Nem Tudo é Ganância escrita por Bianca Raynor


Capítulo 15
♕ Capítulo Quinze ♛




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Já ouvi falar que a esperança é a última que morre.

Mas, e quando ela morre?O que nos resta?Nada.

É isso que sinto, ou melhor, não sinto.

Não sei ainda como tudo aconteceu, só lembro de ruídos terríveis e fogo, muito fogo.

E depois chuva.

Por irônia do destino a chuva veio logo em seguida. Talvez para representar as lágrimas que deveriam rolar sobre minha face.

Não sei. Não sei mais de nada.

Thomas me perguntou milhares de vezes como estava, mas nunca o olhava, nunca falava. Estava vivendo em um absoluto silêncio. Depois de percebe que não haveria uma resposta ele me colocou em seus braços e me levou em direção ao palácio.

Ele gritava ordens aos guardas que não consegui compreender. Acho que ele queria me ajudar, mas nada mais fazia sentido.

Thomas me levou para um quarto no qual não quis olhar a decoração. Nada mais importava.

Minha vida queimou.

Ouvi o som de sua voz conversando com pessoas. Uma mulher, um homem, uma mulher, um homem. Ele falou os nomes, mas minha memória não quis guardar. Não importava.

Minha vida queimou.

Esse foi no primeiro dia.

Acordei. Não lembro quando dormi. Só sei que fechei os olhos quando o céu estava negro e os abri quando veio a alvorada.

Há uma senhora cuidando de mim. Ela diz que preciso tomar um banho. Não digo nada.

Minha vida queimou.

Mesmo sem responder, ela me levanta. Meus pés parecem funcionar sem minha ajuda. Ela tira minhas roupas e me direciona há uma banheira. Ela me dá banho.

Depois do banho a senhora me veste e oferece comida, mas não falo nada.

Minha vida queimou.

Ela desiste de me alimentar. Me deita na cama. Fico olhando para nada específico. Minha visão não tem focado em nada.

Quando o céu escurece mais uma vez meus olhos se fecham.

Esse foi o segundo dia.

Acordei mais uma vez, com Geneviève. Sim, o nome dela é Geneviève. Ela se apresentou mais uma vez. Ela deve ter se apresentado na manhã anterior, mas não lembro.

Geneviève me leva até a banheira e me dá mais um banho. Me veste. Me oferece algo para comer. Mas não falo nada. Nada mais importa.

Minha vida queimou.

Ela me deita na cama e permaneço olhando para nada em particular.

Sinto sua presença no quarto, mas ela fica calada. Acho que não quer interromper meu momento de luto.

Horas se passam e continuamos assim. Caladas. Quietas.

Ouço o ruído de uma porta se abrindo.

Talvez seja algum criado querendo saber se quero alguma coisa. Não vou querer nada. Nada mais importa.

Minha vida queimou.

Passos se aproximam da cama.

— Como ela está? - alguém que pergunta.

— Do mesmo modo. Não comeu nada o dia todo. - Geneviève responde.

Pela primeira vez nesses dias sinto vontade de ouvir vozes, ouvir conversas. Ouvir a voz de Tommy.

— Você pode ir. Vou ficar com ela até que adormeça. - Tommy ordena.

— Claro, Thomas. - Geveviève fala. Se fosse um dia qualquer acharia estranho o fato de chama-lo pelo nome.

Geneviève sai do quarto silenciosamente. Thomas senta-se em uma poltrona que está a minha frente, seus olhos estão em mim, não sei se espera alguma reação minha. Só sei que não terá nenhuma.

Vê-lo aqui trás os sentimentos e não gosto como estou me sentindo. O nada está me abandonando. Agora há um buraco, como um corte profundo dentro de mim, dói. Não estou suportando a dor, é tenebrosa. Fico paralisada. Sei que estou quieta a horas, mas sei que se me mexer o mínimo possível essa dor irá aumentar. Não sei o que me faz ter tanta certeza disso, só sei que sei.

Sabia. Sempre soube que quando os perdesse seria assim. Algo devastador. O sorriso de papai inunda minha mente, até parece que o vejo sorrir, que ouço o som de sua risada. A dor aumenta. Ouço mamãe brigando comigo porque cavalguei rápido demais; ficar sem fôlego sempre me denunciava. A dor aumenta ainda mais. Meus olhos querem lacrimejar, estão preparados para isso, mas não posso permitir.

Winter. O dia que o ganhei está em meus pensamentos. Pulei de tanta felicidade. Abracei papai como se fosse sumir a qualquer momento, prometi a mamãe que tomaria o maior cuidado possível quando saísse com ele e abracei ainda mais forte, ela reclamou que poderia ter quebrado uma costela sua e sorriu. Mamãe quase nunca sorria, só quando estava com papai, a sós. Quando ela sorria. Tudo se iluminava. Sempre tive medo que aquele sorriso sumisse para sempre. Ele sumiu.

Os dois sumiram. Me deixaram.

— Giovanna? Por favor, preciso que fale comigo. - Thomas parece suplicante.

Ele não entende, se falar algo, a ferida vai doer mais.

— Preciso que dê algum sinal que está ai, que está me ouvindo. Mexer os braços, os dedos, algo. - fala ainda suplicante, sua voz é de cortar o coração, ele parece desesperado.

Mas ele não entende, se me mexer, a ferida vai doer mais.

Thomas bufa. Está frustrado. Abaixa a cabeça e observa suas mãos. Não mudei minha linha de visão. Gostaria de olhar para seu rosto, mas se me mexer sei que vai doer.

— É um buraco. - ele fala.

Arregalo meus olhos.

Sinto como se alguém enfiasse o dedo em um corte profundo. Quero gritar e mandar ele parar, mas não consigo. Ele continua.

— Um buraco terrível. Que qualquer movimento, qualquer palavra irá piorar. Mas antes disso vem o nada. O nada é a melhor parte, é quando você não sente nada. Quando ele vai embora... - pausa e engole o a saliva com dificuldade, como se aquilo que falava estivesse doendo - Aparece o corte profundo que dói. Doer não deveria ser a palavra, porque ela ainda é fraca. Então você começa a lembrar dos abraços, dos sorrisos, de momentos marcantes e até mesmo das brigas.

Ele para.

Lágrimas rolam sobre minha face. Está doendo muito. Ele me entende. Alguém me entende.

Tommy respira fundo e continua.

— Eu sei que é difícil. Eu sei. Acho que não existe ninguém que possa te entender como eu. Mas eu te peço. Por favor, dê uma chance a vida. Eu dei uma chance, por todo esse povo que tenho que cuidar, esse reino que devo governar. Sei que não há nada nessa vida com que deva se preocupar ou uma obrigação, mas... Pense em mim, sei que é um pouco egoísta pedir isso, mas eu não vou conseguir viver sem você.

Ele levanta a cabeça e apesar de minha visão esta comprometida pelas lágrimas, vejo que seu rosto esta lavado por lágrimas também. Ele se levanta e ajoelha-se a minha frente.

— Por favor. Reaja. Eu lhe suplico. - Tommy pega minhas mãos.

— E como faço isso? Como consigo forças? - minha voz sai rouca juntamente com soluços.

— Vou lhe ajudar. Todos os dias. - fala com um sorriso fraco.

Leva minhas mãos até seus lábios e planta beijos suaves, em seguida coloca minhas mãos em seu coração. Está acelerado. Ficamos assim por bastante tempo.

— Acho que vou deixá-la dormir. - ele se levanta, mas antes planta mais dois beijos em minhas mãos.

Minha respiração se acelera. Estou com medo de ficar sozinha. Estou apavorada.

Ele está se aproximando da porta. Sento-me na cama e não detenho meus lábios.

— NÃO! - Tommy virasse para mim e franze o cenho - Você poderia ficar comigo. É...

Estou envergonhada de pedir algo assim, mas não vou conseguir dormir se ele não estiver aqui.

— Não vou conseguir dormir. Estou com medo. - minha voz sai fraca.

— Você quer que eu durma com você? - ele pergunta se aproximando.

Abaixo minha cabeça. Meu rosto está queimando.

— Esqueça. Não deveria ter pedido. Que coisa terrível para se falar. Isso não é correto.

Ele levanta minha cabeça com dois dedos tocando meu queixo. Verdes se direcionando a azuis.

— Nesse momento não há correto ou errado. O que importa é o que você precisa. E você precisa de mim.

Meu coração se aquece com suas palavras.

Logo Tommy tira seu casaco, aquele ao qual nunca descrevi e que não me importa no momento, a única coisa que vejo são seus músculos. Por baixo do casaco ele está vestido uma blusa branca que fazem seus músculos transparecerem. Desvio o olha e balanço a cabeça para tirar essa visão da minha mente.

Me afasto para que ele possa se deitar e depois de um momento resolvo deitar ao seu lado. Estamos um pouco tensos com a aproximação.

— Acho que isso não esta dando certo. - fala sorrindo e direcionando seu olhar para mim.

Sorrio de volta.

— É verdade.

Mal termino de falar e Tommy me puxa para que eu repouse minha cabeça em seu peito. Meu corpo inteiro fica tenso, mas ele parece relaxar. Saber que está calmo me acalma, logo relaxo. E depois adormeço.


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