Hearewa escrita por Tyke


Capítulo 6
Capítulo 6 - Perdidos




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Havia tanta poeira que era quase impossível conseguir enxergar algo através dela. Hugo coçou os olhos vermelhos e tentou tampar com uma mão o vento que trazia os pequenos grãos de sedimento. Ele sentiu que algo no ambiente estava errado. Muito errado!

Lily virava contra o vento para proteger os olhos enquanto se agarrava ao antebraço do primo.

— Hey, vocês estão bem? - Hagrid veio na direção deles com dificuldade. Ainda com o rosto assustado - Onde está o seu pai, pequenina?

O meio gigante sempre a chamou assim, muito antes de ser seu professor de  Criaturas Mágicas em Hogwarts. Quando visitava os Potters ele saldava sorridente "Pequenina!" a, literalmente pequena, garotinha que foi Lily.

— Eu... eu não sei. - A voz dela vacilou ao responder e os olhos encheram-se de lágrimas, parte por causa da poeira que os irritava e parte pelo aperto no coração que estava sentindo. - Temos que...

— Sim, vamos! - Hugo compreendeu rapidamente as intenções dela, pois pensavam no mesmo: Procurar pelos familiares.

Com os dedos entrelaçados eles começaram a andar em direção a parede de poeira que começava a se dissipar aos poucos.

— Esperem, vou com vocês. - Hagrid coçando nervosamente os cabelos completamente brancos e enrugando ainda mais o rosto envelhecido para evitar grãos de areias que gostavam de cair nos olhos, ele caminhou em direção ao desastre com os jovens.

— Lily! - Uma voz veio do meio da poeira mais à direita das três pessoas. Eles pausaram o andar. Alvo se fez visível conforme se aproximava deles.

O irmão de Lilian estava sujo e tinha uma mancha vermelha na testa. O rosto branco que possuía algo mais parecido com "pintas espalhadas" do que sardas, estava manchado de terra que misturava-se ao suor virando barro. A blusa azul clara estava praticamente marrom. A mochila que carregava nas costa no mesmo estado. E a testa sangrava de um lado, o sangue escorria até a sobrancelha e então desviava para esquerda contornando um lado do olho. Fora o machucado ele parecia bem.

A moça deu um abraço caloroso no irmão quando ele estava próximo o suficiente. Em seguida Alvo olhou para Hugo e disse:

— Temos que sair daqui, agora. - Sem esperar ele já guiava os outros de volta para cabana de Hagrid.

— Espere! Temos que encontrar nossos pais e os outros... - Lily tentou protestar.

— Não se preocupe. Eles estavam na sala da diretora quando começou a... Enfim, quando começou eles usaram a lareira. Papai foi para o Ministério e me mandou te encontrar, vamos para lá agora. - Alvo falava sem olhar para trás.

— E os meus pais? E minha irmã? E os outros em geral? - Hugo não escondeu a irritação. Por dentro estava desesperado e se continha para não berrar. Mesmo tendo consciência do que o caos significa, em nenhum momento se preparou para o que estava acontecendo.

— Seu pai estava com o meu, também foi para o ministério. - Alvo olhou para o primo parando de andar. Ele via a interrogação persistente no rosto do ruivo "E os outros?". Então declarou por fim mantendo um olhar severo. - Temos que sair daqui agora. há umas coisas... não sei o que são, mas estão atacando as pessoas.

Hugo pode ver o pavor e o medo brilharem nos olhos verdes do primo quando sua voz tremeu. Ele também podia sentir no ambiente que algo muito fora do normal ocorria. Por isso decidiu parar de questionar e tomou a iniciativa de voltar a andar em direção a cabana.

— Que coisas, Alvo? - Hagrid perguntou, vinha logo atrás deles. Respirava pesadamente devido a poeira e o esforço da idade.

— Não sei, não deu para ver direito. - Ele passou a mão na testa machucada parecendo notar pela primeira vez que sangrava. Limpou a mão suja na calça escura que usava. - Acho que são criaturas, voam, são pretas...

— Dementadores? - Lily indagou, caminhava ao lado do irmão.

— Não! Com certeza não.

O pequeno grupo chegou na cabana e Alvo passou direto, seguido pela irmã, indo em direção à Floresta Proibida. O que fez Hugo parar de súbito. Ele detestava florestas em gerais, mas aquela em específico ele odiava. Não era fobia. O que ele sentia tinha lógica; Florestas é algo selvagem de mais, escondem perigos em cada moita e cada cem metro quadrado delas são exatamente igual a qualquer outro, perfeito para se perderem.Lily sentiu falta dos passos do primo ao seu lado, também parou e olhou para trás. Ela encontrou os olhos dele, sabia muito bem o motivo da aflição agitada.

Um barulho de moveis revirados veio de dentro da cabana de Hagrid e o professor saiu de dentro dela empunhando sua sombrinha.

— Qual a parte do temos que ir vocês não entendem?  - Alvo soltou um palavrão em seguida e recebeu um olhar duro da irmã. Não pela palavra suja, mas sim pela insensibilidade. - Onde está indo, Hagrid?

— Eu não vou com vocês, garotos. Não posso deixar Hogwarts. - Ele já caminhava em direção ao castelo demolido. - Boa sorte em seus caminhos.

— Hagrid... - Lily chamou manhosa ameaçando correr atrás do seu antigo professor favorito. Mas foi impedida por Hugo que entrou em sua frente.

— Deixe ele, não vai adiantar insistir e temos que sair daqui, certo? Vamos. - Ele segurou os ombros dela e a virou na direção das árvores. Enquanto observava o topo das copas altas ele suspirou de desgosto. - Alvo, onde estamos indo?

— Hogsmead.

— Por que não vamos pelo caminho de pedras? - Lily perguntou

— Acho que por aqui é mais seguro das... coisas.

— Seguro. - Hugo murmurou com desdém.

Dentro da densa floresta eles andam com pressa. Hugo tropeçava o tempo todo e praguejava. Ele ia alguns passos atrás dos primos. Aparentemente Alvo sabia para onde ia. Era bom que soubesse! Porque ele não tinha a menor ideia, após alguns minutos, de onde estavam. De repente o rapaz de cabelos escuros estancou e olhou para os outros.

— Vocês estão com varinhas? - Ele perguntou com o tom um pouco alarmado.

— Não.

— Não. - Lily responde e olhou para o primo que encontrava-se alguns passos atrás. Apesar do momento de pânico que passaram ela se lembrava muito bem que ele arrancou-lhe a varinha das mãos e não deixou recupera-la - Por quê?

— Papai acha que não é seguro andarmos com elas.

— Como assim?

— Não importa agora. Temos que chegar logo em Hogsmead para irmos ao Ministério.  

Alvo retomou a marcha rápida e Lily deixou o irmão ir na frente e ficou ao lado do primo. Ela lançou a Hugo alguns olhares desconfiados, mas por fim pareceu deixar de lado qualquer pensamento que estava tendo.

— Estão sentindo esse cheiro? - Hugo perguntou aos outros. Estava sentindo a estranha sensação de que algo estava ainda mais errado.

— Que cheiro? - Alvo olhou envolta.

— De queimado.

— Eu estou. - A moça confirmou.

Continuaram sem falarem mais nada. Conforme se aproximavam da cidade o cheiro aumentava. Em algum momento do caminho a vegetação da floresta começou ficar cada vez menos densa. Por fim chegaram ao topo de um penhasco, a cidade ainda ficava a um quilometro de distância, mas de onde estavam era possível vê-la. A intenção de Alvo foi evitar a usual estrada de pedra utilizada no momento pelos bruxos assustados e quando chegassem no penhasco aparatariam dentro da cidade e lá usariam uma lareira para o Ministério.

Mas assim que os três avistaram a pequena cidade ficaram sem reação, os planos de Alvo foram ladeira a baixo.

Hogsmead ardia em chamas. Mesmo de longe era possível ver pessoas correndo e aparentemente gritando. As casinhas bruxas desmoronavam engolidas pelas chamas. E vultos escuros hora ou outra aparecia e empurravam as pessoas em desespero que estivessem no caminho, essas pessoas caiam e não se erguiam novamente.

— Que porra é essa? - Alvo parecia completamente desorientado, ele levou as mãos a cabeça pensando e falou com a voz tremula: - Va-vamos aparatar... em Londres. Lá achamos uma entrada para o Ministério.

— Não podemos aparatar! - Lily gritou para ele. - Os trouxas podem nos ver!

— O que sugere? Que vamos caminhando da Escócia até lá? - Ele gritou de volta.

Perdidos! Eles estavam perdidos. Era tudo que Hugo conseguia pensar observando as chamas, os vultos pretos - que ele vagamente se lembrava do nome-, a prima respirando fundo tentando conter as lágrimas, Alvo no mesmo estado e nervoso tentando pensar no que fazer... E então um brilho de esperança passou pelos olhos de Hugo.

— Estamos perdidos! - Ele sorriu para os outros.

— Muito obrigado, Hugo! Eu não tinha percebido. - Alvo falou irônico e estava indignado com o sorriso no rosto sardento. Lily olhou para ele sobre os ombros com uma expressão bem parecida com a do irmão.

— Temos que ir até Lorcan.

— Lorcan Scamander? - Lily perguntou fazendo um grande esforço para não bater no primo que sorria diante aquela situação.

— Sim. Lorcan mandou uma carta para Louis e mandou ele me dizer que eu me encontraria perdido muito em breve e quando isso acontecesse eu deveria procura-lo. - Hugo tentou explicar.

— Que doidera é essa? - Alvo juntou as sobrancelhas.

— Clarevidência, você sabe que...

— Ah, por favor! Clarevidência? Esta mesmo sugerindo mudarmos nosso caminho por causa de uma previsãozinha como essa? - Ele olhou firme para Hugo. Tinha recebido as ordens direto do pai. Seguir para o Ministério. Alvo sempre foi o tipo de filho obediente.

— Você não entende ele provavelmente pode ajudar com... - Hugo hesitou em contar o que suspeitava para os dois.

— O que? - O outro rapaz indagou.

— Desculpe, não posso falar. - Ele passou as mãos pelos cabelos e poeira caiu deles. Alvo fez um barulho de deboche. - Ele vai me ajudar encontrar algo... Sim, obvio! Só pode ser isso.- Hugo falava mais para si mesmo que para os outros. Se lembrando vagamente de uma senhora clarevidente  que o ajudou muitos anos atrás.

— Não estou entendendo, por que não pode falar? - Lily estava mais calma e se aproximou do primo, parou na frente dele encarando seus olhos.

— Me perdoe... - Ele retribuiu o olhar sofrendo por não poder contar a ela. - Eu não posso.

— É melhor irmos antes que aquelas coisas venham em nossa direção. - Alvo pousava as mãos na cintura e mirava os vultos na cidade. O rapaz girou o corpo e falou diretamente para Hugo. - Vamos aparatar no Green Park, entre as árvores dificilmente alguém irá nos ver. E então usamos a passagem mais próxima que achamos para o Ministério.

— Eu preciso ver Lorcan! - Hugo perdeu a paciência e gritou.

— Então vai! Nós vamos para Londres. - Ele agarrou a mão da irmã.

Lily hesitou, olhando de um para outro. Estava indecisa sobre qual lado tomar. Seu irmão fazia sentido, mas ela confiava tanto no primo que não foi possível decidir diante os olhos desesperados dele.

— Eu... eu não sei onde ele mora. - Hugo suspirou, não tinha pensado nesse pequeno detalhe ainda. - Sei que fica em North Yorkshire, mas nunca estive lá.- Sem conhecer o lugar para onde iria ele não poderia aparatar.

— Sinto muito. - Alvo não parecia sentir. Ele estava irritado e o sangue seco em seu rosto o fazia parecer sombrio sob a luz fraca do anoitecer. - Você vem conosco ou não?

— Alvo, você já esteve na casa dos Scamander. - Lily soltou a mão do irmão, era obvio o lado que ela escolheu.

— E dai?

— Pode aparatar lá! - A moça nunca esteve na casa daquela família. Mesmo carregando o nome de Luna, ela nunca teve muita proximidade com a estranha mulher.

— Posso, mas não vou. Papai me deu ordens claras e não irei desrespeita-las sem pelo menos um bom motivo. - Ele pegou novamente a mão da irmã e estendeu a outra para o primo. - No Ministério podemos dar um jeito de manda-lo para casa deles.

Hugo sabia que não funcionaria assim. Os aurores, uma vez no Ministério, não permitiriam que ele fosse sem que tivesse que contar tudo o que suspeitava. E eles provavelmente o impediriam de ir até o clarevidente e procurar pelo que estava perdido: James. Ainda, Hugo imaginava que eles o odiariam e o culpariam por tudo que acontecia. E talvez o matassem. Enfim, o que protegia sua pele no momento era o silêncio.

Todavia, não vendo alternativa ele segurou a mão de Alvo. Antes de desaparatarem lançou um último olhar ao horizonte e percebeu que um vulto voava na direção deles. Um segundo depois estavam no Green Park.

Não havia ninguém além deles por ali. Através das copas das árvores dava para ver o palácio de Buckingham. E o céu já encontrava-se azul escuro com poucas estrelas brilhando. Alvo começou a andar ainda segurando as mãos de Lily.

— Eu não posso ir. - Hugo falou e os dois irmãos o olharam. O primo não parecia surpreso e a moça não escondia a angustia. - Se não pode me levar, pelo menos diz aonde é que eu encontro.

Alvo suspirou. Sua consciência em nenhum momento quis deixar o primo para trás sozinho.

— Eu vou com você. - Lily falou decidida, soltou a mão do irmão e se postou ao lado do primo segurando a dele. Alvo também não pareceu surpreso com isso.

— Não vai mesmo dizer o que você tem que fazer com Lorcan?

— Não posso.

— Confia nele mesmo assim. - Dessa vez ele se dirigiu a irmã. Ela maneou a cabeça confirmando. Na verdade Lily preferia saber o que Hugo escondia, mas a ideia de separar-se dele causou-lhe um horrível desespero.

— Olha, eu preciso ir ao Ministério. - Ele suspirou derrotado. - Tenho algo comigo, algo muito importante que também não posso falar sobre. Devo entrega-lo ao meu pai e os outros aurores.- Ele abaixou os olhos para o chão enquanto falava, em seguida observou a irmã e o primo lado a lado, unidos. Então acrescentou: - Estou achando a cidade estranha de mais... fiquem aqui, eu vou fazer o que tenho de fazer e quando voltar vamos para a casa dos Scamanders.

Hugo olhou em volta percebendo que não havia nenhum brilho de farol ou som de motor, nem mesmo na avenida bem próxima do parque. Londres estava silenciosa de mais. Parecia completamente abandonada. Uma sensação estranha pairava no ar e podia ser sentida pelos três.

— Lily pode conferir se não tem nenhuma pessoa ao redor? - Alvo pediu para irmã, em seguida ajoelhou-se no chão e quando ela estava longe ele tirou uma pistola de dentro da mochila. - Se eu não voltar até amanhã cedo quero que saia daqui com ela. Seu celular tem GPS?

— Sim. Onde conseguiu uma...

— Os Scamander vivem em uma casa escondida numa "reserva florestal", que na verdade é uma floresta mágica. A vila mais próxima do local se chama Bishop Monkton. Você sabe usar? - Ele estendeu a pistola para primo que negou com um gesto. - Fique com ela mesmo assim, está carregada, tudo que tem que fazer é destrava-la assim de depois travar novamente. - Ele demonstrou para o outro como fazia.

Hugo pegou a arma um pouco relutante. Colocou- a no cós da calça e a tampou com a blusa, da mesma forma que guardava a antiga varinha. Procurou Lily com o olhar, ela voltava em direção a eles. Alvo nesse momento tirava a capa da invisibilidade de dentro da bolsa.

O Potter despediu-se da irmã, vestiu a capa e desapareceu. Lily e Hugo escutaram os passos dele amassando as folhar no chão, o som se afastou até sumir. Os primos sentaram escorados em uma árvore. Sentindo Lily tão próxima de seu corpo, Hugo não se conteve e contou tudo que Alvo lhe disse antes de sair e mostrou a arma. Ele nunca viu a moça com o semblante tão triste.

Abraçaram-se, a noite estava fria, Lily apoiando a cabeça nos ombros dele e juntos ficaram acordados escutando o nada. E apreciando a ansiedade da espera dentro do peito.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Muito obrigada



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