Start escrita por Queen Of The Clouds


Capítulo 24
Sete chaves




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/707796/chapter/24

Anastasia

Eu ainda vestia as mesmas roupas que usei no shopping quando acordei na cama de Armin. Esfreguei os olhos e me espreguicei.

Como diabos eu vim parar aqui?

Enquanto tentava me situar, vi  o dono da cama entrar e sair do quarto diversas vezes, até finalmente perceber que eu estava acordada.

—Me ajuda.—Suplicou, de forma chorosa.

—Hum... não...—Eu fechei os olhos e virei para o lado. Armin se ajoelhou na cama e me puxou pelos braços, me sacudindo.

—Por favor!

Eu examinei seus olhos azuis.

—O que você quer?

—Essa roupa está boa?—Perguntou, esticando a blusa verde quadriculada para que eu a analisasse. Eu fiz uma careta.

—Não mesmo. De onde você tirou isso?

Ele resmungou e tirou a blusa, vasculhando algo em sua mala. Parecia inquieto. Quando seu cabelo caía sobre o rosto, ele o soprava, irritado... e ele ficava ainda mais bonito com sua rara expressão séria.

Ele é apenas um amigo, Anastasia. Concentre-se.

Por um momento, eu nem lembrava mais o motivo dele estar se arrumando, até que uma lembrança de Lily despenteando seu cabelo passou pela minha mente.

—Eu queria implicar com você dizendo que parece um menininho no primeiro encontro, mas com esse físico a piada perde a graça...

Ele sorriu, ainda abrindo e fechando os bolsos da mala. Eu bocejei.

—Armin, como um ser humano que passa o dia inteiro jogando pode ser assim?

—Assim como?

—Ah. Assim.—Eu acenei com a cabeça em direção ao seu abdômen.

—Minha mãe me obriga a fazer exercícios.

E o mundo inteiro agradece à Vitória por isso.

Ele ergueu uma camisa vermelha sobre o seu torso e olhou para mim, esperando minha opinião. Eu neguei com a cabeça. Seus ombros caíram, desanimados.

—Me deixe ver o que você tem aí.—Eu me sentei no chão, ao seu lado e abri a mala. Não demorou muito e eu o entreguei um suéter de linho azul claro.

—Certeza?

—Sim.

—Obrigado, Annya. Não sei o que seria de mim sem você.—Ele beijou minha testa e sorriu, logo saindo do quarto.

...sem problemas.

 

Armin

Eu desci os degraus da varanda e andei em direção ao carro. Quando estava prestes a abrir a porta, encontrei Annya de pé, no outro lado da estrada. Ela parecia distraída, olhando o céu. Eu me aproximei silenciosamente.

—Queria poder ler seus pensamentos...—Murmurei ao seu ouvido. Sob a minha voz, ela inclinou a cabeça e se virou rindo.

—Você não entenderia nem a metade, assim como eu.

Eu coloquei as mãos atrás das costas e dei um passo a frente.

—Eu posso tentar. Me diga o que está pensando.

Ela suspirou pesadamente antes de começar a falar.

—Só coisas chatas. Como num piscar de olhos coisas importantes podem se tornar insignificantes e...

—E vice-versa?

—Sim.

—Entendo.

Eu fiquei em silêncio e então perguntei:

—Alguma coisa que queira me contar?

Ela balançou a cabeça negativamente.

Imaginei.

Ela não desviava os olhos do horizonte nem por um segundo.

—Sabe, eu pensei que depois de um tempo você começasse a confiar um pouco mais em mim, falar mais sobre você...

Ela se encolheu.

—Eu confio em você, Armin. Mas certas coisas eu tenho que... reprimir. Leva um tempo, mas eu consigo, na maioria das vezes.

—E até quando vai fazer isso? Vai trancar todos os seus sentimentos à sete chaves até não aguentar mais segurá-los?

—Até quando for necessário.

Eu observei seu rosto. Apesar da afirmação dura, sua expressão era serena.

No entanto, eu não podia negar: Annya mudou bastante desde que a conheci. Por mais que ela ainda não fosse totalmente transparente comigo, eu ainda conseguia notar seu avanço. Ela era mais desconfiada e vivia na defensiva, como se, num piscar de olhos, todas as coisas boas fossem escapar entre seus dedos. Parecia estar sempre esperando por uma notícia ruim e se surpreendia com qualquer demonstração de afeto. Sei disso porque esse era um dos únicos medos que ela deixava transparecer por trás da máscara de confiança.

Há alguns meses, minhas piadas não funcionavam com ela e eu muito mal conseguia lhe arrancar um entortar de lábios. Ela era tão expressiva quanto um vaso de plantas. Por isso quando a fiz rir pela primeira vez naquela lanchonete me senti o cara mais feliz do mundo. Eu sentia que era capaz de fazer qualquer coisa. 

Annya fazia eu me sentir... estranho.

Ela se virou para mim de repente e sorriu.

—Vai ficar aí me admirando? Pensei que tivesse um encontro marcado.

Senti meu rosto esquentar e tentei me recompôr.

—Er... sim. Eu tenho.

—Certo.

—Então... tchau.—Eu me virei para ir embora, mas Annya segurou meu braço.—O que foi?

Ela levou os dedos até o meu cabelo e os bagunçou. Os cantos da sua boca se curvaram num sorriso quando ela terminou sua arte.

—Avise a Lily que só eu posso fazer isso.

Eu também sorri. Ela passou os braços ao meu redor e me abraçou forte, me pegando de surpresa. Hesitante, deslizei minhas mãos pelas suas costas e deitei minha cabeça na sua. Acho que ela nunca havia me abraçado antes. Eu conseguia sentir sua respiração contra o meu peito e... não era uma sensação ruim.

Eu já estava começando a suspeitar do seu gesto expressivo quando ela se afastou.

—Okay, acho que já é o suficiente. Não se anime demais.—Resmungou com um sorriso no rosto. Eu dei uma risada e ela correu para o chalé.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

"Annya fazia eu me sentir... estranho."