TWD - Primeira Temporada escrita por Gabs


Capítulo 10
Oito


Notas iniciais do capítulo

"Não seria melhor... mais compassivo abraçar os entes queridos e esperar que o relógio chegue ao fim?"



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Quando acordei, me senti quente e confortável, e nem mesmo a luz estava me incomodando tanto quanto esperava, depois de uma noite de bebedeira.

E sexo.

Abri meus olhos no mesmo instante que me lembrei de vagas coisas de ontem, a primeira coisa que vi foi uma tatuagem em um peito masculino, o qual eu estava aninhada confortavelmente. A respiração de Daryl estava batendo no meu cabelo e provavelmente estava bagunçando ainda mais ele.

Aproveitei que nenhum de seus braços estavam ao meu redor e me levantei lentamente, evitando acorda-lo. Peguei minha roupa do chão e me vesti, enquanto ia para o banheiro. A primeira coisa que fiz ao chegar lá foi lavar meu rosto e escovar os dentes, e foi aí que eu notei manchas roxas que trilhavam um caminho do meu pescoço para um dos meus seios. Fiz uma careta ao examinar as manchas e amaldiçoei a bebida, prometendo a mim mesma que não me embebedaria novamente.

Céus, a primeira coisa que fiz ao ficar bêbada foi transar com Daryl Dixon, o racista agressivo e pavio curto do grupo.

Maravilha, Gabriela.

Ao sair do banheiro, a primeira coisa que vi foi Daryl vestindo a camiseta, de modo apressado, como se estivesse escondendo alguma coisa.

— Precisava me marcar toda? – Perguntei num resmungo, enquanto passava por ele e ia procurar uma camiseta na minha mochila

Enquanto vestia a minha camiseta do exército, ouvi ele resmungar algo como “Eu te pergunto a mesma coisa”. Ao terminar de me vestir, nós saímos do quarto e seguimos as vozes, em silencio. Minha cabeça zunia e minha garganta estava seca.

Estou oficialmente de ressaca.

Maravilha de novo.

Quando chegamos no refeitório, éramos alguns dos que estavam faltando. E ao ver nossos rostos, alguns soltaram piadinhas sobre nossas aparências, principalmente sobre os chupões que não tinha como esconder, nem com o cabelo e nem com a camiseta, o desgraçado estava bem no meio do meu pescoço, gritando “Me note e comente” para todo mundo.

— Bom dia. - Lori sorriu maliciosamente para nós dois

Resmunguei um bom dia e me sentei ao lado de Glenn, o qual estava parecendo mais acabado do que todos nós juntos.

— Você também está de ressaca? - Carl perguntou me olhando, e eu ergui as sobrancelhas meio surpresa - Ontem você estava muito engraçada.

— Nunca abuse da bebida. – Comentei com ele, com um pequeno sorriso nos lábios – Na verdade, nem beba, faz mal.

— A noite foi boa. – Jacqui comentou comigo, sorrindo igual Lori

Vi as duas se aproximarem quando eu ameacei de abrir a boca, para comentar.

— Parem. – Pedi a elas, balançando levemente a cabeça – Estão fazendo disso algo anormal, então, só parem.

— Levantou de mau humor. – Lori deu um cutucãozinho em Jacqui, e as duas riram

— Ovos. – T-Dog nos avisou ignorando a conversa que estávamos tendo na mesa, ele estava sorrindo - Em pó. - Completou, chegando com uma frigideira até nós - Essa é minha especialidade. Aposto que não saberão a diferença. Proteína ajuda na ressaca.

Glenn deu um longo gemido ao meu lado e eu fiz carinho no cabelo dele, sabia exatamente como o coreano estava se sentindo.

— Está tudo bem, Glenn? - Perguntei a ele, do melhor jeito atencioso que eu achei no momento

Ele não me respondeu, apenas gemeu de novo e eu ouvi Dale rir ao fundo. O T-Dog nos serviu, fazendo comentários sobre o quão gostoso aqueles ovos estavam.

— De onde veio essas coisas? - Perguntei a eles, quando percebi que Rick tinha um potinho de remédios nas mãos – Me dá alguns desses, faz favor.

Rick colocou algumas pílulas na minha mão e eu as tomei, com a ajuda de bons goles de água.

— Jenner. - Rick respondeu pendendo a cabeça para o lado - Ele achou que podíamos precisar. Alguns de nós pelo menos.

— Nunca, - Glenn gemeu baixo, ao meu lado – me deixem beber de novo.

— Tá. – Rick concordou, rindo fraco, também aparentava estar com ressaca

— Ei. – Shane nos saudou, quando entrou no refeitório

— Ei. – Rick repetiu e depois deu risada – Se sente tão mal quanto eu?

— Pior. – Shane respondeu, indo pegar um pouco de café

— O que aconteceu com você? – T-Dog perguntou para ele, quando Shane estava voltando para a mesa

— O que? – Shane perguntou, franzindo as sobrancelhas

— Seu pescoço? – T-Dog apontou para o pescoço dele

— Devo ter feito isso enquanto dormia. – Shane respondeu e quando eu o vi se virar para falar, notei arranhões em seu pescoço

— Nunca vi você fazer isso antes. – Rick lhe disse, confuso

— Eu também não. – Shane concordou – Isso não é coisa minha.

— Talvez ele tenha participado da festa que a Gabriela e o Daryl deram ontem à noite. – Jacqui supôs, rindo

— Não divido mulher. – Daryl disse alto e isso arrancou risadinhas na mesa

— Então vai ter que lutar muito por essa daí. – Adrian falou para ele – Ela passava noites em bares, chegava bêbada e com perfume de homem em casa.

— Calem a maldita boca. - Resmunguei alto

Alguns deles riram, mas logo pararam, pois, o Doutor Jenner entrou no refeitório, dizendo “Bom dia” e recebendo vários “Bom dia”.

— Doutor, - Dale o chamou - não quero começar o dia te enchendo de perguntas...

— Mas perguntará mesmo assim. – O Doutor Jenner comentou, cortando a frase de Dale

— Não viemos aqui pelos ovos. – Andrea lhe disse, depois de dar uma olhada em Dale e em Adrian

Os dois estavam tramando alguma coisa.

Jenner nos olhou e coçou o nariz. Ele concordou com a cabeça e pediu para o seguirmos. Novamente, ele nos levou à sala redonda cheia de computadores, com a promessa de nos contar o que estava acontecendo realmente. Ele deixou sua caneca de café em uma das mesas e mexeu em um computador próximo, me fazendo quase perguntar sobre os documentos de alta segurança que estavam ali.

Deveria ter coisas inimagináveis.

— Passe o playback do IT-19. – Assim que mandou, Vi obedeceu, mostrando no grande monitor, mostrando algumas imagens - Poucas pessoas tiveram chance de ver isso. Muito poucas.

O vídeo mostrava a cabeça de um ser humano como se estivesse em uma máquina de raio x ou algo parecido, porem dava ênfase para o cérebro.

— Aquilo é um cérebro? - Carl perguntou ao Jenner, confuso

— Um cérebro extraordinário - o Doutor lhe respondeu, meio que sorrindo enquanto se inclinava levemente para ele - Mas nem tanto no fim. – Comentou e depois ficou sério, se virando para a teça - Coloque o V.I.A.

— Visão interna aumentada. – Vi lhe avisou, enquanto ampliava a imagem e redimensionava ela, mostrando como se a pessoa estivesse deitada e deu aumentou o zoom no cérebro, nos mostrando nervos azuis claros, que piscavam.

— O que são aquelas luzes? - Shane perguntou, dando uma olhada no Doutor

— É a vida de uma pessoa. – Jenner respondeu, apontando para a tela com o dedo indicador - Experiências, memorias.... É tudo mesmo. Em algum lugar naqueles cabos orgânicos, naquelas ondas de luz, está você, a coisa que te faz ser único e humano.

— Você nunca fala coisa com coisa? - Daryl perguntou a ele, cruzando os braços em frente ao peito

— Aquelas são sinapses. - Jenner explicou, apontando novamente - Impulsos elétricos no cérebro que carregam todas as mensagens. Determinam tudo que uma pessoa diz, faz ou pensa do momento que nasce até o momento que morre.

Percebi que no tom de sua voz, mostrava fascinação.

— Morte? - Rick perguntou se aproximando – É isso que isso é, uma vigília?

— Sim. - O Doutor respondeu, olhando para a tela - Ou melhor, é o playback de uma vigila.

— Essa pessoa morreu? - Andrea perguntou olhando para a tela - Quem?

— Indivíduo de teste 19. – Jenner lhe respondeu - Alguém que foi... mordido, infectado e se voluntariou para gravarmos o processo. Vi, avance para o primeiro evento.

— Avançando para o primeiro evento. - Novamente a voz eletrônica da Vi nos comunicou do que estava fazendo

Depois de avançar o arquivo, a tela mostrou o mesmo indivíduo, mas agora estava com parte dos nervos apagados, pretos.

— O que é aquilo? - Glenn perguntou franzindo as sobrancelhas

— Ele invade o cérebro como meningite. – Jenner explicou, apontando novamente para a tela. - As glândulas suprarrenais têm hemorragia, o cérebro é desligado, e depois os demais órgãos vitais. E aí a morte. Tudo que você foi ou será um dia se vai.

Conforme ele explicava, podíamos ver o indivíduo de teste 19 ter a parte do seu cérebro ficar preta gradativamente, ocorrendo a morte, como o Doutor explicou.

— Foi isso que aconteceu com o Jim? - Ouvi Sophia perguntar ao fundo

— Foi. - Sua mãe, Carol lhe respondeu brevemente

Houve um grande momento de silencio, onde Andrea choramingou perto de Adrian e depois Jenner olhou para trás, confuso.

— Ela perdeu uma pessoa há dois dias. – Lori explicou, franzindo os lábios – A irmã.

— Perdi uma pessoa também. – Jenner comentou, se inclinando para o lado de Andrea - Sei como isso é triste. – Ele se distanciou e olhou novamente para a tela, dando continuidade a explicação - Avance para o segundo evento.

— Avançando para o segundo evento. – Novamente, Vi nos avisou

— O tempo de ressureição varia muito. - Doutor Jenner nos contou, explicando enquanto o arquivo carregava ao fundo - Temos relatos de ocorrências em menos de três minutos. A maior de que temo durou oito horas. No caso desse paciente foram duas horas, um minuto e sete segundos.

O indivíduo de teste 19 o qual antes estava com o cérebro todo perto, agora tinha algumas luzes vermelhas circulando pelos nervos. Mostrando que depois da morte, o cérebro se auto iniciava, voltando a vida.

— Reinicia o cérebro? - Lori perguntou impressionada

— Não, só o tronco cerebral. - Doutor Jenner respondeu nos olhando por alguns momentos – Basicamente, os faz levantar e se movimentar.

— Mas não estão vivos? – Rick perguntou lentamente, meio confuso

— Diga-me você. – Jenner lhe pediu, apontando para a tela

— Não é como estava antes. - Rick negou, balançando a cabeça negativamente - A maior parte do cérebro está escura.

— Escuro, sem vida, morto. – Jenner comentou, completando o raciocínio dele - O lobo frontal, o Neocórtex, essa parte humana, essa parte não volta. A parte humana é só uma casca estimulada por instinto irracional.

Voltei meu olhar para tela novamente e vi o momento exato que o indivíduo de teste 19 levava um tiro na cabeça, o matando de vez.

— Deus... - Carol murmurou, com os olhos presos na tela - O que foi aquilo?

— Um tiro. Ele atirou na cabeça do paciente. – Respondi eu mesma, olhando da tela para ela

— Vi, desligue a tela principal e as estações de trabalho. – Jenner pediu

A inteligência artificial do CCD novamente acatou as ordens, desligando os computadores e a tela que antes estava nos mostrando o indivíduo.

— Você não tem ideia do que é isso, não é? - Andrea perguntou para Jenner, elevando o tom de voz, nervosa

— Pode ser micróbio, - Jenner comentou - vírus, parasita, fungo.

— Ou a ira de Deus? - Jacqui sugeriu, enquanto se apoiava em um dos computadores e colocava a mão na cintura

— Isso também. - Ele concordou

— Alguém deve saber de alguma coisa. – Adrian comentou agitado - Alguém em algum lugar.

— Mas há outros, não é? - Carol perguntou para ele - Outras instalações?

— Podem haver alguns. – Jenner respondeu, virando para olha-la - Pessoas como eu.

— Você não sabe? – Perguntei segurando um riso nervoso – Como você não sabe?

— Tudo foi desligado. – Jenner contou, me olhando - Comunicações, diretrizes, tudo mesmo. Estou sem notícias a quase um mês.

— Então, não é só aqui. – Andrea comentou - Não tem nada em nenhum lugar? Nada? – Ela perguntou, novamente erguendo o tom de voz - É o que você está dizendo, não é?

Jenner ficou calado, concordando com o que ela tinha dito.

— Jesus... - Jacqui murmurou

— Cara, - Daryl disse, passando as mãos pelo rosto, enquanto ia se apoiar em um computador - eu vou encher a cara de novo.

— Dr. Jenner, - Dale o chamou - sei que está sendo difícil para você e odeio fazer mais uma pergunta, mas aquele relógio – Ele apontou para um relógio na parede, parecia uma contagem regressiva pois os números estavam diminuindo - com contagem regressiva. O que acontece no zero?

— Os geradores do porão vão ficar sem combustível. - Jenner respondeu

— E depois? - Rick perguntou em seguida, mas não obteve resposta e por isso elevou a voz, para perguntar à inteligência artificial – Vi, o que acontece quando a energia acabar?

— Quando a energia acabar vai ocorrer a descontaminação geral da instalação.

Um frio percorreu pela minha espinha e eu olhei diretamente para Jenner, o qual estava saindo da sala de trabalho.

— Tá legal, - Murmurei alto, para eles – Rick, T-Dog, Shane e Glenn. Peguem lanternas e me encontrem na entrada do porão. Iremos checar o combustível.

— O que está acontecendo? – Adrian me perguntou, caminhando em passos largos até mim – Você sabe o que é isso, não sabe?

Ignorei Adrian e os chamei mais uma vez, enquanto andava a passos largos até a saída, quase correndo pelos corredores até chegar ao meu quarto, abri a minha mochila e tirei de lá uma lanterna de bolso.

Quando cheguei na entrada do porão, eles já estavam lá, agitados.

— O que você acha que é? – Glenn me perguntou, de uma vez só

— Vamos entrar. – Shane disse indicando a porta com a cabeça

Empurrei a porta e a abri, vendo um lance de escadas. Ótimo, estamos descendo ainda mais. Enquanto descíamos as escadas, eu torcia para não ser o termo que usávamos no exército, mesmo sabendo que tinha grandes chances de ser.

— Descontaminação? – Glenn perguntou, enquanto andava a passos largos atrás de nós – O que significa isso?

— Não gosto do jeito que o Jenner falou. – Shane comentou – O jeito que ele fica vagando feito um louco...

— Mas o que ele tem? - T-Dog perguntou – É sério, cara, ele é doido, toma remédio, o que é?

Parei em frente a um mapa e respirei fundo, enquanto ignorava as perguntas e examinava o local com a ajuda de Rick, mostrando o caminho que deveríamos fazer.

— Ali dentro. - Rick comentou, liderando o caminho

Quando Rick abriu a porta, nós ligamos as lanternas, pois estava muito escuro. Quando entramos, Vi acendeu as luzes, mostrando vários barris pretos, com símbolos que mostravam que eles explodiam se tivesse contato com fogo.

— Chequem aquele lado. – Rick apontou, enquanto olhava para T-Dog e Glenn – Gabriela? Shane?

Afirmei com a cabeça e segui os dois policiais. Havia a palavra “Inflamável” em todos os lugares, nos lembrando que poderíamos morrer se brincássemos com fogo naquele local.

Um tiro, uma faísca e o lugar todo iria para os ares.

— Ei. - Rick nos chamou - Olhem isso aqui. – Ele ergueu um barril com mais facilidade do que eu gostaria - Está vazio.

Quando nos aproximamos pra valer do gerador, as luzes se apagaram e a voz de Vi nos avisou que as luzes de emergência estavam ligadas. E elas realmente ligaram, porém não eram tão potentes como as que estavam a agora pouco ligadas.

— Mas o que é isso? - Shane perguntou olhando ao redor

— Ei, - ouvimos a voz de Glenn e quando viramos, ele estava parando de correr perto do lugar onde tínhamos nos separado - vocês desligaram as luzes?

— Não, - Shane respondeu alto, enquanto dava uma olhada no gerador - elas apagaram.

— Viram alguma coisa? – Perguntei aos dois, aproveitando que T-Dog também estava chegando com o Glenn

— Sim. - T-Dog respondeu - Muitos geradores desligados e mais barris de combustível espalhados.

Shane apontou sua lanterna para o gerador, onde mostrava o quanto de combustível tinha, e estava chegando quase no “E”. O que significa que nós  nos fodemos de acordo com os meus cálculos.

— Não pode estar rodando só com um. – Shane comentou nos olhando, juntando as sobrancelhas

Dei as costas para eles e comecei a correr, subi as escadas o mais rápido que pude e corri como se o caminhão do sorvete estivesse dando picolés de graça e ninguém estava na rua.

Quando cheguei a zona 5, na sala redonda, vi que Jenner estava sendo enchido de perguntas. Lori chamou pelo seu marido e só foi aí que eu notei que eles estavam atrás de mim, parecendo que estavam se ligando do que se tratava.

Jenner descia as escadas com os outros logo atrás dele e parecia muito tranquilo para o meu gosto.

— Jenner, - Rick o chamou, andando atrás dele - o que está acontecendo?

— O sistema está cortando o uso não essencial de energia. – Jenner lhe respondeu, enquanto caminhava até o meio da instalação - Foi projetado para manter os computadores funcionando até o último minuto possível. Isso começou quando chegamos a marca de meia-hora. - Apontou para o relógio na parede - Bem no horário.

Ele parou de andar perto da escada e deu um grande gole na garrafa de whisky, a qual Daryl a pegou bruscamente quando Jenner a ofereceu para ele.

— Explique-se antes que eu faça alguma merda. - Falei para ele, abrindo caminho entre as pessoas e parei a alguns centímetros dele, dando ênfase na próxima palavra que eu ia dizer - Amigo.

— Foram os franceses. – Jenner comentou aleatoriamente

— O que? - Andrea perguntou confusa

— Foram eles os que mais aguentaram até onde eu sei. – Jenner a respondeu, explicando - Enquanto nosso pessoal ficou trancando as portas e se suicidando nos corredores eles ficaram no laboratório até o fim. Acharam que estava perto da solução.

— O que aconteceu? - Jacqui perguntou em seguida

— O mesmo que está acontecendo aqui. - Jenner respondeu subindo as escadas - Ficaram sem força. Sem combustível. O mundo usa combustível fóssil. Sabe, não é muita burrice? – Ele nos perguntou, rindo nervosamente

Subi as escadas pulando os degraus e me aproximei dele, parando bem na sua frente.

— Foda-se se é burrice ou não. – Rosnei, dando mais um passo na sua direção e vi que ele havia dado um para trás – Quero saber se essa porra de descontaminação é no mesmo termo do exército. E você vai me responder em alto e bom som, está me escutando?

Jenner permaneceu calado e ao fundo pude escutar Rick me dizendo para ficar calma, mas ele não sabia o que estava acontecendo. De um jeito rápido e limpo, acertei o rosto do Doutor com um soco forte, o fazendo dar alguns passos para trás e colocar a mão sob o nariz.

— Essa é a mulher perversa que eu estava tentando avisar pra vocês.

— Peguem suas coisas. – Mandei me virando para os outros – Rápido. Vamos sair desse lugar.

Antes de me virar novamente para Jenner, troquei um olhar com Daryl que dizia “Pode pegar minhas coisas? ”. E quando fui avançar mais uma vez em direção a Jenner, Rick me puxou pelo braço, dizendo que não fazíamos as coisas desse jeito.

Acima de nós, um alarme irritante soou e uma luz vermelha se acendeu, tomando conta do lugar.

— O que é isso? - Shane perguntou bruscamente

— O que é isso? – Ouvi a voz de Carl perguntar, assustado

A tela principal ligou e nos mostrou uma contagem regressiva de trinta minutos, junto com a voz da Vi dizendo que tínhamos trinta minutos para a descontaminação.

— Doutor, o que é que está acontecendo aqui? – Daryl gritou para ele

Jenner nos ignorou e foi até um computador e começou a mexer em algo.

— PESSOAL, VOCÊS OUVIRAM A GABRIELA. - Shane gritou para eles – PEGUEM SUAS COISAS, ANDEM.

Todos começaram a correr para pegar as suas coisas e quando a porta a minha direita se fechou, eu corri até ela, mas parei quando percebi que era tarde.

— Não. – Glenn murmurou e depois elevou a voz – Você trancou a gente aqui? Ele nos trancou aqui.

Apressei meus passos até Jenner novamente, vendo ele sentado em frente a um dos computadores, falando com ele, gravando.

— SEU DESGRAÇADO. – Daryl berrou - EU TE MATO.

Tenho certeza de que se Rick não tivesse gritado para Shane segurar Daryl, Jenner não teria mais a cabeça. O T-Dog, vendo que eu não ajudaria nem um pouco correu para perto de nós, gritando coisas como “Não faz isso” para Daryl.

— Rick, - Eu o chamei, sabendo se eu lidasse com aquilo a coisa não sairia nada bem para nós – cuida disso aqui, faz esse cara abrir a porta.

— Ei, Jenner. – Rick lhe disse, caminhando até ele – Abra aquela porta agora.

— Não há por que. - Jenner negou - Tudo lá em cima está trancado. As saídas de emergência estão seladas.

— Bom, - Daryl disse, sua voz estava furiosa - abra essas porcarias.

— Eu não controlo isso. – Jenner nos disse, parecia calmo de mais - São os computadores. Eu falei para vocês: quando aquela porta se fechasse não abriria de novo. Vocês me ouviram dizer isso.

— Você não está falando isso. – Comentei histericamente, passando a mão pelo rosto – Eu entendi bem? Está dizendo que a porra da culpa é nossa?

— É melhor assim. – Jenner comentou

— O que é? – Rick perguntou - O que acontece em 28 minutos?

— Explodiremos em mil pedaços. – Respondi por Jenner, elevando o meu tom de voz – Não é isso, seu merda de jaleco?

— Vocês sabem o que é esse lugar? – Jenner perguntou alto, olhando para nós todos enquanto se levantava bruscamente – Protegemos o público de coisas bem ruins. Varíola como arma. Traços de ebola que podiam acabar com metade do país. Coisas que não vão querer tirar daqui. Nunca. – Ele se sentou novamente, passando a mão na boca - Num evento de uma falta de energia catastrófica... um ataque terrorista, por exemplo, A.I.t’s lançados para evitar que quaisquer organismos saia.

— A.I.t’s? - Rick perguntou para ele, sua voz estava tremula, de raiva

— E eu pensando que não podia piorar. – Falei alto, coçando a sobrancelha de nervoso – A.I.t’s é o mesmo que Alto-impulso Termobárico. Combustível com ar explosivos que contem dois estágios. E acredite, nós não queremos nenhum dos dois. O primeiro estágio é a ignição por aerossol que produz uma onda de explosão de poder e duração maiores do que qualquer outra explosão, exceto a nuclear.

— Ótima definição. – Jenner elogiou lentamente – Mas para exemplificar, ela coloca fogo no ar. Sem dor. O fim da dor, pesar, arrependimento. Acaba tudo.

Balancei a cabeça negativamente enquanto olhava para os outros, eles estavam indescritíveis, não sabia se estavam tristes ou com raiva.

Talvez os dois.

Shane se afastou do grupo, assim como Rick e Daryl, mas todos foram para lados diferentes. Rick estava checando o relógio de pulso a cada segundo e Glenn andava de lá para cá, as crianças choravam nos braços de suas mães. Escutei o som de vidro se quebrando e olhei para o lado, vendo que Daryl tinha acabado de jogar a garrafa de whisky na porta, antes dele começar a gritar para Jenner.  

— ABRA AQUELA DROGA DE PORTA! – Ele apontava furiosamente para a morta de metal que nos separava da saída

— SAIA DO MEU CAMINHO! – Shane apareceu gritando, enquanto corria com um machado em sua mão em direção a porta

Mesmo sabendo que não adiantaria de nada, eu olhei ansiosamente enquanto via Shane erguer o machado para bater na porta. T-Dog jogou um outro machado em direção a Daryl, o qual o pegou no ar e ele logo foi se juntar a Shane.

Mas não estava adiantando em nada.

— Vocês deviam ter sido deixados sozinhos. – Jenner comentou – Teria sido muito mais fácil.

— Fácil pra quem? – Perguntei grosseiramente, estava de saco cheio daquele homem e sua expressão de tranquilidade

— Para todos vocês. – Ele respondeu – Vocês sabem como é lá fora. Uma vida curta, brutal e uma morte agonizante. Sua irmã. – Jenner apontou para Andrea – Qual era o nome dela?

— Amy. – Ela lhe respondeu, estava sentada no chão, parecia estar aceitando a morte muito bem, ao contrário de alguns de nós

— Amy. - Jenner repetiu o nome, enquanto olhava para ela - Você sabe o que isso faz. Você já viu. – Ele se virou para mim e olhou por cima do meu ombro, enquanto balançava levemente a cabeça negativamente – É isso mesmo que você quer para sua mulher e filho?

— Eu não quero isso. – Rick passou por mim e s aproximou dele, dando ênfase em suas palavras

Shane se apoiou em um computador ao meu lado, ofegante.

— Nem está amassando. – Ele nos avisou

— Essas portas foram projetadas para aguentar até um foguete. – Jenner comentou, explicando o fato da tentativa estar sendo em vão

— Bom, - Daryl falou alto, se aproximando com rapidez enquanto erguia o machado – SUA CABEÇA NÃO FOI!

— Daryl. – Rick correu até ele, o impedindo de chegar mais perto – Daryl! Afaste-se. Afaste-se.

Precisou de três homens para tirar o machado de Daryl e o empurrar para a direção contrária de Jenner. Tenho certeza de que se não fosse por eles, o doutorzinho estaria com a cabeça dividida no meio nessa hora.

— Vocês querem isso. – Jenner disse se levantando – A noite passada você disse. – Ele olhou para Rick, enquanto falava – Sabia que era questão de tempo até as pessoas que você ama estarem mortas.

— O quê? - Shane perguntou para o amigo, com aquela mesma expressão que fazia quando não gostava do que ouvia - Você disse isso mesmo? Depois de todo aquele discurso?

— Eu tinha que manter a esperança viva, - Rick retrucou - não é?

— Não há esperança. – Jenner lhe disse - Nunca houve.

— Sempre tem esperança. – Rick falou para ele – Talvez não seja você... talvez não aqui, mas alguém, em algum lugar...

— Que parte do “tudo acabou” você não entendeu? – Andrea lhe perguntou ironicamente

— Escute sua amiga, ela entendeu. – Jenner nos pediu - É isso que vai acabar conosco. É o evento que vai nos extinguir.

— Isso não está certo. - Carol falou, sua voz estava embargada por causa do choro - Você não pode nos manter aqui!

— É só um instante. - Jenner falou para ela, como que aquilo tudo fosse normal - Um milissegundo. Sem dor.

— Minha filha não merece morrer assim. – Carol retrucou alto, chorando

— Não seria melhor... – Jenner disse – mais compassivo abraçar os entes queridos e esperar que o relógio chegue ao fim?

Em um movimento rápido, eu saquei a minha pistola e a destravei, enquanto andava furiosamente em direção a Jenner e depois apontei a arma para a cabeça dele. Rick tentou me afastar, mas eu apenas fiz com que minha arma se aproximasse mais da testa de Jenner a cada passo que ele dava em minha direção.

— Certo, - Murmurei com um sorriso frio nos lábios – vamos nos entender agora, sim? Os meus entes queridos, aqueles que eu amo, não estão aqui e sem dúvidas eu não vou morrer hoje, então, eu quero que você abra aquela porta ou você vai receber vários tiros em membros inferiores, - abaixei a pistola até o meio das suas pernas, enquanto meu sorriso aumentava ainda mais - até eu decidir que você vai morrer. E acredite, será uma morte lenta e dolorosa.

— Gabriela. – Rick me chamou – Não é assim que se faz. Nunca conseguiremos sair daqui se você fizer isso, entendeu? Se ele morrer a gente morre também!

Com minha mão livre, apenas passei a mão pelo cabelo e reconsiderei as coisas que Rick havia dito. Sem dúvidas precisávamos desse idiota para sair.

Estando no limite, guardei a arma à contragosto e resmunguei palavras ofensivas para Jenner.

— Que bom que voltou a razão. – Rick comentou – Ou teria que te desarmar.

— Gostaria de te ver tentar, policial de King County. - Retruquei alto, enquanto me afastava de Jenner e me apoiava em um computador, cansada daquilo.

Ficamos em silencio por um tempo, antes de Rick abrir a boca novamente para falar com Jenner. Eu estava cansada mentalmente, mas não queria morrer em um CCD, por uma explosão que pode até ser sem dor.

Eu tinha coisas para fazer, pessoas para achar e lugares para ir.

— Acho que você está mentindo. – Como eu disse, Rick falou a Jenner, se virando para olha-lo

— O quê? – Jenner perguntou para ele

— Está mentindo. – Rick repetiu - Sobre não haver esperança. Se fosse verdade, você teria fugido ou escolhido o caminho mais fácil. Não escolheu. Escolheu o caminho difícil. Por quê?

— Isso não importa. – Jenner comentou, balançando a cabeça negativamente

— Importa sim. - Rick discordou se aproximando dele - Sempre importa. Você ficou quando os outros fugiram. Por que?

— Não porque eu queria. – Jenner respondeu, olhando para ele - Eu fiz uma promessa a ela. – Ele se levantou e apontou para a ela - Minha esposa.

— O indivíduo de teste 19 era a sua esposa? – Lori perguntou surpresa

— Ela implorou para que eu continuasse o quanto eu pudesse. - Jenner explicou, ao fundo, Daryl continuava batendo com o machado na porta de saída - Como eu poderia dizer não? Ela estava morrendo. Era para eu estar naquela mesa. Eu não importava para ninguém. Mas ela foi uma perda para o mundo. Ela dirigia esse lugar. Eu só trabalhava aqui. Na nossa área, ela era uma Einstein. E eu? Eu sou só Edwin Jenner. Ela poderia ter feito algo sobre isso. Eu não.

— Sua esposa não teve escolha. - Rick lhe disse - Você tem. É só isso que queremos. Uma escolha, uma chance.

— Deixe-nos tentar o máximo que pudermos. – Lori pediu e Jenner virou para olha-la quando ela falou

— Eu falei que a parte de cima está fechada. – Jenner respirou fundo antes de nos dizer - Não posso abrir.

Ele passou por nós e caminhou até um dos computadores e digitou algo em um painel, passou seu cartão e aí a porta se abriu.

— VAMOS! – Daryl gritou, nos chamando

Eu não esperei nada e corri em direção a porta, pegando a minha mochila de sobrevivência do chão e corri até ele. Me virei e esperei os outros virem até nós e  Rick, o qual estava se despedindo de Jenner foi um dos últimos.

— EI. – Glenn gritou para os que ainda estavam longe da porta – TEMOS QUATRO MINUTOS. VAMOS!

— Vamos. – T-Dog puxou Jacqui – Vamos.

— Não. – Ela negou, se afastando dele – Não. Eu vou ficar. Eu vou ficar, querido.

— Mas isso é loucura! – T-Dog disse a ela, logo em seguida

— Não, - ela negou – é completamente sano. Pela primeira vez há muito tempo. Não vou terminar como o Jim e Amy. Não é hora de discutir. É inútil. Não se vocês quiserem sair. Vão embora. Saiam daqui.

Senti alguém me puxando pelo braço e vi que Glenn estava me arrastando com ele, em passos largos. Quando Shane conseguiu trazer T-Dog junto nós esperamos por Dale e Andrea, mas Dale nos mandou ir e nós obedecemos, meio relutantes, mas obedecemos. Como o prédio estava sem luz, tivemos que subir as escadas correndo, com a ajuda de lanternas para não cairmos. Ao chegar no andar térreo do CCD, nos deparamos com as portas fechadas, T-Dog foi o primeiro a tentar abri-las a força, mas não conseguiu.

— Abram a porta!

— Vamos!

Mesmo sabendo que não adiantaria, corri até o aparelho grudado na parede e digitei senhas que utilizávamos no exército, desde as normais às confidenciais e nenhuma delas adiantou.

— Eu não sei nenhuma! – Avisei alto – Não usam nossas senhas!

Daryl e Shane correram com os machados até o vidro e bateram nele, mas ao invés de causar algum dano, descobrimos que os vidros eram feitos para aguentar bastante dano. T-Dog correu até a recepção e pegou uma cadeira, ele avançou até a parede e começou a atacar a cadeira no vidro, mas mesmo assim não adiantava.

— Dog, abaixe-se. – Shane pediu, depois de destravar uma escopeta e ir andando em passos largos em direção ao vidro – Abaixe-se.

Quando T-Dog saiu de perto, Shane atirou e o vidro trincou, mas claramente iria precisar de muito mais para quebrar por completo.

— Não quer quebrar? - Sophia perguntou e mesmo para uma criança, ela sabia que estávamos em maus lençóis

— Gabriela, - Carol me chamou, enquanto remexia em sua bolsa e vinha até mim – tenho uma coisa que pode ajudar.

— Carol, - Adrian a chamou nervoso – eu não acho que lixa de unha vai adiantar agora.

— Quando eu lavei o seu uniforme, achei isso no seu bolso. – Carol disse, enquanto me entregava uma granada

— Jesus. – Murmurei enquanto pegava a granada e dava alguns passos para trás, meio perplexa – Saiam de perto. SAIAM.

Enquanto eu corria em direção ao vidro, os outros correram para o lado oposto, ao chegar perto o suficiente do nosso alvo, me abaixei e tirei o pino da granada com cuidado, a deixando no chão, armada. Eu corri em direção ao grupo e pulei o degrau, mas mesmo estando a bons metros da granada, a explosão me pegou e senti meu corpo sendo jogado no ar, mas ainda bem que a queda não foi muito grande, pois teria me machucado. Me levantei com a ajuda de Glenn e mesmo um pouco tonta peguei de volta a minha mochila e me deixei ser levada por eles, enquanto meus sentidos retornavam.

Ao sairmos do CCD, corremos e matamos os poucos caminhantes que estavam no nosso caminho antes de entrar cada um no carro que pertencíamos. Fechei a porta da caminhonete e encolhi no banco, me preparando para a explosão. Daryl entrou logo em seguida, batendo a porta quando a fechou e respirou alto, cansado.

— Olha só aquilo. – Ele resmungou, enquanto procurava a chave do carro no porta luvas e olhava para o prédio do CCD

Eu olhei para o prédio, escutando o barulho da buzina enquanto Dale e Andrea atravessavam o gramado correndo e se esconderam atrás de uma barricada, foi aí que eu abaixei a minha cabeça e senti tudo tremer, um vento passou por nós e o barulho da explosão ainda soava.

Quando tido ficou calmo e só podíamos escutar o barulho das chamas, levantei a minha cabeça, olhando diretamente para o estrago. Como esperado, o prédio estava todo destruído e coisas próximas a ele também estavam pegando fogo.

Estava uma bagunça.

— Você está bem? – Perguntei a Daryl, voltando meu olhar para ele

— É. – Ele murmurou, balançando a cabeça positivamente, com os olhos fixos no prédio destruído do CCD – E você?

— Estou.

Quando o carro a nossa frente acelerou, Daryl ligou a caminhonete e o seguiu, limpando o suor do rosto com um dos braços. Ele deu meia volta e seguiu a caravana de carros, com o jipe de Shane atrás de nós.


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Notas finais do capítulo

Esse é o final da primeira temporada.
Obrigada por ler, logo posto a segunda temporada.



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