Start escrita por Queen Of The Clouds


Capítulo 41
A vida em cor-de-rosa


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo foi tão trabalhoso de se escrever...
Enfim, boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/707796/chapter/41

Armin

As férias finalmente haviam chegado. Eu não precisava mais me preocupar com provas ou trabalhos, mas ainda havia algo martelando na minha cabeça. Eu tinha a sensação de que estava esquecendo algo.

Alexy estalou os dedos na frente do meu rosto, de repente. Eu pisquei algumas vezes e olhei para ele.

—O que foi?

—Você está parado há tanto tempo que pensei que tivesse virado pedra.

Eu olhei para a caneca na minha frente e franzi o cenho.

—Que dia é hoje?

—Sexta-feira, dez de dezembro.—Ele bebericou seu café.—Por quê? Tem algo para fazer hoje?

—Tenho a impressão de que sim, mas não faço a mínima ideia do que possa ser.

—Que tal fazer a barba?—Minha mãe perguntou.

—Ahn, não era isso.

—Zerar algum jogo?—Alexy sugeriu.

—Não.

—Seria fazer a barba?—Minha mãe insistiu.

—Eu já entendi o recado, dona Vitória.—Resmunguei com um sorriso e olhei para Annya. Ela havia adormecido à mesa com a cabeça apoiada em uma das mãos. Eu coloquei seu cabelo atrás da orelha e ela acordou num pulo.

—O que foi?

—Você dormiu.

—O quê? Não, eu... só fechei os olhos.—Ela se levantou e começou a arrumar a mesa do café da manhã. Alexy a observava, atento.

—Você não vai comer nada?

Ela fez uma careta.

—Não.

—Está com cólicas?

—Não, só estou enjoada.

Ele arqueou a sobrancelha e me olhou enquanto ela subia as escadas.

Eu sabia que Alexy já estava com o radar ligado há dias. Toda vez que eu ia para o apartamento de Annya ele fazia piadas. Annya ainda não havia contado à ele que dormimos juntos e isso parecia o incomodar na alma. Alexy jamais  a pressionaria a falar, mas eu tinha noção do quanto ele gostava dela e desejava que ela se abrisse mais com ele. Depois que ela contou sobre a vida dela esse sentimento piorou. Era como se ele sempre quisesse mostrar que era diferente... que realmente era seu amigo.

Assim que a porta do meu quarto bateu, ele correu escada acima para interrogá-la e eu corri atrás dele, segurando-o antes que ele tocasse a maçaneta.

—O que está fazendo?—Sussurrei, irritado.

—Eu preciso falar com ela!—Sussurrou de volta, cruzando os braços.

—Falar o quê?

—Armin, ela está sonolenta e enjoada!

Eu franzi o rosto.

—Pode ser difícil de acreditar, mas Annya é humana, irmãozinho! E humanos sentem esse tipo de coisa!

Ele falou, quase soletrando:

—Sim! Mas ela é uma humana mulher! E quando uma mulher dorme com um homem eles fazem um...?

Eu senti meu coração subir à garganta, mas não tive tempo para responder, porque Annya abriu a porta na hora.

—Rá!—Sorriu, travessa.—Posso saber o que estão cochichando?

Nós dois olhamos para ela. Eu ainda estava boquiaberto. Não podia ser verdade. Ela teria me contado!

A não ser que ela também não saiba.

Senti minha pressão cair e respirei fundo. Tudo bem, eu precisava manter a cabeça no lugar. Eu tinha que ser a pessoa tranquila, caso ela se desesperasse. Só precisava falar devagar... e de forma tranquila. Tudo ia ficar bem.

—Annya, você tem ganhado peso ultimamente?—Alexy foi direto ao ponto. Eu soquei seu braço.

—É assim que você quer dar a notícia?!

—Você tem alguma ideia melhor?!

—Do que vocês estão falando?

—Ahn... nada.—Respondi, nervoso.

—Armin, nós precisamos contar!

—Contar o quê?!—Ela bateu o pé no chão, impaciente. Quando percebeu que nenhum de nós conseguia falar, pareceu desistir. E então segurou a minha orelha e a de Alexy e nos arrastou para dentro do quarto, empurrando a porta com o pé. Nós dois resmungávamos de dor até ela nos soltar.

Ela colocou as mãos na cintura de forma autoritária.

—Falem. Agora.

—Tudo bem! Olha, Annya, quando eu disse que queria ser titio eu estava só brincando!—Alexy se desesperou.—Eu adoraria ter sobrinhos e os filhos de vocês com certeza serão lindos mas... caramba! Vocês estão prontos para isso?!

Annya o fitava, atônita, como se estivesse ouvindo a maior besteira do mundo.

—Alexy, do que você está falando?

Ele abaixou o tom de voz:

—Annya, você está... grávida?

Eu me virei de costas, passando a mão pelo cabelo. Ela ia entrar em pânico, sem dúvidas. Poderia até passar mal. Talvez eu já devesse chamar uma ambulância.

De repente, ouvi uma risada e olhei para trás, assustado. Annya havia se sentado na cama e se contorcia de tanto rir. Eu estava absurdamente surpreso para falar qualquer coisa.

—Q-qual... qual é a graça?—Alexy deixou os ombros caírem. Annya se esforçava para retomar o fôlego.

—Eu? Grávida? Claro que não!

—Tem certeza?

Ela finalmente conseguiu parar de rir.

—Alexy, eu só estou com sono.

—E enjoada!

—Isso não quer dizer nada, está bem? Está fora de questão.

—Fora de questão? Annya, ontem mesmo o Armin saiu daqui dizendo que ia para a sua casa e você disse que não poderíamos ir ao cinema porque estava com ele. Porque isso poderia ser uma situação tão impossível?!

Eu e Annya nos olhamos, confusos.

—Mas você não...—Nós começamos a falar ao mesmo tempo e paramos.

—Eu não fui para o seu apartamento ontem.—Falei, sem entender.

—É, você disse que não poderia me ver porque estava cansado por trabalhar no jogo. Onde você estava?

Eu desviei o olhar.

—Eu estava com o... Castiel.

—Vocês voltaram a se falar? Por que não me contou?

—Eu ainda estava me sentindo idiota por tratá-lo mal e... não queria te enfiar na nossa briga.—Eu olhei para ela, receoso.—E você? Onde estava?

—Eu passei a noite conversando com a Rosalya.

Alexy pareceu magoado.

—Por que não me chamou? Podia falar comigo também.

—Não era eu quem precisava falar, era ela. Ela estava nervosa com o casamento e disse que já havia te incomodado demais na época que eu estava trancada no meu quarto.—Annya respondeu, sem jeito.—Ela queria equilibrar, eu acho.

—E por que não me contou?—Perguntei.

—Porque ela não queria que ninguém soubesse que demos conta de duas caixas de pizza sozinhas.—Ela se virou para Alexy.—Eu não estou grávida, só me enchi de pizza e dormi tarde.

Eu me sentei na cadeira do computador, me sentindo estranho. Eu estava cansado como se tivesse acabado de correr uma maratona, mas... parecia haver um sentimento a mais que eu não conseguia identificar. Eu me sentia... desapontado?

Balancei a cabeça.

Melhor deixar para lá.

—Tudo bem, mas vocês não podem continuar fingindo que não...—Alexy gesticulou, sem saber o que dizer.—Vocês sabem.

—O quê?—Eu me fiz de desentendido.

—Você sabe muito bem do que eu estou falando, Armin. Um minuto atrás estava suando frio pensando que seria papai!

Eu pensei em responder, mas mordi o lábio e virei o rosto. Droga, eu me deixei levar muito fácil pela ideia de Alexy. Enquanto isso, Annya parecia lidar muito bem com o assunto, estava até rindo de mim.

—Então... vocês realmente dormiram juntos, não é?

—Hum, sim.

Não.—Annya me lançou um olhar duro. Ah, agora ela estava envergonhada? Eu ergui uma sobrancelha e me voltei para Alexy.

—Dormimos, sim. Nós estávamos conversando e de repente alguém decidiu tirar a blusa e...

—Espera aí, foi você quem decidiu tirar a minha blusa primeiro!

Eu sorri.

—E você concordou.

—Eu estava no... calor do momento!

—Não importa. Nós dois podemos concordar que foi uma ótima noite.

Ela me fitava com os olhos semicerrados.

—Você...

—Vocês dormiram juntos!—Alexy explodiu de felicidade. Annya se apressou em cobrir sua boca.

—Dê mais um grito e eu serei obrigada a matar você.

Ele ergueu as sobrancelhas e ela o soltou.

—Isso é segredo para alguém?

—É segredo para todo mundo!

Alexy deu um sorrisinho.

—Não mesmo. Meus pais nunca acharam que Armin vai para a sua casa para jogar xadrez.

Eu ergui as sobrancelhas e girei na cadeira, discretamente. Eu não queria nem pensar nisso. Era só uma questão de tempo até eles me encurralarem para conversar comigo e sempre que meus pais tentavam ser sérios e responsáveis acabávamos numa conversa constrangedora. Simplesmente não era o estilo deles.

Eu batucava a mesa, nervoso, quando vi um papel que escapava por baixo do meu teclado. Eu o peguei e li. Era isso!

—Ah, olhem! Entradas para o laser tag!

Annya piscou, confusa.

—O quê?

—Era isso que eu queria lembrar no café da manhã. Eu tinha comprado entradas para ir com a... Lily.

Alexy fez uma careta como se fosse vomitar e Annya revirou os olhos.

—Quando ela viu os bilhetes disse que não iria porque é brincadeira de criança.—Eu suspirei.—Eu deveria ter percebido que havia alguma coisa errada com ela, que tipo de pessoa não gosta de laser tag?

—Da próxima vez use isso como critério: você precisa namorar alguém que goste de laser tag.

—Próxima vez? Eu vou ficar com você, Annya. Não tem próxima vez.—Respondi o óbvio. Annya abriu a boca para responder mas voltou a fechá-la, inexpressiva. Alexy a segurou pelos braços e a balançou.

—Demonstrações de afeto foram detectadas, deseja procurar uma contra-resposta entre um de seus programas já instalados ou buscar na rede?—Falou, me fazendo sorrir.

—Então, podemos ir juntos... o que acha?—Perguntei, erguendo os ingressos. Sua expressão mudou em segundos, quando ela começou a caminhar em minha direção. Seu olhar era provocante.

—Eu? Ir com você nesse jogo infantil pra pessoas sem vida social e mentalidade adulta?—Falou, debochadamente e se sentou no meu colo.—É claro que eu vou! Quem disse que tenho mentalidade adulta?

Ela segurou meu queixo e plantou um beijo rápido em meus lábios. Uma luz iluminou o quarto e quando me virei, Alexy apontava a câmera do celular para nós dois, radiante.

—Finjam que eu não estou aqui e sorriam!

***

Depois de tanto tempo desejando estar com Annya, eu aprendi a dar valor às pequenas coisas. O simples ato de segurar sua mão em público, sem ressalvas, já me deixava feliz. Eu não precisava ter medo do que eu sentia porque agora eu sabia que ela sentia o mesmo.

Eu deixei o carro na garagem e fomos andando, para Annya ver as decorações de natal da cidade. Vez ou outra, eu a via sorrindo, admirando os enfeites. Encontramos dois Papais Noéis distribuindo doces perto do shopping. Quando estávamos chegando ao laser tag, ela apertou minha mão e apontou para o outro lado da rua.

—Aquilo é um parque?—Perguntou, tentando ver entre o monte de pessoas que andavam ao nosso redor.

—Não, é um zoológico.

Ela olhou para mim, interessada.

—Sério? Como é lá dentro?

—É bem legal. Eu já fui lá várias vezes com meus pais. As pessoas costumam reclamar que o local é pequeno e tem poucas atrações mas, na minha opinião, isso é uma vantagem.

—Por quê?

Eu dei de ombros.

—Torna os laços mais estreitos, eu acho. Há poucos animais para muitos cuidadores, eles são bem tratados e recebem mais atenção.

Ela se virou para olhar o lugar outra vez. Parecia curiosa.

—Nunca visitei um zoológico. Acho que o mais perto que já cheguei de um foi quando assisti Madagascar.

Eu beijei sua mão.

—Já sei onde vai ser o nosso próximo encontro.

Ela sorriu para mim e nós entramos no laser tag, logo parando no saguão de entrada. Eu já estava acostumado com a decoração neon do lugar, mas Annya piscou algumas vezes antes de se acomodar ao ambiente. Enquanto nos dirigíamos até a fila ela olhava ao redor, estranhando tudo.

—A decoração tem cores fortes, mas depois você se acostuma.—Eu a tranquilizei, enquanto procurava os ingressos na carteira.

—Hum... não era só isso que eu estava olhando.

—Não? Então o que era?

Ela mordeu os lábios, segurando o riso.

—Armin, por que só tem crianças aqui?

Eu levantei uma sobrancelha e examinei o lugar. Realmente. Nós éramos os únicos adultos ali. Todos os outros eram crianças ou pré-adolescentes, correndo, conversando e brincando. Uma garotinha que devia ter uns sete anos agarrou meu moletom e se escondeu de um garoto que a perseguia. Quando ele a encontrou os dois voltaram a correr.

—É impressão sua, não estou vendo criança nenhuma.—Falei, indo em direção à recepção. Ela riu.

A atendente parecia simpática, então aproveitei para perguntar sobre o monte de crianças. Ela disse que o laser tag costuma lotar no inverno porque as crianças estão de férias e procuram um lugar longe do frio para brincar. Eu deveria ter imaginado, claro, há alguns anos eu era uma dessas crianças.

Entramos na sala seguinte para vestir os coletes e pegar as armas. Um homem estava lá para explicar os objetivos e as regras básicas do jogo.

—Boa tarde, crianças e... jovens.—Disse especialmente para mim e para Annya. Nós segurávamos o riso.—Bem, vamos começar as explicações.

Eu já sabia tudo aquilo de cor. As partidas duravam quinze minutos e cada time possuia a própria base, que deveria ser defendida até o final do jogo. Além de proteger a base, o objetivo de cada jogador era atingir o máximo de adversários possíveis. Ao ser atingido, o colete da pessoa se desligava por cinco segundos e ao sexto era reativado, para que o jogador pudesse voltar ao jogo.

—A contagem dos pontos é feita pelos score cards. Cada vez que um jogador é atingido, o seu time perde cinquenta pontos e o adversário recebe cem. Quando uma base é invadida o grupo atacante ganha trezentos pontos. É considerada invasão quando um jogador acerta três tiros num aparelho eletrônico que está no portal da base. Vence quem tiver melhores resultados nos score cards.

O orientador observou todos na sala, para se certificar de que todos haviam entendido.

—Alguma dúvida?

Um garotinho no canto da sala levantou a mão, timidamente.

—Podemos escolher capitães?—Perguntou. O homem franziu o cenho.

—Não é obrigatório mas, se quiserem, pod...

Antes que ele terminasse de falar, um monte de crianças correram até mim, pedindo para que eu fosse o capitão deles. Eu quase fui derrubado enquanto Annya assistia a cena, rindo de mim.

—Tudo bem! Eu posso ser o capitão.—Eu os acalmei e apontei para Annya.—Mas eu acho que o outro time também vai precisar de uma capitã.

Ela balançou a cabeça rapidamente e recuou até a parede, mas não conseguiu fugir das crianças restantes.  Annya estava claramente perdida em meio ao monte de pedidos e berros. Não dava para entender nada.

—E-ei! Esperem! Olha, eu não acho uma boa ideia, porque...

Uma garotinha em específico abraçou sua cintura e usou toda a sua fofura contra ela quando pediu "por favor". Annya desistiu em um piscar de olhos.

—Tudo bem, eu vou ser a capitã.

As crianças gritaram e comemoraram, radiantes. Annya cobriu os ouvidos, mas estava rindo. Apesar de revirar os olhos pelo barulho, o orientador nos dispensou sorrindo, desejando boa sorte. As crianças correram na nossa frente.

—Eu nunca joguei laser tag e por sua culpa agora eu sou capitã de um time.

—Era só ter negado o pedido.

Ela olhou para mim enquanto prendia o cabelo.

Negar? Você viu os olhinhos daquela menina? Eu faria qualquer coisa por ela.

—Hum... são os seus hormônios falando mais alto?

Ela bateu no meu braço.

—Odeio você.

—Então aproveite a partida para se vingar de mim.

—Como?

Eu dei de ombros.

—Vença.

—Você sabe muito bem que eu jamais poderia ganhar de voc...—Ela pensou por um segundo.—Quer saber? Está certo. Vou vencer.

—Claro que vai.—A encorajei.

—Vou mesmo.—Ela se aproximou do meu ouvido e deu uma risada encantadora.—Eu vou acabar com você tão rápido que você nem vai saber de onde vim.

Senti um arrepio subir pela minha nuca. Ela piscou para mim e se afastou, correndo.

Um dia ela ainda ia me deixar maluco.

Quando pisei na arena, demorei a me acostumar com a escuridão. Os labirintos eram iluminados apenas por cores berrantes e haviam luzes fortes por todo canto. Paredes aleatórias e barris estavam espalhados pela arena para ajudar os jogadores a se esconderem e uma passarela de metal passava bem acima das nossas cabeças. Com o passar dos anos, parei de andar pela passarela por ter crescido demais, mas as crianças ainda podiam usar à vontade. Eu precisava manter os olhos bem abertos.

Apesar da ameaça de Annya, o jogo foi fácil e o meu time logo saiu na frente. Eu não a encontrei em lugar nenhum, mas atingi várias crianças do seu time.

Faltavam sete minutos para acabar o jogo e eu comecei a repassar minha situação: três jogadores do meu grupo estavam escondidos próximo à entrada da base, e mais dois estavam espalhados pelo labirinto. Eu não queria fazer tudo sozinho, então planejamos que eu iria na frente limpando o caminho e quando o relógio marcasse seis minutos todos iniciariam o ataque à base inimiga.

Estávamos 150 pontos à frente da equipe adversária, que perdia com 600 nos score cards.

Escutei um barulho vindo na minha direção e me escondi atrás de um dos tonéis. Duas crianças passaram por mim e eu as atingi nas costas.

—Ah, droga!—Eu as escutei reclamarem. Evitei uma risada.

950 pontos para mim e 500 para Annya.

Restavam cinco minutos até o fim da partida e eu já estava próximo ao portal da base adversária. Ninguém havia chegado.

—Onde vocês estão?—Sussurrei, impaciente.

Eu pensei em deixar para lá e terminar logo o jogo enquanto ainda estávamos vencendo. Estava prestes a mirar no aparelho que nos faria ganhar de uma vez quando a vi. O mundo pareceu correr em câmera lenta só para acompanhá-la.

Merda!—Praguejei seguindo com o olhar o borrão ruivo correndo pelas plataformas acima de mim. Eu me esqueci totalmente que Annya também era menor do que eu e podia facilmente andar pela passarela.

Por cima ela teria uma visão perfeita do alvo na minha base.

Eu virei de costas para persegui-la por solo e no mesmo momento fui atingido por trás. A garotinha que abraçou Annya mostrou a língua para mim e riu, voltando para o seu esconderijo. Eu não podia perder tempo.

900 pontos para mim, 600 para Annya.

Voltei a correr, agora em direção ao meu portal e finalmente encontrei minha equipe. Meu colete reativou. Os dois que estavam espalhados pelo labirinto voltaram à base.

Três minutos para o fim do jogo.

—Por que vocês não foram até lá?—Questionei.—Aconteceu alguma coisa?

Eles olharam para mim, assustados.

—Ouvimos disparos!

Eu coloquei a mão na testa.

—Eram meus disparos.

—Eu te disse!—Um dos garotos empurrou o outro.

—Ei, fiquem calmos, está tudo bem. Vocês viram ela?

—Ela quem?—Uma menina perguntou.

—A capitã da outra equip...—Eu parei de falar quando o colete da menina piscou e logo depois se apagou. Ela olhou para trás, procurando quem a acertou e mais duas crianças foram atingidas.

750 pontos para mim, 900 pontos para Annya.

—Como...?—Eu procurava em todas as direções, mas não via ninguém do outro time até que tive uma ideia. Apontei para o teto.—Em cima! Eles estão nas passarelas!

Duas crianças do time adversário surgiram pela direita e pela esquerda, eu os acertei e voltei minha atenção para o alto. Outra criança surgiu, agora na plataforma, e eu a atingi.

Annya tinha 750 pontos e eu, 1050. Eu estava na frente outra vez e faltava um minuto para o fim do jogo.

De repente, todos surgiram. Eu não tive tempo para ver de onde eles saíram. Se materializam de trás dos barris pelos quais eu tinha acabado de passar, atiraram em todos do meu grupo e voltaram a se esconder. Apenas o meu colete estava ligado.

O jogo virou outra vez, Annya estava com 1750 pontos e eu, com 550.

Faltavam apenas quinze segundos para acabar o jogo quando a vi. Ela estava séria, confiante, mas um pequeno sorriso escapava entre seus lábios.

Meu Deus, ela estava linda. Ela poderia acabar comigo e eu nem me importaria.

Eu balancei a cabeça, tentando me concentrar. Faltavam onze segundos para acabar o jogo e três segundos para os coletes da minha equipe se reativarem.

Eu acertei Annya enquanto ela ainda caminhava na minha direção. Ela me olhou, indignada. Os coletes foram reativados.

Agora!!—Berrou, começando a correr. Era proibido tocar nos outros jogadores, mas quando Annya avançou na minha direção eu jurava que ela ia me empurrar até o chão... mas não empurrou. Ela desviou no último segundo, eu dei um passo para trás, desequilibrei e caí sozinho.

Escutava sons de lasers sobre a minha cabeça, equipe contra equipe. Restavam seis segundos e então, Annya atirou três vezes no aparelho da base. O alarme disparou, indicando o fim da partida e as crianças do time adversário iniciaram uma comemoração ensurdecedora. Annya rodou a pistola na mão e estendeu a outra para me ajudar a me levantar.

—Desculpe. Eu machuquei você?—Ela tocou meu rosto delicadamente e afastou o cabelo dos meus olhos.

—Sim, meu orgulho está gravemente ferido.—Ela riu.—Estou brincando, eu estou bem. Você foi incrível.

Ela encolheu os ombros, sem jeito, e se virou.

—Acho que não. Você quem estava enferrujado demais.

Ela caminhou até a saída, passando a mão na cabeça de algumas crianças que a cumprimentavam no caminho.

—Eu estava o quê?!—Murmurei, perplexo e a segui. Nós fomos os primeiros a voltar para a sala e eu a ajudei a tirar o colete.—Em minha defesa, é extremamente difícil me concentrar quando a minha inimiga é linda.

Ela riu.

—Ah, verdade. Eu devia estar linda,  com o rosto suado, cabelo desgrenhado e um olhar de louca.

—Hum, eu não vi nada disso. Eu vi a mulher mais atraente do mundo acabando comigo no meu jogo favorito.

Ela revirou os olhos e traçou o contorno do meu rosto com a ponta do dedo:

—Ao contrário de você, ma vie, eu não sei ser atraente.

—Imagine se soubesse.—Retruquei. Ela mordeu o lábio para conter um sorriso e me beijou, se afastando rapidamente. Eu já a conhecia bem o suficiente para saber que ela sempre fazia isso quando começava a corar.

Eu sorri e corri para segurar sua mão. Fomos até a nossa lanchonete e passamos o resto da tarde lá. Conversamos e rimos sem tirar os olhos um do outro. Na verdade, eu não conseguiria tirar, nem se quisesse. Annya era como um ímã para mim. Eu sempre achava que não havia como amá-la mais do que eu já amava... e todos os dias eu descobria que estava errado.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O que acharam? :)
Tentem interagir, preciso sabe se a história está agradando à vocês.
Até o próximo capítulo :D