Eyes On Fire escrita por Brê Milk


Capítulo 33
Chapter 30: Ouroboros


Notas iniciais do capítulo

"Don’t know if you mean everything to me
And I wonder can I give you what you need
Don’t want to find I’ve lost it all
Too scared to have no one to call
So can we just pretend
That we’re not falling into the deep end"

— Birdy (Deep End)



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Alec Volturi

 

Caixa de mensagem.

Alec grunhiu, bloqueando a tela do celular e o jogando em cima da cama. A irritação presente em seu sistema se devia simplesmente ao fato de não ter suas inúmeras ligações atendidas. E a única pessoa corajosa o suficiente para fazer tal coisa, era a Evern, que realmente deveria estar furiosa com ele.
 

Sentia-se um tolo por insistir durante toda a manhã em ligar para ela, e mesmo que fosse difícil admitir, precisava fazer isso. Precisava ouvi-la, mesmo sabendo que muito provavelmente ela não queria nem vê-lo. Ainda assim, continuava arriscando e fazendo papel de bobo com suas chamadas recusadas, apenas por mera culpa por ter sido tão grosseiro com ela - algo tão humilhante quanto ser ignorado.

Para Alec, Brooke Evern realmente deveria ter feito alguma coisa com ele, algo muito eficiente que nem seus piores inimigos conseguido fazer. Porque não era possível que aquela perturbação de espírito fosse natural.

Aquela preocupação tola com aquela garota ou o aperto no peito que sentia sempre que a magoava. E ele a magoava com frequência. No começo, fazia porque gostava de ver os olhos mareados e a expressão de mágoa no rosto da Evern; mas ultimamente, agir assim parecia uma ideia errada que o incomodava.

Porém, Alec continuava a colocando em prática. Como quando dissera aquelas palavras duras para Brooke na sala de treinamento da mansão e a deixara em choque. Ele não tivera a intenção de machuca-la, contudo, não conseguia ignorar a voz em sua cabeça que o dizia que a Evern era um erro cujo ele desejava cometer e que deveria fugir da onda de sentimentos que ameaçava engoli-lo e derruba-lo a qualquer momento.

Pela primeira vez em sua existência, humana e vampira, Alec se sentia perdido nas controvérsias que havia trago para si mesmo. Não havia uma resposta absoluta para o que deveria fazer quando o assunto era sua Cantante, pois, quando o assunto era sobre ela, suas certezas se dissolviam e tudo se transfigurava.

Assim como ele próprio. As cartas que sempre fizera questão de colocar na mesa se embaralhavam e o único resultado do jogo que ambos os dois jogavam era apenas um: empate. Um empate cujo o prêmio era um punhado de mágoas e uma coleção de brigas.
 O Volturi não gostava de empates. Ele gostava de ganhar. E, acima de tudo, gostava dos prêmios... especialmente se o em questão tivesse uma língua afiada e um estúpido coração altruísta.

Talvez Jane estivesse certa. A Evern não tinha o seu perfil, Alec concordava. Porém, por mais defeitos que ela possuísse, ele ainda conseguia enxergar cada qualidade sobre ela. E, dando razão à irmã, o vampiro realmente gostava do drama e da tragédia. E isto, a vida da garota era cheia, embora a dele também fosse.

Ele exalou, concentrando-se na vista do lado de fora da janela embaçada. A chuva caía torrencialmente, dando a impressão de que iria afundar a cidade, revelando a essência de Forks. Embora o verão estivesse se aproximando, o clima continuava úmido e mórbido, deprimente demais até para um vampiro.

Alec encostou a testa no vidro frio. A vontade de apanhar o celular e fazer mais uma tentativa ao discar o número já gravado, o tomou. A raiva também. O que estava acontecendo consigo? Não se reconhecia mais. Desde quando se transformara naquela figura patética que se martirizava por uma garota?

Por Brooke Evern.

Ele não queria mais se sentir daquele jeito. Tinha que dar um fim àquela agonia causticante que seus pensamentos e sentimentos se tornaram. Tinha que romper o ciclo vicioso de idas e vindas que os dois tinham, porque não aguentava mais continuar na posição indefinida que exercia.

Estava na hora de quebrar o empate, encerrar o jogo. E dependendo do resultado, o prêmio seria seu.

Alec se afastou da janela abruptamente, caminhando com passos rápidos e decididos até a porta. Agarrou o sobretudo em cima da cama e o vestiu, deixando o quarto imediatamente. Assim que chegou na sala, viu Demetri deitado no sofá assistindo algum filme, bebendo as bolsas de sangue do estoque particular de Felix.

Os dois se entreolharam.

 

— Vai sair? — perguntou Demetri, sugando o resto de sangue da bolsa.

 

Alec começou a caminhar pela sala, procurando as chaves do carro. As avistou na mesa de centro, embaixo das bolsas vazias.

 

— Sim. Preciso resolver um assunto — respondeu, dando a volta pelo sofá. Ele jogou as bolsas no chão e apanhou as chaves, sob o olhar curioso do outro Volturi, que ergueu as sobrancelhas. — O quê?

 

— Esse assunto mora na casa dos Cullen e é uma estudante do ensino médio surtada e poderosa, por acaso? — Demetri abriu um sorriso malicioso. — E eu achando que você seria o último a dar o braço à torcer.

 

Alec rosnou.

 

— Não se intrometa na vida alheia, Demetri.

 

— Desculpe, não está mais aqui quem falou.

 

O vampiro louro-acastanhado rolou os olhos, então fechou os dedos nas chaves e virou as costas, indo em direção à saída do apartamento, tentando não parecer tão apressado quanto estava.

 

— Já que hoje estou me intrometendo na vida alheia, deixe-me intrometer um pouco mais na sua, Alec — A voz séria de Demetri soou às suas costas.

 

Alec parou com a mão na maçaneta. Girou a cabeça e olhou para o amigo por cima do ombro, expressando sua impaciência.

 

— Vá em frente e dê seu conselho, ou o que quer que seja.

 

— Lembre-se que voltamos para casa em dez dias. Mesmo sendo a pessoa menos indicada para dar conselhos, sugiro que resolva suas pendências enquanto há tempo e não crie arrependimentos mais tarde. Conheço um homem atormentado quando vejo um.

 

Demetri disse as palavras com convicção, como se realmente entendesse do assunto e pudesse enxergar através do vampiro em pé, o encarando sem reação. E quando se calou, o lançou um último olhar encorajador e logo em seguida focou a atenção no filme, como se não houvesse acabado de dar voz aos problemas de Alec.

 

— Felizmente, pretendo acabar com o meu tormento em breve. Mas guardarei o conselho — Foi o que Alec formulou, antes de rodar a maçaneta e abrir a porta, saindo em seguida sem esperar por uma resposta.

 

Ele caminhou pelos corredores do prédio até o estacionamento, submerso na nuvem de pensamentos que cobriu sua mente. Durante todo o momento, seus punhos se mantiveram fechados, as chaves do carro afundadas na carne de sua palma, o ferindo.

Porém, Alec não sentia nada. A dor era irrelevante para ele. A única coisa que lhe incomodava eram as questões que não tinham respostas, o que o deixava em desvantagem. Com as palavras de Demetri martelando em sua cabeça enquanto entrava no carro e acelerava até o destino escolhido, ele percebeu algo inevitável. O jogo havia acabado de mudar, e não para o seu favor.

 

Algum tempo depois, já estava estacionando o carro no gramado dos Cullen. Em um instante, estava batendo na porta da mansão, que foi aberta. O rosto de Alice Cullen surgiu, acompanhado de um olhar nada surpreso.

 

— Não acha que é muito cedo para visitas? — Disparou ela.

 

Alec inclinou a cabeça para o lado e deu de ombros.

 

— Não estou aqui por escolha, apenas fazendo o meu trabalho. Mas um convite para entrar seria educado. Está chovendo e minhas botas estão ficando molhadas.

 

Semicerrando os olhos, a Cullen de personalidade excêntrica deu um passo para o lado e fez um gesto para ele entrar. O Volturi adentrou a casa sem cerimônias e seguiu até o hall, onde parou e prestou atenção no silêncio e no vazio da casa.

 

— Meus irmão estão na escola. Esme foi ao orfanato doar algumas roupas e Carlisle está fazendo plantão no hospital — A voz de Alice soou atrás de Alec. Um segundo depois, ela estava em sua frente, com as sobrancelhas franzidas e os braços cruzados. — Mas, você está aqui pela Brooke. Ela está na sala de treino, com Kian. Pode ir até lá, se quiser.

 

Alec enfiou as mãos nos bolsos do sobretudo, internamente desconfortável com a afirmação da vampira. Ele não havia dito o motivo de sua visita. Será que estava tão visível assim suas intenções?

 

— Certo. — Ele acenou com a cabeça, a observando atentamente antes de seguir caminho. Alice comprimiu os lábios, os olhos dourados revelando a inquietação que sentia. — Espere. Se todos estão na escola, por que você não está? — Alec cerrou as pálpebras, se aproximando da vampira lentamente. — O que você tem para me dizer, Alice?

 

A baixinha suspirou pesadamente, descruzando os braços. Ao olhar diretamente para o Volturi, ergueu o queixo e assumiu uma postura preocupantemente séria.

 

— É mais sobre o que eu vi esta manhã - sussurrou.

 

— Pensei que suas visões estivessem bloqueadas assim como o rastreamento de Demetri.

 

— E estão, mais ou menos. Mas desde que Brooke chegou, às vezes consigo visualizar algo, só que nunca nada relevante. Até agora.

 

— O que você viu?

 

— O baile de primavera do colégio depois de amanhã. Na minha visão, corpos caíam sem vida. Pessoas gritavam e se empurravam em meio ao caos. Havia fogo e alguém que conhecemos estava sendo perseguido brutalmente — disse Alec, as palavras se tornando sombrias conforme saiam de sua boca. Suas íris estavam tempestivas, como se a visão ainda estivesse fresca em sua mente, a aterrorizando. Então ela completou: — Esse alguém era Brooke. Eu a vi no meio da fumaça e das chamas, correndo nas trevas para se salvar.

 

Ao terminar de ouvir, Alec trincou o maxilar. O incômodo em seu peito e o gosto ruim em sua boca o fizeram fitar a Cullen, irritado.

 

— Está me contando isso para que eu a impeça de ir ao tal baile?

 

— Não, ao contrário. Brooke ainda não tomou a decisão de ir ou não, mas sabemos que independente, ela não obedeceria você. Não mais — replicou Alice, sem intenção de fazer gracejos. — Estou lhe contando pois sei que você é esperto. Então, se levarmos em consideração os fatores da visão, acho que podemos determinar o que a causará. Está pensando o mesmo que eu?

 

— Os vampiros da nova espécie são os únicos que a querem a qualquer custo. Talvez até mesmo o ridículo do Senhor das Sombras, se a proporção do caos for tão grande quanto você previu. — A resposta veio facilmente para Alec. — Podemos encontrar pistas que nos levem até ele ou pega-lo de uma vez por todas.

 

— Sim, estamos pensando o mesmo — Alice o fitou aliviada, como se ele entendesse seu ponto de vista. — Aro sempre esteve interessado em meu dom, por isso acho que você deve saber como ele funciona. Minhas visões são subjetivas; o futuro que elas preveem muda conforme as escolhas realizadas. Então, se Brooke for ao baile, teremos uma chance. A sequência dos fatores na minha visão a envolvem, a fazendo ser o núcleo de tudo. Precisamos dela.

 

— Em outras palavras, você quer usar a Evern como isca no seu plano desesperado - respondeu Alec, a lançando um olhar adiado. Algo na ideia o desagradou. —, mas não quer sujas as mãos e manchar a boa reputação do clã Cullen como os mocinhos da história e revelar a verdadeira faceta hipócrita que vocês têm.

 

Alice o encarou espantada e ofendida.

 

— Eu nunca deixaria Brooke ir se não estivesse disposta a protegê-la! — Bradou, estreitando os olhos dourados inocentes que passaram a conter determinação. — Mas, se ela não estiver lá, continuaremos no escuro servindo como peões no jogo sádico desse doido varrido que apareceu. É muito provavelmente seremos expostos para o mundo, isto é, se uma guerra não estourar e nós perdermos tudo para a nova espécie de vampiros bizarros. Absolutamente tudo. E eu não posso deixar que nada disso aconteça, Alec. Porque significaria que minha família seria afetada, e não aceito perde-la. Assim como você também não aceita perder a sua, mesmo que você apenas os considere como o clã hierárquico poderoso que são.

 

Ele considerava, era verdade. Entrementes, não significava que não os estimasse ao ponto de querer vê-los sãos e salvos, da forma como estavam no presente. Sua irmã, Demetri, Felix, seus mestres, Santiago, seus soldados que o respeitavam, até mesmo Heidi... eram seu clã. Eram as pessoas que encontrava quando retornava para o castelo, para seu lar.

Não os intitulava como "família", assim como os Cullen, porque era uma estupidez, mas se apoiavam e defendiam tanto quanto. E isto bastava para Alec querer o mesmo que Alice, mesmo tendo que arriscar tanto.

 

— É melhor ter uma estratégia de defesa melhor que a de ataque, ou então já podemos começar a cavar a cova da Evern — disse ele, simplesmente.

 

— Não vamos precisar de uma cova — Alice o olhou feio. — De qualquer jeito, obrigada por concordar.

 

— Tanto faz. Apenas fique ciente de que se algo acontecer com a Evern, ela não será a única a precisar de uma cova. Farei questão de cavar mais oito buracos para a sua querida família. Você não precisará de um, pois estará confortável no fundo do oceano.

 

Alice abriu a boca para rebater, mas Alec a dispensou com um gesto de mão e a deu às costas em seguida, encerrando a conversa. Ele partiu em direção à sala de treinamento, procurando não pensar no risco que estava colocando Brooke.

Não haviam garantias de que a visão de Alice fosse certa, muito menos que o plano fosse funcionar. Contudo, não podiam desperdiçar as chances quando apareciam, mesmo que o valor da jogada fosse alto demais.

Assim, o Volturi se manteve indiferente à voz em sua cabeça que o dizia que condenar a Evern por incertezas não era o certo. Mas, desde quando Alec fazia o certo? Agarrando-se a tal conclusão, ele chegou até a sala de treino, a adentrando silenciosamente.
 No exato segundo que percorreu a grande sala com os olhos, teve sua conclusão destruída, transformada na incoação de suas dúvidas e pensamentos desgovernados. Foi no exato segundo que focou os olhos na morena correndo pelo lugar, ao lado de Kian, ofegante e encharcada de suor, proferindo palavrões e grunhidos, que soube que não conseguiria se manter indiferente ao que acontecia com ela.

Não mais.

Perceber aquilo o fez odiá-la e odiar a si mesmo. Pois, antes dela aparecer, a hipótese de se importar com alguém além de Jane e dele mesmo, era inexiste. Agora era tudo o que fazia quando a via em qualquer lugar, em qualquer circunstância.

O ruído que saiu da garganta e passou pela boca de Alec foi um misto de descontentamento e frustração, tão alto que acabou atraindo a atenção dos dois corredores.

 

— Alecssandro! — Exclamou Kian, parando de correr e abrindo um sorriso divertido, a testa brilhando de suor. — É muito cedo para o seu mau-humor, amigo. A que devemos a honra de sua visita?

 

O Volturi rolou os olhos e se empertigou. Sob o olhar atento do Archetti e o olhar feio da Evern, pensou em uma resposta equivalente à decência. Revelar o motivo que o trouxera até ali, não parecia uma boa ideia no momento. Não na frente de Kian, ao menos.

 

— Vim avaliar o treinamento dela — falou a primeira mentira que o veio em mente, desviando os olhos para a morena. — Quero saber se minhas perguntas inúteis realmente eram descartáveis e, principalmente, se você já está apta para o segundo round, Evern.

 

Brooke franziu as sobrancelhas e estreitou os olhos, o que o indicava que ela ainda estava irritada com ele.

 

— Veja... por você mesmo — retrucou ela, entre respirações pesadas, erguendo o queixo e colocando as mãos na cintura.

 

O Volturi ergueu uma sobrancelha. Não tinha muito o que ver, na verdade. Apenas que a garota parecia um saco de batatas dentro da imensa camisa, e que ofegava tanto que dava a impressão de que iria ter um ataque a qualquer momento.

O rosto dela brilhava de suor e alguns fios de cabelo se grudavam ao pescoço e a testa. Porém, numa análise mais minuciosa, o vampiro pôde detectar algumas mudanças sutis: a musculatura mais definida das pernas dela e as marcas roxas dos nós dos dedos das mãos, que indicava que ela andava treinando boxe. Sem luva, o que a intitulava uma idiota.

 

— Parece que você andou dando alguns socos, Evern - comentou Alec, controlando o tom provocador. — Por quê?

 

— Um certo tirano... me disse para me preparar fisicamente. Foi o que eu... fiz — respondeu Brooke. Inclinando o corpo para frente e apoiando as mãos nos joelhos, ela não desviou os olhos dos dele. — Mas meu limite... eu ainda não cheguei.

 

O Volturi cruzou os braços, considerando dar alguns minutos de intervalo à ela enquanto a distraía.

 

— Pergunto-me o que esse tirano diria se a ouvisse falando mentiras no meio do treino.

 

A morena o fuzilou com os olhos e abriu a boca para retrucar, mas pareceu desistir e simplesmente bufou, desviando os olhos enquanto limpava o suor com a palma da mão.

 

— Aqui, beba água — A voz de Kian retumbou. Em seguida, ele surgiu ao lado da Evern e a entregou uma garrafinha de água mineral, cujo ela aceitou de boa vontade. — Você precisa se hidratar para se manter linda, Caro.

 

Alec apertou a mandíbula enquanto Brooke se engasgou com a água. Os dois olharam para o feiticeiro em sincronia, o levando a gargalhar maroto.

 

— As reações dos dois foram exatamente como pensei — Ele piscou.

 

A Evern rolou os olhos, fechando a garrafinha e a devolvendo ao Archetti. O Volturi relaxou, recuperando a expressão neutra. Decididamente, o intervalo havia acabado.

Em silêncio, Alec caminhou até a parede que comportava o arsenal de espadas e escolheu as duas katanas da outra vez, e se dirigiu ao centro da sala.

 

— Está na hora de parar de brincar. Pronta, Evern?

 

— Totalmente — Refutou Brooke, endireitando a coluna e estalando o pescoço. — Estou ansiosa para atravessar uma espada em você.

 

Ela deu um passo na direção do vampiro, mas ele gesticulou, a fazendo parar.

 

— Eu disse que a ensinaria a manejar uma espada, mas você não sabe fazer isso ainda. Sinto muito, mas você terá que segurar um pouco a sua ansiedade em me cortar em pedacinhos — disse Alec, a deixando boquiaberta. Com uma expressão arrogante, ele sinalizou para Kian: — Vamos mostra-la como um verdadeiro espadachim luta.

 

Em um movimento rápido, o Volturi lançou uma das katanas no ar, na direção do Archetti. A espada girou três vezes antes dele pega-la, a mão se fechando com força no cabo longo. Com um sorriso divertido, o feiticeiro juntou-se ao vampiro, ficando um de frente para o outro.

 

— Isto será divertido.

 

— Não é para ser divertido, e sim uma demonstração para a Evern — Ralhou Alec. Logo em seguida, pousou os olhos na morena. — Preste atenção em nossos movimentos.

 

Resignada, Brooke assentiu e se afastou, caminhando pisando duro para o lado extremo da sala.

O Volturi e o Archetti se posicionaram, katanas esticadas em frente, em guarda. Ao se entreolharem brevemente, avançaram ao mesmo tempo, brandindo as espadas. O choque das lâminas provocou um ruído metálico que se propagou pelo salão.

 

— A luta com espada requer equilíbrio e concentração - A voz potente de Alec se sobrepôs ao eco das lâminas. — Mantenha os pés alinhados e distribuía o peso do corpo pelas duas pernas. Não gire o braço sem antes prestar atenção nos movimentos do oponente, e não o ataque sem antes analisar sua posição.

 

Para ilustrar suas palavras, ele empurrou a katana de Kian e desviou da investida que este fez a seguir, o analisando ligeiramente antes de girar e mirar a lâmina no rosto do Archetti, que desviou por pouco.

Os dois se imobilizaram, no mesmo ponto onde pararam, e Alec retomou à aula:

 

— Quando atacar, não hesite. Ou ao invés de apunhalar, você será apunhalada. Tenha sustentação nos pés e se mova com confiança para não tropeçar ou cair no meio da luta. Há duas maneiras de atacar: diretamente, partindo para cima, mas com risco de seu ataque ser refutado; ou indiretamente, confundindo o oponente, fazendo um jogo com sua espada e a dele, mas precisa ser um ataque sem erros. Do contrário, você cavará sua própria cova.

 

Kian tomou a iniciativa e investiu, acertando o ombro de Alec por raspão. O sorriso presunçoso se abriu nos lábios do feiticeiro, mas morreu assim que o Volturi contra-atacou e sua katana cortou uma das alças de seu suspensório.

As espadas se chocaram. Os dois se fitaram, com expressões arrogantes e competitivas. Quem quer que os visse, pensaria estar diante de um duelo de rivais, porém não era o caso. Ambos eram figuras sólidas e altivas, dançando uma dança sinuosa que para eles não passava de uma antiga diversão da época em que eram crianças imaturas brincando com cabos de vassoura, imaginando serem espadachins no topo da plantação de uva em que trabalhavam, muitos séculos atrás.

 

— Parece que ainda temos sincronia, velho amigo — comentou Kian, enquanto rodavam o salão, atacando e recuando.

 

— Certas coisas nunca mudam, por mais que devessem mudar — respondeu Alec, o fantasma de um ínfimo sorriso aparecendo em seus lábios e desaparecendo instantaneamente. Ele estreitou os olhos. - Agora cale a boca e concentre-se! Ainda estamos ensinando a Evern.

 

Parecendo satisfeito, o Archetti soltou um riso breve e pulou para a direita, desviando de mais um golpe, contudo, não totalmente. O sangue começou a jorrar do corte em sua mão, e foi a vez do Volturi sorrir satisfeito.

 

— Nunca abaixe a guarda diante do seu adversário, não importa quem ele seja — O vampiro ergueu a katana, Kian ergueu a dele apressadamente. As lâminas se voltaram a colidir e os dois começaram a empurra-las uma contra o outro. Os dois grunhiram. — Há honra envolvida quando as pessoas lutam com espadas. Mas você não pode se dar ao luxo de seguir este padrão, já que está naturalmente em desvantagem por ser uma humana enfrentando vampiros — Lançando os olhos para o fundo da sala, Alec encarou Brooke e ergueu uma sobrancelha, puxando os cantos da boca para cima numa expressão pura de cinismo: — Eu sou um cara mau, não me importo com a honra e todas as baboseiras que faz alguém ser certo.

 

O olhar traiçoeiro que ele carregava, antecipava sua próxima ação. Voltando a atenção para a luta, Alec fez apenas um movimento e abaixou a própria espada, desequilibrando Kian, e o deu uma rasteira, o derrubando em um baque sonoro no chão.

O Volturi aproximou a katana do peito esquerdo do Archetti e pressionou o pé contra a barriga dele, o imobilizando no lugar.

 

Touché.

 

Maledetto — grunhiu o feiticeiro, soltando uma risada nasal. — Pensei que estivéssemos dando uma aula, onde está sua integridade de professor?

 

O vampiro deu de ombros.

 

— Ninguém precisa de integridade quando se está lutando para sobreviver — retrucou, abaixando a espada e se afastando de Kian, o libertando. Alec se virou. — Agora é a sua vez, Evern.

 

As orbes vermelhas fitaram as castanhas, que refletiam o estado espantado que a garota se encontrava com a última cena. Brooke desviou os olhos e se recompôs, desencostando da parede e caminhando até o centro da sala enquanto remexia no cabelo preso em um rabo de cavalo e mordiscava o lábio inferior.

O Volturi achou graça no comportamento dela, o suficiente para ter que controlar a vontade de rir quando a morena parou em sua frente.

 

— Deixe-nos a sós, Kian — Comandou, sem desviar os olhos da morena. — Creio que assim como eu, a Evern também queira fazer isso com privacidade.

 

O feiticeiro olhou para ela, em busca de confirmação, despertando uma centelha de irritação em Alec. Assim que Brooke assentiu, o Archetti se moveu. Ele entregou a katana à Evern, a lançando um olhar divertido. Em seguida, se virou para o Volturi e o deu um aperto no ombro.

 

— Parece que você encontrou um oponente à altura, Alecssandro. Sinto muito, mas aposto nela.

 

Massageando as costas e começando a rir, o feiticeiro se afastou, caminhando até a saída da sala de treino. Quando sua silhueta desapareceu pelo arco da porta, a voz da Evern ecoou.

 

— Podemos começar?

 

— Na verdade, eu tinha em mente uma conversa a sós — murmurou Alec.

 

— Conversaremos enquanto tento furar você com a espada — rebateu Brooke, fechando a mão no cabo da katana.

 

O Volturi observou a postura rígida e o sorriso irônico que a morena tinha nos lábios, direcionado à ele.

 

— Acho que já entendi que você quer me matar, mas será que ainda podemos conversar, Evern?

 

— Bem, depende. Você vai me abandonar no meio do diálogo e me deixar plantada, de novo? — Inquiriu Brooke, beirando o cinismo. — Se a resposta for não, estou ouvindo. Fique em guarda, Volturi.

 

Os cantos dos lábios de Alec se elevaram, formando um sorriso sarcástico. Quando ele retirou o sobretudo e o deixou cair no chão, sobrando apenas a regata branca e a calça moletom que vestia, ele fez o que ela pediu e esticou a espada em frente, decidindo participar do jogo dela antes de derrota-la uma última vez.

 

— Se é uma luta que você quer, é uma luta que você terá. Saiba que não pegarei leve com você apenas porque é humana — Avisou. — Mas não se preocupe, jogarei limpo desta vez. Sem utilizar das vantagens de vampiro. Contudo, eu não baixaria minha guarda, se fosse você.

 

Brooke exibiu o sorriso petulante que o vampiro já conhecia.

 

— Essa é a última coisa que eu baixaria perto de você, Volturi.

 

Alec deixou escapar uma risada, consciente que merecia o tratamento que estava tendo. O olhar ansioso de Brooke capturou o de Alec, que a estudou rapidamente, constatando que a garota estava esperando pelo ataque.

Pelo menos uma das lições ela aprendeu, os pensamentos dele se tornaram jocosos cedo demais. Com os cantos dos lábios puxados para cima em um discreto sorriso, o vampiro atacou, assumindo a velocidade mundana para igualar o nível do duelo.

A espada dele cortou o ar e desceu certeira na direção da Evern, que com os olhos arregalados, se movimentou e manejou a própria katana, bloqueando a investida. As lâminas colidiram e o Volturi jogou o peso do corpo para trás, a levando a perder o equilíbrio e logo em seguida cair no chão.

 

— Firme os seus pés no chão. Eles são a sustentação do seu corpo e equilíbrio — Aconselhou Alec, a encarando divertido. Ele estendeu a mão: — Levante-se. Vamos tentar de novo.

 

O ignorando e resmungando algo incoerente, Brooke se ergueu, o rosto vermelho. Retornou ao lugar e a posição de antes, praticamente soltando fogo pelas orelhas ao olhar para o vampiro.

Ela assentiu para o Volturi, que girou a katana e voltou a atacar, usando a mesma abordagem. Brooke o bloqueou novamente, conseguindo manter o equilíbrio e continuar de pé, porém não foi rápida o suficiente para refutar a segunda investida, e acabou no chão mais uma vez.

 

— Lenta demais — Apontou Alec. — Podemos conversar agora?

 

— Ainda não terminamos — grunhiu Brooke, levantando-se rapidamente. — Sobre o que você quer falar?

 

Ela atacou. Alec a bloqueou e a empurrou para longe, fazendo os dois percorrem a sala como se estivessem dançando uma dança sinuosa.

 

— Sobre o baile de primavera, talvez — Ele desviou de um golpe preciso. — Você pretende ir?

— Por que você quer saber?

— Apenas simples curiosidade.

— Nesse caso, não é da sua conta — Brooke também desviou de um golpe preciso e com uma habilidade impressionante, girou a katana e a passou pela perna esquerda de Alec, abrindo um corte. — Algum outro assunto que queira tratar?

 

Alec a fitou, pasmo com o aprimoramento das habilidades da Evern. Na última vez que a vira, ela não sabia segurar uma espada direito, muito menos conseguia acertar um golpe como aquele.
O sorriso arrogante nos lábios avermelhados dela demonstrava que ela também estava ciente daquele fato. E que estava usando-o para provoca-lo.

Felizmente, Alec também gostava de provocar.

 

— Muito bem. Que tal falarmos... da Descendente? Ouvi dizer que durante as sessões de treinamento com Kian, você descobriu os gatilhos para a transformação acontecer.

 

— Não quero falar sobre isso — Proferiu Brooke, se tornando séria, recuando com a espada.

 

— Raiva. Medo. Quando você os sente em grande intensidade, a transformação acontece. Kian me disse que pode ensinar você a controlar.

 

— Esqueça isso. Não vou deixar aquele espírito voltar e assumir o meu corpo outra vez. — O semblante de Brooke se fechou, passando toda a firmeza que suas palavras continham. — Não vai rolar.

 

Ela fez um movimento, se posicionado novamente. Porém, antes que percebesse, Alec já estava atrás dela, com a espada pressionada em sua garganta, a imobilizando.

 

— Achei que jogaria limpo — Ironizou.

 

— Chega de brincadeira, Evern — retorquiu o Volturi, próximo ao ouvido dela. — Você precisa projetar os gatilhos e alcançar as habilidades impecáveis de luta da Descendente, sem realizar a transformação. Se fizer isto, você será uma das melhores guerreiras que já vi e poderá se defender.

 

A morena se retesou.

 

— Por que todo esse interesse em me treinar, Volturi? Por que quer que eu aprenda a me defender?

 

Alec ficou em silêncio, ponderando se deveria responder ou não. Se contar a verdade que a envolvia seria um erro. Se ela merecia saber e, se soubesse, o que faria com a informação.

Ele estava indeciso, porém, assim que se deu conta da proximidade dos corpos de ambos, do cheiro de lavanda e baunilha misturado com suor que desprendia da pele dela, da respiração acelerada que fazia as costelas dela subirem e descerem, Alec decidiu que ela merecia a verdade.

 

— Alice teve uma visão sobre o baile. Nela, você é caçada por alguma coisa. Por alguém, que achamos ser o idiota do Senhor das Sombras.

 

— Por que ela não me contou? — Questionou Brooke, estremecendo.

 

— Porque ela ficou com medo que você se recusasse a ir ao baile se soubesse — O Volturi explicou, abaixando a lâmina da katana da garganta de Brooke, e a virando para encara-lo. — Segundo Alice, você é o núcleo da visão. Sua presença pode nos levar direto até o fim das mortes e massacres dos humanos, se conseguirmos capturar o crápula por trás de tudo. Mas também pode significar sua morte se perdermos o controle da situação e não conseguirmos proteger você.

 

Brooke deixou escapar o fantasma de uma risada azeda, sem humor, enquanto o fitava com o rosto brilhante de suor.

 

— Você me diz isso como se eu tivesse escolha, como se eu pudesse recusar.

 

— Você pode escolher.

 

— Desde quando?

 

— Desde agora. — Alec a assegurou. De repente, abrir mão do controle de tudo parecia ser a melhor opção para ele. — Sim ou não?

 

Brooke engoliu em seco. As orbes castanhas fitaram as dele, expressando o dilema em que ela se encontrava. Naqueles minutos em que passou em silêncio, se decidindo, o Volturi a observou atentamente, vislumbrando o medo e o altruísmo duelando dentro dela.

Por fim, quando Brooke balançou a cabeça, ele soube que ela havia decidido.

 

— Sei que já tentei tirar minha própria vida algumas vezes, mas agora é diferente. Eu quero viver. Posso estar sendo egoísta ao não querer correr direto para a morte e evitar mais tragédias, mas minha reposta é não. Não vou ao baile. Você aceita minha decisão?

Alec assentiu.

 

— Considere-a aceita. Pensaremos em outro jeito para acabar com a carnificina, não se preocupe.

 

— Ok. — Concordou Brooke. A curiosidade aflorou em seu semblante. — Posso saber por que você me contou e me deu o direito de escolha, mesmo sabendo que será prejudicado? Por que está fazendo isso, Alec?

 

— Porque eu cansei de machucar você, Evern.

 

A franqueza dele o surpreendeu tanto quanto surpreendeu ela. Os dois se olharam, afundados no silêncio confuso e intenso que se instalou. Alec não sabia de onde toda aquela sinceridade e senso de nobreza estava surgindo, mas estava disposto a seguir em frente e procurar as respostas que o fizeram ir até ali.

Ele estava prestes a abrir a boca quando observou Brooke dar um passo em frente, seguido de outro e mais outro, até parar diante de si, tão perto que o corpo dela roçava no dele.

 

— Alec... — Ela sussurrou, erguendo a cabeça, os olhos meigos encontrando com os dele. Quando a Evern tocou em seus braços nus e os percorreu com as mãos, o vampiro não percebeu as intenções por trás do toque, o que não o deu tempo de impedi-la quando ela se lançou sobre ele o derrubou no chão, subindo por cima e sentando em sua barriga, com as pernas de cada lado de seu corpo, a katana pressionada em seu pescoço. — ... não baixe sua guarda.

 

O Volturi gargalhou, incrédulo com sua distração.

 

— Você trapaceou — Acusou, a sentindo aumentar a pressão da lâmina em sua pele.

 

— Como você mesmo disse, estou naturalmente em desvantagem. Tenho que dar um jeito nisso.

 

O sorriso triunfante que Brooke exibiu fez nascer o de Alec, mesmo com uma espada em seu pescoço. Vê-la naquele ângulo — em cima dele, bochechas coradas, fios de cabelo grudados pela testa e rosto, a respiração acelerada, orgulhosa — fez algo se agitar em seu interior; como as ondas do mar arrebentando nas rochas, o arrastando e o afogando em sentimentos perigosos demais.

Se Alec quisesse, poderia inverter as posições num piscar de olhos e domina-la facilmente. Mas, de alguma maneira, estava gostando do jeito que estavam, da aproximação, da tensão, do clima. E foi por isso que ele a deixou onde estava e não lutou contra a queimação que sentia ao tê-la tão perto, porque, finalmente, ele admitiu para si mesmo algo que tivera coragem de admitir até então.

Ele a desejava. A desejava como nunca desejara outra mulher antes. A desejava mesmo com aquela camisa suada grande e folgada demais. Mesmo que ela fosse humana, mesmo que fosse errado, mesmo que estivesse indo embora dentro de dez dias.

E pela maneira flamejante que as íris castanhas o fitavam de volta, ele podia dizer que ela sentia o mesmo. Brooke também pareceu se dar conta daquilo, pois a expressão em seu rosto mudou, tornando-se extremamente séria.

Alec desceu os olhos para os lábios dela, que fez o mesmo. Em algum momento, o barulho da katana caindo no chão soou, e logo em seguida, o vampiro já estava com as mãos na cintura da morena, percorrendo suas curvas antes de tomar impulso e levantar o tronco, sentando-se no chão com ela em seu colo.

A Evern jogou os braços ao redor de seu pescoço, o puxando para mais perto. Os corpos dos dois se colaram, os rostos ficaram há alguns centímetros de distância. Eles se olharam, queimando, jogando, esperando para ver quem seria o primeiro a se entregar, ignorando o fato de que estavam em uma sala de treino da mansão Cullen, onde qualquer um poderia entrar e flagra-los.

Ainda assim, quando o Volturi sentiu Brooke se balançar sutilmente em cima de si, perdeu a paciência. Segurando-a pela nuca, ele a puxou para um beijo, mas, antes que as bocas se tocassem, o corpo dela enrijeceu e ela ficou imóvel, a boca aberta, os olhos arregalados e sem foco. Os braços caíram do pescoço de Alec, que a segurou para não cair.

 

— Evern? — Chamou, em vão. — O que foi, Evern?

 

A morena não lhe deu resposta; continuou paralisada, fitando o vazio em frente. O Volturi a balançou, mas não obteve reação. Brooke parecia uma casca oca, um poço sem fundo, vazio. Era como se somente o corpo dela estivesse presente; a mente e a alma, não.

Talvez fosse uma das visões que ela dizia ter, o pensamento atingiu Alec, que teve certeza. Era assim que deveria funcionar. Então, ele esperou. A tirou de cima de si e a colocou deitada no chão ao seu lado, cuidadosamente. A observou com atenção durante os minutos que se arrastaram, tentando capturar alguma mudança na expressão da morena, mas nada mudou.

O silêncio intensificava a ansiedade da espera, chegando a se tornar opressor para o Volturi, que permaneceu sentado, a testa vincada em preocupação. Ele grunhiu. Levantou a mão e a esticou para tocar no rosto de Brooke, no exato segundo que ela voltou a si, arquejando, e segurou sua mão, a apertando desesperadamente.

 

— Calma, Evern. O que aconteceu com você? — perguntou Alec.

 

A expressão de horror no rosto dela indicava que não tinha boas notícias enquanto erguia o tronco e sentava, respirando pesadamente.

 

— Mudei de ideia. Eu irei ao baile.

 

— O quê? — O Volturi a olhou sem entender.

 

— É a única forma de impedir um massacre de inocentes. Esqueça sobre eu não querer ser egoísta, eu não posso ser. Não sabendo do que vai acontecer — Balançando a cabeça diversas vezes, Brooke se levantou, cambaleando em direção à porta da sala.

 

Alec a seguiu, confuso com suas declarações. Ao perceber que ela não explicaria, a segurou pelo braço e a virou para ele, a impedindo de ir à qualquer lugar.

 

— E o que vai acontecer, Evern? — Questionou. — Você teve uma das visões estranhas que você diz ter, certo?

 

— Sim. Em um minuto eu estava aqui com você, e no outro, em algum lugar no subsolo. Acordei com terra caindo no meu rosto. Tinha tochas acessas e bifurcações por todos os lugares. Eu o vi, Alec. Eu vi o Senhor das Sombras, e ele tem um exército de vampiros monstruosos o seguindo. E vai manda-los para o baile atrás de mim, e se não conseguirem me capturar, matarão todos até que não sobre mais ninguém.

 

A expressão de Alec endureceu.

 

— Você viu como ele é?

 

— Não, ele estava de costas. Mas vi dois vampiros da sua espécie ao lado dele; um loiro e um moreno. Pareciam obcecados pela crueldade e falavam algo sobre vingança. Não os conheço. Também vi um símbolo gravado no braço dele e nas paredes, desenhado com sangue — Brooke se encolheu, como se a imagem estivesse passando em sua mente. — Uma serpente mordendo a própria cauda. Várias e várias vezes, em todo lugar. Você sabe o que significa?

 

— Eu já desconfiava da hipótese de alguns clãs traidores estarem se unindo à nova espécie. Quanto ao símbolo, é o Ouroboros — rosnou Alec, a fitando tenso. — Para alguns, significa a evolução da existência. Para outros, o mundo infernal e o mundo celeste, o começo e o fim deles. Mas também há quem acredite que significa os círculos reencarnatórios da vida humana. A última vez que ouvi alguém falar sobre este conceito, era um vampiro fanático por alquimia.

 

— Fanático ou não, nosso inimigo acredita em uma dessas coisas que você disse. E ele está em algum lugar lá fora, pronto para destruir tudo e todos. Não posso permitir isso, Alec.

 

— E então, o quê? — Indagou o Volturi, elevando o tom de voz. — Você vai ao baile e se deixa capturar? Simples assim? — Os olhos dele se estreitaram, raivosos. — Suas tendências masoquistas estão começando a me irritar profundamente, Evern.

 

Brooke suspirou, o fitando cansada, porém, havia firmeza em seu olhar. Aquilo também soava difícil para ela, afinal de contas.

 

— Sinto muito por isso, mas já tomei minha decisão definitiva. Não posso ser a responsável por dezenas de mortes, Volturi. Não posso carregar a culpa de mais vidas tiradas, assim como carrego a de Amália. Você disse que entenderia, então espero que entenda. Eu irei ao baile — Ela soltou-se do aperto do vampiro, o virando as costas em seguida.

 

Alec a observou se afastar, de cabeça erguida e passos decididos e mãos trêmulas. Entrementes, ele conseguia enxergar através da armadura de ferro dela. Ele podia ver como ela estava assustada com a ideia de ir ao encontro do perigo. Sozinha. Brooke Evern não merecia enfrentar algo do tipo sozinha; ninguém merecia.

Contudo, não era de sua conta. Não lhe dizia respeito as escolhas da garota, por mais que sua segurança, sim. Alec não deveria se importar, mas se importava. Por mais contraditório que ele estivesse sendo, não a deixaria sozinha.

Exalando, o vampiro correu até ela, a alcançando um segundo depois, a impedindo de rodar a maçaneta da porta e a empurrando gentilmente contra ela. As orbes castanhas encontraram com as dele, exigindo respostas para as ações dele.

 

— Eu entendo, está certo? Eu entendo sua escolha e a aceito. Mas com uma condição — Proferiu Alec, observando a indagação na expressão dela. — Eu estarei lá com você.

 

— Você quer ir ao baile da escola comigo? — balbuciou Brooke.

 

O Volturi rolou os olhos.

 

— Sim, chame como quiser. Vamos juntos ao baile e seguiremos o plano.

 

— Qual plano?

 

— O que Alice está bolando. Se nosso inimigo aparecer junto com o exército dele, você os atrai e eu os mato. — Alec ergueu as sobrancelhas. — Evitamos um massacre, poupamos você. O que acha?

 

— Acho que posso viver com isso — respondeu Brooke. O cenho dela se franziu. — Droga. Preciso de um vestido.

 

 

Alec exibiu um sorriso inoportuno para a situação, sendo imitado pela Evern. A tensão da atmosfera aliviou um pouco, mas ainda estava lá, assim como as inúmeras dúvidas e a única certeza que àquela altura, já era palpável.

 

A guerra estava começando.

 


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Notas finais do capítulo

OLÁ, AMORES!
Depois de três meses, aqui estou eu, ressurgindo das cinzas! Sinto muito pela demora e pelo desaparecimento, mas como eu tinha avisado nas notas do capítulo anterior, eu me mudei. Foi uma loucura total, tanto, que só tive tempo para postar o capítulo agora. Espero ter a compreensão de vocês e que vocês não tenham desistido da fanfiction, por favor!
Ainda estou passando por algumas mudanças e minha vida está um pouco instável no momento, mas me esforçarei para atualizar a história regularmente.

Agora, sobre o capítulo: Eu realmente estou pregando peças em vocês com esses momentos de Alec e Brooke, haha. Mas é preciso. A cena da luta com as espadas deu trabalho para escrever e eu tive que pesquisar em diversos sites sobre esgrima as técnicas e tudo o mais.
Sobre o símbolo do Ouroboros, é a pista mais importante para o mistério ser resolvido. E talvez seja a pista que leve Brooke direto ao culpado, daqui para frente...
Enfim. O próximo capítulo promete fogo no parquinho e luta pela sobrevivência. Espero que tenham gostado!

É isto.

Até o próximo capítulo...
Bjs! ♡



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