No calendário japonês as aulas começavam em abril, isso calhava que alguns dias o aniversário de Kimihiro caia justamente no inicio das aulas, sua mãe disse que talvez não teria problema se ele faltasse já que era apenas o primeiro dia, mas a idéia de começar já faltando não lhe pareceu muito certa, poderia causar uma impressão ruim em seus novos professores e ele estava certo que ele já tinha problemas o suficiente naquele quesito.

Naquela manhã ele colocou calças jeans e uma blusa de manga comprida verde musgo e um amuleto que Eriol tinha feito para ele que o ajudaria a atrair menos os Ayakashi. Quando ele estava perto de sua mãe os Ayakashi tendiam a se manter longe por sentirem o poder dela, mas sempre que ele se afastava muito lá eles apareciam como uma praga em cima dele. Ele só usara o amuleto umas duas vezes desde que ele chegara da China, ele se sentia culpado toda vez que ele olhava para ele e se lembrava de Eriol entregando para ele sem ter idéia do que Kimihiro tinha feito alguns poucos minutos antes, mas ele não podia pedir sua mãe para passar as manhãs e tardes na universidade com ele então aquela era a única opção.

"Nervoso sobre ver ele de novo ?" Sakura perguntou da porta do quarto.

"Ele quem ?" Kimihiro disse se fazendo de desentendido.

"Professor Doumeki"

"Ele que devia estar nervoso sobre me ver"

Sakura revirou os olhos e sorriu.

"Você deveria convidá-lo para a festa mais tarde, eu acho que seria um jeito de mostrar que você não guarda ressentimentos devido as coisas que aconteceram no dia que vocês se conheceram"

"Mas eu guardo ressentimentos. E eu não quero ele aqui"

"Apenas pense a respeito durante as aulas. E agora me dê um abraço" Sakura disse já envolvendo seu filho com seus braços.

"Feliz aniversário mãe" Kimihiro disse.

"Feliz aniversário pra você também querido"

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Não era como se Kimihiro estivesse tentando descobrir coisas sobre Doumeki, ele não estava okay ? É apenas que os outros estudantes da universidade aparentemente eram fascinados pelo cara (provavelmente porque eles nunca tiveram o desprazer de falar com ele fora da sala de aula Kimihiro concluiu) e muitas dessas conversas naquele primeiro dia tinham ocorrido perto dele.

Ele tinha 33 anos e vivia em um templo que pertencia a sua familia há gerações, ele foi professor assistente de seu avô por anos e após seu avô se tornar chefe do departamento de história e arqueologia ele ganhou o posto de professor de folclore japonês em tempo integral, ele foi casado por cinco anos com uma mulher que costumava trabalhar no mesmo departamento da universidade, eles tiveram dois filhos e se separaram no ano anterior, aparentemente os dois ainda mantinham um relacionamento amigável já que os dois frequentemente ainda eram vistos juntos almoçando e conversando e havia muita especulação entre os alunos quanto a possibilidade deles voltarem.

Kimihiro ficou tão distraído por essas conversas que ele só foi notar que ele mal tinha visto Ayakashis no tempo todo em que ele estava no campus, o amuleto era forte e apenas um Youkai muito forte seria capaz de tocar em Kimihiro enquanto ele estava usando este, mas mesmo assim eles geralmente ficavam o rodeando, sempre a espreita. Mas não ali. Ele pensou que talvez o universo tivesse decidido lhe dar um dia sem aquele incomodo já que era seu aniversário, mas ainda assim lhe pareceu um pouco suspeito.

Ele só tinha uma aula de folclore japonês por semana, a última da segunda-feira ainda bem. Kimihiro tinha pensado em nem se inscrever no curso, mas o idéia de Doumeki achando que ele estava se escondendo dele lhe causava mais revulsão do que a de passar uma hora na presença do sujeito. Embora até ele tinha que admitir que não havia sido tão ruim quanto ele estava esperando, Doumeki ao contrario dos outros professores que ele tivera naquele dia não resolvera passar a primeira aula perguntando o nome de todo mundo ou porque eles haviam escolhido aquele curso, resolveu já começar ensinando o conteúdo da matéria, o que apesar de faltar um pouco em graças sociais foi refrescante e bem mais interessante já que Doumeki realmente dominava o assunto. Quando a aula chegou ao fim ele tinha quase tirado da sua mente o fato que ele não gostava do sujeito, mas isso não durou muito porque enquanto ele e os outros alunos estavam recolhendo as coisas para irem embora Doumeki disse bem alto :

"Kimihiro fique. Eu quero falar com você a sós por um momento"

O que fez o resto da classe olhar para ele com curiosidade, o que por sua vez fez as bochechas de Kimihiro corarem um pouco. Doumeki esperou até todos os outros alunos sairem antes de dizer :

"Como foi o seu primeiro dia ?"

"Estava indo muito bem até um minuto atrás. Era só isso que você queria saber ?"

"Não" Doumeki disse pegando algo de seu bolso e jogando na direção de Kimihiro.

Kimihiro conseguira pegar o objeto antes que atingisse seu rosto mas ele olhou para Doumeki como se tivesse.

"O que é isso ?!"

"Um presente. Feliz aniversário"

"Oh" Kimihiro disse apenas agora notando que objeto em questão era uma caixa. Ele abriu e encontrou uma caneta dentro, uma daquelas mais caras e meio pesadas, do tipo que seu pai usava para escrever cartas para sua mãe quando um deles estava longe.

"Obrigada, eu gostei"

"De nada. Você pode ir agora"

"Tem uma festa na minha casa hoje a noite"

"Certo. Bom pra você"

"Você pode ir se você quiser. Também é o aniversário da minha mãe e do meu irmão, minha mãe em particular tem muitos amigos legais então provavelmente vai ser bem divertido"

"Eu não posso ir, eu já tenho outra festa de aniversário pra ir mais tarde"

"Então você já tem outra festa pra ir ?"

"Sim"

"Aparentemente tem bem mais pessoas que nasceram em primeiro de abril do que eu estava ciente"

"Sim"

"Tá. Tanto faz. Eu nem realmente queria que você fosse, eu só te convidei porque a minha mãe me disse pra convidar"

"Você sempre faz o que a sua mãe te diz pra fazer ?"

Kimihiro respirou fundo e colocou a caixinha com a caneta dentro de seu bolso e saiu da sala rápido porque ele achava que se ele continuasse ali por mais tempo ele correria o risco de terminar o seu primeiro dia com uma suspensão por agredir um professor.