando, o homem retomou a postura e soltou o pano sobre o balcão. Ele olhou no fundo dos olhos de Alec e então ficou inexpressivo, como se a conversa de cinco segundos atrás não tivesse acontecido: — Beba direto da garrafa e deixe a gorjeta quando sair.

 

Sem mais nenhum comentário, o Volturi o observou virar as costas e se afastar até sumir pela porta dos fundos do bar. E Alec o deixou ir, porque, de alguma maneira, sabia que assim como a filha, aquele barman morreria brevemente. E ele também sabia disso.

Felizmente, agora tinha uma pista para seguir. Se era verdadeira ou falsa, isso ele precisava investigar.

 

...

 

Na manhã seguinte, horas antes de sua partida, Alec tomou uma decisão e rumou até a delegacia da cidade. Ainda era cedo, por volta das seis da manhã e o vento gelado espalhava seu cabelo quando o carro de Charlie Swan parou no estacionamento do prédio da polícia.

O velho pai de Isabella desceu do carro e encarou o Volturi com as grossas sobrancelhas arqueadas, o reconhecimento estranho estampado em suas feições enquanto parava em sua frente.

 

— Você é parente distante dos Cullen — Indagou Charlie, cruzando os braços e se encolhendo discretamente dentro da jaqueta surrada de policia.— O que está fazendo em frente a minha delegacia a essa hora da manhã?

 

Alec notou o ceticismo presente no tom e conteve a súbita vontade de revirar os olhos. Para ele, o que estava fazendo ali se equiparava a uma humilhação mínima, porém, precisa.

Por isso, sabia o que tinha que ser dito e feito. Lidaria depois com as consequências.

 

— Tentando salvar a pele das pessoas dessa cidade, incluindo a sua, antes que eu volte para o meu país — respondeu Alec, encolhendo os ombros e enfiando as mãos dentro dos bolsos. Ao ver o olhar estreito do chefe Swan, ele finalmente rolou os olhos: — É uma longa história. Que tal ouvi-la lá dentro?

 

Charlie hesitou por alguns segundos, mas depois de ponderar e se encolher mais de frio, concordou com a cabeça e passou pelo vampiro, tirando uma chave do bolso e destrancando a porta da delegacia, esbarrando os dedos no coldre da arma em sua cintura. Ambos adentraram e caminharam em silêncio pelo lugar, se dirigindo até a sala de Charlie no corredor principal.

O pai de Isabella contornou a mesa abarrotada de papéis e lápis sem ponta e sentou em sua cadeira, apontando para a que estava de frente para o Volturi. Alec sentou-se e encarou o homem grisalho, o observando atentamente e percebendo que ele fazia o mesmo.

 

— E então? — Inquiriu Charlie.

 

— Minha vinda até aqui têm uma razão, Sr. Swan e considero meu tempo precioso demais, então vamos pular a parte em que fingimos que o senhor não sabe da relação da sua filha, neta e dos Cullen com o mundo oculto do sobrenatural e do significado disso ou consequências — Começou Alec, olhando no fundo dos olhos de Charlie, visualizando a surpresa e a curiosidade resplandecendo neles. Quando ele abriu a boca, o vampiro o interrompeu: — Não precisa negar, eu tive tempo para perceber nesses meses. Normalmente isso acabaria mal para o senhor e para eles, mas não estamos em uma situação normal agora. Por isso, deixemos de lado e vamos falar sobre os assassinatos e desaparecimentos em massa. Também sabemos que não é humano a pessoa por trás disso, e ainda assim você está encobrindo o fato desde do início não é mesmo?

 

Charlie engoliu em seco, mexendo-se desconfortável na cadeira.

 

— Esse... Mundo que minha filha faz parte agora parece ser perigoso demais para as pessoas. Saibam elas ou não, então imagine como seria se toda a população de Forks soubesse que ele existe — replicou Charlie, sustentando o olhar do vampiro. — Mas você sabe disso, porque também pertence a ele.

 

— Você é mais esperto do que a maioria dos humanos que já conheci, além de ser responsável pela investigação do caso — Alec espalmou as mãos sob a madeira da mesa, calmamente. — Por isso estou aqui. Já analisei e procurei pistas em todos os cantos, mas assim como você, não obtive muitos resultados. Segui pistas e elas me levaram a lugares e pessoas acessíveis ao vilão da história, mas não até ele. Estou quase lá, mas ainda está faltando algo, uma peça e talvez você a tenha visto em algum lugar, só não tenha se dado conta. Então, preciso que me ajude.

 

Charlie balançou a cabeça, os olhos estreitos, a boca apertada em uma linha reta e fina de descontentamento.

 

— Eu... Por que faria isso?

 

Alec sorriu débil.

 

— Porque eu posso ajudar você a resolver o caso. Ou posso matar você aqui e agora, então é melhor escolher.

 

Charlie piscou e respirou fundo, pigarreando. Alguns segundos depois e ele estava de pé, separando alguns papéis da mesa, tentando manter as mãos trêmulas firmes e a postura de durão intacta.

 

— Por onde você quer começar?

 

O Volturi exibiu um sorriso sem humor e estendeu a mão.

— Me traga os relatórios desde do início do caso. Temos três horas antes do meu voo.

 

Charlie cometeu o ato ousado de bufar e foi procurar os papéis, deixando Alec com uma centelha de irritação mesclada de admiração pela personalidade do pai de Isabella. Ele era o tipo de homem de coração bom e coragem estúpida que reunidos, o transformavam em um herói. Felizmente, para o vampiro nada daquilo importava.

Daquela forma, os dois começaram a trabalhar. Arquivos foram reunidos e os minutos se transformaram em horas transcorridas de muita leitura e análise e troca de informações. Charlie Swan e Alec Volturi cooperaram juntos e, quando a manhã atingiu seu ponto alto do lado de fora e o ponteiro do relógio na parede bateu às oito e meia, o vampiro gargalhou.

 

— Encontrou alguma coisa? — Perguntou Charlie, intrigado com o riso inesperado aquela altura do campeonato quando não haviam descoberto nada minimamente notável.

O Volturi anuiu, abaixando o relatório.

— Desde do começo, os Cullen e eu estivemos procurando por um nome específico de uma pessoa. Ou várias, baseado na data de chegada na cidade ou atividades suspeitas. Mas, talvez não fosse uma pessoa que tivéssemos que procurar — Elucidou Alec, apontando para os papéis na mesa, repentinamente compreendendo tudo, como se um enorme clarão tivesse aparecido em sua mente e revelado tudo. — Agora que estou relendo os arquivos, entre os nomes de recém-chegados no começo dos ataques, está um escritório jurídico com a cede registrada em Forks, mas que ninguém nunca ouviu falar. O mesmo escritório tinha o posto de gasolina dos limites da cidade como um dos bens legais.

 

— O mesmo posto que explodiu em um incêndio?

 

— É, eu lembro disso — Alec rangeu os dentes, balançando a cabeça. Seus olhos se voltaram para Charlie, estreitos: — E tem mais. Tal escritório também foi o patrocinador da banda que tocou no baile da Forks High School e começou o tiroteio que abriu alas para o massacre colegial.

 

— Então quer dizer que... — Balbuciou Charlie, arregalando os olhos enquanto se perdia na linha de pensamento.

 

— O assassino que estamos procurando é um engravatado dono do Escritório J.L. de advocacia — O Volturi cuspiu, entre os dentes. — Joey Lynd, mais conhecido como Senhor das Sombras.

 

O homem no bar estava certo.

O inimigo ao lado, vestido de amigo.

Era Joey, só podia ser ele. Todas as mortes, acontecimentos, o momento de sua chegada... Tudo fazia parte de sua manipulação do jogo. Era ele, porque apenas ele conhecia todos os pontos fracos de Brooke Evern e as coisas que a atingiam e a deixavam insana.

Evern.

Joey deveria estar aguardando pela oportunidade perfeita para mata-la antes que a profecia se realizasse. Contudo, antes disso, Alec pretendia acabar com ele.

O estrondo da cadeira caindo ecoou pela sala abafada assim que o Volturi se pôs de pé abruptamente e ignorando as perguntas e indagações de Charlie, tirou o celular do bolso e discou o número que já havia decorado. A ligação foi parar na caixa postal e quando se deu conta, ele já estava passando os dedos entre o cabelo, em um estado parecido com o nervosismo. Na décima tentativa, se voltou para o pai de Isabella:

 

— Ligue para sua neta e passe para mim.

 

Charlie pensou em questionar ou recusar, mas ao ver o semblante sanguinário no rosto do vampiro, apenas acatou a ordem. Então, em silêncio, ele clicou algumas vezes na tela do celular e o estendeu segundos depois.

Alec levou o aparelho até a orelha e no terceiro toque, foi atendido.

 

— Oi, vovô — A doce voz da híbrida ecoou em seu ouvido do outro lado da linha.

 

— Seu avô e eu não estamos com tempo para cumprimentos, ruiva. E não, eu ainda não o matei, mas se você fazer perguntas, talvez isso possa mudar — Trovejou Alec, andando de um lado para o outro na pequena sala. — Passe para a Evern.

 

Ele notou que respiração de Renesmee ficou suspensa durante alguns segundos do outro lado da linha e aquilo o preocupou. O Volturi parou de andar.

 

— Híbrida?

 

— Brooke saiu com a mãe e com o padrinho faz meia hora. O que está acontecendo?

 

Alec rosnou e jogou o celular na parede. A voz da Cullen mais nova ficou ecoando em sua mente e um aperto cobriu seu peito enquanto o sentimento antecipado de perda o envolvia mais uma vez.

Joey era o Senhor das Sombras e estava com Brooke, o que significava que a mataria. Faltava menos de meia hora para o voo para a Itália partir e Charlie não parava de fazer perguntas confusas. De repente, tudo se transformou em um enorme buraco negro que estava o arrastando para o fim e o centro do caos, dominando todos seus sentidos e o deixando desnorteado.

Alec inspirou, fechando os olhos. Precisava se concentrar e encontrar um plano que funcionasse. Precisava estabelecer suas prioridades e fazer uma escolha. E, acima de tudo, precisava ganhar aquele jogo que havia apostado tudo.

Então ele soube. Tinha que arriscar. Tinha que fazer seu movimento e derrubar o rei adversário, expulsando-o do tabuleiro. E ele iria, custe o que custasse, porque não havia nenhum demônio que fosse pior do que ele próprio.

Reabrindo os olhos, ele mirou Charlie Swan. Suas intenções eram claras quando declarou, quase sussurrando:

 

— Preciso que confie em mim se quiser salvar esta cidade.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Olá, amores! Como vocês estão?

Hoje vai ser rapidinho porque estamos na reta final e quero fazer suspense. Espero que todos estejam preparados!

O fim está próximo, é isso.

Até lá... Bjs!




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