WSU's O Temerário escrita por Lex Luthor, WSU


Capítulo 4
Round III - A Caveira que Ri




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/709152/chapter/4

 

Era uma casa enorme. Mesmo vista pelas brechas do portão, dava para se ver o gramado verde. Uma garagem grande, que poderia caber três carros, mas não havia nenhum lá. Marcos interfonou.

— Quem é? — perguntou a voz no interfone.

— Sou eu, Ari. — O interfone desligou-se.

Marcos tentou novamente. Esperou, esperou e finalmente Ari atendeu mais uma vez.

— Qual é Ari? Eu quero conversar civilizadamente.

Dá pra fazer isso sendo louco? — Ouviu os dizeres, em meio à má qualidade do interfone.

— Tudo posso n’Aquele que me fortalece. Filipenses 4:13.

Deixa o pinel entrar, Gabriel — comentou com seu filho mesmo com o interfone ligado.

Marcos fez o trajeto entre o portão da entrada até a garagem vazia. Pôde ver uma piscina, seca, ainda sim uma grande piscina. Estacionou, desceu do carro. Gabriel, filho de Ari abriu a porta que ligava a garagem à casa. Olhou desconfiado.

Tinha basicamente a mesma idade de Marcos, na casa dos trinta. Cabelos negros, uma cicatriz no lado esquerdo do rosto, corpo malhado, treinava na equipe do pai. Antes que Marcos entrasse, avisou:

— Na sala, primeiro corredor à direita.  

Marcos seguiu a direção orientada. Ari estava reclinado sobre uma poltrona de frente a TV.

— Isso foi inesperado, garoto — comentou o velho rabugento, olhando para o seu relógio Rolex prata no pulso esquerdo. — Uma visita matinal sua.

— Como vai, velho? — tentou alguma intimidade.

— Comendo o pão que o diabo amassou. — respondeu tossindo e abafando com manga do seu somokign vermelho. — Quanto a você, soube do recente sucesso da Marcos’s Fight. O que houve com o rosto?

— Acidente de trabalho. — inventou uma desculpa ruim. — Parece que sim, estamos fazendo sucesso, mas não estamos atendendo à demanda sozinhos, precisamos de mais um cara.

— Se isto é um convite, saiba que os quatro pinos no ombro não vão deixar.

Marcos abaixou a cabeça. Sentiu o peso da culpa.

— Eu quero te pedir perdão por tudo, cara. Você é o meu segundo pai, se eu tivesse te ouvido, ouvido a Elisa, nada disso teria acontecido. Se eu tivesse seguido o tratamento, estaríamos todos no tatame agora.

— Tudo bem, garoto. Parece que a vida bateu pesado em mim dessa vez. A cidade não é mais a mesma desde que você se juntou com a sua turma na clínica.

— Do que está falando?

— Ora, não dê uma de idiota. Não anda acompanhando os jornais, não é? — Ari levantou as sobrancelhas. — Gabriel! — gritou o velho, chamando pelo filho. — Torneios ilegais, você sabe. Ele te mandou aqui não foi? O desgraçado te mandou aqui?

No mesmo instante Gabriel aparece segurando uma Thompsons. Marcos levantou-se mostrando as palmas das mãos.

— Vai embora! — esbravejou Ari. — Ou se não, não sobra nem o seu ombro pra contar a história.

— Calma aí, cara. — pediu Marcos assustado.

— Agora! — gritou o velho.

Sem hesitar, Marcos pegou o rumo direto para o Opala.

Depois eu sou o louco.

Saiu rapidamente, porém mesmo assim observou a piscina vazia mais uma vez antes de ir, um homem estava parado em frente à piscina. Mesmo com o carro em movimento, fixou seus olhos e pôde ver somente uma tatuagem de beijo em seu pescoço.

 

 

 

1996

 

Na oficina de seu pai, fechada desde que Marcelo desaparecera de casa, Marcos arrumava e ignição do velho Opala.

— Filho?

— Pai?— surpreendeu-se.

— Parece que criei um bom mecânico.

— Salário de mecânico é uma merda mal cagada, pai. Vou prestar vestibular para engenharia mecânica esse ano.

— Está virando um homem. Talvez seja a hora de saber a verdade. Eu te entendo, com certeza você vai me entender também.

— Claro, pai. Esperei tanto por este dia — suas mãos cheias de graxa iam em direção ao rosto do homem que não via há anos.

Parou um instante e limpou-as em seu macacão jeans.

— Quero que me encontre na Praça das Bandeiras do Cícero, às oito da noite de hoje. Tudo bem?

— Por que não pode me falar agora? — Marcelo deu as costas e saiu pela porta. — Não o vejo há oito anos! Todos disseram que você estava morto e até sonhei com você morto várias vezes. — O pai passou entrada de carros da oficina abandonada, deixando o local. — Minha mãe precisa, eu preciso — O garoto foi na direção. — preciso disso.

 

 

 

Hoje

 

O treino da última turma havia terminado. Era pouco mais de oito da noite. Henrique, o garoto magrinho de óculos, o vulgo nerd da primeira turma de Marcos, chamou a atenção dele.

— Indo pra piscina, mestre? — perguntou o rapaz franzino.

Sem entender, Marcos reagiu de forma estranha à pergunta:

What the fuck?

— Nada, eu só o seu — o rapaz ficou nervoso com a estranha reação de seu mestre. — seu rosto — respondeu Henrique mostrando certo embaraço.

— Espera.  — Marcos tentou acalmá-lo. — A que se referiu?

— Esqueci que o senhor está meio desligado, por que, afinal foram seis meses de tratamento numa... — preferiu não completar a frase.

O medo de falar algum termo pejorativo que pudesse de certa forma magoar denegrir o seu mestre tomou conta do garoto.

— Manicômio. É. Eu sei. Foi horrível, a gente usava uma bata branca, tipo um vestido longo, que funcionava como um avental pra não se sujar, mas com uma abertura na bunda pra usar mais fácil o pinico. Só que tinha um cara que se aproveitava disso pra enfiar o dedo no rabo e passava no meu nariz, às vezes tinha bosta no dedo. É. Foi sofrido, muito difícil. Mas eu sobrevivi. O lance é — falou pausadamente. —: qual a ligação entre um hematoma no rosto e uma piscina?

— Existem diversas formas de relacionar isso — O garoto faz Marcos franzir a testa —; mas se o senhor quer saber mesmo — Henrique amedrontou-se. —; é um evento clandestino de luta que acontece na piscina vazia de um casarão. Mas é tudo boato. Ninguém sabe de nada, organizadores, lugar, participantes, nada. Nem a polícia. 

Piscina vazia de um casarão. Já vi esse filme.

— Tudo bem. Melhor irmos, vai ficar tarde. — Levantou a mão assustando o garoto. — Te vejo amanhã — despediu-se dando três tapinhas no ombro de seu aluno.

Deveria ser mera coincidência, mas o jeito que Ari me tratara naquela manhã tinha sido bastante estranho.

 

Marcos fechou a academia, mas antes foi surpreendido com mais uma visita de seu amigo Érico.

— E aí?! — cumprimentou o animado cadeirante.

Marcos fechando o portão e de costas para o inesperado visitante assustou-se.

— Ah, desgraça! — Tocou seu peito. — Que susto!

Animado com as boas novas, o deficiente decidiu ir direto ao assunto.

— Olha, parece que não são só mais quinze minutos de fama. Seu showzinho no supermercado inspirou alguém e rendeu uma bela surra nuns punks do Cícero que espancavam mendigos, umas duas semanas atrás. A mídia abafou, mas eu sei de tudo.

Marcos sorriu de forma maliciosa.

— Fui eu.

— Não creio! — disse Érico boquiaberto.

— Cabelo queimado, convulsão, braço quebrado... Nem lembro o resto. — Arrancou um sorriso de Érico. — Não costumo convidar aleijados pra minha casa, odeio todos eles. Mas tenho que te mostrar algo.

Marcos fechou a academia e foi até o quarto de Gato, ou ex-quarto. Já que agora o vazio dera espaço a diversas caixas de papelão. A quantidade impressionara Érico.

Gato estava de cócoras em cima de uma das caixas.

— Ei! Sai daí! — Marcos jogou seu chinelo para espantar o gato albino. — Você cagou na caixa, desgraça!

— Eu pensei que tivesse areia, foi mal! — desculpou-se o Gato, mas logo mudou para um tom. — Foi mal o cacete, esse quarto é meu.

 Érico espantou-se com o diálogo.

— Você realmente estava falando com o gato? Acho que é o que faltava para Casos de Família. “Não aguento mais! Meu gato caga em minhas caixas”.

— É que nessas caixas, meu caro amigo. Estão grande parte dos lucros da academia, gastos em artigos militares.

Érico abriu uma caixa e contemplou o que havia dentro: um colete cinza à prova de balas.

— Isso, meu amigo deficiente. — disse Marcos esfregando suas mãos entrelaçadas, maquiavélico. — Se chama aramida... resistência ao calor. — Sorria forçado, fazendo um biquinho. — Sete vezes mais resistente que o aço por unidade de peso. E foi uma pechincha.

Érico olhou desconfiado, encabulado para o material.

— Não era isso que eu tinha em mente quando falei em inspirar pessoas, mas...

— Mas era o que eu tinha. Pela primeira vez na vida, acho que posso fazer uma coisa boa. — Abriu os braços mostrando as palmas das mãos. — Tenho um primo policial. Ele, por vezes, usa de meios ilícitos para pegar bandidos, mas era como o convinha. A diferença é agora vou fazer do meu jeito e tenho o apoio dele.

Érico coçou a cabeça, preocupado.

— Não se compra armas pelos correios, vai lutar contra bandidos armados como?

— Se constrói uma casa pela base. Foi mais fácil comprar tudo isso por que ele é polícia e — tossiu falsamente, — mercado negro — falou por cima da tosse —. Ainda não está tudo pronto, mas tenho uma ocasião hoje e vou precisar correr antes de andar.

Érico riu nervoso.

— Vai precisar de um codinome. Já que sua carreira foi por água abaixo, que tal Carrero?

— Eu pensei na opção — respondeu sério. —, mas parece que já pegaram esse aí. Seria uma grande homenagem ao Beto, que sou fã, mas nope.

— E pensar que ele combatia o crime com um chicote. Como a Tiazinha. Quer dizer, não como a Tiazinha, se não eu seria o cara mais satisfeito do mundo. Que tal Batman? Deadpool? Superman?

Marcos olhou-o com desdém.

— Você também é deficiente mental, né? — Deu um sorriso maroto. — Uma vez alguém me disse, mesmo que ironicamente, que para lidar com esse tipo de gente eu teria que ser um temerário.

Gato entrou lentamente no quarto esfregando-se na perna de Marcos.

— Espero que com todo esse dinheiro queimado e espaço de quarto tomado, seu nível de poder seja over nine thousand — disse o felino.

 

 

 

Praça das Bandeiras, Cícero, 1996

 

Sentado num banco da praça, Marcos olha seu relógio e já são oito e quinze da noite.

Sempre se atrasando.

Enquanto esperava, olhou para os mastros sem bandeiras na praça. Uma ironia, mas aqueles mastros só tinham bandeiras hasteadas em comemorações, como no Dia da Independência.

Independência. Era o que Marcos buscava naquele dia. Sua mãe, padrasto e o filho de Ari, Gabriel, diziam que seu pai nunca mais voltaria. Sua mãe tinha plena certeza de que estava morto. Queria desvencilhar-se das ideias que os outros lhe davam, parar de sustentá-las e saber de uma vez a verdade.

Olhou para o relógio mais uma vez. Nove horas em ponto. Levantou-se do banco, olhou para o lado para atravessar a rua, mas um farol o ofuscou.

Apenas a silhueta de alguém que descia do carro, protegeu seus olhos do clarão.

—Não! O que você está fazendo aqui? Você vai estragar tudo! — gritou Marcos ao ver Neide, sua mãe.

— Para com isso, filho — disse a mulher, com um nó na garganta ao se aproximar.

— Ele não quer falar com você! É o meu pai! Você deve ter feito algo ruim pra ele. Você e aquele careca que escova sua vagina com aquele bigode nojento!

Neide deu uma tapa em seu rosto e lágrimas começaram a descer dos olhos da senhora.

— Seu pai não vai voltar. Deus sabe se ele está vivo ou não. Você está com problemas, filho. E o pecado que Ari está cometendo é querer te ajudar.  Ao meu lado — disse Neide aos prantos. 

Marcos repousou a cabeça sobre o ombro de sua mãe. Chorou como uma criança.

— Ele está vivo, mãe. Eu sei que está.

 

 

 

Hoje, dez da noite

 

Marcos observava ao longe a casa de Ari. Todas as luzes estavam apagadas. Uma casa afastada de todas as outras, ficava a cinquenta metros da mais próxima delas. De fato, os bairros mais afastados da orla eram bem menos habitados. Com exceção das periferias, a mais perto dali era chamada de Morro da Conceição, ou bairro — que oficialmente não era.

Ligou o rádio amador que instalara no Opala. Matheus o ajudou a colocar na frequência da polícia.

Três homens foram descobertos em operação disfarçada para desarticular boca de fumo no Morro da Conceição. Há troca de tiros com dez sujeitos armados de fuzil. Um dos policiais está ferido. O morro está repleto de barricadas de entulho em seus acessos. Mandem o “Caveirão” urgente! — disse um policial através do rádio.

Marcos desligou o rádio e olhou mais uma vez para a casa de Ari. A estranheza de seu comportamento ainda o intrigara.

— O Caveirão não vai demorar — disse para si mesmo, olhando para o retrovisor enquanto dava partida. 

Ao olhar no espelho, viu os olhos vermelhos. Olhou para o porta luvas, pensou em pegar a 9mm, mas desistiu.

Vou precisar de mais do que isso contra dez fuzis.

 

 

 

22:12hs, Morro da Conceição

 

Os policiais estavam num galpão, escondidos atrás de caixotes. Sabiam que estavam cercados e a troca de tiros já não fazia mais sentido. Atiravam para cima por efeito psicológico, as luzes do galpão piscavam com mau contato, mas nem essas dificuldades lhes fariam sobreviver ao destino iminente.

— Soares não tem pulso. Está morto — disse um dos policiais, tocando a jugular do parceiro baleado.

— Deve estar melhor que a gente agora — comentou seu outro parceiro.

Os criminosos aproximavam-se sorrateiramente com os fuzis.

— Aí, vocês vão dar a volta nos caixotes pelos dois lados. — disse o líder, que tinha uma tatuagem tribal no antebraço esquerdo. — Vou ficar aqui na frente com o Coalhada. — Arrumou seu cabelo raspado nas laterais para o lado direito e umedeceu os lábios com a língua.

— Beleza, Fagundes — respondeu Coalhada, confirmando com aceno de cabeça que movia seus cachos negros e preparou-se para cumprir com a estratégia. 

Não havia mais esperanças, até que uma fumaça branca logo foi se espalhando por todo galpão. A baixa visibilidade fez com que os tiros cessassem por um instante. Então, viram duas luzes vindas do grande portão do balcão e um som de um potente motor.

Os policiais, não sabiam o que estava acontecendo ali e nem mesmo os bandidos que o cercaram. Mas puderam ouvir um som de batida brusca e vários gritos.

Quando os gritos cessaram, os tiros voltaram. Coalhada avistou uma silhueta e não pensou duas vezes, apertou o gatilho de seu fuzil e derrubou o que quer que fosse. Em meio ao som de outros tiros, abaixou-se e foi olhar o que tinha derrubado; era um de seus parceiros.

Estamos nos matando. — pensou o bandido. — Parem! Parem de atirar! — gritou ao perceber o equívoco.

Uma grave e lenta risada toma conta e ecoa por todo o local.

— Apareça seu filho da puta! — gritou Coalhada, ao virar de costas apurando o ouvido para ouvir melhor a risada.

Porém, quando o mesmo virou de costas, perdeu seu fôlego ao ver que nunca havia visto antes: o sorriso de uma caveira.

Olhos vermelhos, rosto de caveira, colete cinza e roupa tática preta com detalhes vermelhos.

— Buh — disse a caveira ao golpeá-lo na garganta, fazendo com que o sufocasse.

Sem forças, o Temerário tomou o fuzil do bandido e o afastou com um chute frontal na boca do estômago. A fumaça produzida pelas suas bombas caseiras já não estava mais tão densa e a pouca visibilidade que outrora atrapalhava os bandidos, agora já não havia mais. Olhou para o fuzil em suas mãos. 

— Fuzil 7.62. Munição perfurante, feita para atravessar blindagem leve. — comentou o Temerário consigo, ao raciocinar olhando para o armamento pesado. — Com certeza a aramida não vai segurar.

Correu e rolou para trás de um caixote de madeira, antes que fosse percebido pelos homens armados. Pôde então, ver a cabeça decepada de um dos bandidos.

— Eu sou Fagundes, a cabeça do demônio dos infernos! — Deu uma risada diabólica. — Você me atropelou e decepou a minha cabeça, agora tema o meu poder, mortal!

— Puta que... — disse o Temerário admirado, ao ver o inacreditável —, preciso urgente fazer esse tratamento.

Levantou, contou seis bandidos ainda de pé. E atirou meticulosamente no braço de um deles, que logo foi ao chão pelo impacto do projétil perfurante. Abaixou novamente ao ver que os outros revidaram com uma chuva de tiros.

— Merda! — irritou-se o Caveira. — A munição deles não acaba?

— Tolo! Você vai precisar pensar para sair dessa! Use a cabeça, seu quadrúpede! — comentou a cabeça decepada.

— Boa ideia.

O Temerário colocou dois dedos nas narinas de Fagundes, e ergueu-o.

— O que está fazendo seu apedeuto? Ponha-me no chão. Eu sou a poderosa arma de Satã! — disse a cabeça demoníaca antes de ser jogada.

Ao verem o movimento incomum os bandidos atiraram em Fagundes, explodindo a cabeça. Uma bela distração. O que lhe proporcionou tempo para levantar e atirar uma, duas vezes contra os bandidos. Dois tiros rápidos em duas mãos que portavam os fuzis. Sua arma descarregou, rolou para trás de uma parede.

Os policiais, que estavam recuados, já não se sentiam mais em posição defensiva.

— Atire! — ordenou o policial observando seu parceiro inerte à cena.

— Mas em quem? — perguntou o parceiro, confuso.

— Ajude a caveira, droga!

Os dois bandidos que restaram recarregavam as armas, estavam motivados a matar o Temerário a qualquer custo. Se não tivessem sido surpreendidos com a gélida sensação de canos na nuca.

— Larguem as armas — disse um dos homens da lei que estavam encurralados, virando o jogo.

Os bandidos remanescentes estavam rendidos, mas não esperavam que um deles mesmo baleado no ombro e ao chão, se levantasse e tentasse o disparo com uma só mão.

Vendo o movimento incomum, O Temerário largou o fuzil descarregado e correu detrás da parede em direção ao bandido. Jogou-se contra ele, o derrubando no chão e impedindo o tiro. Por cima do meliante, começou a socar o seu rosto.

O bandido olhou aquela face, uma caveira sorrindo. A cada golpe seus olhos abriam e fechavam. E toda vez que abertos, observava o sorriso.

— Me-me Ma-te — implorou.

— Você vai ficar vivo. Conte a todos que puder, que o Temerário chegou, e que façam suas preces para nunca ver o sorriso da caveira.

Os policiais, olhavam enquanto algemavam os bandidos.

— Bom trabalho, oficiais — disse antes de deixar o local.

Um dos policiais ergueu sua arma ao ver o Caveira dar as costas, o outro abaixou com a mão.

— Deixa esse para outro dia, você vai ver os seus filhos hoje e por causa dele.

 

 

 

1996

 

Marcos estava em seu quarto. Sentado no chão com as costas na porta, foi então que sentiu e ouviu o toque na madeira.

— Marcos? — perguntou Ari.

— Vai embora. Eu não quero falar com você. — disse Marcos de dentro do quarto.

Ari engoliu aquelas palavras.

— Tudo bem. Eu só quero que saiba, que precisando de mim, vou estar aqui. — Ari virou, pensou em deixá-lo sozinho, mas achou melhor falar o que queria. — Olha, Marcos. Sua mãe é uma pessoa muito especial. É por isso que eu a escolhi. E quando me casei com ela, não escolhi ser só o marido dela. Sei que não vou substituir o seu pai, mas quero dar o melhor de mim a você.

O garoto refletiu naquelas palavras.

 

 

 

Hoje, 23:32

 

Quando Marcos deixou o galpão, passou novamente perto casa de Ari. De longe, percebeu algo incomum, a casa estava interditada pela polícia. Um corpo coberto era levado pela maca. Seu braço caiu e logo percebeu o relógio Rolex prata; era Ari.

De seu Opala, ficou perplexo, seus olhos encheram-se de água ao lembrar que esteve na mesma casa ainda naquele dia e, ao pensar nisso, percebeu a possibilidade espantosa de ser incriminado.

Decidiu abrir o porta luvas do Opala, sua 9mm não estava mais lá.

— Merda! — esbravejou socando o volante.

Deu partida e foi o embora o mais rápido que pôde.

Parou de frente a sua casa. Pegou o seu celular e enviou uma mensagem de voz.

— Preciso falar com você o mais rápido possível.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!