TWD - Primeira Temporada escrita por Gabs


Capítulo 9
Sete


Notas iniciais do capítulo

"A câmera, ela se mexeu"



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Quando amanheceu, juntei todas as minhas coisas e coloquei na mochila novamente, guardei-as no trailer de Dale com sua permissão e fiquei com apenas o necessário, meus coldres, pistola, munição e a faca de combate.

Era tudo que eu precisava.

Shane nos reuniu para uma última reunião antes de pegarmos estrada e a essa altura, eu já havia conseguido uma carona, pois já que não tinha carro e todos os outros estavam cheios, fui forçada a me convidar a dividir a caminhonete com Daryl, pois ele era o único que faria a viagem sozinho.

Bom, não mais.  

— Certo, pessoal, escutem. – Shane nos disse, estava ao lado de Rick - Os que estiverem com rádio estaremos no canal 40. Vamos falar pouco, tá bom? Se tiverem problemas, estiverem sem rádio, sem sinal ou qualquer coisa assim, quero que buzinem uma vez. Isso vai parar a caravana. Alguma pergunta?

— Nós não vamos. – Morales anunciou, com as mãos no bolso

— Temos família em Birmingham. - A mulher do Morales nos explicou, olhando do marido para nós - Queremos ficar com o nosso pessoal.

— Vão ficar sozinhos, - Comentei, juntando as sobrancelhas - e não terão ninguém para proteger vocês.

— Nós vamos arriscar. - Morales nos disse – Tenho que fazer o que é melhor para a minha família.

— Tem certeza? - Rick perguntou a ele

— Já conversamos sobre isso. – Morales comentou, olhando para a sua esposa - Temos certeza.

— Tudo bem. - Rick concordou e depois olhou para o amigo - Shane...

Shane concordou e entregou uma pistola para Morales, junto com a metade de uma caixa de munição.

Depois de nos despedirmos, fomos cada um para o carro que usaríamos e demos início a nossa viagem. Antes de entrar no banco do motorista, Daryl checou se a moto estava bem presa na caçamba da caminhonete. Nós dois só trocamos palavras quando ele me fez parar de batucar as unhas na porta do carro e de resto, apenas ficamos em silencio. Soube depois de procurar Merle em Atlanta que Daryl Dixon não era bom com palavras e por isso, nem comentei coisas que comentaria com Glenn, coisas como “O céu até que está bonito para um dia de merda desse”.

Depois de um bom tempo, fechei meus olhos e me permiti tirar um cochilo, já que provavelmente ele não me deixaria dirigir. Coloquei uma das minhas mãos entre as minhas pernas cruzadas e a outra segurei o cinto de segurança, para ele parar de raspar no meu pescoço.

Ouvi um resmungo de Daryl e abri meus olhos, notando que estávamos parando. Tirei o meu o cinto de segurança e desci do carro, quando ele parou por completo. Nós dois nos aproximamos a passos largos de onde o grupo estava, logo na frente do trailer do Dale, o qual estava saindo fumaça. 

— O que houve? - Perguntei quando cheguei perto o suficiente deles

— A mangueira. - Dale suspirou em resposta - Eu disse que nunca chegaríamos longe com essa mangueira. Disse que precisava da do caminhão.

— Não dá pra tampar o vazamento? - Rick perguntou, colocando as mãos na cintura

— É tudo o que eu fiz até agora. – Dale respondeu, balançando a cabeça negativamente - Tem mais fita adesiva do que mangueira. E não tenho mais fita.

— Estou vendo alguma coisa lá na frente. - Ouvi Shane nos avisar e o olhei, ele estava com os binóculos do outro lado do trailer – Posto de gasolina, se tivermos sorte.

— Pessoal, é o Jim! - Jacqui desceu correndo do trailer, aflita - É grave. Não acho que ele consegue mais.

Ela se afastou um pouco do trailer e ficou lá, de braços cruzados, preocupada. Era a primeira vez que eu passava por isso, ver alguém se transformar em um caminhante. E não estava sendo nada legal.

— Rick, - Shane o chamou - pode ficar e proteger o forte? Vou dirigir até lá e ver o que consigo achar.

— É. – T-Dog comentou - Eu vou com você. Vou te dar cobertura.

— Fiquem todos de olhos abertos. - Shane nos avisou – Nós já voltamos.

Rick concordou e entrou no trailer, me apoiei na lateral do trailer e suspirei cansada. A ideia de ter outros humanos por perto para defender minhas costas era muito boa e por isso, decidi continuar viagem com aquele grupo, o qual agora, era o meu.

Depois de alguns minutos, Rick saiu do trailer e só pela sua expressão facial dava para perceber que alguma coisa estava errada. Ele reuniu o grupo e começou a nos contar sobre o que era que o Jim queria e como é que ele estava.

— É o que ele disse que quer. – Rick concluiu a história, nos olhando

— E ele está lúcido? - Carol perguntou franzindo as sobrancelhas

— Ele parece estar. - Rick respondeu, apertando seu chapéu na mão - Eu diria que sim.

— Lá no acampamento quando eu disse que o Daryl poderia estar certo, e você me cortou. - Dale relembrou, balançando a cabeça negativamente algumas vezes - Você entendeu errado. Eu nunca concordaria em matar um homem assim. Eu só ia sugerir perguntarmos ao Jim o que ele queria. E acho que já temos a resposta.

— Vamos deixar ele aqui? – Shane perguntou, inconformado – Vamos embora? Cara, não sei se eu posso conviver com isso.

— Não são vocês que decidem. - Lori disse a eles e olhou seriamente para cada um de nós - Nenhum de vocês.

Ao ajudar Rick e Shane levarem Jim para além do encostamento e apoiar as costas dele em uma arvore, eu senti meu coração pesar. Nunca gostei de deixar as pessoas para trás, nem em campos de guerra e muito menos na minha vida social, eu não era assim.

Mas hoje, Jim estava nos deixando por querer.

E eu não conseguia entender.

— Ei, - Jim disse sorrindo fracamente - outra droga de arvore.

— Ei, Jim. – Shane o chamou, se inclinando levemente sob ele – Olha, você sabe que não precisa ser assim.

— Não. - Jim discordou, fechando os olhos, parecia cansado - Está bom assim. A brisa está muito boa.

— Tá bom. – Shane murmurou suspirando – Tudo bem.

Jacqui foi a primeira a se despedir, dizendo para ele não lutar contra a infecção, apenas para fechar os olhos. Rick foi o próximo, ele se ajoelhou ao lado dele e ofereceu seu revolver, mas Jim negou e disse que estava bem daquele jeito e ainda acrescentou que Rick precisaria da arma mais tarde. Dale foi o terceiro e agradeceu por Jim ter lutado por eles no acampamento. Não havia nada que eu poderia dizer, já que não o conhecia tão bem quanto os outros, apenas lhe desejei boa sorte e caminhei lentamente em direção à caminhonete de Daryl.

Tínhamos um longo caminho pela frente.

A viagem ao CCD foi repleta por um silencio estranho, acho que nem Daryl e nem eu tínhamos vontade o suficiente para falar um com o outro. Quando chegamos perto do CCD e o carro parou, evitei de olhar ao redor, pois haviam muitos soldados mortos, assim como caminhantes. O cheiro era insuportável e por isso levantei parte da minha camiseta para cobrir o nariz e a boca. Durante o trajeto até o prédio do CCD, me force ao máximo para não olhar os rostos dos militares mortos, pois sabia que acabaria reconhecendo alguns e acabaria me perguntando como foi que eles perderam desse jeito, já que tinham tanques e armas.

Que nenhum dos meus homens estejam ali...

Que meus irmãos não estejam ali. 

Que Harris e Anderson não estejam ali.

Ao chegar nas portas do CCD, nós tentamos abri-las, mas estavam fechadas e não pareciam que tinham sido abertas recentemente.

— Nada? – Rick nos perguntou, ao também tentar abrir uma das portas

Nós lhe demos respostas negativas e Shane bateu com o punho nas portas com força, várias vezes, causando um barulho alto.

— Não tem ninguém aqui. - T-Dog observou, franzindo os lábios

— Então, - Rick disse, se virando para ele - por que as portas estão fechadas?

— CAMINHANTES!

Ao escutar o grito de Daryl, olhei para a direção que ele olhava, me arrependendo no mesmo instante. Era um caminhante militar. Fiz um gesto com a mão para eles e puxei a faca do coldre, caminhando a passos largos em direção ao caminhante e perfurando a sua cabeça assim que tive chance. O caminhante caiu no chão e eu lhe disse algumas palavras em um tom baixo, as mesmas que dizíamos quando um companheiro militar morria em combate, em seu enterro.

— Você trouxe a gente para um cemitério. – Ouvi a voz de Daryl dizer alto, ele estava tão bravo quanto do dia que lhe contamos sobre Merle

Eu me virei e caminhei rápido até eles, vendo que Dale havia se metido na frente do caipira o impedindo de ir até Rick.

— Ele tomou uma decisão! – Dale dizia, defendendo o policial

— Foi uma decisão errada! – Daryl lhe disse, tão alto quanto antes

— Cala a boca. - Shane foi para cima de Daryl e o empurrou para trás, com força - Está me ouvindo? Cala essa boca. Cala a boca. – E depois se virou para Rick – Esse é um beco sem saída.

— Pra onde nós vamos? – Carol perguntou alto, aflita

— Está me ouvindo? – Shane perguntou ao Rick – Sem culpa.

— Ela está certa. - Lori disse, concordando com a Carol – Não podemos ficar tão perto da cidade depois que escurecer.

— Fort Benning. – Shane nos disse - Rick, ainda é uma opção.

— E como iremos? – Perguntei para ele, passando a mão nervosamente no cabelo - Sem comida, sem combustível. São 160 quilômetros!

— 200 quilômetros, - Glenn me corrigiu logo em seguida - eu chequei o mapa.

— Esqueçam Fort Benning. – Lori falou alto, estressada - Precisamos de uma resposta agora!

— Vamos pensar em alguma coisa! - Rick nos assegurou, ele estava visivelmente atordoado

— Anda. – Daryl nos apressou para irmos embora – Vamos.

— Vamos embora! – Shane mandou, fazendo gestos para o grupo entrarem no carro – Vamos andando.

Olhei indecisa para Rick por alguns segundos, enquanto os outros se afastavam com a ajuda de Shane e Daryl e no momento que decidi fazer o mesmo, Rick disse em um tom alto, chamando nossa atenção.

— A câmera, - Eu me virei para olha-lo – ela se mexeu!

— O que? – Perguntei juntando as sobrancelhas

— Você está imaginando. – Dale lhe disse, balançando a cabeça negativamente

— Ela se mexeu. – Rick afirmou, dando passos largos até a parede onde uma pequena câmera de segurança branca estava – Ela se mexeu.

— Rick, - Shane se aproximou dele – isso já era, cara. É uma câmera automática. Ela só virou, tá bom? Ela ficou sem energia. Vamos embora.

— Não, - Rick negou - não vamos.

— Cara, me escuta. – Shane disse alto, para ele, o segurando pelo braço e o puxando para trás – Olha só para esse lugar. Está morto, tá bom? Está morto. Você precisa deixar isso pra lá, Rick!

Rick se soltou dele e voltou a se aproximar da câmera e das portas, ele bateu nas portas com mais força do que Shane havia batido momentos antes.  

— RICK NÃO TEM NINGUEM AI! - Lori gritou para o marido

— EU SEI QUE VOCÊ ESTÁ AI. – Rick berrou para a câmera - SEI QUE VOCÊ PODE ME ESCUTAR! POR FAVOR, ESTAMOS DESESPERADOS! POR FAVOR, NOS AJUDE. TEMOS MULHERES, CRIANÇAS, NÃO TEMOS COMIDA E ESTAMOS COM POUCA GASOLINA!

Lori correu até o seu marido e tentou faze-lo parar de gritar, mas ele não parava. Ouvi Shane nos dizer para ficar de olhos abertos e me virei, vendo que havia vários caminhantes se aproximando de nós, atraídos pela gritaria. Shane foi até Rick e começou a arrasta-lo para longe da porta, enquanto ele gritava “Está nos matando” para a câmera. Mas aí algo aconteceu, houve um pequeno estalo na porta e ela se abriu, deixando uma luz branca e muito clara sair. Todos nós paramos surpresos e ficamos alguns segundos sem saber o que fazer, a luz diminuiu e nós nos aproximamos, para atravessar a porta.

— Daryl, - Rick o chamou, empunhando a espingarda enquanto adentrávamos no lugar - você cobre a retaguarda.

— Olá? – Arrisquei, dando passos largos para dentro do CCD – Olá!

— Vigiem as portas. – Dale pediu - Vigiem os caminhantes!

Glenn apontou a sua escopeta para algo além de nós e eu me virei, copiando o seu gesto com a minha pistola. Um homem de camisa branca estava apontando uma metralhadora para nós.

— Alguém infectado? – O homem nos perguntou, alto

— Um do nosso grupo estava. - Rick respondeu da mesma forma – Ele não sobreviveu.

O homem de branco se aproximou lentamente, parecia ter ficado satisfeito com a resposta.

— Por que estão aqui? – O homem nos perguntou - O que querem?

— Uma chance. – Rick respondeu

— Isso é pedir muito nesses dias. – O homem comentou

— Eu sei. – Rick concordou

O homem nos olhou atentamente, cada um de nós, nos avaliando.

— Todos terão de fazer exame de sangue. – Ele nos disse - É o preço da admissão.

— Podemos fazer isso. - Rick afirmou com a cabeça

— Se tiverem coisas para trazer, faça isso agora. - Ele disse vindo até nós, apontando para a porta - Quando essa porta fechar, vai ficar fechada.

Glenn, Rick, Shane e Daryl foram os que buscaram as nossas coisas nos carros e assim que voltaram, Dale e T-Dog fecharam as portas. O homem passou um cartão no dispositivo de segurança e fechou a porta, mas em seguida disse: “Vi, sele a entrada principal. Desligue a força do setor.”. Então podia ter outra pessoa na instalação.

— Rick Grimes. - Rick se apresentou ao homem, estendendo a mão

— Dr. Edwin Jenner. - O cara se apresentou, sem tocar na mão de Rick

Em seguida, ele nos levou até um elevador de grande porte, assim todos nós podemos ir juntos. Estávamos descendo, subsolo.

— Os médicos sempre andam armados assim por aqui? – Daryl perguntou ao Jenner, com um tom de voz desconfiado

— Ficaram muitas armas sobrando. – Jenner lhe respondeu, olhando para trás - Já me familiarizei com elas. Mas vocês parecem inofensivos. Exceto você. – Indicou Carl coma cabeça, sorrindo para o menino - Vou ter que ficar de olho em você.

Notei que um pequeno sorriso tímido se formou nos lábios do garoto e Jenner pareceu ter gostado disso.

— Me diga, que batalhão estava cuidando desse lugar? – Perguntei ao Dr. Jenner, mostrando grande interesse no meu tom de voz

— Não sei ao certo. – Ele me respondeu, me olhando – Por que?

— Quero ter certeza de que não foi o meu batalhão que falhou miseravelmente nessa missão. – Respondi crispando os lábios – Sou a Primeira-Tenente Lopes, Chefe da Infantaria do Fort Benning. – Me apresentei formalmente

— Lopes? – Ele repetiu o meu sobrenome, pensativo – Um dos soldados que estavam aqui comentou que o General Lopes havia mandado  eles.

— O Segundo-Tenente Harris passou por aqui? – Perguntei novamente, um tanto quanto ansiosa – Jason Harris, Sam Anderson ou qualquer um dos Lopes, Chefe dos Blindados ou...

— Não. – Ele interrompeu, balançando a cabeça negativamente – Se passaram, estavam lá fora, não tive contato com eles.

Eu não perguntei mais nada, apenas esperei em silencio o nosso andar chegar, e assim que a porta se abriu, nós saímos e seguimos Jenner por um longo corredor branco.

— Estamos no subsolo? - Carol perguntou ao Doutor

— Você é claustrofóbica? - Dr. Jenner perguntou a ela, dando uma leve olhada para trás

— Um pouco.

— Tente não pensar nisso. - Ele pediu, não parecia mesmo interessado no assunto

Continuamos seguindo Jenner pelo corredor até chegarmos no final, em uma sala redonda e larga, estava escuro.

— Vi, - Jenner chamou alto, enquanto descíamos a rampa que conectava a sala com o corredor - acenda as luzes da sala grande. – Quem quer que tenha acendido, iluminou todo o lugar, mostrando uma sala com computadores - Bem-vindos a zona 5.

— Onde está todo mundo? - Rick perguntou, enquanto seguíamos Jenner até o centro da sala - Os outros médicos, funcionários?

— Só eu. - O Dr. Jenner respondeu, se virando para nos olhar - Só sobrou eu aqui.

— E quanto à pessoa que estava falando? - Lori perguntou a ele - A Vi?

— Vi, - Jenner chamou novamente - diga oi aos nossos convidados. Diga a eles, bem-vindos.

— Olá convidados, - uma voz feminina e eletrônica soou - bem-vindos.

— Sou só o que sobrou. - Jenner explicou suspirando - Sinto muito.

Passei a mão no cabelo e resmunguei palavrões baixos. Não acredito que eu estava com tanta vontade que tivesse outras pessoas nesse lugar ao ponto de imaginar que uma inteligência artificial fosse um ser humano.

Jenner nos levou para tirar sangue em um auditório e fizemos uma fila, deixei com que todos fossem na minha frente e quando não consegui adiar mais, me sentei na cadeira em frente a Jenner. Ele amarrou um elástico no meu braço e trocou a seringa e a agulha. Fiz uma leve careta quando a agulha entrou na minha veia, mas isso foi tudo.

Nada de showzinho, como Harris costumava dizer ao me ver tirar sangue.

— Por que temos que fazer isso? - Perguntei ao Jenner, ao ver ele segurando o meu frasco de sangue - Se estivéssemos infectados estaríamos ardendo em febre.

— Já quebrei todas as regras do manual deixando vocês entrarem aqui. – O Dr. Jenner comentou - Deixe-me pelo menos ser cuidadoso. Já terminei tenente.

Concordei com a cabeça e coloquei o algodão na dobra do meu braço, em cima da veia que ele tirou o sangue. Me levantei e fechei os olhos, quando vi a sala rodar. Senti alguém segurando no meu braço e abri um dos olhos, vendo que Glenn me olhava preocupado, mesmo já sabendo o que tinha acontecido.

— Está bem? - O Doutor me perguntou

— Ela não come há dias. - Jacqui explicou, sentada do outro lado do auditório junto com os outros - Nenhum de nós come.

Ao terminar os exames, Jenner nos convidou para um jantar. Na minha cabeça, seria algumas rações militares ou comida enlatada, mas quando chegamos a sala de jantar, nos deparamos com uma mesa farta e vinhos. Depois de passar dias sem comer direito, ter uma mesa dessas me fez lembrar de como era os meus Natais em família, onde nos reunimos a cada ano em uma casa diferente. A conversa na mesa estava engraçada, não sei se pelo fato de eu estar meio bêbada ou por causa que os assuntos eram aleatórios. Nem lembrar de quantas taças de vinho que eu tinha tomado eu conseguia lembrar, apenas sabia que se eu deixasse a taça vazia em cima da mesa, alguém encheria para mim com um sorriso nos lábios. Desta vez, Dale se encarregou de encher as taças vazias.

— Sabe na Itália, as crianças tomam um pouco de vinho no jantar. - Dale disse após entregar mais uma taça de vinho para Lori - E na França.

— Bom, quando o Carl estiver na Itália ou França ele vai poder tomar. - A Lori comentou, enquanto uma mão tampava o copo do filho impedindo que Dale o enchesse e com a outra segurava o seu vinho recém colocado

— Não vai fazer mal. – Rick disse a ela, rindo – Vamos. Vamos.

Com os nossos incentivos, Lori deixou com que seu filho experimentasse um pouco de vinho, mas como o esperado, ele cuspiu a bebida de volta no copo, com seu rosto se contorcendo em nojo.

E isso arrancou nossas risadas.

— Esse é o meu garoto. – Lori disse orgulhosa, passando a mão nas costas do seu filho - Esse é o meu garoto.

— Tem um gosto ruim. - Carl comentou, balançando a cabeça negativamente enquanto colocava a língua para fora

Rick bagunçou o cabelo do seu filho, também rindo da reação dele ao vinho.

— Bom, - Shane disse rindo - continue com a sopa então, rapaz.

— Você não, Glenn. - Daryl disse ao coreano, pois ele estava olhando muito para a garrafa de vinho que estava em suas mãos e não tinha tomado quase nada até agora

— O que? - Glenn perguntou rindo, olhando para nós

— Continua bebendo, rapazinho. - Daryl lhe disse, logo em seguida - Quero ver sua cara bem vermelha, igual à da Gabriela.

Todos riram quando eu dei um tapa em seu braço, resmungando em protesto. Mas sim, eu deveria estar meio vermelha e muito boba. Daryl riu também e encheu ainda mais a minha taça de vinho, com o vinho que ele estava bebendo no gargalo.

Rick deu algumas batidinhas com a faca em sua taça, para chamar a nossa atenção e se levantou em seguida.

— Eu acho que não agradecemos nosso anfitrião devidamente. – O policial comentou, olhando de nós para Jenner

— E ele é mais do que nosso anfitrião. - T-Dog afirmou, erguendo sua taça e todos nós copiamos seu movimento, erguendo nossas bebidas

— Saúde. – As nossas vozes se misturaram, e brindamos um com os outros

— Saúde a você, doutor. - Daryl disse alto, erguendo sua garrafa – Buía.

— Buía!

Novamente nossas vozes se misturaram e rimos no final da palavra.

— Obrigado. – Jenner agradeceu, erguendo levemente seu vinho e depois o tomou

— E então, - Shane disse, meio sério - quando vai nos contar o que aconteceu aqui, doutor? - Ele perguntou e nós ficamos em silencio – Todos os outros médicos que eram para tentar descobrir o que aconteceu. Onde eles estão?

— Estamos comemorando, cara. - Resmunguei amarga – Por que você é tão pé no saco?

— Não precisamos fazer isso agora, Shane. - Rick falou para ele

— Espera um pouco. – Shane pediu, balançando a cabeça negativamente - É por isso que estamos aqui, não é? - Ele perguntou - Foi sua decisão para nós acharmos as respostas mas acabamos achando ele. Achamos apenas um homem. Por quê?

— Bom, - Jenner começou a explicar - quando as coisas ficaram ruins muitas pessoas foram embora. Foram ficar com suas famílias. E quando as coisas pioraram, quando os Militares foram aniquilados o resto fugiu.

Crispei os meus lábios e fechei os olhos por alguns segundos, passando a mão no rosto. Shane devia estar se divertindo em mostrar que Rick não estava de todo certo.

— Todo mundo fugiu? - Shane perguntou para ele, com um tom de voz zombeteiro

— Não, muitos não tiveram coragem para sair pela porta. – Jenner lhe respondeu, sério - Eles desistiram. Teve uma onda de suicídios. Foi uma época ruim.

— Você não saiu. - Andrea comentou, olhando para ele – Por quê?

— Eu fiquei trabalhando. – Jenner respondeu – Esperando. Fazer algo de bom.

— Cara, - Glenn disse se levantando, olhando para Shane - Você é um estraga prazeres.

Quando o jantar terminou e a maior parte do clima pesado passou, Jenner nos levou para conhecer o lugar que poderíamos dormir.

— A maior parte da instalação está desligada. – Jenner nos explicava, enquanto o seguíamos pelo corredor - Incluindo o alojamento, então, terão que se virar aqui. Os sofás são confortáveis, mas há camas nos depósitos se quiserem. Tem uma sala de recreação no fim do corredor, - ele parou de andar e nos olhou, enquanto apontava levemente para o final do corredor - seus filhos vão gostar. Só não liguem os vídeos games, tá bom? - Ele perguntou para as crianças, as quais assentiram - Ou qualquer coisa que consuma energia. A mesma coisa ao tomar banho. Maneirem na água quente.

Ao ver que Jenner saiu de perto de nós e entrou em uma das salas, Glenn olhou para nós, seus olhos arregalados de surpresa.

— Água quente? – Glenn perguntou e sorriu, como uma criança

— Foi o que o homem disse. - T-Dog concordou

Um riso alto escapou da minha garganta e eu corri para um dos cômodos, largando minha mochila no chão e fechando a porta com o pé, enquanto tentava o melhor que podia tirar minhas roupas e andar o rápido que conseguia em direção ao banheiro e quando me tranquei nele, tirei minha lingerie, olhando ansiosamente para o chuveiro.

Mesmo sabendo que eu não podia demorar muito no banho, aproveitei cada segundo, lavei meu cabelo com shampoo e passei condicionador. Durante os primeiros minutos do meu banho, pude jurar que havia escutado algo no cômodo que seria o meu quarto, mas não dei muita bola.

Antes de sair do banheiro, me enrolei em uma toalha e fui escovar bem os dentes, aproveitando que havia uma escova nova ali. Ao sair do banheiro, tive uma surpresa não muito agradável, Daryl Dixon estava sentado no sofá, bebendo, com um colchão perto dos seus pés. Ele percebeu que o banheiro havia ficado vazio e se levantou, passando por mim. Antes dele fechar a porta do banheiro, escutei “Os outros quartos estão cheios e aquele colchão é meu” como desculpa e aviso.

Na hora, não me importei muito, já que era melhor tê-lo como colega de quarto do que Adrian e apenas fui até a minha mochila e coloquei minha roupa de dormir, a mesma que eu costumava usar no Fort Benning quando dormia lá. Um top preto e um short camuflado, meio largo nas pernas. Quando terminei de me trocar, fui arrumar a minha cama, o sofá. Peguei um lençol em um armário próximo e o estendi no sofá, seguido por um edredom e um travesseiro.

Me joguei no sofá e percebi que ele era realmente confortável, considerando que antes eu dormia em sacos de dormir dentro de uma barraca, ou, até recentemente em um banco de carro. Não tinha passado nem cinco minutos que eu estava tentando achar uma posição boa para dormir quando Daryl saiu do banheiro, junto com o vapor de água quente, denunciando que ele também havia tomado banho, mas não havia necessariamente trocado de roupa, apenas de camiseta. Observei ele indo até o colchão e o chutando para longe de mim, enquanto dava outro gole na garrafa de vinho.

— Aonde foi que você pegou esse cobertor? – Ouvi ele perguntando, sua voz estava arrastada e embargada, provavelmente estava mais bêbado do que eu estava

Apenas apontei para o armário como resposta e o vi caminhar até ele, o abrindo, quando pegou as coisas que precisava, jogou-as em cima do colchão. Eu soltei um riso baixo quando o vi ajeitar o lençol no colchão, ele estava fazendo um bom trabalho consideravelmente bom com aquilo.

— Se eu soubesse que você arrumava tão bem as camas, - Eu disse rindo, olhando para ele - já teria te contratado para arrumar a minha.

— Você não está me ajudando. – Ele resmungou, de costas para mim

— Claro que não. – Concordei com um sorriso nos lábios, enquanto me sentava para ver aquela cena melhor – Não sou tão boa nisso quanto você.

— Cala essa boca.

Ao escutar um riso meu em resposta, ele tomou mais um gole de vinho e se levantou abruptamente. Ergui uma sobrancelha quando o vi se virar e caminhar até mim, parando apenas quando estava na minha frente. Eu me levantei em dúvida  e quase consegui perguntar o que ele queria quando recebi uma resposta imediata. Daryl me agarrou pela cintura com agressividade e me puxou para si no mesmo segundo, a velocidade com que seus lábios grudaram nos meus me fez sentir um pouco de dor. Mas mesmo surpresa com a atitude dele, deixei com que ele conduzisse o que quer que estivesse planejando ou o que a bebida estivesse mandando. Daryl apertou a minha cintura com força enquanto aprofundava o beijo e eu me vi desabotoando sua camiseta, fazendo o melhor que eu podia por causa da pouca distância que nossos corpos estavam.

Quando todas as peças de roupas estavam no chão, me deixei ser conduzida para o seu colchão no chão e mesmo antes agindo com agressividade, ele me deitou com gentileza e ficou por cima de mim, pressionando nossas barrigas.

Nós paramos de nos beijar para respirar e nos encaramos durante o pequeno processo. Os olhos claros de Daryl pareciam estar faiscando.

Mesmo sabendo que não faríamos aquilo se não estivéssemos completamente bêbados e carentes, eu o beijei com força, imitando o seu jeito agressivo de ser.

 


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Notas finais do capítulo

Nunca sei como concluir momentos como esse e por isso costumo escrever só o começo e deixar com que a imaginação corra solta.

Mas bem, aprendemos algo nesse episódio: Nunca abuse de bebidas.



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