Tratado dos Párias escrita por Isabela Allmeida


Capítulo 11
Reviravolta




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Na primeira pirueta Samuel falou. —Tem um cheiro maravilhoso, ficarei muito feliz quando puder tê-la completamente em meus braços.

O cheiro de sálvia chegou forte ao meu nariz, sua voz e seus olhos eram uma mistura perigosa ao meu medo mal controlado por conta disso evitei olhar em seus olhos.

Eva havia me dito que era mais coisa da minha cabeça, para que eu não o olhasse com inferioridade que tudo daria certo, mas na teoria parecia mais fácil do que agora que a dança começava, ainda assim mostrei o melhor dos rostos, o sereno e feliz. 

A ansiedade fazia meu estômago revirar, queria saber o que sentiria se o encarasse se enfrentasse seus olhos de perto, olhei rapidamente para seu rosto, seu cabelo loiro de corte escovinha deixava seu rosto ainda mais cruel, o que eu sentia por ele ainda era forte. Sentia vontade de arrancar sua mão de minha cintura e gritar para todos saberem o monstro que ele era e pedir justiça, se existisse alguma pessoa com humanidade ainda naquele maldito lugar que o fizesse pagar pelo que fez àquelas garotas, ainda assim respirei fundo não estava tão ruim quanto imaginei. A distância e a pouca conversa me ajudariam a vencer a musica.

Logo todos do salão perderam interesse nos noivos e também pegaram seus pares para dançar, já sem sermos tão vigiados em uma de nossas voltas pelo salão ele arriscou ser mais ousado me puxando mais para ele. O cheiro de seu perfume não encobriu o seu cheiro natural de meu sensível nariz, sua respiração em minha testa me deu calafrios, seu hálito aromatizado com sálvia estava a me embrulhar o estômago.

Nicolae havia me dito que ele poderia agir dessa forma e que se eu ainda quisesse continuar tinha que ter uma fuga para isso, e que uma ótima saída seria pensar em coisas felizes, e assim fiz, não reclamei e nem rechacei sua aproximação. Faltava mais da metade da dança eu aguentaria, era pouco tempo, mas então sua mão ficou mais exigente me apertando a cintura, subindo e descendo devagar passeando preguiçosamente pelas curvas, e então ele se aproximou um pouco mais sussurrando em meu ouvido como se eu estivesse ansiosa por aquele toque.

— No fim desse baile depois da última música selaremos nossa união com o beijo e então você não aguentará esperar dois meses meu amor para me ter dentro de você, e uma noite será pouco para eu me cansar.

O suficiente para eu entender e o pior, imaginar ele me penetrando. Imaginar o que ele poderia fazer comigo e como faria fez as lembranças chegarem como enxurradas, gemidos, sangue, gritos de dor e desespero, tudo começou a girar a minha volta, tentei encontrar Nicolae ou Dimitri até mesmo Eva no salão para me acalmar, olhar para alguém que me transmitisse confiança, mas não conseguia ver nada mesmo olhando tudo. Senti o suor correndo pela minha coluna, o amargor de minha bílis na garganta, engoli em seco e respirei pela boca várias vezes tentando segurar o resto de coragem que evaporava em forma de suor.

Aquela aproximação foi demais para mim, suas palavras foi como reviver um medo primitivo. Olhei desesperada para todo lado e encontrei os olhos de Nicolae que parecia ainda mais branco de preocupação, ele sabia que eu não ia dar conta, com um sinal de olho ele me mostrou o palco e eu segui seu olhar e ali estava o príncipe me encarando e falando enérgico com os músicos e eles acenavam obedientes.

Ele não tirou os olhos de mim parecia que sabia que Samuel me fazia mal, ou talvez fosse apenas receio que ele percebesse, então baixei o olhar e milagrosamente a música acabou. Samuel olhou para mim sem entender nada, seus olhos brilharam de ódio e ele olhou na direção do palco, receosa segui seu olhar, o príncipe não estava mais ali.

Os músicos pararam a música no meio e ele não podia fazer nada em relação a isso, apenas acenou quando Dimitri se aproximou, teoricamente ele já tinha dançado comigo e não podia reclamar. Dimitri me pegou pela mão visivelmente preocupado com meu estado.

— Você não dará conta disso Diana, está transtornada, ficou visível sua aflição, precisa se acalmar, Samuel suga toda sua compostura e será pior, não esqueça que ainda temos o pedido e o beijo.

Eu não disse nada, apenas o acompanhei até a mesa e sentamos. Samuel tinha sumido do salão e o príncipe também. Era estranho, mas eu poderia jurar que ele sabia o que acontecia comigo e que foi ordem dele para que a música acabasse assim no meio.

Estava tentando se redimir por ter sido idiota quando dançou comigo? Respirei fundo e agradeci a ele mentalmente, mas isso não adiantou nada, do beijo eu não escaparia, usaria esse tempo sem Samuel me apertando para tentar me acalmar e pensar em um modo.

Depois que contei o que Samuel havia me dito a Dimitri ele ficou possesso, e foi em seguida conversar com os pais dele e lembrá-los do acordo e da regra do molho aplicada no início das negociações.

Depois de muitos acenos e sorrisos sem graça dos Zafirins ele voltou me garantindo que o beijo seria casto, pois se depois de dois meses eu não quisesse Samuel ele já tinha um pré-acordo de casamento com um duque e não queria falatório antes disso sobre minha conduta porque isso iria me desvalorizar e ele perderia o negócio.

— Você é maravilhoso Dimitri, nem sei como te agradecer, um beijo casto será como uma picada de inseto venenoso. Vai doer, mas não irei morrer.

Ele riu e falou conspiratório. — Não entenderam muito isso de minha parte de te entregar de graça para Samuel e não aceitar o mesmo negócio com outro caso não desse certo. Acontece que sou um mentiroso convincente porque pisquei para eles e disse que te amava, mas amava a cor do ouro também, e se não desse certo com sua primeira escolha você nunca poderia me dizer que não te dei o direito de escolher e não poderia me culpar de lucrar com isso.

Rimos e eu me senti leve, depois de tanto estava acabando finalmente, e o beijo não seria tão doloroso, era apenas fechar os olhos e esperar ele encostar sua boca na minha e mais nada. Ainda assim isso me pareceu repugnante.

O baile decorreu normalmente depois disso, pela regra de etiqueta nem Samuel nem o príncipe poderiam me tirar para uma segunda dança e eu estava muito agradecida por não precisar suportar nenhum dos dois até o fim do baile.

Essa parte do baile era o direito de meu pai de me apresentar a outros homens da mesma casta e era direito dos homens me pedir uma dança pela lei do reino e Samuel agora estava entretido fazendo suas alianças e tirando outras moças para dançar, mas visivelmente não estava contente como ocorrido.

Fiquei feliz de ele não ter visto o príncipe no palco momentos antes da musica ser interrompida.

Agora eu tinha a cabeça mais fresca para dançar com muitos tarados sem me abalar nenhum momento. Suportei cada apertão em minha cintura, cada piadinha daqueles homens velhos e babões, cada oferta estapafúrdia pela minha virgindade. Eles consideravam realmente a mulher como um produto e assim eu fui tratada todas às vezes sem exceção, até achei engraçado aquilo.

O toque dos outros não me afetava, me irritava apenas o desrespeito, mas não senti nada apenas incômodo.

Dimitri também recebeu muitas ofertas de viúvos, para que repensasse até o final do baile e não entregasse minha mão a um homem que tinha acabado de ascender na profissão e que ainda não tinha tantas posses quanto muitos ali das famílias nobres. Ele me contava tudo o que podia a cada vez que nos sentávamos um pouco para descansar.

Finalmente chegou a última música, e eu comecei a ficar nervosa, depois disso seria o beijo e agora não parecia tão fácil de conseguir passar por essa.

Logo ouvi uma voz rouca e tão querida pra mim. — Me permite uma dança com sua maravilhosa filha meu senhor?

Dimitri respondeu respeitoso. — Claro meu senhor, cuide bem de minha preciosa.

E assim Nicolae tinha me tirado para dançar e com aqueles olhos turquesa em mim eu me esqueci de todo o transtorno até agora. Ele sempre teve esse dom de me trazer paz. Sorri para seu rosto envelhecido pela falta de dormir.

— Deixou a ultima música para me guiar senhor?

— Não poderia ser diferente minha bela dama, imaginei que tinha muitas ofertas e lances para pensar.

— Sim senhor eu tive, nenhuma delas foi superior a chance de ficar com o homem que escolhi para mudar a minha vida.

— Esta bem?

— Não Nicolae, eu nunca vi tanta hipocrisia no mesmo ambiente, tanta corrupção e luxúria. Esses homens parecem animais no cio, só sabem vislumbrar o que tem além do vestido.

Ele continuou sério enquanto girávamos, mas seus olhos o traíram descendo e subindo rapidamente até parar de novo em meus olhos. — Não me admira estarem como corvos em cima de você, esta muito bonita hoje e muito sensual nesse vestido justo, só quero que tenha calma e aguente mais um pouco, recuar agora será se colocar em perigo e tudo está indo conforme planejado, falta pouco pequena.

— Nem tanto, o príncipe quase estragou tudo, mas finalmente está acabando. O que me preocupa é saber que depois dessa música Samuel irá me beijar e só de pensar nisso me embrulha o estômago, ele deve ter usado todo o estoque de sálvia do mercado colorido, sorte que será rápido.

Nicolae riu e continuou me levando pelo salão sem dizer nada apenas me olhando como se pudesse ver minha alma, um costume que ele tinha de sempre olhar para mim e em volta de mim, nunca entendi essa mania dele, mas já estava acostumada com seu jeito.

O que ele via eu não sei, mas via algo, e agora ele estava com aquele semblante preocupado de quem vai dar uma noticia ruim e não quer que desmaiemos de susto.

— Diana lembra que nas regras que estudamos o rei pode negar sua mão a Samuel?

— Sim, mas ele não está aqui, apenas o príncipe e ele não tem poder para isso.

— Acho que está enganada minha linda, o rei acaba de chegar.

Não podia ser, não estava acontecendo e mais uma vez naquela noite fiquei preocupada, basicamente nada estava indo como planejado e novamente meu coração acelerava, realmente ia dar tudo tão errado?

Não era possível depois de tantos pormenores, tantos planos, sermos derrotados antes mesmo de conseguir qualquer fragmento de informação, mas era verdade, o rei estava ali em uma cerimônia que não era de seu nível momentos antes de acabar a ultima música.

Então era sinal que seu filho havia pedido que ele intercedesse no pedido, ou era isso ou Samuel tinha muita influência com o rei ao ponto de ele vir ver seu general recém-condecorado noivar, era uma esperança.

Quando começou a falação no salão por conta da real aparição, Nicolae se aproximou um pouco mais e falou enérgico. — Não pode se negar, se acontecer não negue nada esta me ouvindo? O que o rei pedir terá que aceitar, faz parte das castas e das leis desse reino.

Afirmei silenciosa. Tudo perdido, todos os planos, tínhamos tudo e agora basicamente nada. Só me restava fingir que era tão inocente ao ponto de não saber o que estava acontecendo e um cansaço de tudo aquilo começava e me dominar. A euforia dava lugar ao desânimo e agora só queria ir para casa.

O príncipe estava ao lado do rei, não olhou pra mim em nenhum momento que apareceu no salão com seu pai. Seus olhos estavam fixos em Samuel que pelo olhar gelado com que retribuía me dava todas as respostas que eu precisava.

Não iria noivar naquela noite. O príncipe tinha reclamado o direito de me cortejar.

Na primeira pirueta Samuel falou. —Tem um cheiro maravilhoso, ficarei muito feliz quando puder tê-la completamente em meus braços.

O cheiro de sálvia chegou forte ao meu nariz, sua voz e seus olhos eram uma mistura perigosa ao meu medo mal controlado por conta disso evitei olhar em seus olhos.

Eva havia me dito que era mais coisa da minha cabeça, para que eu não o olhasse com inferioridade que tudo daria certo, mas na teoria parecia mais fácil do que agora que a dança começava, ainda assim mostrei o melhor dos rostos, o sereno e feliz. 

A ansiedade fazia meu estômago revirar, queria saber o que sentiria se o encarasse se enfrentasse seus olhos de perto, olhei rapidamente para seu rosto, seu cabelo loiro de corte escovinha deixava seu rosto ainda mais cruel, o que eu sentia por ele ainda era forte. Sentia vontade de arrancar sua mão de minha cintura e gritar para todos saberem o monstro que ele era e pedir justiça, se existisse alguma pessoa com humanidade ainda naquele maldito lugar que o fizesse pagar pelo que fez àquelas garotas, ainda assim respirei fundo não estava tão ruim quanto imaginei. A distância e a pouca conversa me ajudariam a vencer a musica.

Logo todos do salão perderam interesse nos noivos e também pegaram seus pares para dançar, já sem sermos tão vigiados em uma de nossas voltas pelo salão ele arriscou ser mais ousado me puxando mais para ele. O cheiro de seu perfume não encobriu o seu cheiro natural de meu sensível nariz, sua respiração em minha testa me deu calafrios, seu hálito aromatizado com sálvia estava a me embrulhar o estômago.

Nicolae havia me dito que ele poderia agir dessa forma e que se eu ainda quisesse continuar tinha que ter uma fuga para isso, e que uma ótima saída seria pensar em coisas felizes, e assim fiz, não reclamei e nem rechacei sua aproximação. Faltava mais da metade da dança eu aguentaria, era pouco tempo, mas então sua mão ficou mais exigente me apertando a cintura, subindo e descendo devagar passeando preguiçosamente pelas curvas, e então ele se aproximou um pouco mais sussurrando em meu ouvido como se eu estivesse ansiosa por aquele toque.

— No fim desse baile depois da última música selaremos nossa união com o beijo e então você não aguentará esperar dois meses meu amor para me ter dentro de você, e uma noite será pouco para eu me cansar.

O suficiente para eu entender e o pior, imaginar ele me penetrando. Imaginar o que ele poderia fazer comigo e como faria fez as lembranças chegarem como enxurradas, gemidos, sangue, gritos de dor e desespero, tudo começou a girar a minha volta, tentei encontrar Nicolae ou Dimitri até mesmo Eva no salão para me acalmar, olhar para alguém que me transmitisse confiança, mas não conseguia ver nada mesmo olhando tudo. Senti o suor correndo pela minha coluna, o amargor de minha bílis na garganta, engoli em seco e respirei pela boca várias vezes tentando segurar o resto de coragem que evaporava em forma de suor.

Aquela aproximação foi demais para mim, suas palavras foi como reviver um medo primitivo. Olhei desesperada para todo lado e encontrei os olhos de Nicolae que parecia ainda mais branco de preocupação, ele sabia que eu não ia dar conta, com um sinal de olho ele me mostrou o palco e eu segui seu olhar e ali estava o príncipe me encarando e falando enérgico com os músicos e eles acenavam obedientes.

Ele não tirou os olhos de mim parecia que sabia que Samuel me fazia mal, ou talvez fosse apenas receio que ele percebesse, então baixei o olhar e milagrosamente a música acabou. Samuel olhou para mim sem entender nada, seus olhos brilharam de ódio e ele olhou na direção do palco, receosa segui seu olhar, o príncipe não estava mais ali.

Os músicos pararam a música no meio e ele não podia fazer nada em relação a isso, apenas acenou quando Dimitri se aproximou, teoricamente ele já tinha dançado comigo e não podia reclamar. Dimitri me pegou pela mão visivelmente preocupado com meu estado.

— Você não dará conta disso Diana, está transtornada, ficou visível sua aflição, precisa se acalmar, Samuel suga toda sua compostura e será pior, não esqueça que ainda temos o pedido e o beijo.

Eu não disse nada, apenas o acompanhei até a mesa e sentamos. Samuel tinha sumido do salão e o príncipe também. Era estranho, mas eu poderia jurar que ele sabia o que acontecia comigo e que foi ordem dele para que a música acabasse assim no meio.

Estava tentando se redimir por ter sido idiota quando dançou comigo? Respirei fundo e agradeci a ele mentalmente, mas isso não adiantou nada, do beijo eu não escaparia, usaria esse tempo sem Samuel me apertando para tentar me acalmar e pensar em um modo.

Depois que contei o que Samuel havia me dito a Dimitri ele ficou possesso, e foi em seguida conversar com os pais dele e lembrá-los do acordo e da regra do molho aplicada no início das negociações.

Depois de muitos acenos e sorrisos sem graça dos Zafirins ele voltou me garantindo que o beijo seria casto, pois se depois de dois meses eu não quisesse Samuel ele já tinha um pré-acordo de casamento com um duque e não queria falatório antes disso sobre minha conduta porque isso iria me desvalorizar e ele perderia o negócio.

— Você é maravilhoso Dimitri, nem sei como te agradecer, um beijo casto será como uma picada de inseto venenoso. Vai doer, mas não irei morrer.

Ele riu e falou conspiratório. — Não entenderam muito isso de minha parte de te entregar de graça para Samuel e não aceitar o mesmo negócio com outro caso não desse certo. Acontece que sou um mentiroso convincente porque pisquei para eles e disse que te amava, mas amava a cor do ouro também, e se não desse certo com sua primeira escolha você nunca poderia me dizer que não te dei o direito de escolher e não poderia me culpar de lucrar com isso.

Rimos e eu me senti leve, depois de tanto estava acabando finalmente, e o beijo não seria tão doloroso, era apenas fechar os olhos e esperar ele encostar sua boca na minha e mais nada. Ainda assim isso me pareceu repugnante.

O baile decorreu normalmente depois disso, pela regra de etiqueta nem Samuel nem o príncipe poderiam me tirar para uma segunda dança e eu estava muito agradecida por não precisar suportar nenhum dos dois até o fim do baile.

Essa parte do baile era o direito de meu pai de me apresentar a outros homens da mesma casta e era direito dos homens me pedir uma dança pela lei do reino e Samuel agora estava entretido fazendo suas alianças e tirando outras moças para dançar, mas visivelmente não estava contente como ocorrido.

Fiquei feliz de ele não ter visto o príncipe no palco momentos antes da musica ser interrompida.

Agora eu tinha a cabeça mais fresca para dançar com muitos tarados sem me abalar nenhum momento. Suportei cada apertão em minha cintura, cada piadinha daqueles homens velhos e babões, cada oferta estapafúrdia pela minha virgindade. Eles consideravam realmente a mulher como um produto e assim eu fui tratada todas às vezes sem exceção, até achei engraçado aquilo.

O toque dos outros não me afetava, me irritava apenas o desrespeito, mas não senti nada apenas incômodo.

Dimitri também recebeu muitas ofertas de viúvos, para que repensasse até o final do baile e não entregasse minha mão a um homem que tinha acabado de ascender na profissão e que ainda não tinha tantas posses quanto muitos ali das famílias nobres. Ele me contava tudo o que podia a cada vez que nos sentávamos um pouco para descansar.

Finalmente chegou a última música, e eu comecei a ficar nervosa, depois disso seria o beijo e agora não parecia tão fácil de conseguir passar por essa.

Logo ouvi uma voz rouca e tão querida pra mim. — Me permite uma dança com sua maravilhosa filha meu senhor?

Dimitri respondeu respeitoso. — Claro meu senhor, cuide bem de minha preciosa.

E assim Nicolae tinha me tirado para dançar e com aqueles olhos turquesa em mim eu me esqueci de todo o transtorno até agora. Ele sempre teve esse dom de me trazer paz. Sorri para seu rosto envelhecido pela falta de dormir.

— Deixou a ultima música para me guiar senhor?

— Não poderia ser diferente minha bela dama, imaginei que tinha muitas ofertas e lances para pensar.

— Sim senhor eu tive, nenhuma delas foi superior a chance de ficar com o homem que escolhi para mudar a minha vida.

— Esta bem?

— Não Nicolae, eu nunca vi tanta hipocrisia no mesmo ambiente, tanta corrupção e luxúria. Esses homens parecem animais no cio, só sabem vislumbrar o que tem além do vestido.

Ele continuou sério enquanto girávamos, mas seus olhos o traíram descendo e subindo rapidamente até parar de novo em meus olhos. — Não me admira estarem como corvos em cima de você, esta muito bonita hoje e muito sensual nesse vestido justo, só quero que tenha calma e aguente mais um pouco, recuar agora será se colocar em perigo e tudo está indo conforme planejado, falta pouco pequena.

— Nem tanto, o príncipe quase estragou tudo, mas finalmente está acabando. O que me preocupa é saber que depois dessa música Samuel irá me beijar e só de pensar nisso me embrulha o estômago, ele deve ter usado todo o estoque de sálvia do mercado colorido, sorte que será rápido.

Nicolae riu e continuou me levando pelo salão sem dizer nada apenas me olhando como se pudesse ver minha alma, um costume que ele tinha de sempre olhar para mim e em volta de mim, nunca entendi essa mania dele, mas já estava acostumada com seu jeito.

O que ele via eu não sei, mas via algo, e agora ele estava com aquele semblante preocupado de quem vai dar uma noticia ruim e não quer que desmaiemos de susto.

— Diana lembra que nas regras que estudamos o rei pode negar sua mão a Samuel?

— Sim, mas ele não está aqui, apenas o príncipe e ele não tem poder para isso.

— Acho que está enganada minha linda, o rei acaba de chegar.

Não podia ser, não estava acontecendo e mais uma vez naquela noite fiquei preocupada, basicamente nada estava indo como planejado e novamente meu coração acelerava, realmente ia dar tudo tão errado?

Não era possível depois de tantos pormenores, tantos planos, sermos derrotados antes mesmo de conseguir qualquer fragmento de informação, mas era verdade, o rei estava ali em uma cerimônia que não era de seu nível momentos antes de acabar a ultima música.

Então era sinal que seu filho havia pedido que ele intercedesse no pedido, ou era isso ou Samuel tinha muita influência com o rei ao ponto de ele vir ver seu general recém-condecorado noivar, era uma esperança.

Quando começou a falação no salão por conta da real aparição, Nicolae se aproximou um pouco mais e falou enérgico. — Não pode se negar, se acontecer não negue nada esta me ouvindo? O que o rei pedir terá que aceitar, faz parte das castas e das leis desse reino.

Afirmei silenciosa. Tudo perdido, todos os planos, tínhamos tudo e agora basicamente nada. Só me restava fingir que era tão inocente ao ponto de não saber o que estava acontecendo e um cansaço de tudo aquilo começava e me dominar. A euforia dava lugar ao desânimo e agora só queria ir para casa.

O príncipe estava ao lado do rei, não olhou pra mim em nenhum momento que apareceu no salão com seu pai. Seus olhos estavam fixos em Samuel que pelo olhar gelado com que retribuía me dava todas as respostas que eu precisava.

Não iria noivar naquela noite. O príncipe tinha reclamado o direito de me cortejar.


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