Home escrita por Lanna


Capítulo 6
Chaser


Notas iniciais do capítulo

Olá! Desculpem pela demora, mas eu estou realmente desanimando dessa história, já que não estou recebendo muitos reviews. Mesmo assim, obrigada ao Randômico que comentou! Boa leitura!



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O resto da semana passou muito depressa. Já na quarta-feira, os quintanistas da Corvinal tiveram sua primeira aula de Defesa Contra as Artes das Trevas do ano. A professora, Abigail Campbell, clamando que a turma já estava muito mais adiantada em relação às outras, decidiu começar o trimestre com o Patrono, um contra-feitiço para afastar dementadores, como uma prévia do que estudariam no N.I.E.M.

— Antigamente, eles eram os guardas de Azkaban — contou Campbell, caminhando pela sala enquanto a turma tentava fazer mais que fiapos prateados saírem de suas varinhas. — Houve até um tempo que estiveram aqui em Hogwarts, quando Sirius Black escapou, em 1993; eles ficavam rondando a escola, quase mataram Harry Potter durante um jogo de quadribol, acho que vocês já ouviram essa história. Depois, quando Severo Snape virou diretor, eles guardavam todas as entradas do castelo, isso foi em '98. No entanto, quando Quim Shacklebolt assumiu o Ministério, ele baniu os dementadores da prisão por achar uma política desumana.

Porém, ao fim da aula, apenas duas pessoas haviam conseguido fazer aparecer um patrono corpóreo: Lisa Macmillian, de cuja varinha saltou um gracioso gato prateado, e Dorothy, que materializou um coelho saltitante da mesma cor. A professora mostrou-se devidamente impressionada, alegando que era muito raro conjurar um Patrono corpóreo de primeira e concedeu às duas vinte pontos, cada. Por conseguinte, a turma toda recebeu a tarefa de praticar o feitiço, menos elas.

Além disso, Hagrid havia abandonado as aulas discursivas após a primeira, e logo no fim da manhã de quarta, pediu um trabalho de quarenta centímetros sobre os sereianos, sendo xingado por boa parte da turma da Sonserina.

— Como se já não tivéssemos o suficiente para fazer — queixou-se America Pucey enquanto caminhavam pelas hortas saindo da aula. — Francamente, o melhor dessa matéria é que vou poder abandoná-la ano que vem.

— É uma pena que tenha começado — resmungou Freya, fazendo uma careta para a garota de cabelos castanhos.

Entrementes, a turma inteira conseguiu entregar os trabalhos de Transfiguração para Carrow, e Alisha White juntou os ingredientes errados e corroeu os fundos de seu caldeirão na aula dupla de Poções de quinta-feira, fazendo com que a Poção da Paz que preparava se espalhasse pelo chão. A professora Lynch evacuou a masmorra enquanto Poppy Clark e Tony Finnigan, os monitores da Grifinória, ficaram responsáveis por levar Alisha à ala hospitalar, cujas vestes fumegavam pela acidez de sua mistura.

Finalmente, quando o jantar de sexta-feira chegou, Aurora estava uma pilha de nervos, pensando no teste para a equipe de quadribol que Wood marcara logo para a manhã seguinte. Ela já presenciara diversas audições, mas sempre assistindo das arquibancadas, e não poderia estar mais amedrontada, temendo uma humilhação pública. A menina praticara voo durante todos os anos em que fora passar alguns dias com as Lacroix no verão e sempre fora elogiada pela avó de Dorothy, mas ainda assim, naquela noite, ficou enjoada toda vez que pensou em montar sua vassoura.

Na manhã de sábado, após se vestir e encarar o dia ensolarado que fazia do lado de fora Ava tirou a Firebolt do malão pela primeira vez desde que chegara na escola e seguiu com Ally, Dorothy, Lisa e Freya até o Salão Principal, para tomar café da manhã.

— Ally, pelas barbas de Merlin, você precisa se acalmar — disse Lisa quando a garota derrubou geléia nas vestes pela terceira vez, tanto que suas mãos tremiam.

Ava engoliu uma grande porção de sua torta de abóbora e olhou para sua colega com solidariedade.

— Boa sorte hoje, meninas — desejou Holly Otterburn, uma quartanista muito simpática, ao passar pela mesa, sorrindo. A garota era batedora pela Corvinal desde o ano anterior, e tinha uma tacada de direita muito forte e certeira. Ela, Wood, o goleiro, e Noah Corner, o apanhador, eram os únicos que restaram do time após a formatura dos antigos membros. Owen fora eleito capitão por ser o membro mais antigo da equipe, e era a política da escola que os outros dois fizessem o teste novamente.

No entanto, aquilo só fez o estômago de Ava se revirar de pavor; ela considerou seriamente desistir e deixar pra lá, mas ao olhar para sua Firebolt e lembrar de todos os pratos e copos que tivera de lavar à mão durante as férias no restaurante que trabalhara, decidiu que tinha de pelo menos tentar.

— Oi, Ava — disse alguém atrás dela. A garota se virou para ver Charlie Cattermole sorrindo e retribuiu o gesto, muito embora seu rosto estivesse tão rígido que parecia ter virado pedra.

— E aí, Charlie? — respondeu.

— Você vai tentar entrar para a equipe de quadribol, então? — indagou ele, os olhos fixos na Firebolt.

— Vou — disse ela.

Charlie sorriu mais ainda.

— Boa sorte — disse, logo antes de enfiar as mãos nos bolsos das vestes e sair andando até a entrada do Salão Principal.

Ava virou-se novamente para sua comida ao passo que Freya se debruçou sobre a mesa, sorrindo maliciosamente.

— Aposto seis sicles que ele está indo assistir.

E não deu outra. Quando as cinco terminaram de comer e caminharam até o campo de quadribol, a primeira coisa que viram foi que um pequeno grupo de estudantes se juntara nas arquibancadas para assistir aos testes, Charlie entre eles. O garoto estava sentado perto de Fred Weasley e James Potter, logo abaixo de Tony Finnigan e Seth Sawyer, e acenou para Ava quando a notou se aproximando; ela sentiu o sangue subir para seu rosto e fingiu que não o vira.

— Estaremos bem ali na plateia — disse Freya, após rir abertamente. — Boa sorte!

As duas corvinas restantes juntaram-se ao resto dos candidatos no meio do campo, onde Owen esperava, olhando os alunos ali com certa animação. Ava também decidiu checar seus concorrentes, constatando que a maioria eram quartanistas, como Enid Miles e Holly Otterburn, mas também haviam sextanistas e quintanistas; Noah Corner era o único da terceira série, e parecia muito mais relaxado do que qualquer um ali, talvez porque já tivesse participado do time.

— Muito bem, pessoal! — disse Owen em voz alta. — Oi! Vocês aí atrás, calem a boca!

Os alunos do quarto ano que conversavam animadamente no fundo do grupo se calaram imediatamente às palavras do capitão e esperaram que ele continuasse.

— Vamos dar início aos testes agora e de antemão, quero desejar a todos uma boa sorte — desse Wood, pousando na cintura a mão que não segurava a vassoura. — Agora, vocês estão em quinze, então quero que se dividam em grupos de cinco e deem algumas voltas pelo campo.

Embora uma quantidade relativamente pequena de pessoas houvessem se inscrito, os testes tomaram quase a manhã inteira. Ava e Ally ficaram no segundo grupo que deu a volta pelo campo, e foram as melhores entre os cinco. Tyson Scott escorregou pelo lado de sua vassoura quando estavam na metade da volta, sendo amparado por um feitiço para desacelerar a queda bem feito de Reg Pike, que estava no chão; Mike Edwards, um quintanista franzino e alto, conseguiu manter-se em sua vassoura, mas por muito pouco, pois esta continuava a lhe puxar para a direita durante o voo; e Emma Hill nem mesmo saiu do chão, desistindo do teste e indo sentar-se nas arquibancadas com suas amigas.

Depois, Wood passou a testar batedores, posição para qual sete dos presentes concorriam; Ally foi impressionante e fazia uma dupla ótima com Holly, com quem pareceu se dar bem de cara. A garota voltou ao time, agora acompanhada por Smith, que parecia não caber em si de alegria.

Passados vários minutos e vários acessos de raiva por parte de Wood, que precisava ralhar com todos repetidas vezes antes de ser obedecido, três artilheiros novos em folha foram descobertos: Enid Miles, que era especialmente boa em desviar-se de balanços; Reg Pike, que fazia ótimos passes e sabia trabalhar a goles; e ela, Ava, que voou mais rápido que os outros dois e ainda marcou nove dos dezessete gols.

Não houve competição alguma para Noah Corner, que foi o único a tentar a posição de apanhador e voou excepcionalmente bem. Assim, ao final da manhã, o time estava formado, e Wood teve de lidar com a revolta dos artilheiros recusados.

— Sumam daqui agora ou eu juro pelo túmulo de Dumbledore que vou mandar todos vocês pra ala hospitalar! — berrou Reg, intrometendo-se na briga e calando todos os alunos do quarto ano, que saíram de fininho.

— Obrigado — disse Owen, esfregando as têmporas. Seu rosto estava vermelho e suas narinas, dilatadas, dando-lhe uma expressão estranhamente parecida com a de Carrow quando com raiva. — Devo dizer que estou muito contente com minhas escolhas, pessoal, vocês foram ótimos; Noah, Holly, estou feliz em tê-los de volta no time. O resto de vocês, sejam bem-vindos!

Os membros veteranos da equipe aplaudiram, assim como a pequena multidão que se reunira nas arquibancadas para assistir.

— Vou avisar a vocês quando marcar o primeiro treino — continuou ele. — E depois vou entregar os uniformes. Podem ir agora.

Ally estava aos pulos quando Ava deixou o campo, assim como Dorothy, Freya e Lisa. Elas a abraçaram longamente, e Smith mal podia conter sua animação.

— Eu sabia! — guinchava ela. — Eu sabia, eu sabia, eu sabia! Vamos ser colegas de time, dá pra acreditar?

— Dá, sim — respondeu Ava com sinceridade. Ela ainda estava terrivelmente nervosa, mas o sentimento se dissipava à medida que se afastavam do estádio.

Lisa consultou seu relógio, olhando para as outras em seguida.

— Não querendo acabar com a comemoração, mas ainda temos meia hora antes do almoço — disse. — Que tal irmos à biblioteca? Eu preciso de alguns livros de Transfiguração, e vocês duas podem alugar Quadribol Através dos Séculos, que acham?

As quatro sabiam que nunca era saudável impedir que Lisa fosse à biblioteca ou mesmo discordar dela nesse quesito, portanto seguiram-na castelo adentro, Ally e Ava ainda comentando o teste, contentes.

 

✧ ✧ ✧

 

De volta à Torre da Corvinal, vários colegas parabenizaram Ava por ter se juntado à equipe da Casa enquanto ela terminava o trabalho de Trato das Criaturas Mágicas sobre os sereianos. Freya e Dorothy estavam sentadas com a garota, as três próximas de uma janela alta no canto do salão circular; Ayers lia entretida os livros que alugara mais cedo, enquanto Lacroix se ocupava em finalizar um exercício de Aritmancia. A Sala Comunal da Corvinal era o lugar ideal para fazer trabalhos e estudar, pois os membros da Casa sempre mantinham a conversa em volumes baixos afim de não atrapalhar outras pessoas.

— Eu falei que eles são agressivos, que não conseguem se comunicar em terra firme e que os espécimes mais próximos podem ser encontradas no Lago Negro — listou Ava para Dory, que a auxiliava. Seu pergaminho tinha trinta centímetros do tamanho total coberto pela caligrafia inclinada da garota, faltando apenas quinze para que finalizasse o dever. — Quê mais?

— Eles participaram do último Torneio Tribruxo — lembrou a garota ruiva, distraída em seu próprio pergaminho. — Foram a segunda tarefa dos campeões.

— Ah, sim — disse Ava, transcrevendo as palavras da amiga. Poucos minutos depois, tinha seus quinze centímetros finais e empurrou o papel para longe, esperando que a tinta secasse. — Acabei — anunciou, feliz.

— Acabou, não senhora — discordou Dorothy. — Você precisa praticar o feitiço do Patrono para Campbell, esqueceu?

Ava bufou, franzindo os lábios para a tarefa que esquecera.

— Não posso fazer isso amanhã? — indagou ela.

— Quanto mais rápido você começar a praticar, mais rápido irá aprender — falou a ruiva, erguendo os olhos. — Eu posso te ajudar.

A garota se pôs de pé, sem outra opção, e Dorothy a acompanhou, deixando o exercício em cima da mesa para que a tinta secasse. Elas se prostraram bem ao lado da janela, e, ao dar uma espiada através do vidro, Ava viu com pesar que o tempo ensolarado daquela manhã começava a dar lugar a nuvens cinzentas. A garota ruiva manteve cerca de um metro de distância de sua amiga para que esta tivesse espaço suficiente.

— Agora, lembre-se do que a professora Campbell disse — orientou Dory em voz baixa, afim de não atrapalhar um grupinho de primeiranistas que juntava as cabeças sobre um livro grande ali perto. — Se concentre na sua lembrança mais feliz e diga “Expecto Patronum”.

Ava assentiu e sacou sua varinha – a mesma que comprara na loja do sr. Olivaras tantos anos atrás –, fechando os olhos e concentrando-se na lembrança escolhida, o dia em que seu avô lhe presenteara com seu primeiro violão. O velho Billy Young ensinara a ela e a sua mãe diversas habilidades que nenhuma das duas provavelmente jamais usaria de novo, como cortar lenha, mas dera diversas aulas de música à neta até que a garota conseguisse tocar o violão quase tão bem quanto ele próprio.

Ela tornou a abrir os olhos e apontou a varinha para sua frente.

Expecto Patronum! — disse. No entanto, tudo que saiu de sua varinha foram alguns fiapos de fumaça prateada, nada do animal que a professora Campbell prometera; Ava suspirou, frustrada, e baixou o braço.

— Talvez outra lembrança — ponderou Dorothy. — Que tal aqueles dias que você passou em Nova York com sua mãe?

Ava assentiu; no verão de 2017, passara uma semana de férias na cidade com Meggie conhecendo os pontos turísticos dos quais sempre ouvira falar, como a Estátua da Liberdade e o Empire State Building, além de estudar a história mágica de seu país: deveria servir. Ela fechou os olhos, se concentrando por alguns instantes, então ergueu a mão da varinha novamente.

Expecto Patronum!

E dessa vez, definitivamente algo aconteceu: ao invés do gás prateado, uma forma grande e inidentificável saiu da varinha para sumir poucos instantes depois. Ela olhou para Dorothy, que retribuiu o gesto, animada.

— Muito bem! — elogiou a ruiva. — Mais uma vez, acho, e você consegue. Tente outra lembrança.

Aurora vasculhou sua mente, e sua primeira ida ao povoado inteiramente bruxo de Hogsmeade lhe pareceu ser boa o suficiente. Na ocasião, ela estivera acompanhada de Freya e Dorothy, como sempre, e as três foram à filial da Gemialidades Weasley, onde passaram horas se divertindo com os artigos da loja de logros, para depois tomarem montes de cerveja amanteigada no bar Três Vassouras.

Expectum Patronum!

E ela conseguira. Viu a forma prateada sair de sua varinha, se amontoar numa nuvem prateada e então tomar a forma de um leão grande e majestoso, que a olhou como se dissesse “finalmente”. Ava ouviu os aluninhos do primeiro ano reunidos ali perto soltarem guinchos de susto ao verem o felino parado no canto da Sala Comunal.

— Consegui! — exclamou, esquecendo-se de fazer silêncio.

— Muito bem! — devolveu Dorothy, animada.

Freya tirou os olhos de seu livro e admirou o Patrono produzido pela amiga, sorrindo.

— É um leão — admirou-se, observando enquanto o animal dava uma volta ao redor de si mesmo e desaparecia. — Imagino o que significa.

Aava franziu a testa, decepcionada que o feitiço houvesse durado tão pouco.

— Patronos significam alguma coisa? — perguntou ela, se sentando. Freya deu de ombros.

— Às vezes, sim — confirmou. — Você sabe que meu pai é um animago, certo?

Ela se referia a Elijah. Durante seu treinamento de auror, o homem conseguira alcançar uma condição rara na qual o bruxo se transformava num animal; em seu caso, tratava-se de uma coruja. Sabia-se que Minerva McGonagall, a diretora de Hogwarts, era uma, e que se transformava em um gato malhado.

— Sei — respondeu Ava, percebendo que Dorothy também retornara a sua poltrona.

— Bom, o Patrono do meu pai é uma coruja — finalizou a garota negra, dando de ombros: ela agora se referia a Harlen.

— Que bonitinho! — exclamou Dory.

— Sim — concordou Freya. — O Patrono também pode mudar, caso o bruxo sofra um abalo emocional muito grande.

A garota depositou o livro na grande pilha de volumes sobre plantas mágicas que descansava perto de si e olhou para Dorothy, levantando-se.

— Certo, Dory, me ajude aqui — pediu.

Assim, cerca de vinte minutos depois, Freya havia materializado uma pantera que prolongou-se por mais tempo que o leão de Ava antes de desaparecer, como o mesmo fizera. O grupo de calouros ficou impressionado com a demonstração, e logo eles juntando as cabecinhas novamente para cochicharem sobre o feitiço e fazendo com que as três quintanistas rissem.

O domingo começou frio, tendo o clima ensolarado que havia se mostrado brevemente na manhã anterior lugar a uma névoa pálida. O teto do Salão Principal se mostrou coberto por nuvens cor de chumbo enquanto Ava caminhava até a parte da mesa em que suas amigas estavam, as mãos nos bolsos do casaco. Como era um fim de semana e não havia aulas, os alunos eram liberados do uso da farda, portanto Aurora sentiu-se contente em vestir suas roupas de trouxa para tomar café da manhã. Pessoas como Angelique Abbey e America Pucey, no entanto, faziam questão de exibir suas belas vestes bruxas que muito se assemelhavam a vestidos antigos e sempre faziam com que a corvina erguesse as sobrancelhas.

— Bom dia — cumprimentou ela, sentando-se ao lado de Freya, de costas para a mesa da Grifinória.

— Bom dia — respondeu a garota enquanto colocava leite em seu café. Dorothy, do outro lado da mesa, acenou com a cabeça.

— Que é que temos pra hoje? — indagou Ava, servindo-se de um boa fatia de pudim.

— Podemos ficar na Sala Comunal hoje — refletiu Dory, passando manteiga em sua torrada. — Sabe, só relaxando; acho que já fizemos o suficiente.

Ava sorriu em alívio ao ouvir aquilo, colocando uma boa quantidade de chá de hortelã em sua xícara.

— Ótimo — disse. — Eu aluguei alguns livros de azaração no outro dia, estou louca para dar uma olhada neles.

Freya assentiu, distraída, e virou-se para trás ao ouvir seu nome ser chamado por uma vozinha fina, sendo imitada por Ava. Lily Potter estava parada ali, assim como sua amiga, Coleen, e as duas olhavam para a garota negra.

— Você é Freya Ayers, não é? — perguntou Lily.

— Sou — disse Freya.

— Estavam pedindo pra que você fosse na biblioteca — explicou a ruiva. — Por causa do grupo de estudos.

Aurora viu os olhos da amiga se arregalarem por um milésimo de segundo antes que ela sorrisse, feliz. Mais feliz do que deveria estar com um simples grupo de estudos, pensou Ava.

— Ah — disse ela, levantando-se. — Até mais, meninas.

Enquanto Freya se afastava e as duas garotinhas retomavam seus lugares na mesa da Grifinória, Ava lançou um olhar confuso para Dorothy, que tinha as sobrancelhas franzidas por cima de seu copo de suco.

— Grupo de estudos? — indagou Young.

— Aquele que nós participamos ano passado, lembra? — disse Dory. Aurora pensou um pouco e então assentiu, recordando-se das pequenas reuniões que frequentara na biblioteca durante o último trimestre da quarta série.

— Você vai entrar de novo? — perguntou Dorothy. — Eu estava querendo, é o ano dos N.O.M.s, devíamos estar nos matando de estudar.

— Sim — concordou Ava. — Acho que vou voltar, então. Mas não espere que eu fique tão animada quanto Freya.

Durante a tarde, Ava e Dory ficaram na Sala Comunal, aninhadas em poltronas azuis perto de uma janela de vidro por onde a chuva escorria contínua. Por um longo período, elas apenas leram em silêncio, mas à altura que Freya retornou, estavam sentadas no chão uma de cada lado de uma mesinha de centro no meio de uma partida muito tensa de xadrez bruxo. A garota só foi aparecer à noite, e ostentava uma expressão distraída, sorrindo para qualquer coisa que se movesse.

— Boa noite — disse ela, sentando-se na poltrona atrás de Dorothy.

— Boa noite — respondeu Ava, examinando o tabuleiro com uma mão no queixo e constatando que estava presa. Suas torres haviam sido tomadas por Dorothy, assim como um dos bispos e diversos dos peões, portanto não havia outra forma: teria de usar a Rainha.

— Onde você esteve? — perguntou Dory, com uma leve pontada de irritação na voz.

— Ah, você sabe — desconversou Freya, encarando o vidro molhado. — Por aí.

— Rainha para a D-7 — ordenou Ava, após refletir.

A peça lhe obedeceu, caminhando calmamente até a casa onde nocauteou o bispo de Dorothy e anunciou:

— Xeque.

Lacroix franziu a testa para Aurora, parecendo frustrada, e Freya estudou o tabuleiro com interesse.

— Acho que você devia tirar seu rei daí, Dory — comentou.

— Não me diga — ironizou a ruiva, voltando-se para as peças. — Rei para a F-8.

O Rei branco moveu-se para a casa à sua esquerda e Ava sorriu, vitoriosa.

— Cavalo para a H-7 — mandou. Seu Cavaleiro seguiu o comando e se colocou a quatro casas de distância do Rei para anunciar:

— Xeque-mate.

As peças negras comemoraram enquanto as brancas xingaram, revoltadas, e Dorothy suspirou, dando-se por vencida antes de começar a recolhê-las.

— Que foi que vocês fizeram hoje à tarde? — perguntou Freya.

— Nada — respondeu Ava, alegre, enquanto abria uma embalagem de um sapinho de chocolate. Ela arrancou uma mordida antes mesmo que o doce desse sinal de vida. — E você?

— Nada — respondeu a amiga, pondo-se de pé. — Agora, se me permitem, estou cansada.

— Cansada de não fazer nada — comentou Dorothy, olhando para as costas de Freya enquanto a garota subia as escadas para o dormitório feminino. — Estranho, não?

— Ah, sei lá — devolveu Ava, devorando o sapo. — Fazer nada cansa.

Dory riu.

— Ava, eu te amo, mas você é muito lenta — disse.

— Talvez — retrucou a menina, jogando a embalagem agora vazia em uma lata de lixo, que a mastigou com vontade e soltou um arroto sonoro. — Mas pelo menos eu consigo jogar xadrez sem levar uma surra toda vez.

Dorothy rolou os olhos, sem fazer mais comentários.


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Notas finais do capítulo

Então? Espero que tenham gostado!

❄ Notinhas de rodapé:
— Holly Otterburn e Noah Corner são filhos, respectivamente, de Anthony Otterburn e Michael Corner.
— Enid Miles é nascida trouxa, enquanto Reg Pike é mestiço.

Pergunta de hoje: Qual livro vocês estão lendo?
Minha resposta: Estou lendo Lolita, de Vladimir Nabokov.

Até o próximo capítulo!
XOXO,
Lanna.



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