Lusco Fusco escrita por isa


Capítulo 1
X-Men, nº 174.


Notas iniciais do capítulo

Olá! :)
Então, essa fanfic é uma carta de amor a todos os meus filmes prediletos de comédia romântica que estiveram comigo em todas as fases da minha vida. É uma história leve, clichê, bem melosa e despretensiosa que eu decidi escrever com o único intuito de me divertir um pouco :)
Eu espero que vocês se divirtam também. Eu não tenho a menor ideia de quando os capítulos vão sair porque tudo nela tá bem no improviso, coisa que eu não faço a tempo, mas que de vez em quando faz bem pra saúde.



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Entre luz e fusco, tudo há de ser breve como esse instante. 

 

Aos dezenove anos, eu estava obtendo relativo sucesso em parecer um cara normal vivendo uma vida normal em um planeta normal que orbita em torno de uma bola de fogo eventualmente assassina.

Depois de toda a confusão tentando provar algo, ser um herói, me apaixonar pela garota mais errada de todos os tempos e trocar farpas das quais não me orgulho com meu pai, a coisa é que eu estava cansado de aventuras.

Meu novo objetivo de vida se resumia em ser tão invisível quanto possível e essa é a razão pela qual essa história começa comigo sentado atrás de um balcão em uma lojinha trouxa pequena e entulhada de vinis, HQ’s e todo tipo produto artístico antigo produzido em prol da cultura nerd.

A verdade é que depois de um tempo avaliando minhas opções em jornais, eu havia escolhido trabalhar no mundo trouxa enquanto não tinha ideia de que profissão seguir no mundo bruxo - e essa foi de longe a melhor decisão que tomei em todos os meus curtos anos de experiência humana.

Assim, desde que o Sr. Friedrichsen me contratou, eu comecei a passar todos os dias úteis da semana no pequeno estabelecimento, escutando musicas trouxas antigas, ignorando alergias à poeira, selecionando quadrinhos e ficando maravilhado toda vez que me apresentava a algum cliente e percebia que ele não reagia ao meu sobrenome.

No fim do expediente, eu andava tranquilamente até o beco mais próximo e aparatava para casa. Pode parecer bobo, mas para um cara como eu – com uma leve inclinação para ser chato e se sentir entediado – até que era uma rotina bem boa. Isso por si só já é digno de nota.

Mas há muito mais do que isso.

Felizmente.

E começa, como eu disse antes, em um fim de tarde, comigo atrás do balcão lendo a edição nº 174 de x-men, divagando sobre quanto Scorpius me pagaria por um exemplar. Eu havia iniciado ele no mundo dos quadrinhos trouxas e agora ele era um caso irrecuperável.

Não vou negar: me sentia particularmente orgulhoso de ser a pessoa que contrabandeava coisas trouxas diretamente para a mansão Malfoy e uma parte não exatamente boa da minha pessoa desejava que algum dia o avô de Scorpius finalmente descobrisse as revistinhas, sofresse um infarto e viesse a óbito. A vida do meu melhor amigo – e do pai dele também, suponho – teria um progresso notável.

E eu gostaria de poder dizer outra coisa, mas foi justamente no momento em que eu tinha um vislumbre do corpo morto de Lucius Malfoy que o sininho da porta vermelho sangue tocou, me arrastando de volta para a realidade.

Uma menina alta e magricela entrou. Naquele instante, ela ainda era como qualquer garota alta e magricela e a minha vida ainda não era o que viria a ser dali a cinco minutos - a síntese de um filme hipster de baixo orçamento, com um roteiro meio ruim e uma protagonista que compensava as falhas. E nem seria, se a garota por acaso tivesse desistido de sua intenção inicial e partido. Mas ela não partiu. Ao invés disso, se enfiou entre duas prateleiras e eu voltei para a página que estava lendo, gastando os últimos minutos na vida em que eu não estaria prestando atenção direito em Isobel Amelia Dawson.

— Isso é meio estranho, mas será que você pode me apontar onde estamos? – As palavras carregadas de nervosismo e de um acento esquisito me fizeram erguer os olhos, primeiro para o mapa que ela acabava de estender em cima do balcão e, em seguida, para a dona do sotaque.

Não fiquei imune a essa segunda impressão. Ela tinha uns olhos escuros e redondos. O cabelo castanho descia em ondinhas suaves até os ombros em um corte que eu sabia se chamar long bob porque às vezes escuto de verdade as coisas aleatórias que minha irmã diz. As maças do rosto eram salientes iguais as de uma criança e casava bem com o nariz. Ela também tinha uma boca pequena, cheia e desenhada que instigavam uma lista de pecados na minha mente deturpada de quem está saindo da adolescência.

Eu sorri e era uma pena que ela não tivesse como saber que essa era a minha primeira tentativa de flerte. Em hipótese alguma eu poderia ser descrito como um cara sorridente e ali estava eu, mostrando uma boa parte da minha arcada dentária.

Com uma caneta, apontei o pequenino quadrado que representava o quarteirão e ela franziu o cenho, antes de concordar com a cabeça.

— Certo. – disse, mas ainda encarava o mapa como se fosse um problema difícil de resolver. Eu não podia julgá-la. Londres era uma colcha de retalhos.

— Você está tentando chegar a algum lugar em especifico? – inquiri, compadecido.

— Na estação de metrô. – comentou. – Mas o meu senso de direção vem me pregando peças.

Ela tinha olhos realmente grandes e expressivos. Era como encarar um filhote abandonado. Eu não precisei pensar muito para entender que ela só entrara na loja porque estava vazia e assim ela poderia superar a vergonha e pedir a informação. Expliquei o caminho do melhor jeito que pude e marquei o trajeto com a caneta, para caso de esquecimento.

— Obrigada...

— Albus. Albus Potter. – eu me apresentei.

— Obrigada, Albus. - Ela agradeceu mais uma vez e enrolou o mapa, segurando-o como se sua vida dependesse disso.

Eu a assisti se dirigir à saída com uma palpitação esquisita de adrenalina e com a voz da minha consciência – surpreendentemente parecida com a de Rose – me chamando de idiota.

— Eu estou saindo em meia hora. – avisei, antes que ela alcançasse a porta. – Também vou pegar o metrô. – menti, sem receio. – Se você puder esperar... Eu posso acompanhar você.

— As pessoas não são muito gentis por aqui. Até onde eu sei você pode tentar me matar. - refletiu. – Mas no nível de desespero em que me encontro, acho que é melhor do que continuar perdida.

Eu sorri de novo e achei que o fato de termos o mesmo senso de humor mórbido era um bom sinal.

— Agora que você descobriu meu plano, posso te tranquilizar dando a minha palavra de que vai ser rápido. E quase indolor. - Eu brinquei, numa tentativa de ser espontâneo. Ela riu, então eu me considerei um sucesso.

É preciso esclarecer que eu passei sete anos escolares fazendo com que as pessoas rissem de mim e não por mim, e existe uma diferença abismal entre essas coisas.

— Isobel Dawson. – ela se apresentou, por fim.

— Isobel. – eu repeti, testando a palavra na minha boca. – Fique a vontade. - Dawson me encarou por um instante, tentando descobrir qual era a minha. Desconcertado, eu me retraí e me concentrei na tentativa de voltar a ser um bom cidadão inglês.

O silêncio se arrastou por longos e insuportáveis minutos. Eu não conseguia ler. Às vezes, nem respirar direito. Ficava dividido entre observar um ponto fixo no quadrinho ou um ponto fixo no balcão. Um medo bobo de que ela desistisse da ideia e fosse embora crescia a cada minuto que demorava uma hora para passar. Eu tentei inspecioná-la pelo canto do olho incontáveis vezes. Foi assim que eu descobri que ela tinha interesse em Doctor Who, que usava as unhas muito curtas pintadas de vermelho, que seu suéter preto tinha pequenos dinossauros verdes pixelizados e bordados por todos os lados o que não combinava em nada – e ao mesmo tempo combinava em tudo – com o vestido azul royal que ela usava por baixo e as meia calças pretas com pontinhos brancos que desciam pelas pernas até serem encobertas por botas Oxford – uma invenção bruxa que fazia muito sucesso no mundo muggle, por alguma razão.

Eu só queria levá-la para casa, independente de onde isso fosse e, a considerar o inglês atrapalhado quando ela estava nervosa, era possível que significasse outro continente. Eu não tinha ideia de qual, mas parecia lindo.

Tudo parecia lindo. E terrível. Simultaneamente. Até dar 18:30.

Aí eu peguei minhas coisas e ajeitei tudo com uma precisão que não costumava me pertencer. Isobel se levantou do corredor onde havia se sentado. Ela parecia meio sem jeito, e eu devia dar a mesma impressão.

Ainda assim, nós caminhamos juntos para fora da loja, e eu nunca tive tanto prazer em colocar a placa de “fechado”.  Eu contei a ela que trabalhava ali há três meses. Ela me contou que era anglo-brasileira, mas mais a segunda parte do que a primeira. Vinha passar uma temporada com a avó. Mentalmente, eu dei graças a Merlin pela avó.

Quando chegamos no metrô eu já sabia que ela era apenas um ano mais velha do que eu, o que parecia um avanço no meu histórico amoroso. E eu também sabia que queria vê-la de novo, embora não tenha feito nada para sugerir isso. Aguardei a linha dela, dei tchau, e passei cinco minutos olhando para o nada enquanto a voz da Rose na minha cabeça voltava a me chamar de idiota.


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