Start escrita por Queen Of The Clouds


Capítulo 42
Sempre irei te proteger




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Anastasia

Alexy apertou minha bochecha de leve, me fazendo acordar.

—Acorda, Bela Adormecida! Estamos no meio de uma despedida de solteira aqui!

Eu olhei a festa ao meu redor, com os olhos pesados de sono. O loft de Rosalya havia se transformado numa balada. A música alta e as luzes me davam dor de cabeça, mas eu não podia fazer uma desfeita à noiva. A noite era dela e ela estava se divertindo para valer dançando no meio da sala com as suas amigas.

—Quer que eu te leve para casa? Armin já deve estar lá te esperando.

—Não precisa, eu estou bem. Só estou com sono.—Esfreguei os olhos.

—Dormiu mal?

—Dormi pouco.

Alexy me lançou um sorrisinho. Eu bati em seu braço.

—Não é o que você está pensando, okay? Algum vizinho chato resolveu reformar o apartamento todo dia pela manhã.

—Você não sabe quem é?—Alexy arqueou a sobrancelha.—Por que não reclama com ele sobre o barulho?

—Eu tentei, mas ele nem abre a porta para falar comigo! Eu bato na porta dele e reclamo... aí ele para com o escândalo... e no dia seguinte tudo se repete.—Eu cruzei os braços e me afundei no sofá.—Deve ser um brutamontes mal-educado.

—Por que não pede ao meu irmão para resolver isso? Talvez ele possa falar com o cara.

—Armin deixa o meu apartamento quando ainda estou dormindo e trabalha a manhã inteira naquele jogo só para passar o restante do dia comigo. Não quero incomodá-lo com isso.

—Vocês deveriam morar juntos.—Alexy falou, sem rodeios. Eu olhei para ele, um tanto quanto chocada.—O que foi? Não me diga que isso nunca passou pela sua cabeça!

—É claro que passou, mas eu via isso num futuro muito, muito distante.—Eu me mexi no sofá, desconfortável.—Esse ainda é um passo grande demais para mim, pelo menos por enquanto. Um salto, na verdade.

—Sério? Eu achei que isso seria moleza para você. Depois de dizer que o ama e dormir com ele... o resto não deveria ficar mais fácil?

Eu engoli em seco e ergui as sobrancelhas.

—É, na verdade... hum... eu ainda não disse que...—Eu beliscava a palma da minha mão, inquieta e infelizmente ousei olhar para Alexy. Seus olhos arregalados criaram uma tonelada de culpa nas minhas costas.

—Você ainda não disse que o ama? C-como assim?! Eu pensei que depois de tudo que acontec...

—É, eu também, mas... não consigo dizer as benditas palavras! Eu sinto um nó na garganta só de pensar em expressar meus sentimentos. Está tudo muito bem organizado na minha cabeça, eu tenho noção do que sinto, só... não consigo falar.

Alexy me analisou por um tempo e então fez o sinal da cruz.

—Credo! Vou levar vocês para uma igreja!

Eu dei risada.

—Não tem nada a ver com igreja, Alexy.

—Gente, mas não é possível! Vocês nasceram para ficar juntos, mas sempre  parece haver forças ocultas que estragam a coisa!

—Não existem forças ocultas entre mim e Armin. Existem cicatrizes e traumas.—Eu toquei minha têmpora com a ponta do dedo.—Está tudo enrolado aqui dentro, mas eu vou dar um jeito de desenrolar, fique tranquilo.

Alexy me olhou de cima a baixo.

—A psicóloga está te fazendo bem, não é?

—Na verdade, está sim. Eu estava pensando até que você também deveria procurar um.

—Está me chamando de doido?

—Não, estou te chamando de ser humano. Você acha que eu esqueci aquele surto disfarçado de achar que o seu irmão era gay?

Ele desviou o olhar e ergueu a mão.

—Esquece isso. É besteira do passado.

—Alexy, você falou muita coisa séria naquele dia.

—Foi só um relacionamento que não deu certo. Não precisamos falar sobre isso.

—É mais um motivo para falar! Você nunca me fala sobre seus namorados!

—Sim, porque são histórias bobas e tristes, você não vai querer ouvir.

Eu escorreguei no sofá para ficar mais perto dele e fiz a minha melhor expressão de interessada. Ele sorriu.

—Tudo bem! Mas vou falar bem rápido e não vou repetir.—Suspirou.—Naquela época, eu estava saindo com um cara que ainda não havia se assumido... mas eu não sabia. Quando estávamos em público, ele evitava ficar perto de mim, dizia que tinha medo do que os outros poderiam falar ou fazer com a gente e tal... mas isso não era totalmente verdade.

Ele respirou fundo e falou mais rápido ainda:

—Um dia nós estávamos na rua à noite e ele falou para eu me esconder num beco porque havia visto um grupo de caras estranhos se aproximando e ele estava com medo. Depois descobri que os caras estranhos eram amigos dele e que ele não estava me protegendo de nada, só tinha vergonha de mim. Eu terminei e ele não se assumiu até hoje. Fim da história.

Eu pisquei diversas vezes.

—Uau.

—Pois é.

—Ele foi um...

—Babaca?

—...um covarde!

—É, também.

Eu olhei para os meus pés, sem saber o que dizer. Os saltos pretos de Rosalya couberam perfeitamente em mim, mas eram tão altos que eu tinha medo de ficar de pé.

—Mas eu entendo ele... apesar de tudo.—Alexy tentou falar mais alto que a música.—Não é facil se assumir, ainda mais numa cidade pequena como essa... as pessoas falam demais.

—Eu imagino que deva ser difícil, mas ele agiu errado do mesmo jeito. Ele deveria ter sido honesto com você.—Eu ergui as mãos na defensiva.—É um assunto que não domino e não sei se minha opinião é válida, mas é o que eu acho.

—Sua opinião é totalmente válida para mim e eu concordo com você. Ele deveria ter falado a verdade.

Eu voltei a encarar meus pés.

—Como você se sentiu?—Perguntei, depois de alguns segundos. Ele olhou para cima para pensar.

—Triste, frustrado, irritado, desesperançoso, estressado, magoado...

—Desesperançoso?

—Sim. Eu tive muitas experiências ruins, Annya. Às vezes até me pergunto se um dia vou encontrar alguém que vá ficar para sempre.

Apesar do pensamento triste, eu sorri. Alexy sempre falava sobre relacionamentos com tanta praticidade e facilidade que às vezes eu até me esquecia que ele tinha problemas... e que também estava procurando por amor. Mas não qualquer amor. Um amor que valesse a pena.

Até que a morte os separe.

Eu deitei a cabeça em seu ombro

—O cara que ficar para sempre vai ser um sortudo. Você é uma pessoa maravilhosa, Alexy. Sei que um dia vai encontrar alguém tão incrível quanto você. E enquanto isso não acontece, saiba que meus ouvidos estão à sua disposição para o que precisar desabafar, pode contar comigo.

Ele deitou a cabeça sobre a minha.

—Sei disso. Obrigado, Annya.—Seu tom de voz mudou assim que uma música agitada começou a tocar.—Ah! Eu adoro, essa música! Vamos dançar!

—Ah, Alexy, eu estou tão bem aqui no meu sofá e...

Ele me puxou pelas mãos e me levou até o meio da sala, me fazendo dançar. Rosalya logo se juntou a nós, animada. Ela parecia gostar da música tanto quanto Alexy. 

Apesar de não ser bem o meu tipo de diversão, a noite foi legal. Meu sono foi  totalmente exterminado. Eu ri, dancei, pulei e passei um tempo precioso com os meus amigos, até o amanhecer. Se pudesse escolher, faria tudo outra vez.

***

No dia seguinte, quase no fim da tarde, Armin me buscou e me levou para casa. A despedida de solteiro de Leigh havia sido na mesma noite e Armin parecia tão cansado quanto eu.

—Se divertiu bastante?

Ele jogou as chaves do carro sobre a bancada e me pegou no colo, se sentando no sofá.

—Defina diversão.

—Por quê? Foi chato?

Ele resmungou e afundou o rosto no meu pescoço.

—Sério, eu gosto muito do Lysandre e do Leigh... mas eles têm um ritmo muito devagar! Não dá para ser assim numa despedida de solteiro.

Eu ri.

—Castiel não estava lá para ajudar?

—Graças aos céus, sim! As coisas só se animaram depois que ele chegou. Ele convenceu o Lysandre a beber! Você consegue imaginar o Lysandre bêbado?

—Hum... não.

—Nem eu. E eu vivenciei isso!

—O que ele fez?

—Ele cantou "Still Loving You" por vinte minutos, tentou provar para todo mundo que sabia dançar valsa, tirou a blusa, caiu na piscina e depois dormiu.

—Com quem ele dançou valsa?

—Ele dançou sozinho! Por quase uma hora!

Eu ri mais ainda e ele também.

—E como foi com a Rosa?

—Ninguém se atirou na piscina, mas uma garota quebrou a mesa de centro dela.

—Aquela de vidro? E Rosalya não surtou?

—Rosalya estava feliz demais para surtar. Você tem noção de quantas músicas da Katy Perry tocou?

—Quantas?

Eu segurei o rosto dele e arregalei os olhos.

—Eu não faço a mínima ideia. Mas para você ter uma noção, eu nem sabia que a Katy Perry tinha tantas músicas!

Ele riu. Meu celular tocou no meu bolso. Era um número desconhecido, mas eu atendi.

Vou direto ao assunto: você vai fazer alguma coisa hoje à noite?—A pessoa perguntou, do outro lado da chamada. Eu fiz uma careta.

Quem está falando?

Sou eu, Sophie!

Eu bati na testa.

—Ah, oi, Sophie. Desculpe, não reconheci sua voz.

Tudo bem. Olha, eu estava pensando se a gente não podia ir ao cinema...

—Cinema? Agora?

Sim.

Armin franziu o cenho e moveu os lábios, perguntando com quem eu estava falando. Eu gesticulei, pedindo para ele esperar.

—Ahn, Sophie, eu estou um pouco cansada hoje... e ocupada.

Ah, vamos! Você está passando tempo demais trancada nesse apartamento!

—É que... o Armin está aqui comigo.—Eu tracei o contorno da boca dele com o polegar e acariciei seu rosto. Ele inclinou a cabeça, como um gatinho pedindo carinho, e eu sorri.—Não pode ser outro dia?

Ela não respondeu.

—Sophie?

O que você disse? Desculpe, acho que a chamada cortou!—A escutei respirar fundo.—Okay, vou falar a verdade! Eu assisti um filme de terror e estou morrendo de medo de ficar em casa sozinha! Preciso sair para distrair minha mente!

Eu passei a mão pelo rosto.

—Okay... acho que posso ir. Só preciso terminar de fazer umas coisas e já saio para te encontrar. Pode ser às oito?

Combinado! Até lá!

—Até.

Eu desliguei.

—Quem é Sophie?—Armin perguntou, curioso.—Fez alguma amiga na faculdade?

—Não, eu a conheci no parque. Ela  era nova na cidade, estava perdida e eu a ajudei a voltar para casa.

—Hum... você não parece muito feliz em ter que encontrá-la. Ela é chata?

—Não, ela é bem legal.

—Então qual é o problema?

—O problema é que eu estou abraçando um cara irresistível e não consigo ficar feliz sabendo que vou ter que soltá-lo. 

Ele riu e me puxou para perto, me fazendo cócegas. Depois de muita agitação, eu descansei em seu peito, escutando as batidas do seu coração. Seu dedo traçava desenhos nas minhas costas, por dentro da blusa. Nós ficamos no mais absoluto silêncio por minutos... e como eu amava aqueles momentos de paz. Eu já estava quase dormindo quando ele se mexeu. Eu agarrei seu casaco

—Já são quase oito horas, Annya.

—Hum...

—Não vai acordar?

—Já estou acordada...

Ele mordiscou minha orelha, fazendo com que eu me encolhesse e o encarasse. Seus olhos azuis me encaravam de volta.

—Me conte algo que eu não sei.—Murmurei.

—Eu odeio o seu sofá.—Falou, rapidamente.

—Isso não é novidade para mim. Me diga outra coisa.

—Hum...

Ele se levantou comigo no colo e caminhou até o quarto, me deitando cuidadosamente sobre a cama.

—As borboletas sentem o sabor das coisas pelos pés. Você sabia disso?

Eu sorri e revirei os olhos.

—O que foi? Você precisa ser mais específica.—Ele se ajoelhou ao lado da cama e me observou, se segurando para não rir.—Que tipo de coisa quer saber?

—Quero que me diga algo sobre nós dois que eu não saiba.

—Você já sabe que nós formamos uma dupla incrível?

—Óbvio.

—Então deixe-me pensar...

Ele cruzou os braços sobre a cama e deitou a cabeça, concentrado.

—Ah... na noite em que nos conhecemos, eu precisei ir ao hospital.

—Por quê?

—Eu estava com dores no peito e, eu juro, elas começaram assim que te vi. 

—Engraçadinho...

—Estou falando sério! Pergunte ao Alexy, foi ele quem me levou para a emergência. Os médicos disseram que eu tive arritmia cardíaca. Era como se eu tivesse bebido uma caixa de energéticos.—Sua expressão era de surpresa.—Quando nos esbarramos no meu quarto, eu me tranquei no banheiro e respirei fundo um milhão de vezes até conseguir me acalmar pelo menos um pouquinho! Foi assustador e ao mesmo tempo... animador. 

—Eu também me senti assim. Não fui para o hospital, mas meu coração demorou a voltar ao normal.—Eu franzi o cenho.—Isso não faz sentido, nós nem mesmo nos conhecíamos.

—Talvez seja por isso. Porque nossas histórias quase se cruzaram anos atrás e só naquele dia finalmente nos encontra...—Ele parou de falar quando me viu sorrindo.—O que foi?

—Você está colocando a culpa em uma força sobrenatural? Não acredito.

—Não foi o que eu quis dizer...

—Foi sim!—Ele revirou os olhos e eu continuei implicando:—Você acha que o destino nos aproximou, ma vie? Que meigo!

Ele riu, envergonhado. 

—Eu amo você, sabia?

Eu parei de rir abruptamente e ergui as sobrancelhas. Senti um frio na barriga. Sua declaração foi tão repentina que a minha única reação foi... não retribuir.

—Acho bom que ame mesmo.—Brinquei, sem graça.

Por favor, não fique triste. Por favor não fique triste. Por favor, não fique trist..

Armin sorriu.

—Tudo bem, vamos lá!—Ele se levantou e abriu meu guarda roupa.—Hoje serei o seu estilista!

Graças aos céus ele não ficou chateado.

Depois de ter escolhido minhas roupas com uma grande ajuda minha, nós saímos. Ele disse que tinha algo para fazer no shopping e que poderia me dar carona, mas eu não acreditei. Ele sempre inventava uma desculpa para não me deixar andar sozinha à noite.

E eu não podia culpá-lo por isso.

Assim que pisamos no shopping recomeçamos uma discussão que pensei ter acabado há dias:

—Ah, mas você vai ter decoração de Natal, sim.—Armin teimou pela décima vez, olhando os laços vermelhos enormes pendurados sobre as escadas rolantes.

—Armin, não precisa. Você já não me chamou para passar o Natal com a sua família? 

—E daí? Só por isso sua casa precisa ficar apagada?

Eu o encarei, incrédula.

—Posso saber de onde veio todo esse amor pelo Natal?

—O quê?—Ele desconversou.—Ué, é uma época bem legal! Tem bondade, alegria, luzes brilhantes, presentes e...—Ele olhou para mim, vacilante, e revirou os olhos.—Tá! Não é por isso! Como todo mundo dormia tarde eu podia ficar mais tempo no videogame, e desde pequeno eu faço isso, virou uma tradição minha.

Eu comecei a rir.

—Mas você já não vira a noite jogando quase sempre?

—Mas não é no Natal. Não é a mesma coisa.—Ele puxou seu cachecol, incomodado.

—Ei, devagar, você vai acabar rasgando a costura.—Falei, parando de frente para ele e afrouxando o cachecol. Ele tirou a neve que havia se acumulado sobre meus ombros e aproveitou a proximidade para me roubar um beijo. Eu sorri para ele e ele retribuiu, feliz.

—Já está quase na hora de encontrar sua amiga, vamos logo.

Nós estávamos indo em direção à área do cinema, quando Armin ficou entretido com a vitrine de uma loja de jogos. Eu o deixei ali, hipnotizado, e avisei que o encontraria depois. No terceiro andar, encontrei Sophie saindo de uma loja de artigos para casa com abajur enorme. Ela me cumprimentou e, sem jeito, disse que precisou comprar um abajur novo porque tropeçou e quebrou o antigo.

—Como você conseguiu fazer esse feito?

Ela deu de ombros.

—Eu tropecei no tapete. Aliás, depois me lembre que eu também preciso comprar um tapete novo, aquele está um trapo.—Quando chegamos na bilheteria do cinema, ela deixou o abajur no chão.—Então, qual filme vamos assistir?

Eu sorri.

—Nenhum de terror, eu imagin...

De repente, senti alguém me segurar pelo cotovelo e me puxar.

—O que você está fazendo aqui?—Escutei a voz de Armin, áspera. 

Eu o encarei sem entender até perceber que ele não estava falando comigo. Sophie exibia um sorriso gigante para ele. Sua expressão estava diferente. Seu olhar estava quase... vidrado.

—Olá, Armin.

—Vocês... se conhecem?—Questionei, confusa.

—Eu disse que não queria nunca mais te ver, Rachel.

Senti um choque passar pela minha espinha e recuei para perto do meu namorado.

—Eu não vim aqui pra te ver. Vim para ver minha amiga!—Ela sorriu para mim. Eu ainda estava em choque, boquiaberta.

—Ela não é sua amiga. Como você ousa dizer para mim que Annya é sua amiga?—Armin se aproximou dela, ameaçador.—Se você estava planejando fazer algum mal à ela...

O semblante de Rachel suavizou e ela deixou os ombros caírem.

—Eu senti tanto a sua falta...

Ela levantou a mão para acariciar o rosto de Armin, mas ele a impediu, segurando seu pulso com força. Os guizos de sua pulseira tilintaram.

Guizos... onde eu ouvi isso?

Alguns fragmentos de memória passaram rapidamente pela minha cabeça, num estalo: eu ouvi guizos na cachoeira, quando viajei com a família de Armin. Eu vi uma sombra me espiar quando estávamos jogando futebol.

Não era coisa da minha cabeça.

—Ela estava me seguindo.—Sussurrei, perplexa.—Durante todo esse tempo... você esteve me seguindo.—Levantei a voz, atraindo a atenção de Armin por um milésimo de segundo.

—O quê?

—Eu escutei barulho de guizos durante toda a nossa viagem no campo...—Expliquei, sem tirar os olhos dela.—Era você.

Rachel sorriu, satisfeita, e se soltou do aperto de Armin.

—História engraçada.—Alisou o pulso.—Essa pulseira foi o primeiro presente que Armin me deu... não é uma graça?

Ela riu, balançando os guizos.

Os olhos do homem ao meu lado se arregalaram, inundados em ódio. Eu nunca havia visto Armin tão furioso. Seu rosto estava avermelhado e o dedo apontado para o rosto de Rachel tremia, enquanto seu tom de voz aumentava perigosamente:

—Eu vou falar pela última vez.—Rosnou.—Fique longe da minha namorada. Vá embora desta cidade, vá embora deste país! Porque se você encostar em um único fio de cabelo dela, eu juro, a próxima pessoa a ir para a prisão será eu.

As pessoas ao nosso redor começavam a prestar atenção. Vi um segurança falar algo ao rádio. Eu não estava reconhecendo-o; Armin estava completamente transtornado e só parecia piorar.

—Armin, vamos embora.—Eu o puxei pelo braço, mas ele se soltou de mim. Eu agarrei seu casaco.—Vamos embora. Agora.—Repeti, séria.

Ele me lançou um olhar irritado, mas, por fim, me seguiu. Eu sentia a relutância martelar em cada passo que ele dava até o carro. Ele dirigiu até o meu prédio com a mesma naturalidade que dirigia até a sua casa e bateu a porta ao entrar no apartamento.

Eu tranquei a porta e suspirei. Armin arrancou o casaco e o jogou num canto. Sua respiração estava pesada e ele andava pelo quarto, inquieto. Eu estava tão perturbada quanto ele, mas naquele momento precisava me controlar. Eu precisava ser a metade racional.

—Armin... você não está bem.

—Eu estou ótimo!

—Não, não está. Precisa se acalmar, respirar fundo e...

—Me acalmar? V-você viu a mesma coisa que eu? Você estava lá comigo, não estava?! Ela... ela chegou tão perto. Se ela tivesse feito algum mal à você, eu...

Ele engoliu em seco, parecendo prestes a chorar.

—Olhe para mim, Armin. Para mim.—Segurei seu queixo.— Eu estou aqui e estou bem.

Seus ombros relaxaram ao meu toque e, num piscar de olhos, ele me abraçou.

—Eu estou com tanta raiva, Annya...

—Eu sei.

—Por que ela tinha que voltar?

Eu pensei em dizer algo, mas mudei de ideia. Eu era péssima com palavras, ia acabar estragando tudo.

—Ela já arruinou minha vida uma vez... não quero que isso aconteça de novo...

—Ei, ela não vai arruinar nada.—Eu me afastei para observá-lo. Ver seus olhos avermelhados me quebrava por dentro.—Armin, eu nunca vou deixar que nada aconteça a você... eu prometo.


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Notas finais do capítulo

S2