Eyes On Fire escrita por Brê Milk


Capítulo 34
Chapter 31: Mudança de planos (Parte I)


Notas iniciais do capítulo

"I'm an angel with a shotgun
Fighting til' the wars won
I don't care if heaven won't take me back
I'll throw away my faith, babe, just to keep you safe
Don't you know you're everything I have?
And I, wanna live, not just survive, tonight"

- The cabe (Angel With A Shotgun)



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Brooke Evern

 

— Filho da mãe.

Brooke deixou escapar o xingamento assim que se apresentou no topo da escada e olhou para baixo, encontrando seu acompanhante a esperando. Alec a lançou um olhar cínico enquanto a olhava da cabeça aos pés e abria um discreto sorriso de lado para o tipo de traje dela.
Renesmee soltou uma risadinha baixa, aparecendo ao seu lado. Os olhos claros cintilaram ao ver Jacob Black a aguardando.

 

— Vamos ao baile. Temos os acompanhantes perfeitos e as roupas perfeitas. Algo me diz que será uma excelente noite - disse a ruiva, abrindo um sorriso.

 

— Fale por você mesma - Desdenhou Brooke, ajeitando a pena de seu chapéu cloche vinho. - Esta roupa pinica. E meu acompanhante não é o meu acompanhante de verdade. Estamos trocando favores.

 

— Favores? - Renesmee a olhou cética, balançando a cabeça e os cachos vermelhos. - Espere até o fim da noite e me diga novamente se é isso mesmo.

 

A lançando um sorriso brincalhão, a híbrida se apoiou no corrimão da escada e começou a descer os degraus, mancando. A tortura sofrida pelas mãos do demônio no corpo de Luke deixara consequências: cicatrizes profundas na pele da ruiva e uma fratura óssea que nem seu processo acelerado de cura como vampira conseguira consertar.
Agora, Renesmee Cullen fazia fisioterapia e tomava medicação para a dor que sentia. Brooke sentia-se culpada pelo estado da híbrida toda vez que a via enfrentar as dificuldades diárias, como descer uma escada sozinha.
Ela observou Jacob se apressar e ajudar Renesmee a descer o resto dos degraus, com muita delicadeza e paciência. Ambos sorriam um para o outro como bobos, mas faziam o casal perfeito, especialmente naquela noite: a Cullen estava deslumbrante dentro do vestido perolado vintage de franjas e o Black parecia irreconhecível de smoking e cartola.

Sorrindo para o casal, a Evern agarrou o corrimão para se equilibrar em cima dos saltos altos e terminou de descer a escada, sentindo a saia do vestido escarlate subir a cada passo dado. Parou próxima ao sofá, e instantaneamente o Volturi parou em sua frente.

 

— Eu deveria considerar isso - Ela apontou para a roupa e para os acessórios. - uma coincidência?

 

— Eu realmente não tenho nada a ver com a escolha do tema do baile - respondeu Alec, encolhendo os ombros. Ele também usava uma cartola e estava excepcionalmente de tirar o fôlego dentro do smoking preto que marcava bem seus músculos e porte atlético. - Mas talvez Felix tenha. O que posso fazer? Você disse que gostaria de conhecer os anos 20. Aliás, a fantasia de melindrosa realmente combinou com você, Evern. Quem diria.

 

Brooke estreitou os olhos para o sarcasmo detectado e apontou a piteira em sua mão na direção dele.

 

— Sorte a sua que este vestido limite meus movimentos.

 

O Volturi ergueu as sobrancelhas, descendo os olhos para o corpo dela, que com a fantasia, estava parcialmente descoberto. O corte do vestido de alças valorizava as curvas da morena e os saltos alongavam sua silhueta. As pérolas em volta de seu pescoço contrastavam com a pele alva e a cor das luvas e do traje. O chapéu de plumas na cabeça adornava o penteado de cachos curtos na altura do pescoço, deixando a maquiagem escura em evidência e os lábios cheios convidativos.
Brooke sentiu o rosto esquentar ao reconhecer o olhar intenso de Alec quando ele voltou a encara-la com as íris azuladas por conta das lentes de contato, parecendo momentaneamente esfomeado. Ela ficou sem palavras, o que o fez balançar a cabeça e se afastar abruptamente para longe dela e ir para o lado de Jane, sentada em uma poltrona com Demetri.

A morena se virou, olhando para o resto dos Cullen espalhados pela sala, checando se alguém tinha percebido o momento estranho entre ela e Alec. Felizmente, todos estavam concentrados conversando ou ajeitando as fantasias. Enquanto suspirava de alívio, Esme surgiu em seu campo de visão.

 

— Você está linda, querida. Espero que se divirta e tenha cuidado também. Carlisle e eu estaremos por perto - disse a matriarca da família, exibindo o sorriso materno que mesclava amabilidade e preocupação, e em seguida a abraçou.

 

— Obrigada, Esme - murmurou Brooke, devolvendo o abraço. - Eu tomarei cuidado.

 

Quando as duas se afastaram, trocaram um olhar significativo. A vampira sabia do que se tratava aquela noite, assim como todos naquela sala, mas não totalmente. Todos ali estavam indo para o baile pelas razões certas e erradas. Todos esperavam pelo caos que Alice previra, e com sorte, esperavam impedir que aquilo acontecesse. Contudo, havia algo mais.
Algo mais sombrio que o caos da visão. Algo que apenas a Evern e Alec sabiam. Algo que ia muito além dos vampiros recém-criados e do pandemônio. Havia um massacre ordenado pelo inimigo que tentavam capturar e uma crença simbólica recém descoberta. E tudo isso era desconhecido para todos naquela sala, exceto os dois, que decidiram manter o segredo.
Na verdade, Brooke decidira. Não queria causar mais alarde do que já tinha. Não queria ser vista como o motivo de estarem no olho do furacão, mesmo sendo. Sua presença no baile bastaria para controlar a situação, ou parte dela. O resto, era só seguir o plano. Era nisso que ela confiava, ao menos.

 

— Hora das fotos, pessoal! - O grito partiu de Alice, que desceu correndo a escada com uma câmera fotográfica nas mãos. - Todo mundo. Cullen. Volturi. Lobisomem. Humana. Agora!

 

Os Cullen se levantaram, suspirando e resignados - principalmente Bella - e se amontaram no centro da sala. Os três Volturi os seguiram, ainda que hesitantes. Sem alternativa e sendo a única humana presente, Brooke se juntou à eles, se espremendo ao lado de Renesmee.
Alice deu a câmera para Esme e foi para o lado de Jasper. Quando todos se ajeitaram e encolheram para caber no enquadramento da foto, Esme contou até três e bateu a fotografia. Outras foram tiradas, com diversas poses. A ruiva e a Evern esbanjaram nas caretas, sendo imitadas por Emmett, que quase derrubou todos ao tentar erguer Rosalie que estava apoiada em Edward, bem na hora que o flash disparou.
No final, foi divertido. Quase como a premissa de um baile colegial normal, como se estivessem ignorando a anormalidade que viviam e que realmente aconteceria.

 

— Agora, os casais - Anunciou Alice, extremamente agitada.

 

Um por um, os casais foram fotografados. Bella e Edward. Rosalie e Emmett. Alice e Jasper. Renesmee e Jacob. Jane e Demetri. Brooke estava prestes a fugir até a varanda quando sentiu o toque frio em seu antebraço, a segurando firme, mas sem machucar.

 

— É o seu primeiro e último baile colegial, Evern. Podemos tentar tornar isso o mais normal possível, pelo menos por hoje - A voz indiferente de Alec sussurrou em seu ouvido, fazendo os pelos de seus braços se arrepiarem.

 

Ela concordou com a cabeça, sentindo que se tentasse falar naquele momento, não seria capaz de encontrar a voz. Assim, deixou que o Volturi a puxasse para mais perto e ficasse atrás de si, a abraçando de lado. Brooke apoiou as mãos nos braços dele e olhou para frente, tentando ignorar a aproximação do vampiro e os olhares especulativos dos outros.

 

Pareceu uma eternidade até que a foto fosse tirada, mas quando isso aconteceu, Alec a soltou, a possibilitando respirar normalmente. Ele a lançou um olhar furtivo, a expressão congelada na indiferença, que fez Brooke rolar os olhos e virar o rosto para o outro lado. Às vezes, o enorme muro que o Volturi erguia entre ele e as emoções a irritava profundamente, pois ela se importava, por mais que não devesse.

 

— Ah. Acho que perdi a sessão de fotos. A casa é muito grande e o banheiro muito distante - A voz de Kian ecoou pela sala.

 

Brooke girou a cabeça e o observou adentrar o cômodo, terminando de abotoar as abotoaduras da camisa branca presa pelo suspensório preto e gravata borboleta. Os cachos rebeldes estavam contidos com gel, penteados para trás dentro do costumeiro chapéu Fedora. Enquanto todos os homens vestiam seus ternos perfeitos, o Archetti apostava no estilo gangster da década de vinte.
A Evern reconhecia o estilo do conjunto todo, mesmo que não gostasse muito dele em si.

 

— Agora que estão todos prontos, podemos ir - disse Edward, conferindo seu relógio de bolso. - Iremos nos atrasar.

 

— Vocês já sabem o plano. Sigam-no e tudo dará certo. É a nossa chance - falou Alice, apertando a bolsa cravejada de pedras contra o peito.

 

Todos assentiram.

 

— Vamos descer a porrada em qualquer sinal de perigo - Emmett bateu palmas.

 

Alice o lançou um olhar cortante.

 

— Siga o plano, Emmett. Apenas siga o plano.

 

Emmett resmungou.

 

— Seth e Leah ficarão vigiando do lado de fora da escola - Informou Jacob.

 

Após isso, eles se mexeram. Os Cullen foram para a garagem. Renesmee e Jacob foram de moto. Quando apenas sobrou Alec, Jane, Demetri, Kian e ela, Brooke começou a sentir a tensão da noite.

— Vamos. - Chamou Alec. - Eu dirijo.

 

Demetri resmungou, mas assim como os outros, seguiu o vampiro louro-acastanhado. A Evern se esforçou para manter o equilíbrio em cima dos saltos e segurar a piteira e a bolsa de mão enquanto sentia o vestido balançar a cada passo dado, e antes de alcançar a porta, tropeçou no tapete e teria caído se Kian não tivesse corrido para seu lado e a segurado.

 

— Essa roupa não é muito propícia para cair no chão, eu creio - comentou ele, esticando os lábios em um sorriso divertido conforme a ajudava a recuperar o equilíbrio. - Aliás, você está mais linda que o normal nesse vestido, Brooke.

 

Os olhos do feiticeiro brilharam ao dizer tais palavras. Ele piscou um olho, e antes que a morena dissesse algo, virou as costas e seguiu os outros vampiros para fora.
A careta na rosto da morena foi inevitável, e ela optou por abstrair o comentário de Kian, se recompondo rapidamente do tropeço. Assim que passou pela porta, encontrou com Gaz, com as costas apoiadas numa pilastra da varanda, olhando para o céu escuro, usando um chapéu muito parecido com o seu, com penas pretas.
Brooke deu uma rápida olhada para os Volturi e para o Archetti que já atravessavam o quintal na direção do Jaguar preto estacionado à beira da estrada, e caminhou até parar ao lado do amigo.

 

— Parece que hoje estamos sem estrelas - murmurou, suspirando dramaticamente enquanto recebia o olhar dele. - Eu sei, o estilo cabaret não combina muito comigo. Mas é o que temos para hoje. Gostei do chapéu, ficou melhor em você.

 

O Julions soltou uma risada curta.

 

— Você não está tão mal.

 

— Oh, acho que isso foi um elogio. Eu espero.

 

— Foi, sim. Aliás, sobre o chapéu, Jane o jogou em minha direção quando passou agora à pouco. Acho que ficou com pena.

 

— Ela é capaz de sentir tal coisa? - Brooke soou escandalizada.

 


— Pensei o mesmo, mas acredite, ela é. Ou isso ou então o chapéu realmente não a agradou.

 

A Evern sorriu para o loiro, que devolveu o gesto, mas logo voltou a expressão séria de antes. Ele não estava muito animado, obviamente.

 

— Gaz, eu sinto muito. Se houvesse algum jeito de você ir ao baile da escola sem ser reconhecido e gerar uma confusão, eu juro como seria a primeira a te arrastar até lá - Brooke suspirou novamente, mas de verdade dessa vez.

 

— Eu estou bem. Não é com isto que estou preocupado - Ele balançou a cabeça e se virou para encara-la de frente, parecendo altamente frustrado com as limitações que tinha. - Estou preocupado com você. Com o fato de que está indo para o lugar onde um ataque do inimigo pode acontecer.

 

— Não temos certeza de que irá acontecer... - replicou Brooke, desviando o olhar do dele. Era uma mentira, já que Gaz estava incluso na contabilidade das pessoas que não sabiam da visão dela; apenas a de Alice, que era incerta.

 

Se ele soubesse, não a deixaria seguir com o plano e tentar salvar a noite. Assim como Renesmee e talvez como os outros. Era algo que precisava ser feito por diversos motivos, então era melhor não arriscar.
O Julions bufou, mas saiu mais como um rosnado. Mais que nunca ele estava parecido com um verdadeiro vampiro, e era estranho notar aquilo.

 

— Talvez sim, talvez não. Ainda assim, você estará lá. E eu aqui.

— Não estarei sozinha, Gaz.

— Não. Você estará com o Volturi que despreza humanos e que tem uma personalidade ruim. Sem contar a tendência para crueldades e vontade de cravar os dentes no seu pescoço - O Julions ergueu uma sobrancelha, recorrendo à ironia. - Porém, um excelente quebrador de ossos. Então, acho que ele é a sua segunda melhor opção de acompanhante para o baile. A primeira sou eu, é claro.

— É, é você. - Brooke balançou a cabeça em concordância, feliz por Rosalie ter abusado da quantidade de grampos em seu penteado. Olhando para o mínimo sorriso taciturno do amigo, se deu conta pela primeira vez que ele não estava tão feliz quanto demonstrava estar. E aquilo apertou seu peito, pois tinha uma parcela de culpa sobre aquilo. - Mas eu sinto muito, Gaz. Por você estar vivendo como está, onde está. Você merecia mais do que ser trancafiado em uma casa e desistir dos seus sonhos e objetivos e família pelo que se tornou por acidente. Você deveria viajar, ir as convenções de quadrinhos que tanto gosta, comer sobremesas nos melhores lugares do mundo, se apaixonar. - Ela colocou a mão enluvada em cima da dele, pousada na mureta da varanda, e a apertou. - Você é uma pessoa maravilhosa com potencial jogado fora por minha culpa, por ter sido atacado no meu lugar. E eu realmente sinto muito.

 

Gaz enrugou a testa, chacoalhando a cabeça em total negação, discordando.

 

— Você não tem culpa nenhuma, Broo. E meu potencial não está sendo jogado fora, se é que tenho algum. Está tudo bem, eu estou bem. Ainda posso realizar meus sonhos e ir às convenções ou ir aos lugares com as melhores sobremesas quando esses ataques e mortes sinistras terminarem e o mundo estiver salvo. E não estou preso aqui; ao menos ninguém ainda tentou me jogou dentro de um quarto e trancou com chave. E sim, sinto falta da minha família. Até mesmo das brigas cansativas dos meus pais, e não consigo imaginar a dor deles ao pensar que estou morto, mas não posso mudar isso. É o melhor para eles. Quanto à me apaixonar... acho que isto já aconteceu, não importa se sou humano ou vampiro - Argumentou o loiro, colocando a outra mão por cima da dela e as selando com firmeza. Os olhos vermelhos vividos não só revelavam que ele acabara de se alimentar, mas como também revelavam toda a franqueza e certeza que suas palavras suaves continham: - Eu ainda sou eu. E não importa o que você pense ou faça, eu sempre estarei com você. Porque eu amo você, Brooke Evern.

 

Brooke sorriu agradecida e um tanto confusa com a intensidade nas palavras de Gaz. O modo inveterado que ele a fitava a fez sentir que era verdade. O que a fez ficar um pouco sem graça, pois a ideia de que Gaz a amasse do modo romântico, surgiu em sua cabeça.
Mas, não. Ela espantou o pensamento. Eles eram melhores amigos, não havia espaço para sentimentos que não fossem fraternais na relação deles. E certamente o Julions não a via com outros olhos que não fossem de irmão, assim como ela.
Era uma tolice se preocupar com tal coisa: a possibilidade de partir o coração dele.

A buzina do carro soou vezes seguidas, avisando que os Volturi estavam impacientes.

 

— Eu também amo você. Mas amarei mais ainda se me contar quem é a garota por quem está apaixonado. - disse Brooke, desfazendo o aperto das mãos e o abraçando rapidamente. - Tenho que ir. Você ficará bem?

 

— Irei maratonar a franquia dos filmes de Star Wars, o que é melhor do que uma festa à fantasia brega, para mim - respondeu Gaz, abrindo um de seus sorrisos divertidos enquanto apontava para o chapéu e fazia careta.

 

O coração da Evern voltou a ficar em paz.

 

— OK. Aproveite a noite com o Han Solo.

 

— Engraçado, mas nem tanto. Tenha cuidado e aproveite a festa. Não faça nada que eu não faria.

 

A morena rolou os olhos, se despedindo em seguida. Equilibrando-se o melhor que podia em cima dos saltos, virou as costas e começou a descer os três degraus da varanda da mansão, segurando a bolsa de festa e a piteira. O vento noturno fazia com que as penas presas em seu chapéu balançassem em todas as direções.
Conseguia sentir o olhar de Gaz em suas costas, e sabia que ele a observaria até que ela entrasse no Jaguar e desaparecesse na estrada. Porque ele cuidava dela. E agora que sabia que ele estava lidando bem com a mudança de vida e que não a culpava.
Contudo, ainda havia algo que precisava saber. Que precisava ter convicção e que apenas seu amigo poderia dá-la.

Assim que pisou no gramado do quintal, Brooke parou e se virou, encarando o Julions.

 

— Sei que você já respondeu, mas preciso ter certeza. Você realmente não pode se ligar aos outros recém-criados e conseguir informações sem se tornar o assassino que Alec quer que você se torne? - perguntou, direta, apertando os lábios pintados de vinho, ansiando por uma resposta positiva.

 

— Infelizmente, não. Não tenho a marca. Já fiz muitas tentativas, mas não consigo sentir ou acessar nada. Não sou como os outros - Contestou Gaz, soando desanimado e curioso. - Por quê?

 

— Porque se você dissesse sim, eu teria outra escolha sobre esta noite e faria a maratona com você. - A Evern balançou a cabeça e forçou um sorriso sereno. - Mas, tudo bem. Vá para dentro e se divirta. Estou indo agora.

 

O lançando um último olhar e sem esperar pelas palavras dele, Brooke o deu as costas e se afastou com pressa, sentindo novamente o peso do olhar do amigo.
Enquanto caminhava em direção ao carro, debaixo do céu lúgubre, conseguia ouvir as batidas rápidas de seu coração martelando em seus ouvidos; um aviso explícito de seu nervosismo e insegurança sobre a noite. Mas não tinha outra escolha a não ser seguir em frente. Porque, agora que tinha certeza que a única forma das pessoas no baile terminarem a noite vivas era sendo a isca do plano ousado dos vampiros que convivia, então ela o faria.

Seria a isca perfeita. E com sorte, também estaria respirando pela manhã.

 

 

***

 

 

Alec estacionou na fila de carros no estacionamento da Forks High School, atrás do porsche amarelo de Alice e ao lado da moto de Jacob. Ao que tudo indicava, os outros já haviam chegado.
Dentro do Jaguar, Jane e Demetri desceram primeiro, sobrando apenas Kian nos bancos traseiros. No banco do carona, Brooke soltou o cinto de segurança e respirou fundo. Não precisou mover os olhos para o retrovisor do carro para saber que o Volturi restante e o Archetti tinham os olhares cravados em si, como se esperassem que ela pedisse para darem marcha ré. Nenhum dos dois se pronunciou, o que piorou ainda mais a tensão e o nervosismo da morena.

 

— Apenas desçam do carro e vamos logo - resmungou ela, apanhando a bolsa e a piteira do colo e empurrou a porta, descendo do carro em seguida.

 

Do lado de fora, Brooke arrumou o vestido, as luvas e os acessórios ocultos que carregava como precaução. Assim que terminou de puxar as luvas de seda mais para cima, levantou a cabeça e observou a fachada decorada da escola, que naquela noite estava linda.
Luzes brancas e douradas tinham sido penduradas no alto da porta, como uma cortina luminosa por onde as pessoas passavam, acompanhadas do carpete vermelho que se estendia para dentro do ginásio. Seria muito mais lindo se a probabilidade de tudo não ser destruído fosse tão grande. O pensamento a fez se repreender, pois naquela altura do campeonato, ser pessimista não a ajudaria em nada.
Enquanto repetia isso para si mesma, Alec e Kian surgiram ao seu lado.

 

— Fique com isso - disse o vampiro, retirando de dentro do smoking um isqueiro com um V desenhado como emblema e o entregando à morena. - Use-o se precisar. Corte a cabeça ou apunhale o coração, depois toque fogo no corpo, independente da espécie. Entendeu?

 

— Sim. - Brooke assentiu, guardando o isqueiro dentro do bojo do sutiã, desejando internamente que não houvesse necessidade de usá-lo. - Vamos entrar?

 

O Volturi concordou, a oferecendo o braço como mandava a etiqueta. Porém, antes que a Evern aceitasse, o Archetti enlaçou o próprio braço com o dela, no outro lado.

 

— Estou sem acompanhante, então ficaria lisonjeado se me deixasse acompanha-la também - Os olhos de ônix dele se desviaram para o amigo, e um sorriso presunçoso surgiu em seus lábios. - Tenho certeza que Alecssandro não se importa, não é mesmo?

 

O Volturi estreitou os olhos e também enlaçou o outro braço disponível de Brooke, respondendo à pergunta do feiticeiro. Eles se entreolharam como se estivessem numa disputa de território.

 

— Tenho dois acompanhantes; um vampiro da realeza e um feiticeiro de origens duvidosas. Deve ser o meu dia de sorte - O tom dela soou carregado de ironia, conforme lançava um olhar feio para ambos os rapazes. - Se já terminaram de esbanjar a testosterona, temos uma missão para realizar. É melhor andarem logo.

 

Sem os dar tempo para replicar, Brooke começou a caminhar em direção à entrada, erguendo o queixo e obrigando Alec e Kian a acompanharem em silêncio resignado. Assim, os três avançaram pelo estacionamento, chamando a atenção das outras pessoas que iam chegando, todos os três com expressões neutras. Antes de chegarem até a entrada, tiveram que entrar na fila para as fotografias oficias do baile, apenas para manter as aparências de adolescentes-normais-em-seu-baile-colegial-de-primavera.
Brooke posou para a foto ao lado de Kian e Alec, e teve que admitir para si mesma que qualquer garota dentro do ginásio se consideraria com sorte se estivesse em seu lugar. O vampiro e o feiticeiro eram o sonho de consumo de qualquer uma, ao menos no que se referia à aparência. As personalidades arrogante e excêntrica eram outro ponto a ser avaliado.
De qualquer maneira, ela sorriu para a câmera. Sentiu o Archetti fazer o mesmo, diferente do Volturi, que se manteve sério. Depois que o fotógrafo os liberou, eles seguiram adiante, ainda de braços dados, e passaram pela porta e por baixo das luzes, adentrando o baile. Mais luzes e cores variadas entre o dourado, o preto e o branco, surgiram diante dos olhos da Evern assim que percorreu o lugar com os olhos.


O ginásio havia sido transformado em um perfeito cenário dos anos loucos. Mesas redondas estavam espalhadas pelo espaço, acompanhadas de lustres e candelabros de cristais falsos e arranjos com plumas. Um bar clássico tinha sido montado e a pista de dança já estava movimentada, com muitas pessoas usando cartolas e ternos, vestidos e plumas, ao som da banda de jazz que tocava num palco construído.

Brooke abriu a boca, admirada com o glamour do baile e, provavelmente, da época escolhida como tema.

 

— Eu disse que você iria gostar - A voz de Alec sussurrou em seu ouvido, a fazendo virar a cabeça e encara-lo.

 

Ele parecia bem satisfeito, como se fosse o portador da verdade naquele momento. A garota encolheu os ombros, sem argumentos para contraria-lo, o que o levou a abrir um ínfimo sorriso bonito.
Ignorando-o, a Evern desviou os olhos para o espaço ao redor, esquadrinhando o baile à procura da presença familiar de algum Cullen, visto que a presença dos outros estudantes e os olhares que recebia, a incomodavam. Felizmente, avistou rapidamente a mesa dos Cullen. Ela olhou para os dois rapazes aos seus lados.

 

— Vão na frente; irei verificar o lugar por razões de segurança - Informou Kian, soltando o braço dela e ajeitando as alças do suspensório. Entretanto, o olhar que ele lançava para algumas garotas dançando na pista de dança, dizia realmente o tipo de verificação que ele pretendia fazer. - Espero que não fique triste e sinta saudades, linda. Afinal, a noite é uma criança, e ela apenas acabou de começar.

 

Ele deu uma piscadela para Brooke antes de virar as costas e caminhar elegantemente até onde as silhuetas femininas balançavam ao som do saxofone da banda.
Alec fez menção de ir atrás do Archetti, mas a morena espalmou a mão em seu peito, o impedindo.

 

— Deixe-o ir. Francamente, não gosto da companhia dele.

 

— É um direito seu. Mas eu não confio nele, não o suficiente para deixa-lo sozinho em uma ocasião como esta - Alec replicou, aumentando o tom de voz para ela poder ouvir por cima do barulho da música, a lançando um olhar significativo.

 

— Se Kian fosse aprontar algo, já teria aprontado - Insistiu Brooke.

 

O Volturi balançou a cabeça.

 

— Você tem um ponto. Mas, é como o velho ditado diz: Mantenha seus amigos perto, mas seus inimigos mais perto ainda.

 

— Acredite, é o que estou fazendo agora - Brooke retrucou, reprimindo um sorriso. - Ah, qual é. Sou uma garota que só precisa de um único par para o baile, e você é ele, Volturi. Mas se não quiser, tudo bem. Eu posso escolher Kian e chama-lo de volta, mesmo não gostando da ideia, e então seguir a noite.

 

— Os Cullen estão nos esperando - disse Alec, rapidamente. O semblante dele lembrava alguém profundamente contrariado e frustrado.

 

Alargando ainda mais o sorriso, a Evern escorregou a mão enluvada pelo peitoral do vampiro e o deu as costas, caminhando na frente em direção à mesa dos Cullen.
Ela precisou desviar de cotovelos, pés e bandejas repletas de aperitivos que os garçons carregavam, se equilibrando em cima dos saltos altos. A cada passo dado, sentia os olhares de algumas pessoas a acompanhando. Outras, cochichavam com os amigos. Brooke achou que deveria ser algo como: "A vadia da mononucleose está de volta" ou "A garota que morreu e ressuscitou deu as caras".


Independente do tipo de comentário que fosse, estava mexendo com sua segurança e diminuindo sua confiança aos poucos, a transformando em um animal acuado conforme visava o caminho até a mesa. Continue, mantenha a cabeça erguida, seja forte, repetiu para si mesma, cerrando a mandíbula e empinando o queixo.

Quando finalmente alcançou os Cullen, praticamente se lançou na cadeira mais próxima desocupada, ao lado de Jasper, que torceu o nariz em uma careta. Alguns segundos depois e o incômodo deu lugar à uma onda de serenidade, conforto, no coração da garota.

 

— Obrigada, Jasper - O agradeceu em um sussurro, após perceber que ele estava usando seu dom sobre ela.

 

Ele deu um discreto aceno com a cabeça e fixou os olhos na toalha da mesa. Brooke preferiu não fazer o mesmo; ao invés, optou por observar os vampiros ali sentados.
À sua frente, Edward e Bella tinham as mãos entrelaçadas por cima da mesa e os olhos voltados para a pista de dança, onde, seguindo os olhares, a morena descobriu que eles encaravam Renesmee dançando com Jacob - O que explicava o semblante fulminante do leitor de mentes.
Rosalie e Emmett não estavam à vista, assim como Jane e Demetri, que deveriam estar vistoriando o perímetro do baile, ou então aproveitando a noite como as outras pessoas ali. E enquanto procurava por Alice, a mesma chegou com um copo de ponche na mão e arrastou Jasper para a pista de dança, lançando uma piscadela para a Evern.

Brooke afundou na cadeira, perguntando-se como todos eles poderiam agir tão naturalmente quando sabiam a verdade sobre aquela noite e sobre o que estavam fazendo ali, diferente das outras pessoas. Como poderiam dançar, conversar e interagir quando a tensão e o perigo estavam no ar? Provavelmente, manter a indiferença e a calma em situações como aquela deveria ser uma das características sobrenaturais, pois certamente a garota não a possuía.
Sentia o suor pegajoso brotando de seus poros, colando as luvas de seda nas palmas de sua mão e se misturando à maquiagem caprichada em seu rosto. O gosto amargo da ansiedade estava deixando seu estômago embrulhado e a música alta que a banda tocava provocava zumbidos em seus ouvidos e fazia as batidas de seu coração acompanharem o ritmo alucinado das canções.

 

— Você só precisa respirar fundo, Brooke. Ter uma crise de pânico não vai nos ajudar - Ela só escutou a voz abafada de Edward porque ele estava sentado em sua frente.

 

A Evern ergueu os olhos e o encontrou a fitando serenamente. Foi impossível não lançar um olhar acusatório para Bella, que suspirou como se dissesse que sentisse muito, mas que fosse preciso desativar o escudo por aquela noite.

 

— Invadir a mente dos outros sem autorização também não ajuda muito. Assim como ser chato como você é, Cullen - Alec retorquiu em seu lugar, enquanto se sentava na cadeira que outrora Jasper ocupava, tirando a cartola da cabeça e a colocando sobre a mesa. Ele desviou os olhos para Brooke: - Não há sinal de perigo ainda. Você está segura, Evern.

 

Ela deixou que as palavras dele ecoassem em sua mente algumas vezes, tentando se convencer. Mas, não estava apenas preocupada com a própria segurança. Estava preocupada com todos ali e com a sensação aterradora que a atingira depois da despedida com Gaz, que lhe dizia, como uma voz sussurrando em sua nuca, que algo pior do que esperavam estava indo ao seu encontro e ao de todos no baile.

De repente, ficar parada a deixou sem fôlego.

 

— Eu sei - disse Brooke, lutando para não deixar a voz tremer. Em seguida, empurrou a cadeira para atrás abruptamente e levantou, recolhendo a bolsa e a piteira e girou em cima dos saltos. - Vou buscar uma bebida.

 

Sem dar tempo para ninguém da mesa protestar, ela caminhou rapidamente até o bar decorativo, se esgueirando das pessoas pelo trajeto. Enquanto andava, a morena respirou fundo diversas vezes, tentando acalmar o coração e os pensamentos agourentos. Por fim, quando alcançou o bar e entrou na fila, voltando a entrar em estado inerte, fechou os olhos e repetiu as palavras de Alec, as deixando invadir sua mente e percorrer seu corpo tensionado.
Você está segura. Você está segura. Você está segura.

 

— Água, refrigerante ou ponche?

 

Brooke reabriu os olhos e encarou Felix Volturi atrás do balcão do bar, vestido devidamente à caráter do tema da festa, e até com um bigode falso. Ela uniu as sobrancelhas em confusão e notou que sua vez tinha chegado, e que o Volturi grandalhão era o barman.

 

— Felix, o que você está fazendo? - perguntou, se distraindo momentaneamente dos sentimentos e pensamentos perturbadores.

 

— Os professores tiveram que se voluntariar para supervisionar partes do baile - Esclareceu Felix, dando de ombros como se não se importasse com a função desempenhada ou com o bigode engraçado. - Eu escolhi ficar com as bebidas. A propósito, o que você vai querer? Fiquei sabendo que os alunos do primeiro ano batizaram o ponche com vodca, então eu o recomendo.

 

— Vou querer o ponche.

 

Os lábios de Felix se esticaram em um sorriso divertido enquanto ele assentia e se movia para servir a bebida. Brooke colocou a piteira e a bolsa em cima do balcão e encostou os quadris no mesmo, apoiando os cotovelos no mármore. A música explodia em seus ouvidos, e ainda assim o caos em sua mente conseguia ser mais barulhento.
Você está segura. Você está segura. Todos ficarão seguros.

 

— Beba. Álcool alivia uma mente perturbada - Felix comentou ao colocar o copo de ponche batizado em sua frente.

 

— Obrigada. - murmurou ela, pegando o copo e o levando aos lábios. Sentir o gosto da vodca misturado com o sabor doce do ponche, a fez sentir uma sensação revigorante se espalhando por seu corpo; a pequena dosagem de álcool correndo em suas veias e adentrando seu organismo. Era o que precisava, afinal. - Abençoados sejam os alunos do primeiro ano.

 

Felix ergueu as sobrancelhas, mas ficou calado. Brooke terminou a bebida em um gole só e empurrou o copo de volta para o Volturi, que o pegou e tornou a encher de ponche batizado. A morena sorveu mais alguns goles, sentindo os tremores se dissiparem aos poucos e a coragem dar as caras. Não estava nem perto de ficar bêbada, e não queria.
Por isso resolveu parar no segundo copo e apenas ficou ali, encostada no balcão, e passou a observar as pessoas ao redor.
Rostos conhecidos estavam espalhados pelo ginásio decorado, desde alunos até funcionários da escola. Muitos deles, já alterados pelo ponche batizado, provavelmente.
Alguns de seus colegas de turma entravam e saiam de seu campo de visão, rindo, comendo, dançando. Todos agiam como os adolescentes normais que eram, aproveitando o baile como se era esperado. E Renesmee Cullen estava entre eles, rodopiando nos braços de Jacob Black. Como uma garota normal. Linda, divertida e atraindo olhares.
A Evern sorriu, feliz pela amiga.

 

— Por que você não vai até lá e se diverte um pouco? - A voz de Felix voltou a soar, bastante sugestiva e entediada.

 

Brooke desviou os olhos para ele, negando com a cabeça.

 

— Porque não foi para isso que vim até aqui. Mas, Renesmee merece está noite. E acho que eu não conseguiria balançar o esqueleto sabendo que pessoas podem morrer.

 

— Pessoas morrem a todo momento. E não seria nenhum pecado festejar durante isso, na minha opinião - Rebateu o vampiro, puxando uma flanela do bolso e começando a esfregar o balcão.

 

— Soa desrespeitoso, no mínimo - Brooke contrapôs, diminuindo o tom em seguida, sabendo que a audição dele a permitia fazer isso: - Notou algum movimento estranho?

 

— Ainda não. Suponho que os outros também não tiveram tanta sorte - respondeu Felix, mantendo a naturalidade. - Mas seguiremos com o plano. Se a visão de Alice for acontecer, não vai demorar muito.

 

A morena anuiu, descontente.

 

— Hum, lembrei que tenho algo para você.

 

Felix parou de esfregar o balcão ao ouvi-la, e a observou desencostar do mármore e procurar algo em sua pequena bolsa. Alguns segundos depois, e uma folha de papel dobrada várias vezes apareceu em suas mãos. A Evern o entregou.

 

— O que é isto? - Questionou ele, erguendo as sobrancelhas.

 

— Isso é a redação que você pediu como nota final para passar em sua matéria - Esclareceu Brooke, encolhendo os ombros diante do olhar surpreso do vampiro. - Sei que era para ser entregue no final de maio, e que talvez eu reprove o ano, mas senti que precisava fazer pelo menos uma última tarefa como uma estudante normal antes de desistir. E o tema da sua redação veio a calhar, a propósito. Espero que você aceite, professor, e que não se importe com os amassos na folha; é que a bolsa de mão combinava mais com a fantasia que uma pasta.

 

Felix assentiu e guardou a folha de papel dobrada dentro do bolso da calça, parecendo tão satisfeito quanto um verdadeiro professor ficaria ao contemplar uma turma dedicada. Depois, a serviu mais um copo de ponche.

 

— Você ainda tem um caminho longo e promissor pela frente, mesmo que não pareça agora, menina.

 

Brooke abriu a boca para replicar, mas engoliu as palavras assim que percebeu uma aproximação e observou enquanto alguém parava ao seu lado no balcão. Alguém trajando um vestido de lantejoulas brilhantes o suficiente para os olhos doerem ao olhar, saltos duas vezes maiores que os seus, batom rosa, o cabelo super loiro preso em um penteado elegante de cachos que emolduravam o rosto fino, e com uma expressão puramente falsa e malvada.

O alguém era Courtney Jones.

 

— Olá, professor. Uma água com gás, por favor - Pediu ela, inclinando-se sobre o balcão, na direção de Felix. O tom doce e sedutor fez o Volturi rolar os olhos quando a Jones os desviou para a Evern. - Oh, você está aí. Olá, Broks.

 

Brooke estreitou os olhos, cerrando os dentes ao ouvir o apelido que Amália Young costumava lhe chamar, sair dos lábios rosados da loira. Ela nunca entendera o motivo da implicância da Jones, mas também nunca gostara dela. E após da morte de Amália, a antipatia só se intensificou.
Naquele momento, poderia muito bem virar as costas e ignora-la, o que a pouparia do estresse e ter que lidar com toda a dissimulação e superficialidade da garota à sua frente. Porém, tomar tal atitude só provaria que a morena não conseguia dar à outra face. Ser superior, ou ao menos, igualar os níveis na escala de cinismo.
E Brooke Evern era cínica o suficiente para aceitar a afronta sutil.

 

— Olá, Courtney. Está gostando do baile? - perguntou, soando educada.

 

Os olhos azuis da Jones piscaram algumas vezes, indicando a surpresa dela com a atitude civilizada e amigável da Evern. No entanto, a loira se recuperou rápido e exibiu um sorrisinho.

 

— Sem sombras de dúvidas! Não sei se você sabe, mas estou concorrendo à rainha do baile. E, modéstia à parte, todo mundo sabe que irei vencer - disse ela, soltando uma risada curta.

 

Brooke inclinou a cabeça para o lado e esboçou um sorriso falsamente entusiasmado.

 

— Nossa, que bom para você. Mas, me diga. Foi a popularidade baseada em uma imagem totalmente distorcida da sua personalidade egocêntrica que te deu essa certeza ou foi a compra de votos que as pessoas que costumam concorrer à esse tipo de coisa, fazem?

 

Courtney comprimiu os lábios em uma linha reta, e a expressão em seu rosto se tornou dura, azeda. Ela abriu a boca, mas foi interrompida pela manifestação de Felix:

 

— Aqui está sua água, senhorita Jones - Ele a estendeu um copo de plástico, alternando o olhar entre as duas garotas.

 

Enquanto Courtney aceitava a bebida, Brooke lançou um olhar para o Volturi, e o viu piscar um olho antes de se afastar, como se não tivesse percebido a tensão entre as duas adolescentes.
A loira tomou um gole da água e respirou fundo, tentando recuperar o controle da situação antes de voltar a encarar a morena.

 

— Eu diria que foram o meu carisma e gentileza que conquistaram os votos das pessoas desta escola - Falou Courtney, retomando o sorriso cínico. - E como prova disso, irei incluir você no meu discurso de rainha, querida. O que você prefere que eu cite sobre você? Como você era estranha quando chegou na cidade? Seu problema com a comida e seus esforços na luta contra a balança? O episódio lastimável na sala de aula cujo você teve uma parada cardíaca e sobreviveu, mostrando que vaso ruim não quebra com facilidade? Sua fama de vadia? A maneira duvidosa que você conseguiu se aproximar dos Cullen? A amizade engraçada e miserável com a falecida Amália Young? Ou o fato de você ser tão patética que depois de tudo isso ainda está aqui, dentro de um vestido bonito, mas que não a torna menos ridícula, excluída enquanto todos se divertem, sendo a única pessoa desacompanhada do baile? - Ela enumerou, contando nos dedos. - Puxa, eu realmente tenho muita coisa a falar sobre você, Brooke Evern. O que acha disso?

 

Estarrecida, Brooke apenas ficou fitando a Jones, ouvindo suas palavras ecoando em seus ouvidos e se repetindo em sua cabeça. Devido a iluminação extravagante, o rosto de Courtney estava totalmente em foco: lindo, maquiado e feliz por destilar seu veneno. Ela era má o suficiente para atacar e esconder as garras, voltando para a figura serena que aparentava ser.
Tão bonita e tão cruel, a Evern pensou. Talvez alguns seres humanos não fossem tão diferentes dos vampiros, como ela havia pensado. E perceber aquilo, enquanto estava naquele baile, esperando ser a isca e arriscar a própria vida para salvar pessoas como Courtney Jones e a mesma, despertou a raiva no coração de Brooke. Despertou a crueldade que queria devolver, o egoísmo que queria praticar ao abandonar a festa e voltar para a mansão e passar o resto da noite vendo filmes com Gaz, despertou seu lado ruim.

Afinal, todos tinham um lado ruim. Alguns só o deixavam transparecer mais do que outros.

Contudo, a lembrança de Amália apareceu na mente da morena, o que puxou a de Penny logo em seguida. As duas acreditavam no lado bom das pessoas, não importava o tamanho das crueldades que fizessem. E tomar as atitudes que a própria Jones tomaria, era ir contra o que sua amiga e irmã acreditavam.
Assim, Brooke engoliu a raiva e deu um passo para perto da loira, invadindo o espaço pessoal dela e a assustando.

 

— Não é de hoje que o povo elege idiotas e incompetentes como seus representantes, mas isso não é assunto meu. Então, faça bom proveito do seu título como rainha do baile, e saiba que você está certa sobre tudo o que falou de mim, exceto por uma coisa - disse Brooke, erguendo o queixo e abrindo um sorriso ameaçador ao se inclinar sobre a loira e sussurrar em seu ouvido as próximas palavras: - Não estou desacompanhada, e mesmo que estivesse, não teria nenhum problema. Por quê? Porque diferente de você, eu me basto e consigo lidar muito bem com a solidão e não preciso tentar desesperadamente preencher o vazio profundo da minha alma miserável, como você faz, Courtney. Agora, está vendo o cara louro-acastanhado e gato na mesa dos Cullen? Ele é meu par. E, olhe aquele outro ali, de suspensório, que está vindo para cá - Ela apontou para Kian, que estava indo em sua direção, felizmente desacompanhado. Quando a Jones seguiu seu olhar, a Evern continuou. - Ele também é meu par. É assim que uma vadia faz. Acrescente isto no seu discurso sobre mim, querida.

 

Afastando-se, Brooke soprou um beijo no ar para Courtney e se virou, pegando o copo com o ponche que Felix servira alguns minutos antes e o virou garganta a baixo em um gole só. Devolveu o copo ao balcão, apanhou suas coisas e esperou que o Archetti se aproximasse. Quando isso aconteceu, ela o agarrou pelo suspensório e o puxou para perto, o deixando de olhos arregalados.

 

— Uau. O que você está fazendo, linda? - Indagou ele.

 

— Te levando para a pista de dança - respondeu Brooke, o silenciado com um olhar incontestável.

 

Kian abriu um largo sorriso e se deixou ser conduzido pela garota, enquanto ambos deixavam uma Courtney Jones boquiaberta e colérica para trás.
A Evern abriu caminho entre as pessoas, sentindo os olhares curiosos sobre si, e começou a pensar que agir por impulso talvez não tenha sido uma boa ideia. Principalmente quando o Archetti envolveu sua cintura com uma das mãos, para não se separarem, e o toque a provocou um arrepio involuntário que chegou até sua nuca, quase a fazendo se livrar bruscamente da mão dele. Contudo, sabia que a Jones a observava, e não queria parecer uma mentirosa, por isso lhe restava levar aquilo adiante.

Ela procurou os cabelos ruivos na confusão de corpos em movimento que a pista de dança era, e assim que os encontrou, seguiu até lá, com o feiticeiro em seus calcanhares.
Foi Jacob quem notou sua presença primeiro, após girar Renesmee. O lobo a virou para frente, mostrando a presença dos dois ali parados.

 

— Broo, você chegou! - gritou por cima da música, soltando-se do Black e abraçando a morena rapidamente. Havia um brilho de entusiasmo em seus olhos claros, suas bochechas estavam coradas devido aos movimentos agitados, e "diversão" estava estampado em seu rosto belo e suado. - Oi, Kian.

 

O Archetti acenou com a cabeça, ao mesmo tempo que os olhos de Renesmee se fixavam na mão dele na cintura da Evern, o que a fez franzir o cenho e lançar um olhar de indagação para a mesma, que encolheu os ombros.

 

— Oi. Antes que eu me esqueça: Courtney Jones ouviu umas boas verdades e talvez queira me detonar até o fim da noite - Proferiu Brooke, desviando a atenção da aproximação do feiticeiro. Renesmee abriu a boca e começou a rir, sendo acompanhada por Jacob, que mesmo ligado na conversa, olhava para os lados pelo canto dos olhos e vez ou outra enrugava a testa, como se estivesse ouvindo coisas desagradáveis. - Notaram alguma coisa estranha?

 

Ela foi direta. A ruiva piscou, o semblante ligeiramente confuso, até que pareceu se recordar do motivo de todos eles estarem naquela baile e ficar ainda mais vermelha, envergonhada pela distração da missão. Já o lobo a olhou, balançando negativamente a cabeça.

 

— Nada ainda. Tudo está... estranhamente como deveria estar, o que está começando a ficar suspeito.

 

Brooke concordou, sem saber ao certo se ficava decepcionada ou aliviada. Em seguida, sentiu a mão de Kian deslizar para longe dela enquanto ele se colocava ao seu lado.

 

— Acreditem; os caçadores sempre vão atrás de sua caça, mais cedo ou mais tarde. E eu estou vivo à tempo o suficiente para saber que a impaciência é o motivo principal que faz à caça ser capturada, especialmente quando ela foge ou contra-ataca antes da hora - As palavras dele soaram com uma certeza convincente enquanto ele ajeitava a aba do chapéu na cabeça, como se ele realmente fosse alguém de confiança, e sábio. - Deixemos os monstros virem em seu tempo. Até lá, o que acham de dançarmos o Charleston e o jazz como pede a ocasião, caras senhoritas e senhor Black?

 

Os três se entreolharam. Jacob balançou os ombros, como se não se importasse. Renesmee parecia em dúvida, como se quisesse aceitar e se divertir pelo resto da noite, mas ao mesmo estivesse se lembrando que estava ali com propósitos mais sérios e satisfazer-se fosse algo errado. Quanto à Brooke, ela realmente não queria. Porém, lembrou-se de Courtney e ficou com pena da híbrida.

Então, estava decidido.

 

— Se estamos na pista, vamos dançar - Anunciou a Evern, soando exasperada.

 

A híbrida sorriu e começou a se mexer, de acordo com o ritmo da música, os movimentos limitados por conta da perna fraturada. Jacob a seguiu, um pouco desajeitado enquanto segurava a cartola na cabeça para não deixá-la cair. Kian girou ao redor de Brooke, e em poucos segundos já estava dançando sapateado perfeitamente, a deixando internamente impressionada, e a levando a pensar que provavelmente ele também deveria ter vivido toda a experiência da década de vinte.
Mas ela deixou os pensamentos de lado e se concentrou em acompanhar os passos das garotas à sua volta na pista de dança, resignada. E foi assim que a Evern passou a metade do baile de primavera dançando Charleston, agitando a saia de seu vestido, balançando seu colar de pérolas, cruzando e descruzando as mãos sobre seus joelhos protegidos pelas meias de seda bege, que se encontravam e se afastavam, em um ritmo freneticamente agitado.
Era uma dança bastante louca, como sugeria a alcunha da década. Mas, fácil de se dançar após pegar o jeito da coisa.
Dançou com Renesmee na mesma medida que se divertiu ao lado dela - Muito. Arriscou alguns passos com Jacob, mas os dois eram mais terríveis juntos que separados, então ambos voltaram para seus parceiros originais. Deixou que Kian a conduzisse após três canções, sem abaixar a guarda. Ele a girou pelos cantos da pista de dança, e lhe ensinou alguns passos de sapateado.

 

— Não sou tão ruim quanto pareço ser, certo? - Indagou ele, no finalzinho da canção.

 

Brooke estava agitando as mãos no ar, imitando pandeiros, após ver uma garota ao lado fazer o mesmo.

 

— Quer mesmo que eu responda? - Atirou, meio sem fôlego. - Agora que me lembro, você não disse que ia verificar o lugar quando chegou?

 

— Estive fazendo isso durante todo esse tempo, Caro.

 

O feiticeiro lhe lançou uma piscadela, que a fez rolar os olhos. Ele começou a imita-la, balançando as mãos e movimentando os pés em um passo de sapateado perfeitamente executado.
O olhar da Evern acabou se cravando na mão esquerda, onde um anel de bronze e ouro com um brasão em forma de E brilhava, devido à iluminação do ginásio.

 

— Não deveria ser um K? - Questionou Brooke, olhando intrigada para o anel que nunca tivera notado até então.

 

Kian parou de mexer as mãos e acompanhou o olhar dela. Um sombra passou pelo rosto dele, mas foi tão rápido, que talvez tenha sido apenas a imaginação da garota ou o reflexo das luzes no salão.

 

— Herança de família. Detalhes não são importantes quando o patrimônio possui beleza e um valor generoso no mercado - O Archetti exibiu um genuíno sorriso maroto. - Mas se me permiti dizer, você é bem mais bela e valiosa que esta velharia.

 

Pouco convencida com a explicação, mas preferindo deixar as questões de espólios familiares para lá, Brooke o enviou um olhar torto, porém, o fantasma de uma risada a traiu. Isso a fez se repreender, pois agora se sentia uma hipócrita; após tanto se perguntar como os outros conseguiam se divertir na real situação que se encontravam, estava naquele momento fazendo o mesmo, ainda que não tivesse planejado e nem percebido até então.

Portanto, foi um alívio para sua consciência quando a música chegou ao fim e todos pararam de dançar, batendo palmas. O Archetti sorriu e fez uma mesura exagerada, ao qual ela retribuiu apenas com um aceno de cabeça. Nem se preocupou em procurar Courtney Jones e comprovar se ela estava os observando, apenas se virou, com a intenção de voltar para a mesa e pregar a bunda na cadeira durante o resto da noite.
Mas acabou batendo de frente com um Alec Volturi austero, a fitando como se ela tivesse derrubado o vinho mais caro do mundo em seu terno caro. E sem dizer uma palavra, ele circulou sua cintura com os braços e a puxou para perto no exato momento em que uma nova música começou a tocar, dessa vez com batida lenta, um jazz romântico.

 

— Geralmente as pessoas dançam com seus pares convidados em um baile - disse Alec, soando tão irônico quanto exasperado, começando a se mover para a direita.

 

— Geralmente as pessoas também perguntam às outras se elas querem dançar antes de puxa-las sem aviso prévio - Refutou Brooke, indo para a esquerda, provocando o começo de uma dança desastrada e desafiante. Ela ergueu o queixo, os olhos alcançando os do vampiro que estavam estreitos. - Achei que Kian também fosse o meu par.

 

— Eu sou o seu par. Seu par oficial, Evern - A firmeza nas palavras do Volturi o fizeram apertar os lábios em uma linha fina e reta segundos depois, parecendo embaraçado pelo rompante de seus pensamentos. Contudo, foi breve. Logo, ele pigarreou e voltou para a expressão vazia, deixando suas emoções inalcançáveis novamente. - Apenas dance. As pessoas estão começando a olhar nosso terrível desempenho, e não queremos chamar atenção.

 

Brooke somente assentiu com a cabeça, absorta na tentativa de compreender a estranheza das atitudes de Alec Volturi. Mas, era uma tarefa difícil o suficiente quando tinha tempo, e impossível quando não tinha. Dessa maneira, ela preferiu desistir de uma provável discussão e fez o que ele havia dito.
Deu dois passos para a direita, o acompanhando dessa vez. Não precisava virar a cabeça para ter a certeza da maneira que Renesmee dançava com Jacob ou qualquer outro casal naquela pista. Existiam várias maneiras de dançar com alguém, mas para aquele tipo de ritmo e ocasião, apenas uma: proximidade. Por isso, a morena engoliu a saliva espessa que se formara em sua boca, e colocou os braços ao redor do pescoço de Alec, aproximando os dois corpos.
Em resposta, ele deslizou as mãos para o fundo das costas dela, e então os dois começaram a balançar suavemente de um lado para o outro.

 

— Se lembro-me bem, não foi assim que nos conhecemos? Mesmo local, mesma ocasião. Deixando de lado a dança e as vestimentas, é claro - Comentou Alec, depois de um longo tempo em silêncio. Parecia estar apenas quebrando o gelo, algo que para ele deveria ser muito difícil.

 

— Você me atacou - Brooke alfinetou, recordando do dia do baile de boas vindas da escola, onde descobrira toda a verdade sobre o mundo sobrenatural e onde sua vida virou de cabeça para baixo.

 

— Você estava deveras atacável naquele dia. Surgiu na dispensa do zelador, com um vestido branco, tão bela quanto um angel. E eu não acredito em anjos, mas você passou a ser a exceção.

 

Brooke precisou inclinar a cabeça um pouco para trás para poder encarar o vampiro louro-acastanhado de volta, que a lançava um olhar indecifrável que fez seu coração acelerar mais que o normal. E como o esperado, ele percebeu.

 

— V-Você encontrou algo de errado? - Ela se odiou por gaguejar e odiou ainda mais a maneira afetada que ele estava a deixando, o que a fez mudar de assunto por não saber como reagir.

 

— Não. Não até agora - respondeu Alec, aproximando o rosto do ouvido dela, próximo o suficiente para o hálito frio tocar em sua pele, mas distante o suficiente para os lábios não encostarem. - As batidas do seu coração estão mais rápidas que o normal, Evern. Isso seria um problema?

 

Malditamente, ela corou.

 

— Não estou falando do meu coração, Volturi. Me refiro aos vampiros recém-criados.

 

— Bem, está tudo sobre controle quanto à eles. - Refutou ele, antes de inclinar o corpo de Brooke para trás, derrubando seu chapéu e puxa-la de volta para cima, colando os corpos dos dois. - Resta-me saber sobre você. O que está errado em você?

 

— Sou uma garota problemática com tendências masoquistas. Muita coisa está errada em mim - A Evern retrucou, inflando as bochechas, fugindo do olhar profundo do Volturi, enquanto sentia seu coração se apertar e bater freneticamente e um nó na garganta que ameaçava sufoca-la, a arrastando para o buraco negro dentro de si que guardava todos os sentimentos não expressados e palavras não ditas de uma vida cheia de arrependimentos e cicatrizes. E ali, no baile de primavera da escola, onde o perigo e a morte espreitava, a garota pensou que poderia ser o cenário ideal para fugir do buraco negro, pelo menos daquela vez. Ser sincera consigo mesma e com os próprios sentimentos, antes de arriscar a própria pele. Ela fechou os olhos com força, desejando que não estivesse ferrando com tudo mais uma vez quando voltou a abrir boca: - E o meu maior erro é o fato do meu coração sempre bater mais rápido pelos caras errados, principalmente quando eles não parecem gostar muito de mim.

 

— As aparências enganam, principalmente quando se trata de malditos sentimentos - A voz rouca e grave de Alec soou em uma resposta inesperada, porém convicta, como se para ele aquela fosse a maior certeza do momento, assim como a maioria naquele ginásio estivesse viva porque seus corações batiam dentro do peito, ou como o céu fosse azul e a grama fosse verde. Eram certezas absolutas.

 

Brooke reabriu os olhos abruptamente, encontrando os olhos do vampiro queimando nos seus, portadores de uma clareza que nunca antes ela vira, capazes de fazê-la se ver refletida e encarar a verdade que culminava entre os dois havia algum tempo: eles não se odiavam mais. O ódio havia sido substituído por outra coisa; fascínio, curiosidade, tensão sexual, talvez. Mas era mais que isso, algo que os deixavam tão atraídos um pelo outro, - fisicamente, mentalmente e emocionalmente - como se fossem imã e metal.
E isto os deixavam queimando.

 

— Eu odeio quando você diz coisas que possuem vários significados que fazem eu me importar, mas que na verdade não passam de meras palavras que eu gostaria de ouvir, porque... - Ela balançou a cabeça, sem parar de dançar, sentindo-se ridícula por estar se confessando para ele. - ... você nunca fala sério.

 

— Eu estou falando sério agora - Objetou Alec. - Ou acha que eu gosto de me sentir extremamente incomodado quando vejo você e Kian juntos? Ou quando me sinto um idiota quando falo e faço a coisa errada e a deixo magoada? E principalmente, gosto quando fico próximo à insanidade tentando descobrir o que foi que você fez para me deixar nesse estado patético, Brooke Evern? - Ele deslizou uma mão de volta para a cintura dela, afundando os dedos na carne, marcante, possessivo. - Você deixou tudo de pernas para o ar, garota. Desviou o rumo da missão que vim cumprir nesta cidade decadente e fodeu com minha mente e existência no processo, porque agora não há outra coisa que eu pense que não seja sobre você ou como você está ou o que está fazendo. E isso não são coisas que um vampiro da minha estirpe faz, porque tenho uma imagem à manter. E sabe qual é o maior problema nisso tudo?

 

A Evern balançou a cabeça em negativo, completamente muda. O espanto dela perante ao que estava ouvindo do Volturi era tremendo, capaz de fazê-la se esquecer das pessoas e da balbúrdia ao redor, restando apenas eles dois ali, debaixo das luzes douradas espalhadas pelo ginásio, de volta aos anos vinte, dançando jazz, em uma bolha que não deveria ter se formado, mas que era tão acolhedora quanto deveria ser.
Alec abriu um sorriso derrotado, aproximando ainda mais o rosto do dela e tocando ambos os narizes.

 

— O maior problema é que eu estou parando de me importar por estar acontecendo. E isso é mais do que eu faria se estivesse com o juízo no lugar.

 

Brooke sentiu os lábios esticarem-se em um sorriso emocionado.

 

— Alec... - Ela começou o que deveria ser uma frase recíproca de sentimentos, mas se interrompeu ao sentir alguém a cutucando no ombro, a fazendo parar de dançar.

 

Alec quebrou o contato visual com ela, mudando para uma expressão altiva. A Evern deixou cair os braços ao redor do pescoço dele e se virou, dando de cara com Bob Collen, exibindo um largo sorriso malicioso, com a gravata borboleta torta e fedendo ao álcool do ponche batizado.
Bob era um colega de turma, sardento, que se ela lembrava bem, já havia feito alguns comentários nojentos e ofensivos sobre ela. Em resumo: ele era um babaca. E estava atrapalhando seu momento com o Volturi.

 

— Juro como pensei que nunca mais fosse te ver, gata.

 

— Oi, Bob. O que você quer? - perguntou, meio seca, mas mantendo a educação.

 

— Você sabe o que eu quero. Você tá muito gostosa nesse vestido, Brooke - Assobiou o Collen, a olhando da cabeça aos pés com olhos famintos. Ele fechou a mão no pulso dela e a puxou com força para perto. - Vamos dançar.

 

Brooke tropeçou nos saltos com a brusquidão do puxão, mas antes que caísse ou fosse puxada mais uma vez, a mão de Alec alcançou a sua e a deu estabilidade, a puxando para trás.

 

— Ela não vai à lugar algum, humano.

 

Bob virou-se, oscilando um pouco para o lado, encarando Alec com o semblante sarcástico e o sorriso ainda nos lábios.

 

— Ela é uma vadia, cara. E todo mundo aqui sabe disso - Riu ele, piscando para o vampiro. - Podemos revezar durante a noite.

 

— Repita isso novamente e eu quebrarei todos os ossos do seu corpo e arrancarei a sua língua durante a noite - disse o Volturi, sem mover um músculo sequer do rosto.

 

Bob franziu o cenho e lançou um olhar irritado para o vampiro louro-acastanhado, puxando a morena mais uma vez em sua direção. Alec também a puxou, o que acabou virando a espécie de um cabo de guerra humano até Alec perder a paciência e rosnar.

 

— Está tudo bem, eu cuido disso - Interviu Brooke, alarmada ao perceber a expressão perigosa do Volturi. Antes que ele fizesse ou respondesse algo, ela virou a cabeça e fitou o babaca sardento: - Vá se foder, Bob. Você é um babaca nojento, e mesmo que você fosse a última pessoa do mundo, eu nunca dançaria com você.

 

Mágoa e cólera resplandeceram no rosto do Collen, que a soltou violentamente.

 

— Você é uma cadela arrogante.

 

A Evern se preparou para acerta-lo um soco no olho, porém, antes que fechasse a mão em punho, a música parou e as pessoas na pista de dança paralisaram, olhando confusas para a banda em cima do palco que largava os instrumentos no chão e sacava algo de dentro dos bolsos de seus trajes.
Então, pistolas surgiram e os tiros ecoaram. Bob foi atingido no rosto, e o sangue explodiu em cima de Brooke, que observou com horror o corpo do Collen pender e cair para trás, os olhos abertos, surpresos.

Foi aí que o estopim do caos daquela noite explodiu.

As pessoas espalhadas pelo ginásio começaram a gritar e correr, derrubando mesas e cadeiras no processo. Alguns tiros acertaram as dezenas de luzes, que explodiram em estilhaços para todos os lados, cravando-se nas peles das pessoas.
Alec fez Brooke se abaixar e desviar no exato momento em que um tiro veio na direção dela. Ele rosnou e olhou calmo e frustrado para o buraco da bala em sua barriga.

 

— Você está bem? - perguntou a Evern, a voz instável subindo muitas oitavas enquanto o fitava com preocupação e pânico.

 

— Sou imortal, Evern - Lembrou ele. E sem perder tempo, a pegou pela mão e começou correr em direção à saída da escola, entrando na confusão de pessoas desesperadas para fazer o mesmo. - Mas, você não. Por isso, você vai sair daqui. Mantenha-se abaixada.

 

Um tiro pegou em uma taça em uma mesa próxima, a quebrando em vários cacos que voaram pelo ar.
Assim que compreendeu as palavras do vampiro, Brooke percebeu que ele estava a tirando de ação, sem nem ao menos consulta-la - O que, se parasse para analisar, era um presente, dada a situação em que estavam, mas ela não estava olhando a situação por este ângulo.
Num movimento brusco, ela puxou Alec para baixo, para trás de uma mesa virada na confusão, tirando ambos do empurra-empurra caótico do lugar e os arranjando um escudo improvisado.
Ao virar para encarar o Volturi, notou que ele já a encarava, como se ela fosse uma louca impedindo que ele os salvasse.

 

— Não sou um covarde que se esconde atrás de mesas enquanto a luta acontece, Evern.

 

— Pois você será, até me dizer que não estava falando sério quando me disse para dar o fora. Temos um plano e precisamos segui-lo, Volturi.

 

— O plano não contava com atiradores disfarçados de músicos tentando matar todo mundo - Alec rebateu, a lançando um olhar impaciente. - Porém, orientava para mante -lá viva, o que é, basicamente, o que estou tentando fazer se você permi... - Interrompeu-se ele, parecendo farejar algo, que não foi preciso a morena perguntar. - Os filhos da mãe estão aqui.

 

Brooke ia questiona-lo, mas o Volturi foi mais rápido e ergueu a cabeça o suficiente para olhar por cima da borda da mesa virada, o que a levou a fazer o mesmo. No primeiro momento, tudo o que avistou foi as pessoas correndo dos atiradores, que ainda estavam em cima do palco. Somente após alguns minutos foi que seus olhos encontraram o que Alec estava se referindo.
Algumas pessoas caíam no meio da confusão para alcançar à saída, mas não era apenas por serem baleadas. Em meio ao caos, da gritaria e da escuridão que começava a cair no ginásio conforme as luzes iam se estilhaçado, Brooke conseguiu distinguir as formas dos vampiros recém-criados espalhados pelo ginásio, atacando os humanos, mordendo-os ou quebrando partes de seus corpos.

O estômago da Evern revirou, ameaçando devolver os goles de ponche batizado. A lembrança da visão que tivera dois dias atrás, a acertou, a fazendo estremecer. Eles matarão todos se não me capturarem, o pensamento ecoou em sua mente, tão convicto quanto o sangue de Bob em seu rosto e vestido eram reais.
Aquilo a enojou e a deixou dormente, como se o medo a impedisse de confrontar a realidade e agir. Era muito mais fácil decidir salvar as pessoas quando a ideia não tinha sido colocada em prática ainda.

 

— Minha visão está acontecendo - sussurrou Brooke, mais para si mesma do que para o Volturi ao seu lado.

 

— Provavelmente. Mas não iremos dar o que eles querem.

 

— Eu não vou correr, se é isso o que está pensando. Se o idiota do Senhor das Sombras estiver aqui, eu irei encontrá-lo e impedir que mais vidas sejam tiradas.

 

— E como você exatamente pretende fazer isso, com o tiroteio e os vampiros atacando todos que encontram pelo caminho? - A indagação de Alec foi sarcástica, assim como o olhar contrariado que ele a lançava.

 

Brooke bufou ao mesmo tempo que o corpo de um professor caiu rolando em sua frente, com o rosto desfigurado e o sangue jorrando no carpete vermelho. A imagem a fez estremecer, mas também a fez encobrir o medo com a certeza de que alguém precisava fazer algo, e esse alguém devia ser ela.
Assim, ela cerrou os dentes e puxou dois punhais de dentro das luvas de seda que iam até os cotovelos.

 

— Alice fez questão de elaborar um pouco mais o meu traje - Ela explicou, assim que viu o olhar surpreso do Volturi. Após tirar os saltos altos rapidamente e largar a piteira e a bolsa de festa, com um sorriso zombeteiro e uma expressão que beirava o suicídio, acrescentou: - Hora de colocar o treinamento em prática. Me dê cobertura, Alec.

 

A Evern levantou em um pulo e saiu detrás da mesa virada, saindo em disparada com os punhais nas mãos. Ainda ouviu um grito repreensor do Volturi, mas o ignorou e se atirou no meio da multidão que ainda estava em pé e corria para se salvar.
Brooke quase foi levada diversas vezes pelas pessoas, mas saiu distribuindo cotoveladas e empurrões, tentando arduamente não perder o equilíbrio e sofrer o risco de cair e ser pisoteada. As silhuetas das pessoas eram apenas borrões enquanto corria, o som dos tiros ecoando alto demais em seus ouvidos e o vislumbre do sangue espirrando ao seu redor e derrubando corpos a fazia querer pegar a direção contrária, como todos estavam fazendo. Mas não podia. Porque tinha um compromisso com todas aquelas pessoas - as que ainda estavam vivas e as que não mais -, mesmo que elas não soubessem. A morena sabia, e aquilo era o suficiente para seguir em frente com o coração prestes a explodir dentro do peito.

Alguém trombou com ela, a derrubando no chão. Brooke caiu de lado, um dos punhais voando para longe, e lutou para se levantar, mas as dezenas de pés desesperados começaram a se aproximar, prontos para esmaga-la... Até que uma confusão de cachos ruivos surgiu entre os rostos borrados, empurrando todos para longe, e a ajudou a ficar em pé, antes das duas saírem do caminho e correrem até o carrinho do bufê, onde esconderam-se.

 

— Você está bem? - perguntou Renesmee, meio ofegante e descabelada.

 

Brooke assentiu rapidamente. Encarou a ruiva, aliviada por ela estar bem. E percebeu, ao lado dela, Bella e Jacob, que não pareciam estar na mesma situação: mãos ensanguentadas, vestido e smoking rasgados. Pareciam ter lutado um bocado.

 

— Onde estão os outros?

 

— Lutando contra os recém-criados. Eram mais do que esperávamos - respondeu Jacob, balançando a cabeça em descrença. - Temos que sair daqui. Esta é uma luta que não podemos vencer. Os outros já devem ter percebido isso também.

 

Brooke engoliu em seco ao ouvir tais palavras. Ela pensou no caos que estava acontecendo agora, no barulho de destruição e ossos sendo quebrados ou carne sendo dilacerada que ouvia; era um verdadeiro massacre, pior ainda do da boate.
E enquanto o Black e as duas Cullen se preparavam para correr até a saída, ela pronunciou:

 

— Vocês vão. Eu tenho que ficar.

 

Renesmee virou-se para encara-la, confusa.

 

— Do que está falando?

 

— Eu não disse antes porque sabia que você não aceitaria. Esta noite não foi sobre a visão da Alice, foi sobre a minha que não contei. A única forma de parar o massacre das pessoas aqui dentro é me entregando. Mas eu não vou, então não se preocupe. Você deveria ir, Nessie.

 

De olhos arregalados, a híbrida balançou a cabeça.

 

— Eu não vou deixar você aqui.

 

— Querida, sou eu quem não vai deixar você aqui - disse Bella, antes que qualquer uma das duas abrisse a boca. Brooke concordou. - Os recém-criados matarão todos.

 

— Eles já estão matando, mãe. E não vão parar a menos que alguém os salve - Renesmee retorquiu. De repente, a expressão assustada em seu rosto se transformou em uma determinada, como se alguém tivesse desligado seu medo e ligado sua coragem, mostrando quem realmente ela era. Ao fitar Bella, a híbrida parecia mais madura, não a garotinha que a família a considerava: - E Eu quero fazer isso. Ajuda-los, pelo menos. Minha perna limita meus movimentos, mas posso tirar as pessoas feridas do caminho enquanto Brooke salva todos nós. Podemos fazer isso.

 

Seu olhar era tão irredutível que a Evern apenas conseguiu olhar orgulhosa para a amiga. Em silêncio, observou a reação de Bella.

 

— Você não vai aceitar não como resposta, não é? - A ruiva balançou negativamente a cabeça, fazendo a vampira a fitar preocupada e igualmente orgulhosa. - Você realmente é minha filha, então. Vamos começar pelo canto direito; os atiradores estão mais distantes de lá.

 

— Bella! - Protestou Jacob.

 


Ignorando a discussão iniciada dos dois, Brooke segurou a mão de Renesmee e a entregou o punhal.

 

— Caso precise se defender. Enfie no coração e puxe de volta.

 

— Obrigada. - A híbrida sorriu tensa. - Eu confio em você e sei que você vai acabar com eles. Tenha cuidado.

 

— Eu também confio em você. E estou orgulhosa das suas escolhas e da pessoa que você é.

 

As duas se abraçam brevemente e se afastaram em seguida. Após um último olhar que mesclava carinho e temor, Brooke se içou para cima e correu para longe do carrinho do bufê, deixando os três discutindo para trás.

Ela manteve-se abaixada conforme avançava pelo espaçoso ginásio e contornava os destroços da decoração e os corpos no chão e que ainda se moviam em pânico. Pelo tempo que havia participado da gangue de Luke, aprendera que em um tiroteio, sempre era melhor ficar fora da mira, e a melhor forma de fazer isso era se camuflado.
Então, correu em zigue-zague pelas dezenas de pessoas, ouvindo os tiros ricochetearem perto demais, vislumbrando em momentos sombras se movendo rápido demais para humanos normais, o que a fazia se afastar apressada. Estava disposta a não parar por nada, não até encontrar quem ela queria, ao menos.

No corredor dos armários.

A voz ecoou dentro de sua cabeça, a sobressaltando. Era a mesma voz que vivia dentro de sua mente, lhe sussurrando coisas que a direcionava à destruição. Porém, agora estava lhe dando uma direção, a qual certamente cumpria sua função geral e lhe levava à única pessoa que poderia significar a ruína total: O desgraçado responsável por aquele circo dos horrores.
Brooke virou-se para a direção da saída do ginásio que desembocava nos banheiros da escola, desviando de uma cadeira arremessada pelo ar. Não estava muito longe das portas duplas quando algo veio em sua direção, rápido demais para a garota perceber ou desviar, e a jogou no chão bem onde os estilhaços das lâmpadas estavam. Ela primeiro sentiu os pequenos cacos perfurando a sua pele, depois sentiu o peso esmagador em cima de si.
Ao erguer os olhos semicerrados pela dor, encontrou o rosto pálido de um vampiro louro de cruéis olhos vermelhos que não era desconhecido. Era o mesmo vampiro de sua visão, que recebia as ordens do massacre do Senhor das Sombras.

 

— Não tão rápido, garotinha - falou ele, expondo os caninos afiados em um sorriso perverso.

 

A Evern tentou se mexer para se defender, porém ele estava a esmagando. Mas não foi preciso buscar uma solução imediata, pois, segundos depois, o vampiro foi tirado de cima de si abruptamente e lançado metros adiante. Um rosnado soou. Em seguida, Alec surgiu com o rosto torcido em ódio, em posição de ataque.
O Volturi a observou por um momento, os olhos fixos no sangue que escorria dos braços dela, mas rapidamente desviou o olhar e a levantou, a empurrando para trás assim que o vampiro louro se colocou de pé e encarou os dois.

 

— É um desprazer reve-lo, Alec Volturi.

 

— Vladmir - Cuspiu Alec. - Eu deveria ter imaginado que era você e Stefan os traidores da nossa espécie. Uma vez escória, sempre escória.

 

Vladimir rosnou, enfurecido.

 

— Quando o soberano das sombras se erguer, você e seu clã de usurpadores irão ver quem é a verdadeira escória!

 

— Bem, é como dizem. Quanto mais alto o sonho, maior é a queda.

 

O sarcasmo de Alec incitou o ataque de Vladmir, que se moveu tão rápido e habilmente quanto o próprio Volturi. Brooke observou enquanto os dois pulavam um no outro e se transformavam em borrões que produziam sons de luta e rosnados animalescos. E se preocupou com Alec, porque, pelo que tinha escutado sobre a história do clã Volturi, reconhecia quem Vladmir era na história, e sabia que mais do que qualquer outro ser sobrenatural, ele tinha motivo para querer dizimar todos os Volturi e se juntar à uma nova espécie monstruosa para realizar tal finalidade.
Contudo, não era hora para se reter aos sentimentos pessoais; era hora de agir. E apostava em Alec como vencedor da luta. Portanto, arrancou alguns cacos de vidro presos em seus braços, deixando filetes de sangue fluir, e se pôs a correr para as portas duplas. As alcançou sem mais obstáculos, e antes de passar por elas, lançou um último olhar para o cenário que deixava para trás: sangue e morte para todos os lados.
Tentou visualizar um rosto familiar de um Cullen ou Volturi ou de Kian, mas no meio do caos, não viu ninguém. Até mesmo o ponto onde Alec estava minutos atrás, ela havia perdido. Então, sem mais delongas, empurrou as portas e adentrou às sombras.

O resto do prédio da escola estava escuro, mas Brooke sabia a planta da escola. Por isso, caminhou cautelosamente, guiando-se pelo início e fim da parede. Acabou chegando nos banheiros, onde entrou e saiu rapidamente quando que não encontrou ninguém. O som de seus passos ecoando pelo silêncio mórbido daquela parte do prédio a dava a sensação de estar dentro de um filme de horror.

E ela estava. Como sempre estivera desde que colocara os pés em Forks.

Um calafrio lhe subiu pela espinha conforme virava a direita e passava pelo espaço onde sabia que o quadro de avisos ficava. Uma sequência de possíveis finais para a noite surgiu em sua cabeça, entre elas, sua morte de variáveis maneiras. A Evern sacudiu a cabeça, tentando se concentrar e manter o controle.
Depois de mais alguns passos, finalmente chegou ao corredor dos armários, parando exatamente na chegada. Ela prendeu a respiração no exato momento em que uma das luzes fluorescentes do teto se ascendia, iluminando parcialmente o corredor. O cano da arma apontada para sua testa foi a primeira coisa que enxergou, o que não a deu tempo de reagir. A segunda, foi um dos integrantes da banda a segurando, e a forma estranha como ele estava: imóvel, a boca entreaberta, os olhos fixos em um ponto inexistente, sem expressão e o dedo no gatilho.
Parecia um robô programado ou um fantoche esperando ser conduzido. Ou esperando por alguém. Fosse o que fosse, Brooke observou enquanto a mão dele tremia e o dedo começava a se mover, pronto para puxar o gatilho. Contudo, ele não chegou a atirar. Mas o som do tiro ecoou e instantes depois, o homem arregalou os olhos, caindo para trás em sua própria poça de sangue que começou a se formar no chão.

Perplexa, Brooke ergueu o olhar e encarou uma silhueta saindo detrás da última fileira de armários caminhar em sua direção. Quando a silhueta se aproximou o suficiente da porção de luz que iluminava metade do corredor, foi a vez da morena arregalar os olhos.
Courtney Jones a fitava instável, descabelada, em cima dos saltos altos e vestido de lantejoulas manchado de sangue fresco, com um revólver em mãos. A garota tinha uma expressão perturbada e um olhar raivoso - mais que o normal.

 

— Ótimo. Você me fez atirar em um assassino - disse Courtney, parecendo irritada ao olhar para o corpo sem vida aos seus pés.

 

Brooke foi capaz de ignorar a personalidade ruim dela naquele momento e se concentrar no fato de que Courtney tinha salvado sua vida.

 

— Você tem uma arma. E me salvou. Onde você conseguiu uma?

 

— Com meu pai. Ele é policial. E sim, eu salvei sua vida miserável, mas foi apenas um impulso - A Jones respondeu, a voz falhando ao engolir um soluço e abaixar o revólver. Ela levou as mãos cheias de arranhões até a cabeça. - Isso é um pesadelo. Começaram a atirar lá no ginásio e as pessoas começaram a cair. Tinha sangue pra todo lado e sons guturais também... Fugi pela porta dos banheiros interiores assim que a alcancei. Você sabe o que está acontecendo, Brooke?

 

A Evern a olhou penalizada, sentindo uma ponta de solidariedade por aquela versão assustada de Courtney. Entrementes, nada que dissesse poderia explicar ou melhorar aquele caos. Por isso, ela pensou nas palavras certas e mais breves para responder à outra. Estava procurando pelas palavras quando ouviu o som de passos pesados se aproximando, uma risada estrondosa e macabra reverberando pelo corredor, vindo das sombras.

 

— O-Oque é isso agora? Quem está aí? - Courtney disparou perguntas, a arma quase escapando de suas mãos trêmulas enquanto ela a apontava para todos os lugares.

 

A risada ficou ainda mais alta. É ele, o pensamento inundou a mente da Evern, que tencionou os músculos e permaneceu parada, olhando para a escuridão mais à frente.

 

— Saia daqui, Courtney - Comandou, a voz estranhamente calma. Seus olhos capturaram os da loira, mostrando que estava falando sério. - Sua arma não vai adiantar nada. Vá enquanto pode e corra o mais rápido que consegue, se não quiser acabar como as pessoas no ginásio. Vai!

 

Com uma expressão aterrorizada, a Jones assentiu e a lançou um último olhar transtornado antes de apertar o revólver com força e sair correndo na direção de onde Brooke veio.
Assim que o som dos saltos batendo contra o chão cessou, a morena engoliu em seco e esperou, parada debaixo do feixe de luz. Não demorou muito. Um minuto de suspense depois, a figura pálida de um homem surgiu, carregando um sorriso de deleite sombrio enquanto se aproximava lentamente. Mas, para a confusão da garota, não era o Senhor das Sombras. Era outro vampiro, com olhos vermelhos e cabelos pretos. E era o outro vampiro de sua visão.

 

— Stefan - O nome saiu dos lábios dela com incerteza.

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Olá, amores. Como vocês estão?
Eu sei. Este é o meu record de sumiço, e eu sinto muito. Mas algumas coisas acontecem na vida e às vezes estraga os nossos planos. Como pessoa, a minha vida está um pouco bagunçada agora, e como autora, também. Além do mais, estou trabalhando e estudando agora, o que toma muito do meu tempo.
Mas estou sempre pensando em Eyes On Fire. Em vocês, porque não quero desapontar ninguém. Porém, essa minha cobrança não é saudável, então eu realmente só postarei quando puder. Sem pressa. Sem ansiedade. Com dedicação e amor. Por isso, peço que entendam e me desculpem.

Ok?

Espero que tenham aproveitado o capítulo e que aguardem pela segunda parte, cujo eu tive que dividir pois se não ficaria um capítulo ENORME e que eu ainda não terminei de escrever.

Obrigada pelos comentários, apoio e mensagens. Vocês são muito importantes nessa fase bagunçada da minha vida. Obrigada.

Amo vocês.

Até o próximo... bjs ♥