Semplicemente Amare — O início.

Mais um dia de aulas havia se encerrado em Hogwarts, a universidade mais cotada de Londres. Logo os corredores da instituição ficaram apinhados de jovens. Alguns andavam devagar, rindo e comentando coisas que havia acontecido, outros, porém, passavam rapidamente pelos alunos. Entre eles, Lily Evans, uma ruiva independente que nunca dava qualquer satisfação para ninguém. Sequer possuía amigos. Ela passava por entre a multidão com agilidade, ao longe, a única coisa que visível eram seus cabelos. 

Alguns colegas olhavam-na com expressões repreensivas por serem empurrados. Entretanto, Lily não se importava, estava com pressa. Precisava entregar um projeto para a professora McGonagall, que era sua orientadora, ainda naquele dia e logo em seguida teria de, se alguém lá em cima lhe abençoasse, aprender a voar para conseguir dar conta de tudo o que precisava fazer naquele fatídico dia. 

Para ela pouco importava o fato de não possuir amigos na universidade, na realidade, até agradecia. Como estava terminando seu curso de Psicologia, não conseguia pensar em mais nada se não entregar seus trabalhos e projetos nos dias certos. Sua melhor amiga Marlene McKinnon tinha ido para os Estados Unidos estudar relações públicas, deixando-a ali, para dar conta de si mesma sozinha. E, Lily pensava, era incrível a capacidade que ela tinha de pegar responsabilidades demais para arcar. 

Estava devaneando sobre como sua vida tornara-se um caus quando decidira, por impulsividade, sair da casa de seus pais e alugar um apartamento em Hogsmeade. Sua família morava em Godric's Hollow e de lá até Hogwarts eram umas boas horas dirigindo. Não havia sido problema até seu penúltimo ano onde os professores enlouqueceram e resolveram deixar os alunos mais apavorados ainda. Então, diante de vários compromissos que possuía durante o dia, Lily não via vantagem em fazer viagens diárias de um lugar para o outro. E assim, morava sozinha fazia um ano. 

"Um longo ano de completa bagunça e desespero!" pensou ela, suspirando consigo mesma. 

E como se já não bastasse estar atrasada o suficiente ainda trombou com alguém. Um alguém que era muito mal educado e não a deixara passar, barrando seu caminho. Ou, pelo menos, foi assim que Lily viu a situação. 

— Ai! — exclamou ela quando caiu sentada no chão. Seu projeto, o doce projeto que havia demorado madrugadas para fazer, voou de sua mão, caindo, para o desespero dela, no meio da multidão. — Meu projeto! — gritou tentando, a todo o custo, empurrar as pessoas para que não pisassem sem querer. 

A situação teria sido cômica, se, por um grande acaso do destino, Lily não estivesse de quatro em um corredor movimentado da universidade enquanto empurrava as canelas das pessoas para longe do trabalho. Aquilo era bizarro demais para que até mesmo Evans acreditasse. 

— Você deveria olhar por onde anda, sabe!? — disse-lhe uma voz divertida enquanto estendia a mão para ela. Lily aceitou, com seu precioso projeto grudado contra seu corpo, erguendo-se do chão por ninguém menos do que James Potter. — Evitaria situações como essas. — completou rindo. 

Ela fechou a cara para ele. Nunca haviam se falado. Nem ao menos trocado um oi, nada que fosse digno de lembrança e ele possuía o disparate de falar com ela como se fossem íntimos. Oras, pensou Lily, foi ele quem me derrubou e ainda ficava de gracinha. 

A garota, porém, dera-lhe as costas sem chances de qualquer outro comentário engraçado por parte de James. Dirigiu-se o mais rápido que conseguia, novamente empurrando pessoas pelo caminho, à sala de McGonagall. Quando viu que a professora não estava mais lá ela saiu bufando do local. Caminhava a passos firmes na direção do estacionamento enquanto tentava, inutilmente, se acalmar. 

Ao longe avistou James Potter com seus amigos. Ele ria e comentava algo provavelmente engraçado porque as pessoas a sua volta passavam a rir também. Era um rapaz leve, daquele tipo de pessoa que todos gostam de estar perto. Lily sabia, afinal, o seguia nas redes sociais e tentava, internamente, não se julgar por aquilo. Potter era desinibido e cativante, assim ficava fácil para que todos lhe admirassem. Claro que Evans também. 

Ela chegou até seu carro, um volkswagen 2005, que ela não sabia o modelo. A única coisa que lhe importava era que ele funcionasse direito e a levasse para os locais onde precisava ir. Só que, ao invés de entrar no automóvel e dar a partida, porque, veja bem, ela estava mesmo atrasada. Não. Continuou parada observando aquele grupo de pessoas, onde ele estava. O vento açoitava seus cabelos ruivos fazendo-os chicotear na frente de seu rosto. Mas não se importava. 

Ao perceber que a conversa era sobre alguma coisa do curso dele, algo relacionado a comércio exterior, decidiu que era seguro observá-los sem chamar a atenção. Abriu a porta do carro e começou a depositar suas coisas bem lentamente enquanto pensava sobre o garoto popular. Era lindo, ela sabia. Com aqueles olhos castanhos bondosos, alto e com um tipo físico proporcional, sem falar que os cabelos sempre bagunçados eram seu charme final. Mas, nunca, em hipótese alguma, haviam trocado quaisquer palavras. 

— Que idiotice. — resmungou ela, para si mesma. 

Decidiu que deveria sair dali o mais rápido possível. E, como se não bastasse tudo o que já tinha acontecido, o fluxo de carros do estacionamento estava praticamente estagnado porque todos resolveram sair na mesma hora. ÓTIMO! pensou Lily ironicamente. 

Dando uma última olhada na direção de James, suspirou. Lindo, inteligente e carismático. Um tipo de rapaz que nunca iria olhar para ela daquele jeito. E, de qualquer forma, ela até agradecia por aquilo. Lily percebia pelas fotos que ele publicava no facebook o quanto a aparência importava para ele e, também, o quanto gostava que lhe elogiassem e ficassem puxando seu saco. Aquilo não era para ela. 

Deu uma buzinada irritada, parando os devaneios quando percebeu que um motoqueiro passou entre os carros fazendo uma manobra perigosa. 

Na realidade Lily Evans preserva sua imagem. Não era uma daquelas garotas que tiram fotos de cinco em cinco metros, que postam imagens todas as semanas e que publicam praticamente tudo o que está fazendo ao longo do dia. Não, oh, não. Ela mal possuía tempo para tanto, olhar suas redes sociais já era um bônus na situação em que se encontrava academicamente. Tinha ciência do que as pessoas falavam sobre ela, que era muito reservada e independente. Não pedia ajuda de ninguém, a não ser orientação de professores. 

Quando estava pronta para dar outra buzinada o trânsito pareceu descongestionar, eram duas faixas para sair das dependências da universidade e chegar às ruas, mas, aquilo de congestionar por um tempinho sempre acontecia. E, quando Lily pisou um pouco no acelerador, feliz, por finalmente estar seguindo seu rumo... Um conversível preto atravessou o caminho dela, sem dar a seta indicando que iria entrar em sua frente. 

A colisão foi imediata. Porém, como o carro do indivíduo era novo e cheio das últimas modas não possuía estrago visível do ângulo que Lily se encontrava - dentro do carro arrebentado, com um corte na testa e com a expressão tão furiosa que poderia voar na cabeça de qualquer um -, mas ela já se imaginava pulando no pescoço no dono daquele automóvel. 

E qual não foi sua surpresa ao deparar-se com James Potter saindo do conversível e andar em sua direção com uma expressão desolada e absolutamente preocupada. Ela estava com a impressão de que cometeria um assassinato.