Nem Tudo é Ganância escrita por Bianca Raynor


Capítulo 6
♕ Capítulo Seis ♛




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Minha cabeça dói. Como se tivesse sido pisoteada por um cavalo. Será que foi isso que aconteceu? No momento, estou com receio de abrir os olhos e ver tudo rodando. Já tive essa experiência quando estava aprendendo a cavalgar e não é nada agradável – estava tão ansiosa para subir em Winter que após dois galopes escorreguei no lombo e acabei passando semanas de castigo.

Minhas pálpebras tremem quando tento erguer as pestanas. Sinto a presença de alguém se aproximando, porém, quando consigo abrir os olhos tudo ao meu redor está desfocado.

Sei que cai de Winter, que possivelmente me abandonou e saiu a galope. Muito obrigada, Winter! Antes de cair pude ouvir uma voz conhecida, no entanto, quero ter certeza que minha mente não está me pregando peças.

Em meio a luta para tentar enxergar com clareza, as lembranças das palavras que seguiram-se a esses acontecimentos inundam a minha mente. Como a amor da minha vida me propôs algo tão sórdido? Tinha ideia de nossos planos contra o homem que me terá em matrimônio. Todavia, são os meus pais. O meu porto seguro acima de tudo que desejo. Jamais permitiria tal ato. Era doloroso pensar, entretanto – talvez –, Juan não me conhecesse como almejava.

Agora, com toda certeza estou a pé. Winter se assustou com a pessoa que entrou a nossa frente e saiu galopando, possivelmente, para casa. Sei que estava errada em sair às pressas pelas as estradas, no entanto necessitava do acalentar de meus pais. Eles são a minha segurança, tanto em dias bons como ruins.

Finalmente, minha visão começa a se tornar clara e vejo lampejos do céu acinzentado. Giro os meus olhos para o ambiente e encontro o ser que trombou comigo. No qual está com os olhos arregalados.

É ele. O rei.

Quase não posso acreditar, até pisco para ter certeza do que está diante dos meus olhos. Contudo, essa é a confirmação de que meus ouvidos não estavam errados, me deixando surpresa por reconhecer a sua voz.

— A senhorita está bem? — indaga com uma expressão preocupada.

— Poderia me ajudar a sentar? — não o respondo, porém, creio que é o suficiente para demostrar que estou consciente.

— Claro.

Ele se ajoelha. Quando sua mão toca as minhas costas, uma sensação quente se espalha pelo o meu corpo, desfazendo a tensão que não tinha ideia que estava formada sobre mim. Estou sem equilíbrio, com isso, Thomas descansa as minhas costas em um de seus braços.

— Não me respondeu.

Olho ao meu redor. Graças aos céus não caí na lama, mas sim na terra seca. Torno os meus olhos para Thomas e noto que estou vendo dois dele. A queda deve ter sido pior do que imaginei. Não me recordo de ter tido essa visão dupla em nem uma das quedas que tive.

— Tommy — digo baixinho e imediatamente arregalo os olhos. Tento recordar a maneira que deveria chamá-lo, porém minha mente parece oca. Por Deus, de onde saiu esse nome? É sabido que o nome dele é Thomas, contudo porque eu estaria chamando-o dessa forma? Talvez, a queda tenha danificado algum parafuso na minha cabeça. Todavia, a lembrança de nosso primeiro encontro me faz perceber que é provável que, simplesmente, não consiga raciocinar de forma correta estando próxima dele. Não faço ideia do porquê, pois não sinto nada por esse homem.

Thomas dá uma gargalhada, fazendo com que erga minha sobrancelha. Há um sorriso de orelha a orelha em seu rosto.

Por que está sempre sorrindo?

— Bem... Essa não é a resposta que esperava. Contudo, achei interessante a forma que me chamou. — Ele coloca a mão no queixo — Tommy — testa o apelido.

Minhas bochechas ardem e minha educação aflora em meu peito, entretanto, ignoro-a. A parte arrogante que vive em mim se recusa a corrigir a falta de formalidade.

— Ainda não me disse se está bem — Thomas afirma, deixando-me aliviada pela mudança de assunto. E mais uma vez, sua expressão preocupada toma o rosto angelical, assim como sua voz.

— No momento estou vendo dois do senhor.

Sinto o seu corpo ficar tenso.

— Receio que não é um bom sinal. Tenho de levá-la ao médico.

— Não é necessário.

Me desfaço de seus braços e tento me levantar. Todavia, falho miseravelmente. Meu corpo cabalei e sou socorrida pelos braços fortes do rei.

— Temo que sim — ele afirma.

Mordo o lábio.

— Não seria necessário, caso não tivesse assustado Winter! — exclamo, formando um sorriso com o canto dos lábios.

Um sorriso tímido se forma em seu rosto. Ele ergue a mão para coçar a nuca. O gesto é comum, entretanto encantador.

— Bem... Não tenho culpa se estava cavalgando com tanta pressa — murmura. Os seus ombros relaxam consideravelmente.

— Peço desculpas por isso, Majestade.

Não tenho como fazer uma reverência, no entanto, ainda consigo falar com educação.

A expressão no rosto do rei se fecha.

— Preferia quando me chamava de Tommy.

Franzo o cenho. Qual o problema dele? Ele é o rei. Deveria ser o primeiro a desejar respeito de seus súditos. Todavia, parece bastante chateado com a formalidade.

— Por que prefere que o chame assim?

Seus olhos brilham com a pergunta.

— Porque me torna mais humano. Todos são cheios de reverências e me tratam como um deus — Thomas solta um suspiro. — Para começar, deveria começar a governar o país agora, contudo estou no poder há cinco anos. — Ele balança a cabeça, morde o lábio e resolve mudar de assunto — Consegue ficar de pé?

E mais uma vez a voz preocupada volta a tocar os meus ouvidos.

Me concentro em minha visão, e finalmente me sinto segura para ficar de pé. Então, aceno em resposta. No entanto, necessitarei da ajuda de Thomas para andar.

— Posso ficar de pé, mas creio não poder andar. Minha visão continua turva.

Ele me ajuda a levantar. Fico feliz de ter sido Thomas a me encontrar. Uma pergunta se forma em meus pensamentos. Ele não me indagou o porquê de estar chorando, pois as lágrimas ainda estão visíveis. Posso sentir a umidade em minhas bochechas.

Talvez esteja receoso.

— A levarei ao médico.

Ele descansa minhas mãos sobre a pelagem branca de seu cavalo para que possa me sustentar. Olho por cima do ombro e noto que minha capa se foi. Analiso o ambiente e vejo-a sobre uma poça de lama, Thomas pega-a.

— Não poderá usá-la, está toda suja.

Ele descarta a capa e agradeço por isso, no estado em que está, nem mesmo uma lavagem no rio resolveria.

Thomas retira sua capa e descansa sobre os meus ombros. Não questiono-o. Preciso de mimos nesse momento. Meu coração ainda dói, entretanto não há mais lágrimas ameaçando rolar pelas maçãs do rosto. Esse homem que nem ao menos conheço me trata tão bem. Se Juan não tivesse feito a besteira que fez poderíamos seguir com o plano e seria tratada como uma princesa. Não, não. Seria tratada como uma rainha.

Thomas me coloca em seu cavalo e sobe em seguida. A proximidade é assustadora. Nunca fiquei tão próxima de um homem, a não ser por Juan. Céus. Tenho que parar de pensar nele. Talvez seja bom me casar com esse homem. É bastante atencioso e gosto disso.

Ele coloca os braços a minha volta e prendo a respiração.

O que é isso que estou sentindo? Estou...Nervosa.

Franzo a testa e volto a respirar. Meu coração começa a acelerar. Não entendo essa mudança súbita no meu corpo. Devo estar com medo.

Ele também está nervoso. A tensão voltou a reinar sobre os seus ombros.

— Não quero ser inconveniente — ele quebra o silêncio e meu corpo relaxa. — Mas por que estava chorando? Digo... A senhorita estava chorando antes de cair.

Paraliso.

Havia ficado aliviada a toa. Aqui está ele, me perguntando o que temia. Preciso de uma boa mentira. Contudo, como previa, minha mente me deixa em maus lençóis e não parece funcionar como deveria. Tantas mentiras que inventei nos últimos anos, a maioria construída sob pressão, no entanto, aqui estou, completamente perdida.

O que acontece comigo quando estou perto dele?

— Estava sentindo dor de cabeça.

É uma péssima mentira, porém, é tudo que tenho.

— Estava?

Será que ele acreditou em mim?

— É, parece que ela se foi... — xingo-me internamente. — Desculpe.

— Tudo bem.

Um silêncio constrangedor toma o espaço entre nós.

— Onde mora? — Thomas questiona.

— Logo depois do palácio.

Outro silêncio se forma, no qual toma o resto do caminho. Entretanto, esse não é constrangedor. Assim que chegamos ao portão do palácio, os guardas o abrem e Thomas guia o cavalo para a propriedade real.

— Por que estamos aqui? — indago confusa. Pensei que iriamos ao encontro de um médico.

— A senhorita precisa de um médico e tenho o melhor aqui. — Ele desce do cavalo e me ajuda em seguida — Segure-se no cavalo. Como está sua visão?

Suspiro.

— Ainda turva.

Três guardas vêm em nossa direção. A princípio penso ser três, no entanto, quando eles estão a alguns passos de nós vejo seis homens.

— Majestade. — Eles se curvam em reverência.

— Fale para Edward ir de encontro aos meus aposentos o mais rápido possível — murmura para um dos guardas que logo sai para seguir a sua ordem. Entretanto, antes faz uma reverência — Peça para as cozinheiras prepararem algo forte — se dirige ao segundo, que repete o gesto do primeiro guarda. — Leve Summer — Thomas sorri. —, e dê algumas maçãs, ele está um pouco assustado. — O terceiro e último segue as suas ordens e também faz uma reverência antes de sair. 

Nossa, isso deve ser cansativo.

— Nome interessante para um cavalo — sussurro, com um sorriso nos lábios.

Ele apenas sorri e rapidamente se aproxima de mim. Um de seus braços vão de encontro as minhas costas e outro para a região atrás dos meus joelhos, e em seguida estou em seus braços. Controlo o grito que iria romper as minhas cordas vocais. O meu coração martela no peito por causa do susto. É atencioso da parte de Thomas, ele sabe que não posso andar no estado em que estou e me proporcionou os seus braços.

Minha cabeça encosta em seu ombro e sinto um perfume maravilhoso vindo dele, mas não consigo associar a nada.

Thomas me leva para as escadas do palácio de pedra. E apesar de estar curiosa para saber como tudo é de perto e conhecer a parte interna da construção, fecho os olhos para não me sentir mais tonta. Não demora para que Thomas pare. Abro os olhos e encaro a porta de madeira escura e polida, sendo aberta por um dos guardas a postos no local. Adentramos um quarto amplo com paredes de madeira iguais a da porta. Há uma cama com dossel, está coberta por lençóis azuis, logo no final do recinto. Parece aconchegante.

Thomas me coloca sobre a cama e segue em direção as janelas para abri-las – antes, abre as cortinas que possuem a mesma cor dos lençóis.

— Onde estamos? — Tenho uma ideia de onde me encontro, porém, quero ter certeza.

Thomas olha por cima do ombro e dá um sorriso tímido. Se aproxima da cama e se senta.

— No meu quarto.

Engulo em seco.

Não deveria estar aqui. Estou no quarto de um homem que não conheço.

— Não se preocupe. Você está segura.

— Como posso ter tanta certeza? — pergunto aflita.

— Bom... Sou o rei e...

Uma batida na porta lhe interrompe, ele se levanta para abri-la. Um homem que aparenta ter a mesma idade que ele, de cabelos da cor de carvão e olhos parecidos com o céu noturno, adentra o cômodo.

— Algum problema Tom? — os olhos do homem caem sobre mim e logo se corrige. — Majestade.

— Não precisamos de formalidades, Edward — sibila rapidamente. — Preciso que dê uma olhada nela. Caiu do cavalo e a visão está turva. Talvez possa ter algo mais, então resolvi trazê-la.

Edward assume uma nova postura. Parece mais sério. Ele caminha em minha direção e senta-se ao meu lado.

— Quantos dedos tenho aqui?

Ele ergue dois dedos.

— Dois?

— Não, apenas um. Terá que repousar, dormir um pouco. Sente alguma dor?

— Não.

— Como caiu? O que bateu? — questiona.

Aponto para o lado direito das minhas costelas.

Não acredito que este homem seja um médico, ele é tão novo. Todos os médicos que conheci são velhos.

— Sente algum incomodo ou falta de ar?

— Também não.

Ele abre a caixa que havia posto em seu colo e não percebi por falta de atenção, dela ele remove um vidro e um copo. O doutor derrama a substância no copo e me entrega.

— Beba isso. — Franzo a testa — Fará a senhorita dormir por um tempo e quando acordar estará um pouco dolorida no lado onde caiu.

— Mas... — Meus pais vão ficar preocupados se demorar para chegar em casa, penso, aflita

— Não se preocupe, mandarei avisar seus pais — Thomas fala.

Como ele sabia o que estava pensando?

Pego a substância. Não sei porquê, mas confio em Thomas. Também não sei em que momento essa confiança se formou, todavia, ela parece firme como a rocha.

Meus olhos começam a pesar. Olho para Thomas.

— Obrigada, Tommy.

Logo adormeço.


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Notas finais do capítulo

Oh meu Deus! O que foi isso? Giovanna não está raciocinando perto de Thomas, o que isso quer dizer?

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Até o próximo ❤



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