Semplicemente Amare — O primeiro, catastrófico, contato.

Lily sentia suas mãos fechadas de maneira tensa no volante. Continuava encarando tudo com uma expressão de choque e, bem, ódio. Ódio profundo. Algumas pessoas começavam a se acumular ao redor dos carros, observando o estrago com expressões de desgosto e aquilo estava deixando-a um tanto quanto mais desesperada. Não conseguia acreditar em sua falta de sorte, não mesmo, ainda mais porque, pela segunda vez, o mesmo homem lhe bloqueou o caminho.

James abriu a porta do motorista e disse alguma coisa que não chegou a compreensão de Lily na velocidade correta, parecia que seus ouvidos tinham se comprimido para evitar ouvir qualquer coisa naquele momento de latência. Ele se preocupou ainda mais quando ela não respondeu, na realidade, nem ao menos havia se mexido. Bem, pensou ele, deve ter sido o susto.

Esticou-se e com gentileza, mas mantendo a pressão, retirou as mãos dela do volante e soltou o cinto de segurança. Ele teve que içar o corpo de Lily para fora do carro, colocando-a em pé. A boca da garota levemente aberta, ainda demonstrando surpresa. E quando James pensou em estalar os dedos em frente ao rosto dela, o carro, um volkswagen 2005, que já demonstrava sinais de longo uso com a tintura azul descascada em vários pontos, decidiu que não era suficiente apenas ficar amassado. Absolutamente do nada uma fumaça densa de cor branca começou a sair do capô e aquilo, aparentemente, foi o suficiente para Evans voltar a realidade.

— Mas que porr.. — Lily começou a dizer dando um salto do lugar que estava. O movimento repentino, e rápido, fez com que James se assustasse por um segundo até perceber o olhar assassino dela sobre si. — Isso é tudo culpa sua, Potter! — vociferou olhando nos olhos dele. A expressão era de tanto ódio que o deixou abismado, não estava acostumado a ser encarado daquela maneira. — Você se acha tão importante que simplesmente não consegue esperar até a sua vez, não é mesmo? — perguntou ela, visivelmente, de maneira retórica. 

James abriu a boca para responder. Sentia que precisava se defender, mas não conseguia encontrar a voz diante daquela situação. Oras, estava acostumado a receber palavras doces e gentis, a ser tratado com cortesia e delicadeza. Jamais esperou que ela, justamente ela, Lily Evans, fosse capaz de gritar com ele. Principalmente considerando que estavam diante de muita gente.

Muita gente curiosa.

E ela não conseguia se conter. Sentia que seus nervos estavam explodindo dentro do corpo, como se cada terminação nervosa estivesse entrando em combustão e resolvido extravasar. Tinha uma leve consciência de que um número considerável de alunos havia começado a acompanhar o show que estava dando, certamente deveria se acalmar e voltar a imagem de pessoa distante que tentava manter, mas não conseguia se importar com aquilo, não naquele momento.

— Oh! E esses carros novos, de luxo, não possuem setas para sinalizar aos outros motoristas a direção em que os donos querem tomar! — exclamou ela, jogando os braços pra cima. Trincou o maxilar olhando irritada do Potter para seu carro, contendo o impulso de voar no pescoço do rapaz. — Sinceramente, você realmente se acha dono de tudo? — perguntou cruzando os braços em frente ao corpo.

— Calma ai! — disse James, enfim, encontrando a voz. Sua expressão não demonstrou raiva ou desprezo por ela, ou pelas palavras dela, em momento algum e aquilo fez com que Lily se irritasse ainda mais. — Vou pagar o concerto, não precisa ficar tão nervosa.

— Mas é claro que você vai pagar o concerto! — respondeu ela de maneira ríspida. Seu pé começou a bater no chão e aquilo indicava que começaria um sermão dos grandes. — Não estou nervosa apenas pela colisão, Potter, estou nervosa pelo transtorno que passarei agora sem um automóvel para cumprir meus compromissos — falou ela, semicerrando os olhos na direção dele. —, porque ao contrário de muita gente, eu tenho muito o que fazer e já estou absurdamente atrasada!

Aquele pensamento a fez bater na própria testa com força. Havia esquecido completamente do compromisso na escola de apoio, que era, inclusive, para onde ela estaria indo se não fosse o Potter e seu conversível lhe atrapalharem. Pescou sua bolsa dentro do carro e retirou o celular dali rapidamente olhando o horário, logo um muxoxo foi ouvido porque ela constatou que já deveria ter chego lá e que, infelizmente, já não adiantava mais correr atrás do prejuízo.

Discou o número da escola esperando que Andrômeda Tonks atendesse rapidamente e, para seu alívio, aquilo realmente aconteceu.

— Alô?

— Ah! Andrômeda! — exclamou Lily sentindo sua voz mais aguda que o normal, suspirou e passou a mão livre pelos cabelos. — Tive um problema e...

— O que aconteceu? Você está bem? — perguntou a mulher do outro lado da linha, a voz transbordando preocupação.

Lily sentiu-se grata por aquilo. As vezes sentia falta de alguém se preocupando com ela.

— Um idiota bateu no meu carro — comentou ela, ouvindo um sonoro "ei" de James atrás de si que fez questão de ignorar. —, não conseguirei passar aí hoje. Sinto muitíssimo!

— Não se preocupe Lily, querida... — começou Andrômeda com a voz doce. — Resolva suas coisas e venha quando puder, ok? Se cuide!

Só havia dado tempo de Lily agradecer à mulher antes que a outra precisasse desligar. O barulho de crianças correndo e gritando fez com que a ruiva sorrisse sozinha, gostava tanto daqueles pestinhas que sentia um aperto no peito em saber que havia prometido visitá-los naquela tarde e não poderia ir.

Virou-se para James e suspirou. Estava cansada. Sentia seus nervos em frangalhos.

— Muito obrigada, de verdade. — resmungou ela tentando manter a irritação sob controle. Quando desligou o celular sua ficha caiu sobre a quantidade de olhos curiosos por ali. — Agora terei que me virar para conseguir me organizar e fazer meus compromissos — falou Lily revirando os olhos. —, tem pessoas que esperam algo de mim. 

— Posso te dar uma carona, se quiser. — disse James dando de ombros, quando ela começou a abrir a boca para negar ele se apressou. — Sei que não é muito, mas já chamei a empresa para pegar seu carro aqui — continuou ele olhando-a nos olhos. —, então não posso deixá-la ir embora sozinha. 

E por mais que negasse o quanto quisesse Lily viu-se no carro de James Potter, simples assim, ou, porém, nem tanto já que o carro dela estava sendo levado para o concerto. Sentia-se irritada e, acima de tudo, frustrada. Mesmo que o automóvel fosse velho e quase caindo aos pedaços, ainda assim, era o melhor meio de locomoção que possuía. Ela se lembrou da bicicleta que estava em seu apartamento, mas também era muito antiga e, pra ser sincera com ela mesma, não gostava de andar naquilo. 

James não cabia em si de êxtase por estar levando Lily Evans embora. Simplesmente a garota que não dava brecha para ninguém chegar perto dela, aquela que, de qualquer forma, era boa o suficiente sozinha para precisar de alguém. Mesmo que, por ventura, tenha sido uma situação catastrófica que desencadeou aquele momento a sós entre eles. Lily era uma mulher que lhe intrigava demais, sempre tão independente e olhando para a frente, parecia que nem ao menos sabia da existência de ninguém. Porém, pensou ele com satisfação, ela me chamou pelo sobrenome e isso significa que não é tão ignorante quanto aparenta. 

— Então... — começou James, olhando para a ruiva ao seu lado com o canto dos olhos. — Você mora onde? — perguntou, por fim. Ela apenas tinha lhe dado uma leve definição das ruas para pegar e quando ele chegou a uma avenida movimentada, já não sabia que caminho tomar. 

— Vire a direita daqui duas quadras. — respondeu seca. 

Ao chegarem na rua dela, Lily apontou o apertamento que mora tão abruptamente que ele mal teve tempo em dar a seta e estacionar. James inclinou-se um pouco sobre o volante e observou a estrutura do local, era antigo, com as janelas de ferro rusticas e a tintura do prédio todo parecia que estava descolando-se. 

— É bem antigo, você gosta de antiguidades? — perguntou ele, voltando a observá-la. Lily encarou-o como se James fosse um alien e, por um minuto, ele sentiu-se assim. — Só estou puxando assunto. 

— Sim, eu gosto de coisas antigas. — Lily respondeu depois de suspirar. Questionou-se internamente qual seria o mal de respondê-lo, afinal, mesmo que ele fosse, e realmente era, bem mais lindo de perto do que por foto, não seria ela a bancar a panaca na frente dele. — Mas também moro aqui porque é o orçamento que posso pagar. — completou dando de ombros. 

Então, Lily murmurou um agradecimento muito a contragosto e desceu do carro. James continuou observando-a subir os degraus aos pulos, seus cabelos ruivos balançando de uma maneira interessante. Quando ela bateu a porta da frente com força, ele suspirou e decidiu seguir seu caminho. 

A casa dos Potter não era tão longe assim do modesto apartamento de Lily Evans, então dirigiu por pouco tempo até chegar lá. Suspirou ao perceber que teria mais algum tempo livre pra não fazer nada. Desde que Sirius Black, seu melhor amigo, mudou-se para os Estados Unidos para estudar, as tardes de James eram sempre entediantes. Certo, ele tinha Remus Lupin, mas, não era a mesma coisa. Black era simplesmente o Black, divertido e, em todos os sentidos, maroto. 

James estacionou o conversível no estacionamento e, antes de descer, percebeu algo branco no chão exatamente no banco do passageiro. Onde, até poucos minutos atrás uma certa ruiva estava sentada de uma maneira bem emburrada. Com o cenho franzido abaixou-se para alcançar o objeto e um sorriso surgiu em seus lábios. 

"Não é que ela esqueceu justamente o precioso projeto no meu carro? Terei que entregar!" pensou ele, satisfeito.