Em cinco estações escrita por Glória San


Capítulo 6
Epílogo


Notas iniciais do capítulo

Meu deus, quanto tempo. Yasmin, perdão por demorar tanto. Eu faria um especial Sun, mas não estava dando certo mesmo. Ia dar uma treta no final, eu estava irritada e alguém morreria. Era melhor esquecer, não era um boa ideia. Enfim, boa leitura e adeus, foi ótimo escrever isso aqui.



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Epílogo

 

Desconfortável. Essa era a única palavra que poderia descrever com precisão como Demétrio se sentia estando daquela forma. Claro, ele era um fotógrafo requisitado e muito versátil, entretanto, era a sua primeira experiência registrando a vida marinha daquela forma. Mergulhado no oceano, respirando através dos cilindros de oxigênio, sentindo a pressão da água em suas orelhas: ele nunca se sentira tão vivo. É assim, certo? A coisa mais valiosa da vida é a morte. Quando perto dela, tudo na vida se torna tão maravilhosamente grande. Principalmente os pequenos detalhes.

(Demétrio não pretendia morrer. Entretanto, estando ali, registrando o acasalamento das tais baleias jubarte, sentindo como sua vida era frágil e minúscula no meio daquele enorme oceano... A emoção de se sentir pequeno era grande demais.)

Saiu de dentro d’água, sendo ajudado por um dos funcionários da companhia de navegação, o qual ele culpadamente não lembrava o nome. Eles estavam no barco há três dias apenas, afinal. Recebeu uma toalha e já tirava os ganchos que o prendiam à câmera para poder ver o resultado de quatro horas, não seguidas, esperando o momento certo.

As imagens ficaram, no mínimo, incríveis. Não era arrogância. Era o sentimento de dever cumprido, a percepção de que seu trabalho estava terminado. Sorriu para Isabella, a repórter que apresentava o programa, porque, assim como ele, ela levava tudo ali muito a sério. Não era ela que escrevia a coluna da revista em que suas fotos apareceriam, mas ela era a pessoa mais próxima de si ali. Efrem ficara um pouco enciumado com a revelação, mas sossegou quando Demétrio deixou claro que ele não precisava se preocupar. Sua alma gêmea era outra, afinal (e a ambiguidade valia para os dois).

— Eu não entendo muito disso, se você quer saber, mas como amadora eu posso dizer que o trabalho é lindo. – ela declarou empolgada, o grande “Pode me emprestar o lápis?” em seu pescoço se movendo com a fala. Demétrio desviou o olhar com um sorriso, porque era rude olhar, e porque ele percebeu que não era mais um gosto amargo que ficava em sua boca quando pensava que outras pessoas tinham almas gêmeas.

Era um gosto doce, algo que lhe lembrava de casa e remexia o estômago. Era como chocolate, olhos dourados e pele negra. Sorriu com o pensamento de falar com seu namorado (e a palavra ainda era estranha em seu vocabulário) depois de sete dias inteiros sem nenhum tipo de comunicação. O trabalho estava impedindo, porém, não era como se a distância estivesse doendo. Eles se entendiam, eles sabiam o que estava fazendo o outro feliz. E mesmo que estar longe fosse difícil, estar perto, no momento, não era estritamente necessário. (Mas ele queria.)

— Obrigado, mas ainda precisamos editar. Aliás, eu vou começar agora. – sorriu suavemente, pegando a câmera e indo até seu computador, dentro do pequeno navio. Precisava descarregar as fotos e fazer cópias, porque ele conhecia os imprevistos.

Abriu o notebook e encarou carinhosamente o wallpaper. Efrem e ele, no aeroporto, sorrindo para a câmera frontal do celular do homem russo. A foto não tinha um ângulo perfeito, muito menos luz, mas a expressão nos olhos de Efrem e o sorriso cheio de gengiva que Demétrio carregava deixavam-na bonita o suficiente.

...

Era a quinta vez que eles conseguiam conversar desde que seu mês de viagens começou. O contrato acabava em uma semana, mas o programa não. Então, cabia a Demétrio a decisão de continuar ou não com o trabalho. E ele continuaria se quisesse, realmente, mas não. Ele sentiu finalmente o que queria. A tal nostalgia de sua vida de solteiro, a vontade de explorar que morrera depois de quatro meses de casado.

Ainda assim, ele queria voltar. Queria chegar em casa, ver Efrem despenteado, vestindo sua camiseta velha e suas calças de moletom, porque ele não se importava como estava externamente. Porque Demétrio se apaixonou por alguém sem artifícios, mesmo que amasse quem estava com eles também.

Queria ir para casa. Era onde Efrem estava.

...

No último dia de contrato, uma representante da emissora estava pronta para tentar convencê-lo a ficar.

— Tem certeza, Senhor Acarella? – ela questionou mais uma vez com seriedade. Não era nada demais. Eles depositariam a quantia em sua conta bancária e Demétrio estaria legalmente livre para voltar para casa sem pagar nenhuma multa exorbitante.

— Sim. Eu prometi que passaria apenas um mês fora. – Sorriu apologético, porque tinha planos melhores que salvar imagens em sua câmera. Ele pretendia salvá-las na memória, com as palmas das mãos e os lábios. Ele estava indo para onde ficou seu coração (e antes de Efrem, ele nunca poderia ser tão malditamente brega).

...

As gravações da série acabariam naquele dia e, de todas as cenas que fizera, apenas as melhores apareceriam. O antagonista aparecia quase tanto quanto os protagonistas, o que era engraçado. Suspirou cansado enquanto arrumava suas coisas na mala, sentindo a ansiedade de voltar para casa quase machucar, de tão estupidamente grande. Seu peito estava cheio de alívio por finalmente poder voltar para onde estava sua casa.

...

O aeroporto John F. Kennedy estava cheio, como sempre. Não que importasse para Efrem. Ele andava com os olhos focados em seus pés, e a movimentação ao seu redor não importava realmente. Efrem só queria chegar em casa, sentir os braços que faziam tanta falta ao seu redor... Sua respiração constante foi bruscamente ameaçada quando braços longos de repente se puseram ao seu redor. Inalou com um pouco de dificuldades, sentindo seu coração gaguejar quando o cheiro familiar se pôs ao seu redor. Naquele momento tudo era Demétrio.

Cada respiração cuidadosamente calculada vinha cheia dele e era quase demais para lidar. Apertou-o firmemente de volta e não se atreveu a olhá-lo no rosto. Até aquele momento, não percebeu a falta que sentiu daquele homem. É como dizem, não é mesmo? Nenhum lugar é como o lar.

...

Ele sentiu os lábios nos seus e era dolorosamente doce. Mas Efrem não queria doce. Ele ansiava por fogo, algo que inflamasse tão intensamente quanto ele naquele momento. Ele queria ser maltratado para que o toque se gravasse em sua pele. A mão através de sua camiseta queimava e os dedos que passeavam em seu pescoço se faziam demais para processar. A forma em que era tocado, como se fosse quebrar, estava deixando-o louco (e ele não sabia se de raiva ou de afeição). Mas ele sabia que deveria ser assim. Era suficiente para incendiá-lo e deixá-lo com os pensamentos em branco.

Ele parou o ósculo e, de alguma forma, ele puxara Demétrio para seu colo. Um som desprotegido saiu de alguma garganta e ele não sabia de qual (mas não importava, realmente. Ele logo bagunçaria aquele homem). Eles apenas se beijaram um pouco, mas os lábios do outro estavam vermelhos e inchados. As mãos em seu rosto estavam quentes e a palma em seus lábios era áspera. Sorriu carinhosamente.

Era bom estar em casa.

...

Efrem acordou em um quarto que não era seu e em uma casa que definitivamente não era a sua. A desorientação que acompanharia o fato acabou no momento em que ele olhou para o lado e viu Demétrio deitado ao seu lado. Sorriu um pouco envergonhado pelo o que fizeram na noite anterior, mas completamente realizado ainda assim. Estava feliz, oras, não era de ferro, afinal.

(Seria uma mentira estúpida e cruel dizer que não estava satisfeito com o seu relacionamento anteriormente. Era mais do que bom que Demétrio se importasse com o seu ritmo. Mesmo que a preocupação devesse vir do outro lado.)

Olhou para as palavras em seu pulso, finalmente se dando conta de toda a ironia por trás delas. “Sempre podemos registrar na memória”. Era engraçado que fosse justamente seu namorado (e a palavra ainda se sentia estranha em sua língua) quem a falasse. Sorriu suavemente.

Lembrou-se que, quando mais novo, sua única esperança no mundo era o fato de cada pessoa ter uma alma designada, alguém que combinaria especialmente consigo. Procurara por horas a fio na internet a explicação de tal existência. Lendas de diversos folclores, artigos científicos e religiosos foram avidamente lidos. De tudo o que leu, descobriu que algumas culturas não aceitavam plenamente almas gêmeas do mesmo sexo. A Ásia, África e alguns lugares da América do Sul, além de seu país, entre os lugares intolerantes. Efrem, com quinze anos na época, nunca se sentira mais sozinho. E se sua alma gêmea vivesse no seu país, como ele tinha certeza que ela faria (ele não sabia falar nenhuma outra língua, afinal)?

Foi quando ele decidiu que não deixaria algo assim acontecer. Dessa vez, riu de verdade. Porque, pode não parecer, mas Demétrio foi alguém que ele escolheu. Alguém que nunca o renegaria por ser do mesmo sexo, ou do oposto, ou de outro gênero, ou de outra nacionalidade, religião, cor. E ele o amava por isso. Por ter aceitado tanto.

Sentiu a cama mexer ao seu lado e logo braços afetuosos o rodeava. A respiração morna fazia cócegas em sua nuca e a proximidade o permitia sentir o sorriso em sua pele.

— O que você tanto pensa a essa hora? – seu namorado (e Efrem logo se acostumaria ao vocábulo) questionou, mais resmungando que falando.

— Nada. Eu apenas estou feliz por estar em casa. – Demétrio se apoiou em um cotovelo, olhando-o de cima agora, surpresa estampada em seu rosto. Não era difícil de entender. Efrem estava em um apartamento que não era seu, em uma cidade que não era sua, mas ainda estava em um lugar que poderia chamar de lar. Porque o lar de um era onde o outro estava.

Demétrio riu, abraçando-o e escondendo o rosto no vão entre seu ombro e seu pescoço. O ator acariciou as costas nuas suavemente com as pontas dos dedos, sentindo o entalhe.

— Eu também estou feliz por estar em casa.


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Notas finais do capítulo

AAAAAAAAAAAA o que dizer? É a primeira “long” que eu termino em centenas de anos. Estou de férias, aaaaaaaaa, isso quer dizer que eu estarei escrevendo e desenhando e assistindo animezitos enquanto isso uhuuuuu.
— Final feliz para todo mundo sim.
— Imaginem o que quiserem a partir daqui.
— Estarei alegremente recebendo comentários.



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