Tratado dos Párias escrita por Isabela Allmeida


Capítulo 6
Plano Falho?


Notas iniciais do capítulo

Ainda não sei mexer direito aqui gente. Se quiserem deixar dicas para eu arrumar algo e acrescentar algo nas postagens fiquem a vontade.



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O dia estava amanhecendo. Esta próxima à hora em que Samuel terá sua primeira prova de amor, seu primeiro agrado. Nisso agradeço a mulher que me deu vida por me ensinar que preciso dar para receber. Preciso fazer com que ele caía aos meus pés, que mesmo querendo não consiga me negar nenhum pedido. Sei que Nicolae não gosta de me ver agir assim, Dimitri fica preocupado comigo a cada vez que me aproximo de Samuel.

Agradeço Rael por ter me permitido voltar e mais ainda a Dimitri por ter se infiltrado comigo. Tivemos sorte de ter descoberto que existem algumas famílias retiradas do reino, capitães que cuidam de extensões muito necessários para o sustento do mesmo, senhores que tem seus comércios e moradias do lado de fora e fornecem tudo o que reino precisa.

Desde alimentos, algodão bruto, tecidos e raridades como metais para a cunha e pedras para os enfeites das primeiras esposas na casta nobre.

E como meu adorado pai Rael é inteligente, soube usurpar o nome de uma família. Tenho medo por Eva, ela se passa por minha mãe, porém é apenas uma humana, não poderia se defender caso sejamos descobertos.

Eu a amo como a mãe que nunca tive realmente. Temo pela segurança dela, mas ela também não me deixaria vir sozinha.

Não teria como eu me passar por uma filha de senhores sem ter os pais, os senhores que entregarão a minha mão a Samuel hoje, um noivado cheio de luxo e frescura.

Dimitri não dorme há mais de dois anos, tudo para me ajudar nessa ousada espionagem. Envelheceu tanto por conta disso que pode se passar por meu pai tranquilamente. Me entristece vê-lo com o corpo tão fragilizado por conta da idade adquirida pela falta de sono, mas ele não me deixou vir sozinha, não poderia ter vindo sem ele era um ultimato e eu fico feliz por ele estar comigo.

Nicolae nos aguarda, usurpou o lugar de um senhor em uma extensão próxima da nossa, também não dorme há dois anos, não poderia ter vindo se não fosse assim, é o segundo em comando e já compareceu em reuniões com o rei. Ele se passa por um viúvo muito rico que está aqui para ver a entrega desse ano, onde poderá reclamar seu direito de segunda chance. Apenas Rael não pode aparecer. Ele é o senhor supremo e como filho mais velho precisa ficar no reino dos sombrios para cuidar de tudo até que o pai supremo acorde de seu sono, o que já acontece há mais de cinco décadas.

Os três tem medo que seu pai acorde, por causa dele que a raça dos sombrios foi quase extinta. Por causa de sua personalidade forte e sua sede de vingança que a guerra durou mais tempo que o necessário, até uma emboscada onde todas as mulheres sombrias foram mortas. Somente com esse duro golpe para os sombrios que ele viu que a guerra iria apenas acabar com sua raça já debilitada.

Então depois do tratado dos Párias quando apenas três mil sombrios e somente homens ainda existiam ele cedeu. Depois de vinte anos ele pôde mais ficar entre eles, entrou em um sono de luto pelas perdas não sabendo nada do que aconteceu com seu povo desde então.

Rael teme sua sublevação, tem receio que ele acorde e descubra que os sombrios estão sendo enganados pelos humanos. É por isso que estou aqui hoje, quero ajudá-los a descobrir tudo e evitar uma guerra.

Irei à cerimônia assim que ficar pronta e terei que dançar com Samuel na hora do baile, ele me tocará e não sei o que vou sentir ou como reagirei, mas não fugirei. Não dessa vez...

Sei que Samuel pode fazer comigo da mesma forma que fez com as meninas há dois anos. Só que agora não sou mais aquela menininha assustada com medo de homens. Dele eu tenho medo, mas fingirei lindamente que não. Preciso descobrir se esse plano é apenas contra os sombrios.

Temos todo tipo de desconfiança sobre os planos do rei. Que seja obra dele não há duvidas.  Mas quais hipóteses estão certas? A que mais acreditamos é a que me parece mais inviável, que os humanos estejam aliados dos leviatãs para destruir as duas raças além deles que sobraram. Isso não seria tão estranho tendo em conta que os leviatãs são uma criação dos humanos contra os Licans e sombrios, mal sabendo eles que os leviatãs não temeriam ninguém vindo a se virar contra os próprios humanos que os criaram.

Contudo essa hipótese não parece viável, os leviatãs são instáveis com pouca inteligência, fortes e destruidores, não se aliariam.

Foram ele que quase conseguiram extinguir a vida no passado e para manter o que sobrou das três raças, todos se uniram contra os leviatãs.

Eu sei que antigamente era tudo moderno. Esses híbridos foram criados a partir de três espécies diferentes. Humanos, Licans e Sombrios.

Com os genes dos três foram criados por feiticeiros chamados cientistas há eras atrás. Esses cientistas são uma classe banida nos dias de hoje, foram os primeiros a serem caçados na guerra, perseguidos pelos três primais até sumirem do mundo. Muito merecido porque eram sábios que usaram sua sabedoria para criar um monstro praticamente indestrutível.

Apenas a união dessas três raças primarias que conseguiu segurar a fúria desses seres híbridos.

Os leviatãs tem apenas uma fraqueza quando nascem, um defeito genético que cria um tipo de alergia a apenas uma das três raças em aleatório e esse defeito causa morte rápida e isso tinha sido descoberto há muitos anos e assim começou a guerra da supremacia.

Humanos, sombrios e Licans unidos contra os leviatãs. Eles precisavam ser destruídos, eram criaturas apocalípticas eram muitos e estavam dizimando quase tudo o que se vivia no mundo.

Armas poderosas criadas pelo homem foram usadas pelos Leviatãs que não respeitavam nem sua própria espécie, destruindo imensas áreas povoadas de uma vez só, restando pouco de cada espécie inclusive deles próprios, e então na beira da extinção foram derrotados e aprisionados.

Um tratado de paz foi decretado entre os três, como os humanos eram os culpados daquela situação ficaram responsáveis pelo fornecimento de mulheres para a preservação das espécies.

A cada ano uma encomenda é entregue. Dezoito são entregues para a sacerdotisa quando completam quinze anos, lá elas aguardam um mês por seus destinos. Das dezoito meninas sempre dez é de direito dos humanos que usam esse mês para negociar valores.

A sacerdotisa recebe para escolher as melhores e mais saudáveis para permanecer no reino, ficando oito delas, as sobras para serem divididas entre sombrios, Licans e Leviatãs, quatro para uma raça, três para a outra e sempre uma aos leviatãs. Sempre alterando entre os sombrios e Licans, a raça que recebe a menor quantia tem direito a ganhar a maior no próximo ano.

Somando cinquenta anos de paz começaria a segunda parte do acordo. Depois de vinte anos os humanos teriam que ceder dez meninas para uma das duas raças do tratado, uma vez aos Licans e outra aos Sombrios sendo um ano para cada raça, e assim seria a cada vinte anos uma entrega especial.

Uma coisa era certa, a espera foi longa e nesse período o valor das mulheres se tornou inestimável. Desde o tratado as mulheres viraram objeto de valor.

No dia que quase fui morta era a entrega especial dos sombrios aonde teriam o direito de levar quatorze meninas, quatro do ano e dez da entrega especial dos vinte anos.

Aquela chacina no celeiro tinha sido para evitar que os sombrios conseguissem ter sua encomenda, pois teriam quatorze mulheres para aumentar uma espécie quase extinta.

Então Rael desconfiou que fosse um boicote de alguém e depois da conversa que tivemos quando consegui falar, contei tudo o que ouvi no celeiro. Então foi confirmado que era um plano para eliminar os sombrios e assim começou a investigação e em seguida os planos e depois a ação.

Tudo já se soma dois anos. Preciso fazer com que Samuel fale, tenho que descobrir quem está por detrás dessa conspiração, antes que o pai supremo dos sombrios acorde e uma guerra sem precedentes se inicie.

Eva bate na porta. — Querida posso entrar? Preciso te arrumar para a cerimônia.

— Entre mamãe. — Amo chamar Eva assim.

Estamos em uma casa grande no centro do bairro dos forasteiros, a parte nobre dos senhores, mas há muitos criados pela casa então não posso arriscar. Tenho que fazer com que todos acreditem piamente em meu disfarce, o bom que Eva também gosta desse tratamento.

Ela abre a porta e sorri pra mim, acompanhada de três criadas. — Viemos preparar minha filha linda para seu dia mais especial.

— Estou um pouco nervosa, acho que não me sinto muito bem.

— Nem pense nisso. Você tem que estar radiante hoje, é um dia importante para você e Samuel a espera no salão real.

As criadas davam risadinhas ouvindo a conversa de mãe e filha. Eram das castas três, tinham se casado com soldados comuns, mas levavam uma vida digna, tendo um subsídio mensal por seus serviços. Nunca precisariam vender seus filhos, apenas se quisessem e caso decidissem por isso eles valeriam o triplo dos filhos da penúltima casta. Só teriam que fazer isso caso seus maridos fossem uns covardes que corressem no primeiro sinal de perigo, fazendo com o que toda sua família fosse rebaixada para a penúltima casta, como tinha acontecido com meus pais.

Eu não poderia deixar de fazer a pergunta que mais me corroía desde que fui resgata e entendi melhor como as castas funcionavam. Olhei para a criada mais sorridente, a que escovava meus cabelos.

— Pode me sanar uma curiosidade?

Ela parou de rir e me olhou solícita. Eva franziu o cenho visivelmente preocupada com minha atitude.

— Eu sei que as castas menores, as mais inferiores são obrigadas a entregar seus filhos em troca de subsídios, eu como sou de casta superior posso ser cortejada e negociar meu pretendente, queria saber de você, que é da terceira como funciona isso em sua casta?

Eu sabia que era arriscada uma pergunta daquelas, mas eu tinha meus motivos válidos para não saber. Segundo minha própria historia eu vinha de uma extensão retirada do reino, onde minha família era dominante e não tinha muitos exemplos da sociedade e segundo meu próprio disfarce eu era uma moça mimada, cheia de vontades e muito curiosa. Fazia todo tipo de perguntas inocentemente passando dos limites por minha sede de aprender sobre a cidade grande.

— Bom senhora, nós não somos obrigadas a vender nossos filhos, mas se um senhor de casta superior reclamar nossas filhas quando elas adquirirem idade não podemos negar o casamento . Só se algum homem da nossa casta já a tiver reclamado e isso ter sido lavrado, o que custa meio caro para fazer, os oficiais tabeliães cobram caro.

— Mas se caso aconteça de um homem de sua casta reclame sua filha vocês podem negar?

— Sim podemos senhora, mas quase nunca acontece, porque se aceitarmos teremos acesso aos nossos filhos e netos pois seriam da mesma casta que nós, se negarmos , algum homem de uma casta superior pode reclamar e então não poderemos mais nos comunicar, não como família.

— Entendo, mas me diga uma coisa, caso sua filha já esteja comprometida com um de sua casta e um homem de outra casta se interesse nela?

— Aí podemos dizer que ela já é comprometida em papel e se o pretendente desistir terá que pagar uma multa à família. Isso quase sempre acontece na verdade.

Franzi o cenho achando estranho esse comentário. — Como assim? Não acho que sua casta ganha tanto dinheiro ao ponto de pagar uma multa por desistir do compromisso.

— Realmente não senhora, mas geralmente o pretendente vende seu direito de casamento aos senhores de castas muito superior, com o alto valor dessa venda conseguem pagar a multa e ainda ficam com um bom dinheiro para comprar um grau ou pelo menos para metade de um grau.

Fiquei impressionada. Era um comércio aquilo como sempre, mas um direito muito melhor do que as duas ultimas castas onde a penúltima ainda recebia por seus filhos e as escravas simplesmente eram mantidas gravidas quase o tempo todo de sua existência, para juntar crianças para a encomenda e com o que sobrasse aumentar ainda mais força bélica e trabalhadora da raça humana.

— Posso fazer uma pergunta senhora?

Essa pergunta deu um frio na minha barriga, mas não poderia titubear eu tinha começado a conversa e teoricamente não tinha nada a esconder.

—Pode fazer, se eu puder responderei.

— Sua casta é uma das mais altas não é?

— Pelo que eu saiba é somente abaixo do grau real.

— Então só poderia deixar de casar se o seu noivo morresse senhora. Isso deve deixar a senhora muito feliz, nada impedira esse casamento depois do noivado, a não ser que um de casta superior a ele a reclame, como ele receberá o título de general suas castas serão iguais, então só não haverá casamento se o próprio príncipe a reclamar e pague o valor que uma multa equivalente a sua casta exigiria.

Meu coração gelou, ela tinha em poucas palavras me lembrado praticamente tudo o que daria errado em meus planos. Não era um noivado somente, seria basicamente um casamento depois que aceitasse sua primeira dança e recebesse o beijo que selaria o compromisso publicamente.

Não teria como anular ou cancelar esse casamento a não ser que Samuel morresse, pedisse um valor de multa o que duvido que faria, fosse desonrado ou o príncipe olhasse pra mim com outros olhos, o que me dava asco só de pensar. Um filho do rei Júlio seria tão parecido com o pai ou até mesmo mais tirano.

Se eu continuasse com essa farsa teria que me casar em alguns meses ou fugir do reino antes disso .Realmente eu tinha pouco tempo.


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