Quando toquei em meu rosto minha mão atravessou-o direto, porém nesse mesmo instante minha cabeça foi tomada por uma espécie de filme de minha própria vida, ou será que devo dizer minha quase morte ?

Digo que se parecia um filme pois eu me via em terceira pessoa, era exatamente a visão que você tem dos atores quando está sentado no seu sofá comendo pipoca. A única diferença era que estava tudo completamente sem som, e claro também tinha o fato de que tudo aquilo realmente tinha acontecido.

Eu me vi com minha mãe, eu estava um pouco emburrada e minha mãe estava apressada, vi a minha outra eu parando na frente dos sanitários e gesticulando que iria entrar, minha mãe olhou exasperada para os lados, e logo concordou com a cabeça, me vi entrando no banheiro, o banheiro do shopping era pequeno, tinha apenas 3 cabines, assim que entrei na primeira me virei para olhar a última, como eu disse estava tudo sem som, mas acredito eu que devo ter ouvido algum barulho já que isso não era uma atitude comum minha.

Me dirigi para a última cabine do banheiro e abri a porta lentamente, pareceu que fiz uma certa força para empurrar a porta mas assim que consegui abrir, dei alguns passos para atrás com ar de espanto, do ângulo em que eu assistia tudo consegui perceber uma mão saindo de dentro da cabine, uma mão com muito sangue, fora o sangue a mão era desprovida de cor.

Me perdi vendo esta cena e acabei perdendo a próxima, mas não era um DVD então eu não podia voltar a cena, o que vi foi apenas uma mão indo em direção a boca da minha outra eu, a mão segurava um punhado de papel higiênico amassado, que enfiou na minha boca, o rosto da pessoa que fazia isso estava completamente obscurecido, não sei o porque, era um homem, isso estava claro pelo porte físico e pelas roupas, quando tentei me concentrar mais no rosto de quem estava fazendo aquilo comigo eu fui puxada de volta a realidade pelo barulho de uma máquina apitando.

Quatro pessoas vieram correndo em minha direção, ou melhor na direção da minha eu deitada, o apito que eu ouvi era da máquina que media os batimentos cardíacos, comecei a assistir os procedimentos de ressucitação quando o nevoeiro começou a se tornar muito mais intenso, ficou tão denso como no momento em que eu acordei, eu não conseguia mais ver nada, não via mais ninguém, comecei a entrar em pânico.

Nesse momento ouvi uma voz, era uma voz infantil e bem calma. No começo eu não distingui muito bem as palavras, mas depois começaram a ficar mais claras.

— Como é seu nome ? Como é seu nome ? - repetia a voz infantil.

— Meu nome é Louise, aonde você está ?

— Estou ao seu lado, aquela fumaça está muito forte para você ? Para mim melhorou um pouco agora..

— Quem é você ? Como sabe da fumaça ?

— Meu nome é Anne, eu sei da fumaça porque também a vejo, estou igual a você, sabe né ? Entra a vida e a morte. A minha teoria é que esse nevoeiro todo aumenta quando estamos mais perto de morrer.. mas não tenho muita certeza.

— Como você sabe tanto sobre isso ?

— Bem, eu sofri um acidente, na verdade não foi bem um acidente.. o que posso dizer é que sofri sérias queimaduras, e estou em coma faz algumas semanas já, e desde de que tudo aquilo aconteceu eu vejo as coisas com esse nevoeiro.

— Você é a menina da outra cama..

Nesse momento o nevoeiro começou a se dissipar novamente, e pela primeira vez eu vi a garotinha com quem eu conversava, ela era linda e em nada se parecia com a criança queimada que estava deitada na outra cama do quarto. Tinha cabelos ruivos e olhos verdes, usava um lindo vestido azul com detalhes em branco, me olhava com certa curiosidade.

— E com você o que aconteceu ? -perguntou ela.

Olhei para meu corpo, agora com os batimentos novamente sendo exibidos na tela da máquina que antes apitava, voltei meus olhos para a menina.

— E-Eu ainda não sei.

— Hmm, acho que eu posso te ajudar a descobrir.