13 escrita por Sora Inu


Capítulo 3
Eu Ainda Me Lembro...




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Raphael se espantou com o ato de Guilherme, permanecendo parado no mesmo lugar, sem conseguir esboçar nenhuma reação. Dois estalos de dedos chamam sua atenção, o antigo melhor amigo está parado em frente à porta, gesticulando as mãos em gestos mudos para que ele o seguisse. Raphael assente com a cabeça, levantando-se daquela cadeira enferrujada que gritou quando seu peso a deixou.

Os dois passaram pela porta, retornando ao corredor coberto por pedaços de madeira podres. Raphael observou mais uma vez, não compreendia a necessidade desses pedaços deteriorados de madeira, queria questionar, perguntar até arrancar uma resposta de Guilherme, mas apesar de tudo, o conhecia — e muito bem —, ele com toda a certeza ignoraria e acabaria mudando de assunto. Então optou por tentar relevar.

Ao chegarem ao portão, também enferrujado, da entrada do quintal de Guilherme, o anfitrião tentou puxá-lo para abrir, mas as dobradiças estavam tão gastas que com o movimento brusco que Guilherme fizera elas terminaram de se soltar, fazendo com que o portão ganhasse o chão, levando o homem consigo. Em seguida, a estrutura de madeira que também cobria o quintal desmoronou, revelando aquele local limpo — completamente diferente dos outros cômodos, ele estava realmente limpo, o piso era de um branco resplandecente, os materiais ao redor estavam muito bem organizados, o quintal era grande, o suficiente para guardar três carros de tamanhos medianos. Raphael não conseguiu esconder a surpresa, aquela área não parecia ser parte da casa, ou melhor, do bairro em si.

Guilherme estava deitado no chão, bem debaixo do portão, rindo, provavelmente tirando sarro de si mesmo por estar numa situação como essa. Raphael também não conseguiu esconder o riso. Mas logo dois vultos passaram sobre ele, deixando-o assustado. Logo, dois cachorros pularam em cima do dono da casa, lambendo o rosto do mesmo.

Guilherme ficou imóvel no chão, paralisado enquanto os cães lhe banhavam com saliva, parecia que ele nem respirava direito. Raphael ficou preocupado, se aproximou com passos leves do amigo, quando chegou perto o bastante ergueu a mão, pronto para tocá-lo. Mas a sua medida segura acabou despertando a atenção dos cachorros, que pararam imediatamente de lamber Guilherme, saltando do corpo para ficarem próximos de Raphael, tomando uma posição de ataque, e logo começaram a rosnar. O rosnado era alto o bastante para ser escutado do outro lado da rua, o que o ajudava a se tornar mais sombrio, aquilo assustava qualquer um, o som era tão feroz e intimidador que podia ser igualado ao de um lobo.

Raphael deu exatos três passos para trás, erguendo as mãos para o alto (tal qual como se estivesse sendo rendido pela polícia).

Estava se preparando psicologicamente para ser atacado, mas um grito preencheu seus ouvidos:

— Lápis, não!

Ambos os cães, no mesmo instante, sentam e ficam imóveis, parecendo duas estatuetas de mármore, se não fosse pelo leve levantar do diafragma era possível imaginar que eles fossem estátuas.

Guilherme ergue-se do chão, indo até o meio da rua, observando o desastre do portão, e agora, alguns pedaços de madeira se espatifaram quando tiveram contato com o chão.

— Que grande merda, hein... — foi a única coisa que conseguiu dizer, colocando ambas as mãos no quadril, balançando a cabeça numa negativa. — Lápis, aqui. — falou brandamente, ambos os cachorros se desfizeram da posição, correndo até ele, saltando e latindo como se fossem apenas filhotes querendo brincar. Guilherme agachou, revezando seu olhar de um para o outro, que permaneceram quietos. — Protejam a terceira. — ordenou.

Os dois cachorros grunhiram, balançando a cabeça numa afirmativa. Saíram em disparada pela rua, desaparecendo numa esquina qualquer.

— Mas o quê...? — Raphael indagou alto demais, ficando cada vez mais confuso com aquela situação.

Guilherme sorriu, olhando os cachorros desaparecerem de suas vistas, mas logo a curva dos lábios começou a se desfazer enquanto ele voltava à atenção para o melhor amigo.

— Meus cachorros. — explicou o óbvio. — São lindos, né?

— Sim... — respondeu calmamente, revezando seu olhar do horizonte para Guilherme, como se tentasse enxergar algo que não estava ali. — Mas estranhos... "Proteger a terceira"? — repetiu as palavras com um tom arrogante.

— Ah, não é nada para se preocupar. — levantou os ombros. — Eles vão saber o que fazer... — falou mais para si mesmo do que para com Raphael. Andou até o carro, abrindo a porta dianteira do passageiro. — Entra no carro, agora você pode sentar no banco da frente. Já estamos longe...

— Longe? — Raphael o interrompeu, a indignação era perceptível. — Você não disse que estamos num bairro vizinho do meu? — cruzou os braços, franzindo o cenho.

— Cala a boca! — Guilherme exclamou de repente, com uma voz aguda demais para a idade. E uma sensação nostálgica preencheu ambos os garotos. Aquele era um bordão de Guilherme, um bordão que ele copiou de um de seus desenhos preferidos de treze anos atrás. Aquele bordão, aquela expressão, Guilherme usava aquilo para de certa maneira dizer que a pessoa estava certa, mas que ele jamais admitira explicitamente.

— Você continua infantil... — sorriu consigo mesmo, ao mesmo tempo em que diversas lembranças corriam por sua mente. — E não fique pensando que estou menos confuso... Eu só vou deixar seus cachorros em paz. — terminou por fim, descruzando os braços.

— Muito bom! — retribuiu o sorriso. — Agora entra no carro.

Raphael obedeceu sem rodeios. Guilherme deu a volta, praticamente se jogando no banco, ligando em seguido o carro.

Guilherme dirigia tranquilamente, revezando o olhar do caminho para Raphael, que estava com o braço apoiado na janela, observando as paisagens que passavam rapidamente. O motorista pigarreou alto, antes de cortar o silêncio.

— Conta aí, mano. Como conheceu a Jully?

Raphael desviou o olhar, encarando o antigo melhor amigo com o cenho franzido.

— Não era você que sempre esteve lá e sabe de tudo? — indagou alto demais, e um tanto emburrado. Aquela raiva não passou despercebida por Guilherme, mas ele fez o que sempre fazia nessas situações, ignorava, sorrindo feito um retardado.

— Deixa de ser chato! — disse dando uma risada alta. — Eu tenho outras coisas pra fazer nisso que eu chamo de vida. — terminou. Guilherme nunca se chateava com essas coisas, estava acostumado.

— Tá... — murmurou sem vontade nenhuma. — Eu a conheci em um trabalho que tive de fazer, na época foi apenas de vista... — começou a contar calmamente, lembrando-se aos poucos dos acontecimentos. — Era a merda de um trabalho de telemarketing, e ela era do mesmo setor que eu, mas quando eu a conheci eu ainda estava me recuperando de um relacionamento... Eu não me envolvia com ninguém, nem com amigos. — ficou mais confortável no banco, apoiando a cabeça no estofamento e relaxando o corpo, encarando a rua na sua frente. — E o mais engraçado é que eu aceitei esse emprego com o intuito de me livrar dos pensamentos desse namoro, sabe? — riu sem humor. — Esquecer aquela garota que tinha aparecido na minha vida e me feito acreditar em um futuro bom...

— A Amanda, não é? — perguntou, interrompendo o amigo.

— Ela mesma. — afirmou. — Essa garota destruiu tudo o que eu era... Depois que eu conheci a verdadeira Amanda eu tentei a todo custo deixar essa paixão de lado... — era incrível a naturalidade que Raphael contava essas coisas para Guilherme, era como se o tempo nunca tivesse passado, como se não fizesse treze anos que ambos não se viam, pareciam melhores amigos desabafando. — Cheguei até a começar a fazer uma faculdade há um tempo, e eu descobri que ela, a Jully, estava na mesma unidade que eu. Só que num curso totalmente diferente... — Raphael suspirou, carregando as lembranças desse momento. — Eu queria muito ter ido atrás dela, mas achei melhor deixar isso de lado...

— Isso tá parecendo um daqueles roteiros bem bostas de comédia romântica. — Guilherme interrompeu o amigo mais uma vez, soltando uma gargalhada alta.

— Calado! — Raphael deu um cutucão com o cotovelo em Guilherme, que se calou no mesmo momento, contendo a risada. — Ainda estou contando a história! — tentou ter firmeza na voz, mas não conseguiu esconder um sorriso.

— Certo! Continue Romeu. — debochou.

— Bom, voltando sobre a Jully... — Raphael pigarreou, voltando a relaxar no banco. — Um dos meus colegas de sala tinha pedido o número dela, e ela passou tranquilamente. Só que naquela noite, ela me chamou no chat do facebook, me perguntando sobre ele, blá, blá, blá. — começou a demonstrar o desinteresse nessa parte da conversa. — No entanto, começamos a conversar sobre nós, papo vai e papo vem, descobrimos coisas em comum, tínhamos o mesmo gosto musical, curtíamos os mesmos filmes, ela acabou descartando esse meu colega e passamos a sair frequentemente, e estamos juntos já faz um tempo. — finalmente terminou, sorrindo amarelo.

— Porra, que legal, cara. Você sempre se deu bem com as mulheres não é mesmo? — indagou casualmente. — Inclusive com as que eu gostava, foi como esse seu colega, lembra? Você ia falar de mim para elas e elas acabavam gostando de você. Raphael, você sempre teve sorte com as mulheres. — apesar do usual tom alegre, Raphael percebeu que havia algo implícito nessa última frase, Guilherme inclinou o rosto devagar para a direita, tentando encarar Raphael com um olhar leve de ódio, disfarçado em um sorriso bobo, porém, o outro virou o rosto procurando focar na paisagem ao redor, evitando aquele contato visual. — Bom, essa história rendeu nossa viagem. Estou parado aqui há mais ou menos cinco minutos. — riu.

E somente após essas palavras que Raphael percebeu que o carro estava realmente parado, voltou sua visão para frente, reconhecendo aquele local onde estavam. Abriu a porta vagarosamente, os chinelos tocaram o chão coberto pela grama, que às vezes roçavam em seus pés.

Aquele era o topo da colina.

Ficava numa área fora da cidade.

Aquele local era como um santuário para eles. Recordava que ainda na adolescência, fizeram um juramento naquele lugar, um juramento que se mantinha vivo dentro dele.

Guilherme também saiu do carro, observando toda a extensão da cidade.

E os dois ficaram ali durante horas. Guilherme sentado no capô do carro, enquanto Raphael apoiava na porta do mesmo. Em silêncio. Nenhuma palavra havia sido trocada deste então. Era como voltar no tempo, retornar numa época maravilhosa.

O Sol já começara a desaparecer, deixando o céu numa mistura de laranja e mostarda.

E do nada, Raphael arregala os olhos, lembrando-se de algo muito importante.

— E a Erika, mano? — questionou alto e também ríspido demais, fazendo com que Guilherme virasse o rosto para trás. — Você não falou nada para ela? Você por acaso você foi atrás dela? — encheu o amigo de perguntas, talvez fosse doloroso demais entrar nesse assunto, mas uma hora ou outra isso deveria vir à tona. Raphael só se culpava por demorar muito para recordar

— Você ainda lembra, não é? — o olhar de Guilherme mudou completamente, perdendo aquele brilho animado, transparecendo certa melancolia.

Guilherme voltou sua visão para o horizonte, e as lembranças começaram a bailar em sua mente, e a figura dela preenchia sua visão no exato momento em que ele fechou os olhos. Aquela garota. E como num flashback de filme, Guilherme se recordava do último dia em que falou com ela. Encolheu-se ainda mais, deixando um silêncio desconfortante ao seu redor.

Raphael podia até não compreender o silêncio, afinal, o amigo sempre fora tagarela demais, mas existia algo que Raphael sempre iria compreender: Guilherme amava Erika. Amava mais que tudo na sua vida. Era um amor que passava das barreiras convencionais.

Guilherme levantou-se do capô, fazendo com que os pés tocando na grama fizessem um baque surdo. Respirou fundo, virando o corpo diretamente para Raphael.

— Eu ainda me lembro...

[...]

E como eu me lembro.

Ela era a mulher mais linda que eu já vi em toda a minha vida. Ela era uma menina-mulher, tinha apenas vinte e um anos, naquela época eu estava com vinte e dois. E chega a ser estranho o quão nítida essa lembrança esta na minha cabeça, parece que eu passei minha vida toda vendo essa cena como num filme. A última vez que eu a vi... Antes de tudo acontecer.

Eu queria fazer uma visita surpresa para ela, por isso resolvi ir aquele dia na casa dela sem avisar. Liguei discretamente, conversamos algumas amenidades até que pedi para ela ir até o portão.

Sabe, eu lembro até da cor da casa dela. Era verde. Engraçado que a rua quase não tinha casas coloridas, mais de oitenta por cento eram cinzas — aqueles cinzas de cimento —, ou laranja, de tijolos. Mas a dela era verde, nós pintamos juntos, ela que escolheu a cor, aquele verde mar, claro e refletivo...

Estávamos juntos há três anos, e naquele dia... Naquele dia eu havia planejado pedi-la em casamento, tinha comprado às alianças numa manhã qualquer, eu a ia convidá-la para um jantar e assim faria o pedido oficial, mas infelizmente não tive oportunidade para isso...

Aquela ligação... Aquela maldita ligação destruiu tudo o que eu havia planejado.

Chega a ser cômico o quão à vida gosta de foder comigo.

Ah, estou divagando...

Eu me lembro exatamente de tudo, Raphael. Da voz meiga que ela tinha, o jeito que ela pronunciava as palavras com "r". Lembro de todo o nosso diálogo naquele dia. Quando estávamos no telefone, eu disse.

— Amor, você pode vim aqui no portão? Preciso falar com você.

— Você está aqui? Sério? — lembro que ela ficou muito empolgada com essa notícia, eu conseguia sentir a felicidade em cada palavra, afinal, fazia mais de uma semana que não nos víamos, por causa do free-lance que eu tinha arrumado com a banda do Robson. — Já vou descer meu amor. Só vou pegar um agasalho e já desço.

Ah, aquela voz era linda. Suave. Intensa. Apenas aquilo era o bastante para me levar a um êxtase que eu nunca imaginei sentir na minha vida toda.

— Tudo bem, amor. Estarei esperando por você bem aqui.

Aguardei na rua durante alguns breves minutos, fiquei sentado na calçada. Naquele dia estava realmente fazendo frio. Me arrependi amargamente por não ter colocado uma blusa antes de sair de casa. Logo ouvi o barulho do portão de ferro, olhei para trás e eu a vi...

Ela era a garota mais linda que eu já vi em toda a minha vida...

A pele dela era branca, ela chegava a ser quase pálida, chamava a atenção por onde passava. Os cabelos eram castanhos amendoados, divididos entre o rosto alongado, lisos, escorriam pelos ombros, chegando dois palmos abaixo do cotovelo. Os olhos eram grandes, os orbes eram cor-de-sépia, e os cílios naturalmente longos lhe dava um ar mais angelical. O nariz fino, pequeno e arrebitado combinava com todo o rosto, os lábios eram pequenos e rosados. As maças do rosto eram protuberantes, ainda mais quando ela sorria. O corpo era perfeito. Até hoje me recordo de todas as suas curvas. Era quase da minha altura, talvez uns seis ou quem sabe sete centímetros nos diferenciavam.

Quando ela saiu para a rua, de encontro a mim, eu não me levantei, bati com as mãos na calçada, indicando para que ela se sentasse ao meu lado. — Eu não gostava de ir até a casa dela, a mãe dela deixava bem nítido que não ia com a minha cara. Falava abertamente que me achava um vagabundo, porque eu não tinha um trabalho fixo, que não conseguiria dar a vida que a filha dela merecia. Isso pode até ser meio verdade, mas eu gostava de meu trabalho, e eu amava a Erika. E isso já era mais que o bastante.

— Preciso falar uma coisa muito séria com você.

Acho que eu nunca fui bom em escolher as palavras em situações sérias. Me recordo de como ela ficou assustada após ouvir isso, mas afinal, quem não ficaria? Ela se sentou prontamente, buscando a minha mão, segurando-a fortemente.

— O que houve, meu amor? Aconteceu alguma coisa? — uma das muitas coisas que eu admirava na Erika era o quanto ela se importava comigo, ela parecia estar disposta a cuidar de mim sempre que fosse necessário. Eu me sentia seguro ao lado dela, quando na realidade, tinha de ser ao contrário.

— Você sabe que eu te amo, não é mesmo?

— É claro que eu sei! — ela sorriu, e toda aquela preocupação e susto desapareceram, revelando um sorriso terno e gentil. — Você não me deixa esquecer isso em nenhum momento... Meu amor, você me prova isso todo o dia. Você é um bobo.

Ela colou nossos lábios após dizer isso. Foi apenas um selinho, mas um selinho entre nós já aquecia meu coração, me deixava elétrico. Ela era meu carregador.

Eu ri baixo, ela era feliz comigo, apesar de todos os problemas ao nosso redor ela também me amava, eu era a felicidade dela, assim como ela era a minha.

Não consegui controlar minhas lágrimas naquele dia, começaram a cair de meus olhos como uma chuva forte no meio do verão.

Puxei seu corpo, abraçando-a.

— Eu te amo, babaca. Eu não quero isso acabe nunca. Quero ser feliz com você para sempre.

Eu... Eu queria ter tido coragem de contar para ela o que estava acontecendo. Mas eu sou um covarde. Sabia que ela ficaria arrasada quando eu sumisse, sei que eu ficaria destruído quando partisse. Mas eu tinha total consciência de que se eu contasse o real motivo... Ela ficaria triste. Então eu mais uma vez fingi meus sentimentos, usei a desculpa de que "estava emotivo demais naquele dia".

— Você é o meu bobão. Nada vai mudar entre nós, eu vou continuar te amando. Agora e sempre. — ela retribuía meu abraço, molhando levemente a minha camiseta com suas lágrimas.

Ela me fazia tão bem.

Ela me fazia feliz.

Ela era a personificação da minha felicidade.

— Amor, eu preciso ir. Ainda não resolvi nada desde que voltei. Mas eu quero que você fique com uma coisa. — Entreguei para ela uma caixinha vermelha e envelope, percebi que pelo olhar ela já estava curiosa, pronta para abrir. — Só veja o que está aqui quando eu for embora. E isso é uma ordem. — sorri, tentando disfarçar o meu nervosismo naquela situação.

— Tudo bem, prometo conter minha curiosidade.

Nós nos beijamos. E aquele último foi tão... Intenso. Nossas línguas pareciam buscar explorar mais o outro do que o normal, eu sentia cada músculo do meu corpo relaxar enquanto nos beijamos, e mais uma vez meu peito se aquecera.

Nos separamos, encarando os olhos um do outro. Levantamos do chão, eu a ajudando, segurando com firmeza sua mão esquerda — já que na direita ela segurava a caixinha e o envelope. Trocamos mais um beijo antes d'eu subir na moto, dando partida nela.

— Tchau, meu amor. Eu te amo... De verdade.

— Tchauzinho. Ah, passa aqui amanhã, por favor. Meus pais vão viajar bem cedo, e eu tenho uma coisa especial para você. — percebi na hora as segundas intenções que ela tinha para comigo, e me senti atentado a retornar, mas eu não podia voltar, mas também não podia revelara para ela esse fato, então mais uma vez eu menti.

— Passo sim, minha gatinha safada. — a encarei de modo pervertido, mas ao mesmo tempo, uma entonação desconfiada tomava conta da minha voz. — Até amanhã.

Me despedi dela pela última vez, saindo com a moto, sem em nenhum momento olhar para trás. Não havia mais como voltar.

[...]

O silêncio imperou outra vez.

Raphael em nenhum momento desviou seu olhar de Guilherme, que não escondeu as lágrimas nem os soluços enquanto contava sua última memória com Erika.

— Eu não tive coragem de falar para ela que eu ia sumir. Queria contar sobre o cara, sobre como ele veio atrás de você, em tudo o que eu estava envolvido... — Guilherme passou o braço sobre os olhos, retirando as lágrimas que ali escorriam. — Mas agora eu não vou voltar atrás... Eu já estraguei a vida dela há treze anos, eu não tenho o direito de fazer isso novamente. — completou.

Raphael abriu a boca, mas logo a fechou, como se tivesse se arrependido das palavras que ia usar. Ficou alguns segundos procurando a maneira correta de dizer a próxima frase, e levou exatos cinco minutos para que ele desistisse e fosse o mais direto possível.

— Cara, eu não quero ser chato. Mas... Ela está namorando e...

— Viu! — Guilherme exaltou-se, berrando em plenos pulmões, gesticulando os braços. — Ela seguiu a vida dela, e fez muito bem...

— Cala a boca! — agora fora Raphael que berrou, fazendo com que o amigo se calasse. Observando como o outro tentava regular a respiração. — Você não me deixou acabar. — desta vez falou mais calmo, observando como Guilherme também parecia se acalmar. — Ela está namorando sim, mas... Ela perguntou de você esses dias. E não foi apenas para mim. — Guilherme esboçou surpresa, olhou de banda para Raphael, os olhos estavam semicerrados, mas era notório que ele fazia aquilo para não mostrar o quão estupefato estava, tentando, a todo custo, não arregalá-los. Não imaginava que Erika ainda pensava nele de alguma forma. — Ela perguntou de você para várias pessoas.

— Isso quer dizer...

— Ela ainda pensa em você.


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