Kimberly passou a noite toda acordada. O recado de Susan despertara-lhe um pavor gigantesco. Na última vez que falara com Trini, ela lhe dissera que os três ficariam mais um ano viajando com a Conferência Mundial. Jason deveria estar na Europa agora. Não na Flórida e muito menos indo para Alameda dos Anjos. 

Alguma coisa deveria ter acontecido. Se os três tivessem deixado à conferência internacional, eles certamente a encontrariam. Se fosse só o Jason a chance era menor, mas ele certamente iria procurá-la depois de saber que estava machucada e tinha terminado com o Tommy. Estava perdida.

Precisaria acalma-lo no telefonema e não seria nada fácil. Se ele decidisse procura-la ou contar ao Tommy que ela tinha deixado o treinamento. Os dois poderiam procurá-la. Seu esconderijo era bom, mas nada que um ranger não pudesse localizar se quisesse. Todo o seu plano consistia em que ninguém tivesse interesse em encontra-la.   

O dia amanheceu e ela se levantou. Sentia os olhos da mãe sobre ela enquanto se sentava em frente ao telefone. Carol entregou um copo de leite para a filha e a deixou em paz. As horas passaram e a noite chegou sem nenhuma mudança.

Sem conseguir conter a ansiedade, Kimberly pegou o telefone e discou. Minutos depois uma voz masculina respondeu.

— Alô!

— Oie Zack – suspirando de alívio ela continuou. – Tudo bem aí?

— Kim! Nossa que prazer falar com você! Que saudades garota! Como estão as coisas aí?

— Tudo ótimo Zack e você como esta?

— Bem também, mas sentindo saudades de casa.

— A Trini esta por aí?

— Ela acabou de sair para o ginásio. Nossa, ela vai ficar muito triste por ter perdido a sua ligação. – rindo ele continuou. – Mas eu sou legal também pode falar comigo.

Kimberly riu e perguntou:

— Jason esteve me procurando no ginásio ontem, achei estranho ele não estar aí com vocês.

— Aí Kim... – ela podia ouvi-lo coçando a cabeça enquanto falava. – Essa é uma história complicada!

— Ele não esta mais na Conferência? Ele ficou de me ligar hoje, mas não ligou.

— Não, ele saiu da conferência – hesitando ele perguntou: Jason ainda está na Flórida?

— Não sei, eu não estava no ginásio e uma amiga me disse que ele ia para Alameda dos Anjos e me ligava de lá. Achei muito estranho.

— Então, ele e a Trini brigaram feio.

— Brigaram?

— Ela não fala sobre isso, mas esta muito brava. Eu acho que ele queria voltar para casa, mas ela não. Sei lá... eu só ouvi os gritos e ele pegou a mala e saiu. Depois ele ligou e ela não quis conversar com ele. Uma bagunça!

— Calma aí Zack! Isso não faz sentido, a Trini nunca gritou com um amigo.

— Kim, eles estavam juntos sabe.

— Juntos? Eles estavam namorando?  Como eu não sabia disso? Faz quanto tempo?

— Oficialmente, eu nem sei. Mas parecia bem sério! Agora, eles brigaram e eu estou no meio. Jason sumiu, Trini esta de dar medo!

— Nossa! Eu nem sei o quê dizer.

— Então, eu não sei onde ele esta ou se vai voltar – rindo o Zack falou. – Não quer pegar um avião e vir conversar com a Trini, eu pago a sua passagem.

— Infelizmente, eu não posso – Kimberly disse sem conseguir evitar rir. – Esta tão ruim assim?

— Você não faz ideia!

— Aguenta firme Zack, o Jason ficou de me ligar se ele der notícias eu te aviso ok.

— Tente colocar algum juízo na cabeça dele.

— Claro, avisa a Trini que eu liguei. Esse é meu novo número ficou gravado no telefone aí?

— Ficou sim.

— Beijos e tchau Zack.

— Tchau Kim.

Desligando o telefone Kimberly levantou-se e foi tomar um copo de água. Carol estava na cozinha preparando o jantar e perguntou:

— Algum problema querida?

— Jason e a Trini estavam namorando! Incrível!

— Ele ligou?

— Não, acabei de falar com o Zack. Desculpa mãe, eu sei que a ligação é cara, mas eu precisava falar com alguém.

— Sem problemas querida! – cortando a cebola ela comentou. – Sempre achei que ela gostava dele.

— Sério? Eu nunca percebi.

— Os olhares nunca mentem – murmurou Carol sorrindo. – Mas na época, eu acho que ele preferia você. Mas você nunca olhou para ele não é?

— Não, ele sempre foi como um irmão para mim. Nossa, e eu sempre achei que sabia de tudo.

Carol riu e comentou:

— O fofoqueiro da turma sempre foi o Zack.

Kimberly esbugalhou os olhos para a mãe.

— Relaxe querida, se Jason esta brigando com a namorada. Não vai se preocupar tanto com você.

— Tem certeza?

Carol abanou a cabeça e jogou a cebola picada na panela. Kimberly suspirou e tocou a barriga. Ela esperava que a mãe estivesse certa.

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Dois dias depois o telefone finalmente tocou. Muito mais calma Kimberly atendeu no terceiro toque.

— Alô!

— Oie Kim! Tudo bem?

— Tudo ótimo Jason e você como está? A Carol disse que foi me procurar no ginásio.

— Sim, eu estou de volta ao país e queria falar com você – o tom da voz abaixou um pouco. – Eu queria te ver, mas aqui em Alamedas dos Anjos as coisas se complicaram. Eu voltei para a equipe.

— Sério? – Kimberly sentou-se espantada.

— Agora, eu sou dourado.

— Uau!

— Voltei a ser o líder também.

— Estou sem palavras.

— Não pode conversar não é? Tem gente perto? – Jason perguntou.

— Isso – com um tom um pouco mais preocupado comentou. – Então, não vai mais voltar para a conferência?

— Não... eu estava em dúvida. Mas agora, não dá.

— Já falou com a Trini?

— Não? Ela conversou com você? – com a voz baixa ele perguntou. – Você sabe?

— Eu liguei para Genebra, mas só consegui falar com o Zack. Ele me contou algumas coisas.

— Hum... era sobre isso que queria conversar com você. Mas por telefone é complicado.

— Você precisa falar com ela.

— Eu sei, mas ela não atende o telefone. E agora eu não posso voltar, as coisas estão muito difíceis aqui.

— Vai ficar muito mais difícil se demorar muito.

— Eu sei... quando ela descobrir que voltei para os rangers vai ficar furiosa.

— Sério?

— Sim, ela disse que já estamos muito velhos para isso. Acredita?

Kimberly riu e comentou:

— Talvez ela esteja certa.

— Mas e você como está? Disseram que tinha se machucado?

— Eu estou em tratamento por causa de uma lesão nas costas, não vou conseguir participar do Pan Global – sorrindo ela comentou. – Mas os médicos disseram que consigo voltar para tentar as Olimpíadas.

— Não seria melhor voltar para casa Kim? – o tom de voz de Jason era preocupado.

— A minha mãe esta aqui comigo e os médicos são ótimos.

— Mesmo assim... sabe como é. Não existe lugar como o nosso lar.

Com um tom mais sério Kimberly comentou:

— Não acho que é uma boa ideia voltar para Alameda dos Anjos agora.

— Hum... a carta. Eu fiquei bastante surpreso ao saber.

— Eu também fiquei bastante surpresa ao saber que a Trini e você estavam juntos – rebateu Kimberly.

— É complicado – murmurou Jason.

— Sim, é complicado. – rebateu Kimberly.

— Acho que estamos empatados – Jason disse rindo.

— Tudo bem por aí Jason? – ela não conseguiu evitar a pergunta.

— Sim, os inimigos são muito fortes. Mas ninguém ferido.  

— Que bom! – o alivio era óbvio em sua voz.

— Bom, eu preciso desligar. Se conseguir falar com a Trini você poderia pedir para ela me atender?

Rindo ela falou:

— Primeiro, ela vai ter que me contar tudo. Depois eu vejo se ela deve ou não atender seus telefonemas.

— Não seja má Kim!

— Brincadeirinha! Mas ela ainda precisa me contar tudo. 

— Ok, eu te ligo algum dia desses.

— Tchau e se cuide!

— Tchau.

Depois de desligar o telefone Kimberly emitiu um longo suspiro de alívio. A criança se remexeu em sua barriga, olhando para baixo ela murmurou:

— Pode ficar tranquila querida. Você já vai estar segura quando ele se lembrar de mim novamente!