Nevoeiro escrita por Garota Invisivel


Capítulo 2
A Visão




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Quando a névoa se dissipou eu finalmente entendi aonde eu estava, eu estava no estacionamento do hospital da minha cidade, sendo a minha cidade Beaufort na Carolina do Sul extremamente pequena só existe esse hospital realmente grande, que é referência por toda a cidade, o Hospital Memorial de Beaufort. Comecei a andar pelo estacionamento sem entender como estava ali. O choque de estar em um local conhecido e ainda por cima perto da minha casa foi bem grande, eu já estava pensando que poderia estar em outra cidade.

Resolvi ir até a minha casa apé já que agora sabia exatamente aonde estava, talvez essa confusão tenha acontecido por causa do nevoeiro, pensei comigo mesma, devo ter batido a cabeça e esquecido de algumas coisas então quando acordei no meio desse tempo horrível fiquei mais confusa.

Fui andando em direção á minha casa e estranhei a falta de movimentação na rua, tudo bem que o tempo estava horrível e mal dava para ver com todo esse nevoeiro, mas nem sequer uma pessoa ? Nenhuma pessoa perdida, nenhuma pessoa indo ou voltando do hospital mais movimentado da cidade.

Em cerca de 10 minutos cheguei á minha casa, abri a porta da frente que como sempre estava destrancada, assim que entrei fiquei paralisada, a névoa estava dentro da minha casa também, subi as escadas indo em direção ao meu quarto, normalmente é isso que faço e sempre ouço o grito da minha mãe perguntando onde eu estava, mas dessa vez isso não aconteceu, nada nem sequer um barulho que indicasse que alguém estava em casa, fiz uma busca pela casa e constatei que estava sozinha, resolvi me deitar um pouco e esperar, afinal ela poderia ter ido no mercado.

Passaram-se horas até eu finalmente ouvir a porta da frente bater, desci as escadas correndo, mesmo sem querer admitir eu estava com saudades da minha mãe, quando estava na metade da escada ouvi os soluços, minha mãe estava chorando, e não era só isso, o meu avô estava com ela, imaginei o pior, algo deve ter acontecido com a minha avó.

Terminei de descer as escadas com mais cautela. Entrei na cozinha aonde vi meu avô com o rosto ainda inchado e vermelho de chorar, embora não escorressem mais lágrimas, minha mãe estava de costas para a entrada da cozinha, mas pelo movimento de suas costas ela ainda chorava.

— Ela vai ficar bem, é uma garota forte, não se desespere Marta. - disse o meu avô.

Minha mãe se virou para ele e em resposta ela apenas chorou e balançou a cabeça para cima e para baixo repetidas vezes, franzi a minha testa e me aproximei deles, com passos lentos e calmos já que alguma coisa séria tinha acontecido com alguém de quem minha mãe gostava muito, pela frase do meu avô imaginei que talvez não fosse a minha avó, talvez fosse alguma prima ou amiga.

Minha mãe se virou e andou em minha direção com olhos chorosos, ela enxugava o rosto com as costas da mão, mas como as lágrimas continuavam a cair nem parecia que ela as estava enxugando, assim que ela se aproximou o suficiente eu abri meus braços para conforta-la e ela simplesmente passou por mim, não digo passou reto por mim, ela passou através de mim.

Passado um minuto de minha confusão comecei a entrar em pânico, então era isso, era eu quem estava morta ? Minha mãe não estava chorando pela minha avó ou alguma amiga, ela estava chorando porque eu morri ? Mas como ?

Encostei minhas costas contra a parede e deixei o meu peso cair até me ver sentada no chão da minha cozinha, minha mãe subiu as escadas com passos lentos e pesados, meu avô ficou fitando-a da cozinha com um semblante de tristeza, logo em seguida ele olhou para o teto da cozinha e suspirou.

— Por favor, não deixe que ela se vá, Deus.. ela é só uma criança.. -ele sussurrou.

Arregalei meus olhos, espera, havia alguma chance de eu ainda não ter morrido ? Me agarrei a esta pequena esperança.

Minha mãe desceu as escadas com uma mala nas mãos.

— Pronto. -disse ela fungando- Peguei tudo já, vamos ?

Meu avô apenas balançou a cabeça e eles foram em direção a porta, resolvi segui-los, afinal eu precisava de respostas concretas e não só deduzir coisas por 2 frases que ouvi.

Eles entraram no carro e eu entrei também, fiquei imaginando se eles veriam a porta do carro abrir e depois fechar sozinha quando eu o fiz, mas aparentemente eles não viam nada que eu fazia nesse mundo do nevoeiro, nem mesmo nas vezes em que eu mexia em objetos inanimados.

O carro seguiu o seu trajeto até o hospital, era algo que eu já suspeitava, isso explicava o porque eu estava ali perto, eles desceram e eu fui seguindo-os, meu avô passou o braço em volta dos ombros da minha mãe e a guiava.

Dentro do hospital o nevoeiro se tornou mais forte e começou a ficar muito difícil de segui-los, eu ouvia alguns sons agora, de pessoas tossindo, bebês chorando, mas as únicas pessoas que eu via eram a minha mãe, e o meu avô, segui-os pelos labirintos de corredores, andando bem perto para não perde-los de vista, e então eles pararam na frente de uma porta dupla,e se sentaram na área de espera.

O olhar triste que minha mãe lançou para a porta me deu a dica de que eu estava ali dentro, andei até lá, abri a porta, novamente me certificando de que realmente ninguém conseguia ver ela se mexendo sozinha, e entrei.

No quarto não havia só uma cama, e sim quatro camas ao todo, duas de cada lado, a minha era a segunda do lado esquerdo, eu estava ligada a muito aparelhos e meu corpo estava coberto de lacerações, as outras camas estavam vazias, exceto por uma que tinha o corpo de uma menina com não mais do que 12 anos, ela parecia ter sofrido graves queimaduras, lá dentro as enfermeiras passavam de um lado para o outro checando todo aquele monte de fios e aparelhos, era um verdadeiro entra e sai daquele quarto.

Me aproximei de mim mesma, e essa foi a coisa mais sinistra que já fiz na minha vida, cheguei perto e tentei tocar meu rosto, acabei puxando a minha mão de volta, será que apenas me tocando eu voltaria ao meu corpo e tudo ficaria bem ? Depois de hesitar por mais alguns minutos eu tomei coragem e toquei meu próprio rosto.


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