Nem Tudo é Ganância escrita por Bianca Raynor


Capítulo 11
♕ Capítulo Onze ♛




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Caminho até o armazém mais próximo, ou seja, de Josephine, uma senhora na qual vende os melhores temperos da vila, mamãe só confia nela. Nesse momento estou agradecida por tamanha confiança, passei muito tempo no quarto de Juan, sem dúvidas chegarei em casa e ouvirei mamãe reclamar.

Chego ao armazém e está completamente vazio. Exceto por uma mulher que se encontra sentada em uma mesa, distante, comendo um ensopado.

— Por que está tão vazio hoje? — pergunto olhando pelo local.

— Olha quem apareceu, a quanto tempo não vem aqui menina. — Josephine fala sorrindo — E respondendo a sua pergunta, hoje teve algum tipo de comemoração naquele maldito bordel, então você já sabe como é...

O primeiro fato que vem a minha mente é que Thomas está nessa maldita comemoração. Um ciúme consome meu corpo. Ouvir essas palavras depois de uma manhã tão maravilhosa é terrível. Como o sol aparecendo em meio as nuvens e destruindo meu dia nublado. Mas logo me vem a mente que ele não pode ser visto num local desses, até porque ele é o rei.

Solto a respiração que nem ao menos sabia que estava prendendo.

— Entendo. — falo balançando a cabeça em sinal de desaprovação.

— Vai querer o de sempre? — pergunta.

Como mamãe só gosta de seu tempero, Josephine já tem seus pedidos gravados em sua cabeça.

— Menos a pimenta. Mamãe tem evitado por causa de papai.

Papai não está doente, mas qualquer sinal de dor ou mal-estar mamãe já corta os alimentos para que ele ficasse bem, acho que o medo que tem de perdê-lo é ainda maior do que o meu de perder os dois.

Apesar de todos os anos juntos dá para perceber o quanto se amam. Fico encantada por ter sido gerada a partir de um amor tão belo. Espero que comigo e Juan seja da mesma forma.

Josephine segue para os fundos atrás dos temperos.

Alguém pega minha mãe direita com destreza. Tento puxa-la de volta, mas quem está segurando possui bastante força.

Levanto a cabeça e vejo que é a mesma mulher que estava sentada agora pouco, comendo um ensopado. Observo suas roupas e noto que estão bastante velhas. Um vestido vermelho que nem mesmo pode ser chamado de vestido, parecem mais com trapos, há vários rasgos na saia, mas nada que possa deixa-la indecente. Seu cabelo preto e cacheado parece não vê uma escova a anos.

Seus olhos estão observando minha mão como se fosse algo fascinante.

— Dúvida! — fala pela primeira vez, sua voz é rouca, como se tivesse sem água a dias.

— O que? — pergunto tentando puxar a mão novamente, mas essa mulher tem bastante força.

— Você esta em dúvida. Eles partilham seu coração. Os dois.

Meu corpo fica tenso.

Como essa mulher pode falar algo assim?

A cor foge de meu rosto.

Será que fui descoberta? Claro que não Giovanna, não seja burra.

— Vai ser difícil, mas um deles vai te decepcionar e você ficará com o outro. — fala acariciando minha mão.

Meu coração acelera em meu peito. Estou apavorada com o fato dessa mulher saber algo tão profundo sobre mim.

Ela ergue o olhar e grita. Me assusto e dou um passo para trás.

— Qual o seu problema? — pergunto.

Essa mulher deve ser louca. Fala coisas que somente eu sinto, faz previsões "...mas um deles vai te decepcionar e você ficará com o outro" e dá um grito.

Ouço um vidro cair no fundo do armazém e passos vindo em nossa direção.

— Dor.

O QUE?

— Só vejo dor na sua vida. Nunca vai parar de sofrer.

Perco minhas forças e quase caio se não fosse o balcão a minha frente. Me ergo e me aproximo da mulher.

— Não toque em mim. Tudo que toca se destrói.

Lágrimas caem de meus olhos instantaneamente, minhas forças se vão completamente e sinto braços me erguendo até uma cadeira. Não consigo ver nada além disso, apenas a palavra "dor".

— Não se perturbe com as palavras dela. — ouço a voz de Josephine.

— Como não? Você escutou o que ela disse. — falo aos prantos.

Josephine fica calada.

— Quem é ela?

— Uma vidente que aparece uma vez no ano. Ela sempre vem ler a mão de alguém, dar um aviso ou uma profecia. — Josephine explica.

— Ela alguma vez errou? — pergunto esperançosa.

Não sei como ela poderia errar, depois de falar todas aquelas coisas sobre está dividida. Realmente estou, não quero admitir, mas estou. Não sei o que Thomas faz comigo, mas sei que sinto algo muito forte por ele, nunca tivemos nada e mesmo assim sinto esse sentimento estranho, essa necessidade de vê-lo. Mas também sei que nada se compara ao que sinto por Juan, ele renova minhas forças, é como se fosse o ar que respiro, jamais deixaria de ficar com ele, jamais o abandonaria.

Josephine se cala mais uma vez.

— Ela nunca errou. — falo, admitindo para mim mesma que minha vida será apenas "dor".

— Sinto muito querida. — sinto a pena fluir de suas palavras — Mas talvez se não pensasse sobre isso...

— Você acha que isso poderia ir embora, qualquer que seja "isso"? — pergunto mais uma vez esperançosa.

— Claro. — afirma pegando uma cadeira, colocando a minha frente e se sentando — Acho que essas malditas profecias acabam acontecendo por que as pessoas sempre pensam muito sobre elas. Se esquecer o que aconteceu hoje, sem dúvidas que nada acontecerá. Não se preocupe com isso.

Sorrio para ela e sinto um peso sair das minhas costas. Josephine se levanta e vai para detrás do balcão para voltar a seu trabalho, começa a guardar os temperos de mamãe e me levanto para lhe entregar as moedas do pagamento.

— Me diga. — Josephine fala — Seu pai veio há alguns dias aqui e comentou que o rei tem bastante carinho por você.

Coro ao ouvir essas palavras.

Carinho.

Por que papai haveria de comentar algo assim? Tudo bem. Não importa agora.

— Ele me ajudou algumas vezes. — falo sem encara-la — Tommy é bastante generoso.

— Tommy? — levanto meus olhos para olha-la e vejo o que acabei de fazer — Pelo visto, o que ele sente por você é recíproco.

Não sei o que dizer. Estou muito envergonhada com tudo isso, apesar de não fazer sentido. Não quero ter uma vida ao lado de Thomas, ele é maravilhoso comigo, mas quem amo de verdade é Juan. Sei que quando chegar a hora de "dar fim a situação" posso fraquejar, mas é necessário se não nunca poderei ser feliz.

— Você será uma ótima rainha. — Josephine fala.

Mordo meu lábio inferior para conter o sorriso que desejava brotar em meus lábios.

— Acho que devo ir, mamãe está me esperando. — me despeso, preciso muito sair daqui.

— Até logo, querida.

Não sei o que pensar sobre tudo que aconteceu hoje.

Pensar em matar Tommy. Parece que meu coração fica em frangalho ao pensar ao menos na possibilidade, ele é uma pessoa tão generosa, seria uma perda terrível para o reino e para mim também. Sempre tão preocupado comigo. Mas então penso em Juan sofrendo o pão que o diabo amassou para poder se alimentar e ter uma vida miserável em um quarto desconfortável e fedorento, enquanto Thomas está desfrutando dos melhores alimentos e aposentos, não que não mereça, mas Juan não é uma pessoa má, só não tem como ajudar.

Ainda para piorar a situação, uma louca vem me dizer que passarei minha vida sofrendo, que tudo que toco se destrói. Estou apavorada com essa possibilidade. Mas é como Josephine falou, se não pensar sobre isso, tudo ficará bem.

Assim espero.


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Notas finais do capítulo

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Até o próximo ❤



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