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Capítulo 2
King's Cross


Notas iniciais do capítulo

Voltei! Quero agradecer a Ms Danvers e Dreyfus pelos reviews no primeiro capítulo, muito obrigada, meninas! Neste capítulo, teremos a primeira viagem a Hogwarts e a Seleção, espero que gostem. Boa leitura!



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Nos dias que se seguiram antes do 1° de setembro, tudo o que se falou na casa número 11 da rua Camley foi Hogwarts. Tanto Ava quanto Meggie estavam animadas com a ida da garota para sua nova escola, e ficavam até tarde da noite lendo os livros didáticos ou brincando com Amora, a corujinha.

Aurora gostou particularmente dos volumes escritos por Susana Bones, que falavam da Segunda Guerra Bruxa; eles contavam a história inteira, começando pelo Torneio Tribruxo, depois passando pela Armada de Dumbledore, a Batalha do Ministério, a Batalha da Torre de Astronomia e acabando na Batalha de Hogwarts. A menina aproveitou também para tentar alguns feitiços, agora que tinha uma varinha mágica; era muito mais difícil do que ela imaginara, mas no fim conseguiu fazer a extremidade de sua varinha brilhar numa luz azul quando sussurrou “lumus”, encanto aprendido em um de seus livros.

Assim, depois de um verão demasiado frio, o dia de viajar chegou, e Aurora não poderia estar mais feliz. Foi acordada pela mãe à sete da manhã, pois as Young eram conhecidas por estarem sempre atrasadas, e o trem partiria impreterivelmente às 11 horas.

Arrumaram toda a bagagem de Ava no malão, separando penas e tinteiros de suas vestes e agasalhos, não querendo arriscar manchas nas roupas. Meg checou três vezes se Amora estava bem presa na gaiola e guardou a varinha de sua filha cuidadosamente na bolsa menor que levaria antes de começar a colocar as coisas dentro da mala do carro. Aurora decidiu que iria vestida com roupas normais para evitar atrair olhares confusos (afinal as vestes da escola eram muito chamativas), e colocara uma calça jeans, blusa, casaco e botas, pronta para enfrentar o frio que fazia do lado de fora.

— Lembre-se de sorrir — aconselhou a mãe, já dirigindo em direção à estação de King's Cross. Uma das preocupações de Meggie era a timidez da filha; a mulher não queria que Ava fosse motivo de risos, porque, como Clarabella dissera no dia em que estiveram no Beco, já era esperado que alguns implicassem com ela por ser nascida trouxa.

A menina assentiu, engolindo em seco enquanto ajudava Meg a colocar seu malão e a gaiola de Amora num carrinho. Elas caminharam pela estação, que ficava relativamente perto de sua casa por encontrar-se no mesmo distrito, e as palmas das mãos de Ava começaram a suar, embora sentisse um frio de bater os dentes.

Finalmente, quando pararam a uma leve distância das plataformas 9 e 10, Aurora sentiu o calor acumular-se atrás dos olhos quando sua mãe a encarou, lançando-lhe um sorriso encorajador. Aquela seria a primeira vez que se separariam por tanto tempo, e a menina, antes feliz, agora estava somente assustada.

— Você não pode ir comigo? — pediu, chorosa. — Só até a plataforma?

Meg riu, tentando mascarar o fato de estar tão triste quanto a filha.

— Eu não posso — disse. — Sou uma trouxa, esqueceu?

— Alô — disse uma voz atrás das duas. Uma senhora de pele enrugada, cabelos grisalhos e olhos castanhos se aproximara das duas. Ela usava um vestido verde muito escuro e um chapéu preto. — Hogwarts?

— Sim — respondeu Meg prontamente. — Mas eu não posso entrar na plataforma com ela — acrescentou, indicando a parede que levaria até o trem das 11 horas. A senhora assentiu, compreensiva.

— É o primeiro ano de minha neta — contou, indicando uma garotinha ruiva atrás de si, que também levava um carrinho com malão e a gaiola de um gato enorme de pelagem branca e focinho marrom. Já a menina tinha olhos azuis esverdeados e um sorriso bonito, que exibiu bondosamente para Aurora.

— Eu sou Meggie Young — apresentou-se a mãe. — Esta é Ava, ela é nova também.

A mulher meneou a cabeça, fazendo uma pequena reverência, como Clarabella fizera ao conhecê-las.

— Sou Agatha Lacroix — disse. — E essa é Dorothy.

— Se quiser, podemos passar você para o outro lado — ofereceu a menininha, falando em sua voz fina.

— Claro — aceitou Meggie no lugar de Aurora. — Vá, querida, e me mande uma carta quando chegar.

A garota virou-se para sua mãe, os olhos arregalados de pavor, e a mulher lhe deu um abraço.

— Vamos nos falar toda semana — garantiu. — Você vai ver, nem vai saber que não estou lá, e quando menos esperar, estará voltando para casa.

Ava assentiu, ainda abraçando-a, mas eventualmente foi obrigada a soltá-la.

— Você sabe passar, querida? — indagou a sra. Lacroix com doçura.

— Sei — falou Aurora, virando seu carrinho para a parede.

— Pode correr se estiver com medo — aconselhou a mulher.

Ela respirou fundo, encarando a parede agora em desafio e olhou uma última vez para Meg, que tinha um sorriso contente nos lábios. Ava então virou para a frente e disparou ao encontro da amurada com vontade. Parte dela esperou pelo impacto, mas esse não veio; a menina passou direto, atravessando a parede e, de repente, surgindo em outro lugar.

Era a Plataforma 9 ¾ e era impressionante. Ao lado de uma locomotiva vermelha, uma aglomeração de pessoas se apinhava, com crianças correndo para lá e para cá, adultos reclamando, corujas piando e gatos miando. A multidão era muito heterogênea: bruxos e bruxas com vestes extravagantes, cartolas coloridas e roupas de trouxa se misturavam ali, causando um efeito interessante.

Outra pessoa surgiu a seu lado e Ava virou-se para ver Dorothy olhando contemplativa para o trem.

— Você já esteve aqui antes? — perguntou à menina ruiva com um fio de voz, tentando vencer sua timidez; se passaria sete anos em Hogwarts, era bom que começasse a fazer amigos – e depressa.

Ela fez que não com a cabeça e a sra. Lacroix surgiu da parede, olhando para as duas.

— Tenha um bom ano letivo, sim? — disse à neta. — Vou esperar sua coruja

Dorothy assentiu e abraçou a avó com força.

— Tchau, vovó — disse.

As duas garotas se viraram, abrindo caminho com cuidado pela multidão. Ava tentou não prestar atenção nas outras crianças, principalmente depois que uma garota de cabelos loiros muito finos que trajava um vestido no estilo vitoriano a olhou, torcendo o rosto como se houvesse acabado de chupar um limão azedo.

Finalmente, acharam uma cabine longe de onde a sra. Lacroix havia ficado que não estava ocupada. Elas colocaram Amora e o gato de Dorothy para dentro antes, e então voltaram para fora para pegar os malões. Infelizmente, nenhuma das duas era forte o suficiente para erguer as bagagens, e por vezes as derrubaram com estrondos no chão.

— Precisam de ajuda? — indagou um voz grossa atrás das meninas.

Ambas viraram-se para ver um rapaz alto de cabelos azulados aproximar-se. Ele estava vestido como um trouxa, usando uma calça jeans e uma blusa amarela listrada e as olhava com as sobrancelhas erguidas.

— Por favor — pediu Dorothy, cansada.

Ava achou que teria de ajudar o garoto a carregar as malas para dentro, mas ele conseguiu levá-las sozinho, uma de cada vez, até o compartimento delas.

— Teddy Lupin — disse, após ter despachado o último malão.

— Aurora Young — apresentou-se a garota. — Esta é Dorothy Lacroix.

— Lacroix, é? — indagou Teddy, sorrindo. — Parente dos Weasley?

Dorothy assentiu.

— Minha avó é prima de Molly Weasley.

— Muito prazer — disse ele. — Vocês deviam entrar, é quase hora do embarque.

— Obrigada — disse Ava a Teddy, seguindo para a cabine logo em seguida.

Dorothy sentou à frente de Aurora e olhou pela janela, onde uma família cheia de pessoas ruivas falava com as crianças no vagão próximo ao delas. Ava franziu a testa ao olhar para eles.

— Os Weasley — Dorothy respondeu à sua pergunta implícita. — Eles são os maiores traidores do sangue que já se teve notícia. De vez em quando, vovó e eu passamos o Natal com eles.

— Traidores do sangue? — indagou Ava.

Dory se moveu no banco, desconfortável, como se fosse um assunto difícil.

— Você sabe — disse. — Bruxos de sangue inteiramente mágico que têm afinidade com os trouxas. — Ela deu uma pausa, olhando bem para a menina de cabelos escuros para ter certeza de que não a ofendera. — Vovó acha que não nos misturarmos com trouxas são costumes idiotas. Ela diz que tivemos que fazer isso para sobrevivermos.

Aurora sorriu, contente com a posição da sra. Lacroix. No entanto, achou que seria sensato mudar de assunto, então voltou-se para o gato de Dorothy.

— Qual o nome dele? — perguntou.

— É ela, Harpia — respondeu a menina. — Em homenagem a meu time de quadribol, as Hapias de Holyhead.

— Quadribol? — repetiu Ava, confusa.

— Vocês não têm quadribol no mundo dos trouxas? — questionou Dorothy, espantada. Aurora apenas balançou a cabeça negativamente, fazendo com que a ruiva arquejasse. — Ora, espere um pouco, isso é inaceitável!

Assim, até que o trem desembarcasse, Dory encheu os ouvidos de Ava sobre o esporte praticado em vassouras que tinha sete jogadores e quatro bolas. A menina o achou fascinante, e praticamente pendurava-se nas coisas que Lacroix lhe contava, ansiando pelo primeiro jogo que assistiria em Hogwarts.

Assim, quando a locomotiva abandonou a plataforma e fez sua primeira curva, a pequena Young não estava tão assustada quanto antes. Ao invés disso, sentia uma sensação boa na boca do estômago, como uma animação controlada.

— Posso sentar aqui? — indagou uma voz à porta.

Uma menina de cabelos cacheados e espessos estava parada ali, encarando as duas presentes. Ela tinha a pele no mesmo tom de chocolate quente, e olhos castanhos brilhantes.

— Pode — respondeu Dory, sorrindo. — Sou Dorothy Lacroix, e essa é Ava Young.

— Freya Ayers — apresentou-se, tomando o lugar ao lado de Aurora e colocando seu malão embaixo do banco. — Vocês são primeiranistas também?

— Sim — respondeu Ava.

— Já sabem em que Casa querem ficar?

— Não — respondeu Dorothy. — Mas espero que não seja Sonserina. E você, Ava?

— Grifinória — respondeu ela, confiante. Freya assentiu.

— Quero ir para a Lufa-Lufa — respondeu. — As pessoas são muito mais receptivas lá.

E até o meio-dia, as três conversaram sobre Hogwarts, compartilhando o conhecimento que tinham sobre a escola. Freya era de longe a mais informada, pois seus pais haviam estudado lá e comentavam frequentemente sobre o lugar; Dorothy sabia de algumas coisas graças à sra. Lacroix, que era uma examinadora famosa antes de se aposentar; e Ava só falava sobre o que lera em livros e o que Clarabella lhe dissera.

Lá pelo meio-dia, o carrinho de comida estava passando, e uma senhora gorda de aparência simpática apareceu à porta oferecendo-lhes o almoço. Freya e Dorothy saltaram do banco no mesmo instante, mas Aurora pegou sua bagagem de mão antes, pescando dois galeões de sua bolsinha de couro antes de segui-las; sua mãe a havia orientado para não gastar todo seu dinheiro de uma vez, e era isso que faria.

Aurora teve de passar por algumas crianças antes de chegar ao carrinho, e ficou surpresa ao encontrar uma variedade muito estranha de doces. A mulher tinha garrafinhas de suco de abóbora, feijõezinhos de todos os sabores, lesmas gelatinosas e bolos de caldeirão, além de várias outras coisas que a menina nunca vira, mas que pareciam deliciosas. Ela pegou vários dos sapinhos de chocolate, tortinhas de abóbora e feijõezinhos, além de duas garrafas de rum de Groselha Vermelha, bebida que parecia um pouco com sangue, mas que chamou sua atenção.

Quando estava para pagar, ouviu passos atrás de si, e logo duas pessoas apareceram, interessadas no carrinho. A primeira era uma menina mais velha de cabelos negros, sardas espalhadas pelo rosto e olhos castanho-escuros. Ela usava um vestido verde muito bonito, parecido com o da garota loira na plataforma, e olhou Ava dos pés à cabeça, fazendo-a se sentir inadequada. A segunda pessoa era um garoto, obviamente o irmão mais novo dela; eles tinham a mesma pele pálida e os mesmos cabelos escuros, mas as íris dele eram azuis e infantis.

— Escolha logo Seth, quero voltar à cabine — disse a garota num tom gelado.

Após entregar dez sicles e nove nuques à mulher, Aurora voltou para seu compartimento, apressada para sair de perto de Seth e sua irmã, seguindo Freya e Dorothy com os braços cheios de doces, disposta a comer todos.

— Cuidado com os feijõezinhos — aconselhou a garota negra ao sentarem, espalhando seus doces pelo banco. — Eles são de todos os sabores mesmo: meu pai disse que já comeu um com gosto de vômito.

Aurora arregalou os olhos, enjoada de repente.

— Vou começar pelos sapos — decidiu-se, causando risadas nas outras duas.

Durante algum tempo, elas se divertiram apresentando as comidas a Ava. Os sapos de chocolate eram deliciosos e se moviam de verdade; cada um vinha também com uma cartinha colecionável, e a menina tirou Newt Scamander, Rowena Ravenclaw e Alvo Dumbledore, achando muito divertido o fato de os retratos se mexerem. Os feijõezinhos eram bons, mas Dorothy teve a infelicidade de comer um de pimenta, enquanto Aurora achou um de ovo podre. O rum de groselha ajudou um pouco, tirando o gosto horrível de suas bocas.

— Então, Ava — disse Freya, recuperando-se da crise de riso que teve ao ver a careta de nojo de Aurora após provar o feijãozinho. — Você tem um sotaque diferente, de onde é?

— Alabama — respondeu a garota, atacando suas tortinhas.

— Nos Estados Unidos? — indagou Dorothy, curiosa. Ava assentiu.

— Como é lá? — perguntou Freya.

A menina deu de ombros.

— É bem legal — falou. — O clima é muito quente, diferente daqui.

Dory assentiu, parecendo entender algo.

— Por isso você está usando casaco e botas no meio do verão?

Aurora riu.

— Sim — respondeu.

Pelo resto da tarde, o assunto mudou para feitiços. Ava contou que já conseguira realizar um, mas Dorothy e Freya, embora crescidas em famílias mágicas, não haviam começado a praticar encantamentos; Dory porque sua avó dava mais importância ao conhecimento e teorias, e Freya porque seus pais não haviam permitido que fizesse magia fora da escola.

Quando Ava percebeu, os últimos raios de Sol estavam desaparecendo entre os morros à distância, e o céu a oeste se tornava arroxeado. Ela guardou os doces restantes em sua bolsa de mão, junto com a varinha, as cartas dos sapinhos, seu dinheiro e as vestes que usaria, e olhou pela janela atentamente enquanto o dia acabava, novamente ansiosa. Freya e Dorothy também estavam muito caladas, e não disseram nada até ouvirem batidas na porta.

— Vamos lá, pessoal, hora de irem se preparando pra desembarcar — disse uma garota alta de cabelos claros. Ela já estava com as roupas da escola e usava um distintivo azul e bronze no peito, se retirando logo depois de ter dado seu recado e indo em direção à próxima cabine.

Freya foi até a vidraça e a cobriu com a pequena cortina de veludo roxo para que pudessem se trocar. Ava pegou seu uniforme, uma blusa de botões branca, gravata preta, saia preta e colete cinza, além de sapatos e meia-calças pretas. Ela sentiu que aquela camada fina de pano não seria suficiente para proteger suas pernas do frio, e calçou também meias três-quartos cor de chumbo.

— Meio bizarro que meninas tenham de usar saias — comentou Freya, colocando a peça defronte as pernas e olhando-a.

— Eu acho bonitinho — disse Dorothy enquanto arrumava uma fita preta em seus cabelos.

— Eu acho que devia ter comprado calças — concluiu Ava tristemente. Ela agora vestia a capa do uniforme, que funcionava como um casacão para o corpo todo, e sentiu-se feliz por tê-la.

A menina foi até a porta quando estavam totalmente vestidas, subindo a pequena cortina e dando uma olhada do lado de fora. O corredor estava cheio de estudantes que andavam de lá para cá, aparentemente tentando deixar tudo em ordem para o desembarque. Ava espiou no momento em que Teddy Lupin passava, já trajando o uniforme e com um distintivo como o da garota que entrara mais cedo, só que nas cores amarelo e preto; ele deu um pequeno sorriso ao reconhecê-la.

— Já está pronta, então? — indagou. Aurora assentiu. — Muito bem. Deixem suas malas no trem, elas serão levadas pro castelo — aconselhou, agora para as três, antes de voltar-se para Ava: — Lembre-se de que a Lufa-Lufa é a melhor Casa entre as quatro — disse, piscando e afastando-se depois.

Assim, quando a cabine estava arrumada, Ava, Freya e Dorothy foram aos corredores, procurando passagem entre a multidão de crianças que os tomava. Elas saltaram do Expresso Hogwarts com alguma dificuldade, e Aurora sentiu um calafrio percorrer sua espinha com o frio que fazia do lado de fora.

Logo, as três ouviram uma voz muito alta chamando e viraram-se para ver um homem segurando uma lamparina.

— Alunos do primeiro ano! — dizia ele. Tinha cabelos longos e barba espessa e era muito grande. — Primeiro ano, vocês? Venham para cá!

As garotas se aproximaram, seguindo o gigante e mais diversas crianças por um caminho escuro e frio. A sua volta, conversas paralelas borbulhavam, todos muito ansiosos para a cerimônia de escolha e para o banquete. Ava reconheceu Seth, o garoto do carrinho de doces, andando com um grupo de meninos barulhentos.

Depois de uma curva, encontraram-se na margem de um lago de águas calmas e ouviu-se um arquejo geral quando tiveram a primeira vista de Hogwarts. Aurora arregalou os olhos ao ver o grande castelo no qual adentrariam, cheio de torres pontudas e janelas das quais saía uma luz amarelada.

— Só quatro alunos em cada barco, por favor — pediu o homem barbudo.

Ava precipitou-se para um dos barquinhos ali, sendo acompanhada por Freya e Dorothy. Além delas, um garotinho de cabelos castanhos, que apresentou-se como Charlie Cattermole.

Assim, quando todos já estavam acomodados, o gigante, que compreensivelmente tinha um bote só para si, deu um comando e os barquinhos seguiram em direção à escola no alto, todos os olhos voltados para ela. Aurora estava tremendo de frio, mas não pôde deixar de se sentir deslumbrada pela vista, sorrindo à medida que se aproximavam.

— Abaixem as cabeças! — mandou o homem, sendo obedecido quando os botes atravessaram uma cortina de hera verde.

Desembarcaram em um tipo de píer subterrâneo e seguiram o gigante até um gramado, e então por uma escada de pedra. No topo, havia uma grande porta de carvalho, e ele checou se todos os alunos estavam presentes antes de dar três batidas que ecoaram no silêncio noturno.

O portal abriu-se, derramando uma luz amarelada nas crianças e na grama, e um homem apareceu. Ele usava vestes vermelhas e tinha um rosto muito redondo, quase infantil.

— Primeiranistas, o Professor Neville Longbottom — apresentou o gigante.

— Obrigado, Hagrid — disse o bruxo, abrindo mais a porta para que entrassem no castelo.

Ao dar uma olhada pelo saguão de entrada, Ava ficou sem fôlego. Era tão grande que poderiam ter entrado ali umas dez cabines de trem facilmente, e o teto não podia ser visto, de tão alto que era.

O Professor Longbottom os levou até uma sala vazia, passando por duas grandes portas por onde vozes animadas saíam.

— Sejam bem-vindos — disse quando todos os alunos estavam reunidos. — O banquete começará em poucos minutos, mas antes vocês serão selecionados às Casas, que são Grifinória, Sonserina, Corvinal e Lufa-Lufa. Enquanto estiverem em Hogwarts, sua Casa será como sua família; poderão ganhar e perder pontos para elas, dormirão nos aposentos da Casa e passarão o tempo livre na Sala Comunal. A cerimônia de escolha acontecerá em poucos minutos na presença de toda a escola, e voltarei para guiá-los até o salão. Por favor, permaneçam em silêncio enquanto esperam.

Ava sentiu seu nervosismo misturar-se com o pânico enquanto o professor Longbottom deixava o cômodo e pensou que ia hiperventilar; a perspectiva de aparecer sozinha na frente de todos os estudantes de Hogwarts era demasiado assustadora para uma menina tímida como ela.

Suas pernas pareciam se recusar a obedecê-la quando o professor voltou, pedindo para que seguissem em fila. Eles passaram por uma porta dupla e entraram num salão esplêndido, que fez com que Ava soltasse um suspiro, encantada. Ali, quatro mesas enormes estavam dispostas lado a lado, uma vermelho e dourada, outra azul e cobre, a próxima amarela e preta e a última verde e prata. O teto não era bem o teto, abrindo-se para a noite lá fora e exibindo a lua e várias estrelas. Eles enfileiraram-se de costas para a mesa onde um grupo de adultos sentava; Aurora presumiu que fossem os professores, mas não conseguiu vislumbrar Clarabella.

O professor Longbottom pousou um banquinho de quatro pernas à frente dos alunos, pousando um chapéu muito velho em cima dele. Para sua surpresa, um rasgo na frente do chapéu abriu-se e começou a cantar.

 

Há mais de mil anos os criadores de Hogwarts

Decidiram, por um desejo comum,

Transmitir seus conhecimentos

A jovens bruxos como vocês

Disse o valente Gryffindor das charnecas:

Ensinarei os de nomes insigne por grandes feitos!”

Disse o astuto Slytherin dos brejais:

Ensinarei somente os da mais pura ancestralidade!”

Disse a bela Ravenclaw das ravinas:

Ensinarei só àqueles de inegável sabedoria!”

Disse a meiga Hufflepuff das planícies:

Ensinarei a todos e os tratarei com igualdade!”

Porém, sem maneira certa de escolherem entre si

Decidiram me criar como juiz imparcial

Juntem-se, agora, ao meu redor

Olharei dentro de suas cabecinhas

E direi a qual Casa seu coração pertence!

 

Ao final da canção, o salão irrompeu em aplausos, gesto repetido automaticamente por Aurora. Ela sentia como se suas entranhas houvessem virado chumbo, mais nervosa a cada minuto.

O Professor Longbottom sacou um grande pergaminho, aproximando-se do banco.

— Quando eu chamar seus nomes, por favor sentem-se no banco para a seleção — pediu. — Abbey, Angelique!

A menina de cabelos loiros que olhara feio para Ava na plataforma adiantou-se para o banquinho e o professor colocou o chapéu sobre sua cabeça. Pouco tempo depois, ele gritou:

— Sonserina!

A mesa verde aplaudiu, recebendo-a com entusiasmo, e Ava percebeu que sua gravata mudara de cores, passando de preto a verde e prata. Virando-se para dar uma olhada nos novos colegas dela, Aurora vislumbrou a irmã de Seth, sentada à mesa. Ao lembrar de seu olhar frio no trem, sentiu-se estremecer.

Assim, a seleção continuou e mais três nomes foram chamados antes de um que ela reconhecesse.

— Ayers, Freya — chamou o Professor Longbottom.

A menina caminhou até o banco parecendo enjoada, e o chapéu, após alguns segundos, anunciou:

— Corvinal!

A gravata de Freya se tingiu de azul e bronze enquanto ela caminhava para a mesa de sua Casa, cujos membros aplaudiam – mas não sem antes lançar um olhar encorajador a Dorothy e Ava.

Aurora tornou a prestar atenção nos outros alunos. Summer Belhiver acompanhou a garota loira à mesa da Sonserina e Charlie Cattermole foi para a Grifinória, assim como Poppy Clark; entretanto, as gêmeas Doge, Anna e Angela, foram as primeiras a serem selecionadas para a Lufa-Lufa.

Quando Dorothy foi chamada, ela estava decididamente verde, mas caminhou até o banquinho. O chapéu ponderou por pouco tempo, antes que o rasgo em sua aba se abrisse:

— Corvinal!

Ava virou-se para ver Freya aplaudindo com felicidade da mesa azul e seu estômago afundou; que aconteceria se acabassem separadas? E se elas duas acabassem na Corvinal, e Aurora, presa na Sonserina, com a menina de cabelos negros?

Albert Yaxley foi selecionado para a Sonserina antes que o professor olhasse novamente o pergaminho e chamasse:

— Young, Aurora.

A menina caminhou pesadamente para o banquinho, sentando-se nele e tentando não encarar o Salão, cujos olhos agora voltavam-se para ela. Felizmente, o chapéu era tão grande que bloqueou sua vista, caindo sobre seu rosto.

— Interessante — disse o objeto dentro de sua cabeça, fazendo com que ela arquejasse de susto. — Tem esperteza aqui, e coragem, embora escondida. Pode pertencer à Grifinória, eu vejo. E há muita lealdade também, exatamente o tipo que Hufflepuff gostaria em sua Casa — O chapéu ficou um tempo quieto, parecendo refletir. — Entretanto, essa inteligência toda seria desperdiçada em qualquer outro lugar que não a CORVINAL!


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! Depois de alguns parágrafos, ficou bem claro que ela iria para a Corvinal, né? Eu sempre gostei muito dessa Casa, embora seja da Grifinória. Comentem o que acharam!
XOXO,
Lanna.



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