Start escrita por Queen Of The Clouds


Capítulo 40
Uma questão de confiança




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Anastasia

Ao longo das semanas que se passaram, eu finalmente estava conseguindo colocar a minha vida nos eixos. Corri atrás dos estudos, retomei às aulas na faculdade, fiz exames para checar a minha saúde, voltei a sair com Alexy e Rosalya, provei o meu vestido de madrinha e, obviamente, aproveitei cada momento possível ao lado do Armin.

Com exceção das aulas na faculdade e os passeios ao shopping, eu e ele sempre estávamos juntos. Eu recebia tantos convites de Vitória para jantar, almoçar ou passar a noite na casa deles que já começava a me sentir uma estranha na minha. O quarto do Armin era mais familiar do que o meu.

No entanto, naquele sábado, Arnaud e Vitória estavam terminando uma reforma no banheiro do Alexy. Como Armin precisava de silêncio para trabalhar, eu decidi fazer algo diferente e o chamei para passar o dia no meu apartamento.

Ultimamente, ele se encontrava totalmente imerso no jogo que estava projetando e não falava em outra coisa. Enquanto eu lia um artigo no celular, ele mantinha os olhos grudados em seu notebook, na mesa. Eu amava o seu entusiasmo, mas estava começando a me preocupar. Ele não levantava daquela cadeira desde a manhã.

Me levantei da cama e o abracei pelas costas, deslizando minhas mãos pelo seu torso.

—Como está indo?

Ele suspirou.

—Muito mal. Não estou conseguindo produzir nada. Não sei o porquê.

Eu peguei o meu óculos sem grau nenhum e o equilibrei na ponta do nariz.

—Então, meu jovem, de acordo com a grande legislação para produção de jogos eu diria que...

O sorriso dele me desconcentrou e eu acabei sorrindo também.

—...eu diria que você está cansado, Armin. Você não parou de trabalhar nisso desde o dia que apresentei aos meus avós o lindo motivo de eu ter ficado na França.

—Seus avós me causam arrepios.

Eu me afastei e comecei a arrumar a cama.

—Pare com isso, eles são uns amores... e adoraram você.

—Por isso eles me dão arrepios.—Armin girou na cadeira.—Tenho medo de decepcioná-los.

—Como poderia decepcioná-los?

Ele deu de ombros.

—Sei lá... te magoando, não conseguindo protegê-la da Rachel e da Lily... não sendo rico como eles...

Eu sorri, finalmente entendendo a raíz do problema.

—Sério? É por isso que você tem andado tão fissurado com a criação desse jogo?

—Meus pais sempre disseram que, enquanto eu estivesse na faculdade, eu deveria me concentrar apenas em estudar, mas eu quero me tornar independente o mais rápido que eu puder e... esse jogo pode ser o meu divisor de águas quando eu me formar.

—E toda essa preocupação com independência foi porque você conheceu os meus avós por uma vídeo chamada?—Eu arrumei os travesseiros sobre a cama.—Não é como se fôssemos nos casar na semana que vem, Armin.

—É, mas um dia nós...

Ele se calou. Eu ergui uma sobrancelha, sem conseguir conter minha felicidade por saber que ele pensava em um futuro para nós dois.

—Um dia, mas não agora. Pelo menos hoje, quero que você descanse.—Eu o puxei pelas mãos até a cama e ele se deitou, apoiando a cabeça sobre o meu peito. Eu acariciava seu cabelo com a mão esquerda e mexia no celular com a mão direita.

—O que está lendo aí?

Eu hesitei.

—Nada demais.

Ele esticou o pescoço para ver o que estava na minha tela.

O perfil de um psicopata? Annya, pensei que iríamos descansar.

—Mas eu estou descansando, estou lendo uma matéria interessante e relaxante.

Ele bloqueou a tela do celular e o colocou dentro da própria blusa, supostamente para impedir que eu pegasse.

—Como se eu não fosse ficar muito feliz em passar a mão por dentro da sua blusa.—Eu falei, fazendo-o rir.—Me devolva, é importante.

—Eu sei que é importante, mas podemos fingir que Rachel e Lily não existem... só por um dia?

Ele olhou para mim, me fazendo suspirar. Eu o abracei.

—Tudo bem. Você venceu.

Eu e Armin fazíamos muitas coisas quando estávamos juntos. Nós jogávamos videogame, conversávamos, assistíamos filmes, animes e séries, caminhávamos pela cidade, saíamos para tomar sorvete e até líamos histórias um para o outro. Mas o meu passatempo favorito era simplesmente ficar ao seu lado. Ficar em seus braços, em silêncio, apenas aproveitando sua companhia, era o suficiente para me fazer feliz. Eu me sentia segura. Eu quase conseguia nos imaginar como um casal de velhinhos fazendo a mesma coisa daqui a cinquenta anos.

Aliás, naquele dia fazia um mês desde o nosso primeiro beijo. Eu nem senti o tempo passar por nós dois.

Seu corpo começou a ficar mais pesado sobre o meu. Pensei que ele estivesse adormecendo, mas de repente ele mudou de posição e murmurou:

—Que horas são?

Eu ainda acariciava seu cabelo, com as pontas dos dedos.

—Se você me devolvesse meu celular eu poderia te responder.

Ele deu uma risada.

—Venha pegar, ma chérie.

—Está me provocando, Armin?

Ele se moveu, devagar e se colocou sobre mim.

Muito pelo contrário...—Implicou, me fazendo rir. Sua voz estava mais grave, como se tivesse acabado de acordar. Era irresistível.

Eu fitei seus olhos por alguns segundos e ergui meu queixo de leve, pedindo silenciosamente por um beijo. Ele sorriu e aproximou seus lábios dos meus, vagarosamente. Sentir o seu corpo tão próximo ao meu sempre deixava a minha mente enevoada. Nosso beijo lento e tranquilo começava a alcançar certa urgência. Quando me dei conta, estava pressionando seu braço direito, puxando-o para mais perto de mim. Armin subiu a minha perna esquerda, mantendo sua mão ali. Eu sentia seu corpo pesar cada vez mais sobre mim. Ele desviou os beijos para o meu pescoço, roçando seus lábios em minha pele. Sua mão aberta percorria toda a extensão da minha perna até o meu quadril, de forma carinhosa. Mas, então, senti que ele começou a erguer minha blusa. Eu empurrei sua mão.

Não foi proposital. Eu não entendi porquê o parei. Foi um reflexo, eu acho, mas Armin se afastou para olhar em meus olhos. Sua respiração estava pesada.

—Está... tudo bem?

—S-sim, me desculpe, eu só...

Meu celular começou a tocar em algum lugar entre os lençóis. Provavelmente havia escorregado da sua blusa. Armin me ajudou a procurá-lo e depois se afastou enquanto eu me sentava na cama e atendia a chamada, ainda ofegante.

—Alô?

—Annya? Oi, sou eu, Alexy!

Eu esfreguei os olhos.

—Oi, Alexy... aconteceu alguma coisa?

—Não, está tudo bem. Meus pais só queriam saber se o Armin está aí... ele saiu de casa e não falou nada.

—Sim, nós estamos juntos... q-quero dizer, ele está aqui.

—Ah.

Alexy fez uma pausa antes de prosseguir:

—Eu interrompi alguma coisa?

—Alexy! Claro que não!

—Annya, não precisa sentir vergonha. Está tudo bem. Mas é que você nunca fala nada sobre isso e eu pensei que vocês já...

—Não! Nós ainda... não! Eu posso desligar?!

Eu escutei sua risada, feliz.

—Ai, eu adoraria ser titio!

—Adeeeus, Alexy!—Cantarolei, desligando a chamada. Meu rosto esquentou. Eu não sabia o que falar para Armin, mas quando o vi se levantar da cama, segurei seu braço.—Onde está indo?

Ele me dirigiu um sorriso tranquilizador e fez piada:

—Vou voltar ao trabalho antes que Alexy se torne titio.

—Você está chateado comigo?

Ele se virou, com uma expressão alerta.

—O quê? Claro que não! Annya, eu estou bem. Por favor, não se preocupe comigo. Eu só não quero pressioná-la a nada.

—Você não estava me pressionando. Foi apenas um reflexo, eu... não queria ter impedido você.

Armin sorriu e delicadamente levou meus dedos até os seus lábios, beijando-os.

—Eu sei. Fique tranquila. Teremos outras oportunidades, ma vie.

Ele tentou se levantar, mas eu segurei sua mão, insistindo:

—Hoje também é uma oportunidade.

Ele riu.

—É um ótimo argumento, mas ainda prefiro que você vá devag...

Eu tirei minha blusa e a joguei no chão. Armin olhou para o meu sutiã por uma fração de segundos e então voltou a fitar os meus olhos.

—Se isso é devagar para você, eu não quero saber o que é rápido.—Ele ergueu as sobrancelhas, divertido, e pegou a blusa do chão.—Sério, Annya. Sabe que não precisa fazer isso, não é?

—Eu estou fazendo porque quero.—Eu o puxei de volta para a cama e me deitei ao seu lado, nos cobrindo com o lençol.—E admito que estou decepcionada por não ter chamado sua atenção.

—Ah, se você soubesse tudo que passa pela minha cabeça...—Ele murmurou, me puxando para perto. Eu soquei seu braço e nós dois rimos.

Ficamos por um longo momento nos entreolhando, deitados um de frente para o outro. Já estava começando a anoitecer e meu quarto começava a entrar numa penumbra alaranjada.

—Como se sente?—Armin sussurrou, depois de um tempo.

Eu pensei por alguns segundos. Estava nervosa, não podia negar.

—Como se estivesse fazendo algo proibido.—Sussurrei de volta. Ele balançou a cabeça.

—Você não está fazendo nada errado. Está tudo bem. Quer se vestir?

Eu neguei e repousei minha mão sobre seu rosto, acariciando sua bochecha com o polegar.

—Como pode estar tão calmo? Você passou por algo pior do que eu e...

—Não ouse dizer isso. Não existe pior ou melhor. A única diferença entre nós dois é que eu não fugi do meu psicólogo.

Eu ri.

—Prometo que vou procurar um novo.

—Prometa a si mesma. Faça isso por você.—Ele beijou minha testa e falou com os lábios à minha pele:—Até lá, eu espero.

 ***

No fim de novembro, eu fui intimada pela família de Armin a ajudá-los na decoração de natal da casa. Eu não esperava muito trabalho, mas quando cheguei lá, encontrei cinco caixas grandes na garagem. Havia enfeites para árvore, telhados, escada, portas, mesas, jardim... uma infinidade de coisas. Tive medo de encontrar o próprio Papai Noel dentro de uma das caixas.

Eu gostava do natal. Era a única época do ano que eu podia ter uma vida normal, por mais falsa e simples que fosse. Meus avós viajavam para me visitar, minha mãe preparava a ceia e eu decorava a casa — era apenas uma caixa de enfeites, mas a casa ficava linda do mesmo jeito.

Eu não costumava me apegar aos presentes que recebia dos meus avós porque, depois das festas, minha mãe sempre me convencia de que precisava vendê-los para pagar as contas.

Não eram bons tempos. Depois  da morte do meu pai, eu deixei de ter isso. Só que, por mais ruim que fosse aquela época, eu  já estava "habituada". Me acostumei com o ódio da minha mãe, com a solidão, com a constante falta de comida, com as lágrimas antes de dormir, com as gritarias, com as bebidas, com as contas atrasadas... o que me confortava era pensar que as coisas não poderiam ficar pior.

Mas Viktor me fez mudar de ideia.

Quando me livrei dele e fui para os Estados Unidos, eu pensei que as coisas fossem finalmente melhorar. Eu não sofria mais nas mãos dele e da minha mãe, recebia roupas e videogames caros, as decorações de natal eram mais bonitas e a ceia mais farta... mas eu não tinha ânimo para aproveitar tudo aquilo. Ele me quebrou. Eu me sentia esgotada e indigna de todo aquele carinho. Forçava um sorriso para os meus avós, agradecia e me trancava no quarto, geralmente para ouvir música, desenhar ou jogar videogame. Eu estava tão acostumada à minha própria companhia que ficava sozinha até quando não precisava.

E agora, um dia sem ver alguém da família de Armin era como um mês. Eu odiava ficar sozinha e o único silêncio que eu aceitava era para ouvir a respiração dele ao meu lado.

Eu estava ajudando Alexy a decorar a árvore de natal, enquanto Armin e Arnaud colocavam as luzes no telhado e Vitória distribuía enfeites pela casa. Ou pelo menos era o que eu pensava, até Armin me abraçar pelas costas.

—Alexy, você não está fazendo minha garota se esforçar demais, não é?

—Eu? De jeito nenhum. Até porque, ela passa mais tempo olhando para o nada do que trabalhando.—Nós dois rimos.—Você anda fazendo algo para deixá-la tão aérea assim, Armin?

Eu e Armin nos entreolhamos.

Muito pelo contrário, Alexy.

Eu belisquei seu braço. Mesmo depois de três meses ele ainda fazia piadas com isso!

—Não se atreva a falar nenhuma bobagem!—Eu o adverti. Ele plantou um beijo em meus lábios, divertindo-se com a situação.

De repente, Vitória entrou em casa correndo, com um olhar assustado.

—Annya, eu preciso que você venha aqui fora agora!

—E-eu?

—Sim! Venha rápido, é importante!

Os gêmeos trocaram olhares apreensivos e Armin segurou minha mão, me guiando até a varanda. Eu estava nervosa.

Será que havia acontecido alguma coisa com Arnaud? Será que Rachel e Lily haviam feito alguma coisa?

Quando pisei do lado de fora, não havia nada. Ao invés de uma tragédia... havia uma festa. Balões estavam pendurados pela varanda e Arnaud segurava um bolo cheio de velas, caminhando até mim com um sorriso no rosto. Eles começaram a cantar parabéns pra você em coro e eu senti como se meu coração fosse derreter.

Eles haviam me enganado muito bem com aquela conversa de "ajudar a decorar a casa para o natal" e eu nem desconfiei. Os dias estavam passando com tanta rapidez que eu nem me lembrei de checar o calendário. 

Era 25 de novembro. Meu aniversário.

Quando eles terminaram de cantar, eu cruzei os braços, olhando para os meus próprios pés. Eu estava me segurando para não chorar, mas ao invés disso comecei a rir quando Armin, Alexy e Vitória me abraçaram ao mesmo tempo, animados.

—Assopre a vela e faça um pedido, filhona!

—Eu posso deixar o pedido para outra hora? Não consigo pensar sobre pressão e no frio!—Falei, fazendo-os rir.

Eu assoprei a vela rapidamente e nós entramos em casa. Depois de cortar o bolo e servir as fatias para todo mundo, nós ficamos conversando. Eu até mesmo recebi presentes! Alexy havia costurado um vestido lindo para mim, em tons de verde, enquanto Arnaud e Vitória me deram uma luminária que projetava o Bat Sinal na parede. Eu sabia que Armin estava envolvido naquela decisão.

Mais tarde, quando voltei para casa com Armin, meus avós me ligaram e passamos um bom tempo conversando. Mesmo acalmando-os e dizendo que estava tudo bem, eu precisei ouvir quase dez minutos de suas desculpas por não estarem comigo no meu aniversário.

Eles ficaram felizes por saber que voltei à ir ao psicólogo. Em dois meses de consultas, eu já me sentia mais confiante e menos tensa. A doutora, amiga de Arnaud, me guiava, me fazia refletir sobre tudo o que passei e me ajudava a entender que eu não era a culpada por nada que aconteceu. As palavras dela eram simples, mas eficazes. Toda vez que eu entrava no consultório eu dizia que não tinha nada para contar e em questão de minutos já não conseguia parar de falar. Eram momentos de liberdade para mim.

Depois de falar com os meus avós, Armin me puxou para o seu colo e me beijou, apaixonadamente. Seu toque era doce, sereno, e conseguia me desligar da realidade em questão de segundos.

—Eu ainda não te dei o meu presente.—Sussurrou, beijando o canto dos meus lábios. Eu arqueei a sobrancelha e me afastei para olhá-lo.—O que foi?

—Seu... presente?

 Admito que minha mente viajou para bem longe.

—Não pense besteiras, mademoiselle, eu realmente comprei um presente.

Eu cobri o rosto, morrendo de vergonha enquanto ele continuava a fazer piadas:

—Mas tudo bem! A aniversariante é você, se quiser trocar a surpresa é só me dizer o que estava pensando!

—Eu não estava pensando em nada!

—Você não me engana, Anastasia...

Eu comecei a rir enquanto ele me observava com um sorriso no rosto.

—Okay, falando sério agora! Não quero que crie expectativas, mas a surpresa está no quarto e eu preciso que feche os olhos para recebê-la.

—Preciso mesmo fechar os olhos?

—Quer a surpresa ou não?

Eu me levantei revirando os olhos, mas obedeci. Senti suas mãos segurarem as minhas.

—Eu estou com frio e cansada, se estiver planejando uma noite de Just Dance pode sair do meu apartamento agora mesmo.—Resmunguei, enquanto ele me guiava até o quarto. Ele pigarreou.

—É... óbvio... que não é uma... noite de Just Dance... que tipo de idiota faria isso?

Armin!

Escutei sua risada.

—Estou brincando. Nada de dança hoje.—Ele soltou minhas mãos.—Pode abrir os olhos.

Eu olhei ao redor e fiquei boquiaberta. Havia luzes de natal douradas penduradas na minha cortina. Minha cama estava afastada para o canto e um acampamento de almofadas foi montado debaixo da janela. Um aparelho com tripé apontava para o céu. Eu fiquei paralisada olhando toda a cena.

—Armin, você... você comprou um telescópio!

—Sim! Não é legal? Eu sei como é ruim ver as estrelas da cidade e achei que seria uma boa ideia...

—Quando você fez tudo isso?—Perguntei, atônita.

—Enquanto você enfeitava a árvore de natal com meu irmão eu corri até aqui, preparei tudo e... ah, já havia me esquecido!

Ele pegou um chapéu que estava sobre a mesa e colocou na minha cabeça. Quando olhei no espelho, vi o desenho de uma caveira branca com os dois ossos cruzados sobre o tecido preto. Era um chapéu de pirata.

—O que achou?

Eu toquei o chapéu com a ponta dos dedos e sorri. Meu coração batia alegre, aquecido.

—Armin, eu nem sei o que dizer...

Ele sorriu de volta para mim e me levou até o telescópio. Estava frio sob a janela, mas Armin prontamente me envolveu com seus braços e um cobertor. Ele começou a falar sobre as constelações e quase não errou  o nome de nenhuma... quase. Eu conseguia ver o céu perfeitamente pelo telescópio! Eu ainda não conseguia acreditar que aquilo tudo era real. Era como o paraíso.

—Você estudou tudo isso?—Perguntei, ainda impressionada.

—Sim.—Ele franziu o cenho e olhou para baixo.—Foi bem legal, mas... havia umas coisas bem difíceis de acreditar na internet.

—Por exemplo?

Ele pensou por um momento.

—Depois do sol, você sabe qual é a estrela mais brilhante que existe?

—É a estrela Sirius, não é?

—Ah, todos os sites diziam isso, mas...

Eu franzi o cenho.

—Mas...?

Ele olhou para mim intensamente.

—Depois que conheci você tenho minhas dúvidas.

Eu balancei a cabeça, descrente. Ele sorria, muito satisfeito consigo mesmo.

—Você é incorrigível.

Ele segurou minha mão e a levou aos lábios, beijando um dedo de cada vez.

—Você fala como se não gostasse...

Eu o observava, sentindo tudo dentro de mim amolecer como gelatina. Ele subiu os beijos pelo meu braço e se concentrou no meu pescoço. Naquele momento, a brisa gélida que entrava pela janela não era nada comparada ao frio em minha barriga. Eu me sentei em seu colo, deslizando minhas mãos pelas suas costas e, antes que pudesse perceber, estava arranhando-o. Senti seu sorriso sobre a minha pele. 

Ele me levantou com toda a facilidade do mundo e me deitou na cama, direcionando sua atenção à minha boca. Meus olhos estavam fechados. Eu me sentia extasiada. Suas mãos correram pelo meu quadril e ele segurou a barra da minha blusa, mas se deteve. Eu abri os olhos, encontrando os seus.

—Ainda acha que está fazendo algo proibido?—Perguntou, num sussurro. Sua voz causava ondas de arrepios pelo meu corpo.

 Eu neguei com a cabeça, alternando olhares entre sua boca e seus olhos. Ele riu e segurou meu queixo, fazendo com que eu me concentrasse apenas nos dois pontos azuis que tanto me enfeitiçavam.

—Preste atenção no que estou perguntando, chérie.

—Não consigo prestar atenção quando você está tão próximo de mim...

Armin arqueou a sobrancelha e deu um sorriso de canto.

—É bom saber que causo esse efeito em você, mas ainda preciso que tenha certeza.

Eu demorei a responder, apesar de já estar mais do que decidida. Estiquei o braço e peguei meu chapéu de pirata. O mar em seus olhos parecia agitado hoje, mas eu não estava nem um pouco nervosa em navegar por aquelas ondas.

—Eu nunca tive tanta certeza, Armin.


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Notas finais do capítulo

VOCABULÁRIO
Ma vie = Minha vida