Start escrita por Queen Of The Clouds


Capítulo 39
A rainha




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Lilith

—Eu reconheceria aquele maldito cabelo alaranjado em qualquer lugar.—Rachel rosnou ao meu lado.

Eu apertei o volante do carro.

—Deveríamos ir embora. Eles podem nos ver.

—Nós estamos do outro lado da rua, Lily, eles não...

Ela parou de falar, de repente. Seu olhar estava vidrado, como se seu corpo estivesse entrando em curto-circuito. Eu me virei para olhar o mesmo que ela e finalmente entendi sua expressão.

Armin estava na porta de casa, beijando Annya. Eu conhecia Rachel há tempo suficiente para saber que aquela cena a faria surtar. Antes que ela dissesse algo, eu acelerei e nos tirei daquela rua.

Quando chegamos em sua casa, ela ainda não havia falado nenhuma palavra. Caminhava de um lado para o outro, enfurecida.

—Isso tudo é culpa sua!—Gritou, de repente.—Meu plano estava correndo perfeitamente bem até você estragar tudo!

—Minha culpa? Não ouse brigar comigo, Rachel, você não manda em mim!—Berrei, em resposta.

Ela apanhou o abajur que estava ao lado do sofá e caminhou lentamente até mim.

—Não mando em você?

Eu engoli em seco.

—Já jogou xadrez, Lilith? Conhece as peças?

—Você sabe que sim.

—Então sabe quem é você nesse jogo, não é?—Ela apontou o abajur para mim.—Você é o meu peão. Eu sou a rainha. Sou eu quem decide o que você deve fazer e cada um dos seus movimentos.

Seu olhar se detinha no meu, de forma ameaçadora.

—Eu dou as ordens e você obedece, entendeu?

—Rachel, eu...

—Você viu o que acontece quando faz as coisas sozinha? Quando pensa por conta própria? Você foi capturada, Lily. Está fora do tabuleiro.

Eu sabia que ela estava certa, mas a forma como ela falava sempre me incomodava. Eu estava me controlando para não respondê-la, em "respeito" ao abajur enorme que ela segurava. Nós já havíamos discordado antes e nossas discussões nunca terminavam bem.

—Você só precisava manter o Armin longe dela. Era só isso... mas se descontrolou. Perdeu a postura. Se soubesse mentir e fingir como eu, nada disso estaria acontecendo.—Ela passou a mão pelo rosto.—Você contou o plano para ela e ainda deixou o meu Armin ouvir tudo!

—Eu não sabia que ele tinha me seguido!

Ela atirou o abajur em mim, mas eu desviei. Ele bateu na parede e se espatifou no chão. Os pedaços de vidro da lâmpada brilhavam no carpete.

—Você deveria saber!! Deveria ter pensado, deveria ter mentido melhor! Por sua culpa, eu estou perdendo o que é meu!

Ela se deixou cair sobre o sofá. De repente, seu olhar parecia triste. Ela escondeu o rosto e seu corpo tremia como se estivesse chorando. Eu me senti sensibilizada ao vê-la daquela forma... eu havia me apegado à ela.

—Rachel, deixe isso para lá.—Eu me ajoelhei na sua frente.—Você precisa se libertar deles.

Ela levantou os olhos para mim, sem lágrimas a vista, apesar de eu jurar que a vi chorando.

—Você sabe o que é liberdade, Lilith?

Eu neguei. Ela ergueu meu queixo, com a ponta dos dedos.

—Liberdade é a essência de todos os seres. Ser livre, minha querida, é agir de acordo com a própria natureza... e não se pode lutar contra sua natureza por muito tempo. É impossível esconder seus impulsos e desejos para sempre.

Ela me soltou e sorriu.

—Eu não preciso me libertar de nada porque eu já sou livre. Estou perseguindo o que quero, agindo de acordo com o que sinto aqui dentro. Eles dizem que eu sou louca por fazer de tudo para conseguir o que quero, por viver à procura de emoções... mas eu só estou seguindo a minha natureza.—Ela se inclinou para me olhar de perto.—Será que eles, os supostos normais da história, estão fazendo isso?

Eu não conseguia dizer nada. Rachel sempre se expressava tão bem que eu era incapaz de interrompê-la. Era como ouvir a própria filosofia.

—Armin é meu peão, assim como você... ele só não sabe disso ainda. Se ele tivesse seguido a própria natureza, se tivesse me obedecido e se entregado a mim, nada disso estaria acontecendo. Eu não precisaria usar o Viktor para me satisfazer e essa... esse verme... essa...

—Anastasia.—Completei. Ela sorriu docemente para mim e deitou minha cabeça em seu colo.

—Sim, querida.—Ela acariciava meu cabelo.—Se não fosse por ela, eu teria o Armin agora. Eu tenho certeza.

Quando estávamos presas no hospital, Rachel sempre falava do Armin, mas vez ou outra mencionava o Viktor. Dizia que ele era um peão valioso, mas difícil de manipular porque ele não era totalmente devoto à ela. Viktor perdia muito tempo e dinheiro com a sua obssessão por Annya. Assim como Rachel, ele também não desistia do seu troféu.

Eu nem mesmo conhecia Anastasia, mas só de ouvir falar, sentia ódio. Assim que saímos do hospital eu prometi à Rachel que a ajudaria a recuperar os dois, mas quando ela descobriu que Armin e Annya haviam se conhecido, os planos mudaram. Nosso trabalho dobrou. Precisaríamos tirar Anastasia do tabuleiro para que os outros dois peões voltassem ao jogo.

Descobrimos tudo que podíamos sobre ela e nos atualizamos sobre a vida do Armin. Viktor foi deixado de lado, por ora, e eu fui incubida de uma nova tarefa: separar Armin e Annya.

Na noite em que eles brigaram, eu sabia onde eles estavam... eu sabia quando Rachel cortaria a energia elétrica da casa e quando deveria abrir a porta para fazer um escândalo. Eu estava criando aquela cena há semanas. Quando Armin dizia que ia encontrar Annya, eu inventava algo que o fazia desmarcar. Eles estavam no limite e a personalidade dos dois facilitou tudo; ela explodiu e os dois brigaram.

Anastasia finalmente estava fora do meu caminho e eu só precisava manter Armin ocupado por tempo suficiente até Rachel dar o sinal. Dessa vez, eu seria a vilã da história e ela, a mocinha. Ainda não havíamos decidido todas as etapas do plano, Rachel gostava de improvisar... mas pensamos vagamente na ideia de um sequestro. Ela o salvaria e o conquistaria de volta. Explicaria que depois dos anos de terapia, ela estava curada.

Era um plano simples e eu acreditava totalmente na capacidade artística de Rachel para forjar emoções e dobrar as pessoas à sua vontade.

Eu me sentia especial. Era como se eu fosse imune. Apesar de todo o discurso dela, eu não via hierarquia entre nós duas... nós éramos cúmplices.

E tínhamos um inimigo em comum.

Agora eu também tinha uma razão para odiar aquela mulher. Ela não havia estragado o plano de Rachel... ela havia estragado o nosso plano.

Era como Rachel sempre dizia: Anastasia era um erro em muitas histórias, principalmente na dela. Era uma intrusa do mundo, nascida para viver sozinha. E nós faríamos o que fosse preciso para mantê-la assim.

Rachel suspirou e me afastou.

—Acho que está na hora de mudar o plano.—Falou, de repente. Era impossível adivinhar o que se passava em sua mente.

—O que pretende fazer?

Ela levantou a almofada do sofá e retirou uma caixa de madeira, que antes estava escondida.

—Você disse que eu precisava me libertar deles, não é?—Ela abriu a caixa.—Eu discordo.

Quando percebi, Rachel alisava o cano prateado de um revólver. Nós duas sorríamos.

—Eu só preciso me livrar dela... só preciso acabar com Anastasia.


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Notas finais do capítulo

Boa sorte para Anastasia.