Start escrita por Queen Of The Clouds


Capítulo 43
Natal


Notas iniciais do capítulo

Feliz Natal!!



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P.O.V ALEXY

Eu suspirei, observando os dois pombinhos de pé na minha frente. Annya estava ajeitando o cabelo do meu irmão pela décima vez naquela noite e realmente estava tentando ralhar com ele por isso, mas estava tão feliz que não conseguia ficar irritada.

Essa era a nova Anastasia: animada, confiante, descontraída, sorridente... feliz.
Eu não diria que ela mudou e se tornou tudo isso de uma hora para outra. Não. Essa era a Anastasia. Ela e Armin faziam bem um ao outro de tal forma que ele conseguiu trazer à tona a face feliz que ela nunca conseguiu mostrar. Havia uma conexão tangível entre eles, era nítido.

Eu nunca acreditei num relacionamento perfeito. Sempre achei que problemas e brigas fizessem parte de toda relação, mas que um relacionamento "perfeito" seria aquele em que as duas partes conseguissem conversar sobre seus problemas, solucioná-los e seguir em frente juntos, com amor.

Mas eu estava tolamente enganado. Annya e Armin simplesmente pulavam a fase das brigas e dos problemas. Não dava para acreditar naqueles dois. Não havia discordância, não havia farpas, não havia brigas, não havia ciúmes, não havia nenhum ponto negativo! Era como se eles fossem feitos um para o outro!

E era incrível.

Eu esperava viver isso um dia.

—Fique parado, Armin.

—Eu não quero colocar isso.

—Mas você vai.

—Por quê?

—Seu pai pediu.

—E daí?

Ela o encarou, séria. Meu irmão bufou e se inclinou, cedendo.

—Quer parar com esse sorriso idiota?—Ele resmungou, finalmente me notando.

—É automático. Gosto de ver vocês dois juntos.

Annya nos puxou pelas mãos.

—Andem logo, vocês têm que tirar essa foto!

Nós descemos até a cozinha, enquanto Armin seguiu até a sala para preparar o tripé e a câmera.

—Annya, eu posso te fazer uma pergunta?

—Acabou de fazer.

—Você se incomoda com o fato de que...—Eu me calei, já me arrependendo do que pretendia perguntar. Annya colocou o bûche de noël sobre a mesa e ergueu a sobrancelha, me analisando. De repente, olhar a nossa sobremesa de chocolate me pareceu mais interessante do que qualquer  outra coisa.

—O que foi?

—Já olhou o peru no forno?—Desconversei, em vão.

—Desembucha, Alexy.

—É que... o Armin ainda não assumiu nada com você, nem te pediu em namoro... você não se incomoda com isso?

Ela travou. O olhar fixo no meu. Algum fio havia dado curto-circuito dentro dela e eu não fazia a mínima ideia de como reverter o problema.

—Ei, vocês dois.—Meu pai bateu com os nós dos dedos no batente.—Vamos tirar logo essa foto?

—Claro! Só um segundo, pai.

Assim que ele sumiu, eu a belisquei.

—Ai!—Reclamou, esfregando o braço.—Precisava mesmo fazer isso?

—Você estava congelada! Até me assustei.

—Eu não estava congelada, eu estava tentando lembrar se desliguei o meu videogame da tomada quando saí de casa.

—Pensei que estivesse em choque com a minha pergunta.

—Sobre o Armin? Claro que não. Alexy, ele deve ter esquecido do pedido de namoro porque... não faz diferença.—Annya fez aspas com os dedos.—Nós nos gostamos desde que nos conhecemos e sempre nos tratamos como se, bem, você sabe, como se já fôssemos namorados. Depois de tudo que passamos, um pedido oficial é irrelevante. Desde que estejamos juntos, está tudo bem.

Ela suspirou, tranquila.

—Fico feliz em vê-la tão confiante.

Ela entrelaçou o braço no meu e piscou.

—Eu também fico feliz em me ver tão confiante.

Eu ri enquanto íamos para a sala, onde minha família já estava se organizando para a nossa anual foto de Natal. Meus pais começaram esse costume assim que nos adotaram. Eles nos diziam que não eram uma família até nós  dois chegarmos para virar a casa de cabeça para baixo.

E lembrar disso sempre faz meus pobres olhos arderem.

Mamãe vestia um suéter vermelho ilustrado por renas e Armin estava com um gorro de duende enfiado na cabeça. Ele ainda estava com uma carranca daquelas e eu simplesmente não podia deixar a oportunidade passar.

—Pensei que gostasse de se fantasiar... fazer cosplays.—Impliquei.

—Cala a boca.—Retrucou rapidamente.

Annya colocou os pratos em cima da mesa e começou a organizá-los, distraída.

—Ei, mocinha.—Mamãe chamou, fazendo-a se virar com os olhos arregalados. O moletom vinho que comprei para ela ficou maior do que eu pensava, mas ela gostou tanto que se recusou a trocá-lo. Havia um único floco de neve branco estampado no peito, como um emblema.—Você sabe que vai tirar a foto com a gente, não é?

—Ahn... eu acho melhor não, porque...

—Não adianta discutir.—Meu pai ajeitou sua barba falsa sobre o queixo.

—Eu não quero estragar a tradição de vocês. Que tal uma foto sem mim e eu entro na próxima?

Todos concordamos e nos juntamos para a foto.

—Não acredito que vai continuar usando essa barba velha.—Murmurei para o meu pai.

—Foi uma promessa, lembra?—Ele piscou para mim.

—Claro que lembro. Armin está cumprindo ela até hoje.

—Vocês não deveriam ter me levado a sério quando eu disse que queria usar o gorro de duende para sempre. Qual é, eu era uma criança!

—Cada um tem a sua punição: eu uso a minha barba velha e você o seu gorro ridículo.

Mamãe riu e nos puxou para perto. Eu ajeitei o meu gorro de Papai Noel e em segundos a sala foi iluminada pelo flash da câmera. 

—Armin, nada de caretas, ouviu?

—Eu não tenho mais oito anos, mãe.

—Ah, filho. Você fez isso até os quinze.

Armin negou com a cabeça e sussurrou um "é mentira" para Annya. Ela riu e o abraçou para a próxima fotografia. Quando terminamos de tirar e avaliar cada uma das imagens, já era quase meia-noite... e Armin realmente havia feito careta em algumas delas.

—Três... dois... um... e... meia-noite.—Armin acompanhava o cronômetro em seu celular.—Feliz natal!

Todos nos cumprimentamos e nos abraçamos, como sempre. A playlist de Natal que eu havia preparado preenchia a sala, dessa vez com "All I Want For Christmas Is You". Eu dei as boas vindas à família para a minha cunhada, arrancando-lhe um sorrisinho. Notei que ela e o meu irmão se falaram de uma forma bem controlada, quase constrangedora e enquanto nos preparávamos para a Ceia, sugeri à ele que a levasse para ver as decorações de Natal dos nossos vizinhos.

—Fica muito mais bonito à noite!—Acrescentei.—Não é, Armin?

—É... mas por que eu a levaria para ver a rua outra vez se ela já viu onte...—Armin franziu o cenho, mas logo captou minha mensagem.—Aliás, acho que não há problema nenhum em ver mais uma vez. Vamos, Annya.

Ele segurou a mão da garota confusa e a levou para o jardim. Eu ri sozinho, enquanto me dirigia até a cozinha. Eu e meus pais terminamos de arrumar tudo e alguns minutos depois eles voltaram.

Jantamos fazendo barulho, como sempre. Meu pai contando histórias divertidas da época que era jovem, Armin fazendo piadas, mamãe ditando todos os detalhes constrangedores da nossa infância...

Era bom saber que as risadas nunca paravam aqui em casa. Eu conseguia ver o quanto Annya se sentia confortável conosco e fiquei feliz por isso. Lembro de quando ela mal sorria para todas as minhas investidas em tentar me aproximar e agora... ela era parte da família.

—Annya, já te contei sobre a guerra do Armin contra as formigas?—Meu pai puxou o fio para outra história, fazendo-a rir.

—Vocês não podem simplesmente esquecer isso?—Meu irmão reclamou.

—Eu adoraria ouvir a história mais uma vez e com o máximo de detalhes possíveis, por favor.—Ela brincou, fazendo Armin lhe lançar um olhar  duvidosamente "irritado".

Eu dei risada e levei mais uma garfada do arroz à boca. Estávamos ouvindo a mesma velha história pela centésima vez, mas nos divertíamos como se fosse a primeira.

E estava tudo perfeito.


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