Nem Tudo é Ganância escrita por Bianca Raynor


Capítulo 14
♕ Capítulo Catorze ♛




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Quando era criança o simples fato de derrubar um prato irritava mamãe, mas sempre estava em busca de conquistar seu coração. Minha mente gritava dizendo que ela não me amava, mas a situação não era assim. Ela só se sentia incapaz de dar algo que pensava ser necessário: o filho homem. Quando fui crescendo, percebi que ela me amava, só era complicado de demonstrar. Ela era a figura severa da família, ao contrário de papai que fazia todas as minhas vontades. Sempre tive medo de decepciona-los e era exatamente o que estava fazendo.

Empurro Juan. Ele se assusta, mas logo vê que algo está me apavorando.

Meus olhos estão conectados com os de mamãe e sinto vontade de chorar. Nunca vi tanta raiva em um olhar.

Juan virasse e sinto o pavor fluir de seu corpo.

Mamãe se aproxima lentamente. Seus olhos se desconectam dos meus e encontra os de Juan.

— Faça o que tem que fazer e vá embora. Não quero mais vê-lo. - sua voz esta carregada de raiva e decepção.

Acho que nunca tive tanto medo em toda a minha vida.

Seus olhos encontram os meus novamente, mas ela não fala nada. Este silêncio esta me incomodando. Me torturando.

Juan segue até Rosa e Winter. Sinto que seus olhos estão sobre mim, mas não posso desviar os meus de mamãe.

Parece que todos nós estamos batalhando com os olhos.

Juan desiste de tentar buscar meu olhar e segue para fora do estábulo. Ele perdeu essa batalha.

Sigo calada. Preciso que ela fale. Não tenho forças para montar um argumento nesse momento.

— A quanto tempo? - depois de um logo tempo de silêncio ela pergunta.

Não quero responder.

— VAMOS, FALE. - ela esta se controlando para não gritar.

— Bastante tempo. - decido responder.

Vejo a decepção crescer em seus olhos e tudo que queria era poder mudar isso, mas não posso.

— Como vocês se encontram? - pergunta, mas não me deixa responder - Deixe-me adivinhar, todas as vezes que vai a cidade vocês se encontram.

Baixo meus olhos. Perdi essa batalha.

A grande vencedora é a Senhora Lucy Lusivon.

— Você se entregou para ele? - mamãe pergunta com os olhos arregalados.

— O QUE? - falo assustada - Claro que não.

Mamãe faz uma pausa para me observar. Ela quer encontrar vestígios de uma mentira, mas não é mentira.

— O que pretende com tudo isso? Você está praticamente noiva do rei. - mamãe pergunta mexendo os braços.

— Planejavamos que me casasse com alguém e depois ficaríamos juntos. - falo suavemente.

Mamãe franze a testa em confusão.

— Ficariam juntos como amantes? - pergunta abismada.

Olho em seus olhos e respiro fundo para responder.

— Não. Nos casaríamos. - respondo.

— Mas como... - mamãe para e parece finalmente entender meus objetivos, quando finalmente volta a falar sua voz é baixa - O que você é? Um monstro?

Meu coração se parte ao ouvir isso.

— Eu criei um monstro. O que fiz de tão errado? Você saiu de dentro de mim. Sei que sou severa, mas matar. Ultrapassa todos os limites.

Lágrimas rolam sobre meu rosto.

— Eu não consigo fazer isso com ele. - mamãe franze a testa quando pronuncio essas palavras, ela espera que continue explicando - Não posso imaginar a possibilidade de mata-lo. Ele transmite sentimentos bons em mim, não consigo pensar viver em um mundo que ele não existe. Gosto dele, não sei exatamente como, mas gosto.

Mamãe me avalia.

— Então trate de esquecer aquele rapaz e aprender a amar seu futuro marido. Você se casará com Thomas e todos os dias antes do casamento você ficará debaixo da minha saia, não sairá sem ser comigo, nunca mais irá encontrar aquele rapaz. - mamãe fala.

Meu pavor aumenta com suas palavras.

Não posso viver sem Juan.

— MAS EU O AMO. - falo aos prantos.

Sinto uma queimação no lado esquerdo da minha face. Meu rosto esta virado e queimando. Toco na maçã de meu rosto. Mamãe me bateu.

Ela nunca me bateu.

— Nunca mais fale isso. Você está proibida. - sua fúria é palpável.

Estou paralisada com sua atitude. Ela nunca havia me batido.

— Agora vamos, seu pai esta nos esperando. - mamãe fala.

Ela sai do estábulo e a sigo.

Nunca mais poderei ver Juan. Nunca mais poderei ser feliz.

Há uma liteira em frente a casa. Papai deve ter alugado para nos levar até a casa nova, ele esta tão excitado com tudo isso. Ele esta selando Winter, deve querer ir nele. Rosa esta com mais um cavalo em frente a liteira, ela conduzirá. Papai nos vê e faz sinal para que nos apressemos.

— Vocês irão na liteira, vou com Winter. - fala enquanto passa o braço pelos ombros de mamãe e planta um beijo em sua testa.

— Papai, gostaria de cavalgar. - falo na esperança de fugir do desconforto da viagem.

— Claro meu bem. - ele se aproxima e beija minha testa.

Mamãe me observa, ela sabe porque pedi para ir com Winter, me conhece bem. Olho em seus olhos e vejo que a raiva já passou, só restou a decepção. Isso dói, ainda mais do que a possibilidade de ficar sem Juan. O amor que sinto por meus pais é mais profundo do que tudo, desistiria de todos os meus sonhos por eles, só para vê-los felizes. Sei que a felicidade deles vai gerar a minha.

Todas as nossas coisas já está na parte de cima e atrás da liteira.

Subo em Winter, papai e mamãe na liteira e seguimos o nosso caminho.

Estou com meu coração apertado. Parece que alguém esta tentando esmagá-lo. Tento não pensar nisso. A decepção que causei em mamãe foi grande e sem dúvidas ela irá contar para papai mais tarde. Não sei como ele reagirá, não sei o que esperar. Principalmente depois da reação de mamãe.

Estamos chegando perto do palácio. O aperto em meu peito esta maior. Pensava que a cavalgada me ajudaria a não pensar na decepção, mas parece esta tendo o efeito contrário.

— Preciso passar no palácio. - me aproximo da liteira e aviso papai.

— Para que? - papai pergunta confuso.

— Vou deixar essa capa. - falo apontando para a capa em meus ombros.

Agora esta franzindo a testa em confusão.

— Tudo bem. - concorda - Vamos esperar você na liteira.

Chegamos nos portões do palácio. Desço de Winter e meu coração se aperta mais ainda, a dor é tão grande que sinto meus olhos lacrimejarem.

— Esta tudo bem? - mamãe e papai perguntam em tom de preocupação.

Olho para eles, tento esquecer essa dor terrível.

— Está. - sorriu para os dois em troca recebo um sorriso sincero dos dois.

Mamãe esta sorrindo para mim, mesmo depois de desapontá-la. Seu sorriso diz que me ama, apesar de tudo que aconteceu. Papai como sempre irradiando alegria.

Passo um tempo observando os dois, logo depois viro-me para os portões. Há dois guardas, um de cada lado do portão, por dentro da propriedade.

— Senhorita? - um pergunta, não sei diferencia-los, se parecem muito, devem ser irmãos.

— Gostaria de ver Vossa Majestade, sou Giovanna Lusivon. - falo um poco tímida.

Eles não falam nada, apenas abrem os portões e me direcionam para dentro da propriedade e logo para o palácio. Subo as escadas do palácio e há mais dois guardas, eles tomam posição para me acompanhar, mas os impeço.

— Por favor, gostaria de esperar aqui. Vocês poderiam chamar Vossa Majestade, serei breve. - falo para os dois, eles se olham, parecem está tomando uma decisão, o do lado direito segue para dentro do castelo enquanto o outro continua em seu posto, sorrio para ele agradecida e ele faz um aceno de cabeça.

Não demora muito para Thomas aparecer com o melhor dos sorrisos, logo faz meu coração transbordar de alegria. Não consigo conter o sorriso ao vê-lo.

— Senhorita, que agradável surpresa. Vamos entrar? - ele fala me mostrando o caminho.

— Não será necessário Majestade. - ele faz uma careta com a forma que o chamei, sorrio - Serei breve.

Desamarro as cordas da capa e a tiro de minhas costas.

— Vim trazer sua capa. - entrego a capa em suas mãos, ele franze a testa em confusão, assim como papai fez em poucos instantes. Então seu rosto se ilumina.

Ele sabe porque vim aqui.

Ele sabe que vim para vê-lo.

Ele parece muito feliz com isso.

— Bem, agora devo ir. Papai e mamãe estão me esperando. - faço uma reverência, sorrindo, nem ao menos sabia que estava sorrindo - Tommy. - Seu rosto se ilumina ainda mais quando o chamo assim.

— Giovanna. - ele se curva também.

Viro-me e vou em direção aos portões abertos. Sei que seus olhos ainda estão em mim e não consigo tirar o sorriso de meus lábios.

Até.

Que.

Um.

Som.

Terrível.

Toma.

De.

Conta.

De.

Tudo.

Meus olhos não acreditam no que vejo. Houve uma explosão. Há fogo.

EM TODA A LITEIRA.

A dor em meu coração está poderosa, faço a única coisa que me vem a mente.

Corro.

Corro em direção aonde meus pais estão.

Eles devem ter saído. Eles não podem está dentro daquilo.

O que é aquilo?

Nunca vi tanto fogo em minha vida.

Estou gritando.

Não sei o que estou gritando. Não compreendo o que sai de meus lábios.

Braços me seguram. Não preciso me virar para saber quem é. Thomas. Ele está ali. Me impedindo de chegar até meus pais. Está me impedindo de salvá-los.

— Não dá mais. - ele fala e isso me destrói.

Perco as forças, mas não desfaleci.

Sinto lágrimas rolarem pelo meu rosto, mas não sinto vontade de chorar.

Não há nada dentro do meu peito. Meu coração foi esmagado.

Paraliso.

Minha vida queimou.


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