Start escrita por Queen Of The Clouds


Capítulo 25
O que vem depois?




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Armin

Quando cheguei no shopping a primeira coisa que vi foi Lily.

Ela estava olhando a vitrine de uma loja de jogos e parecia tensa. Seus dedos amassavam a manga da sua blusa e seu pé batia repetidamente  no chão.

—É melhor ficar calma ou vai acabar abrindo um buraco no piso.—Me aproximei. Ela se virou, surpresa, e sorriu.

—É uma mania. Não consigo ficar parada quando estou nervosa.

—Eu entendo. Também fico assim às vezes.—Eu apontei para a vitrine.—Vai comprar alguma coisa?

Seu rosto pareceu entristecer.

—Eu adoraria, mas... já faz alguns anos desde que me perdi desse mundo de jogos.

—Por quê? É um mundo perfeito.

Sua boca se contorceu num sorriso.

—É que eu costumava jogar com o meu irmão caçula. Só que depois que ele faleceu eu me afastei dessas coisas.

—Ah. Meus pêsames.

Começou bem, Armin.

Ela balançou a cabeça avidamente e olhou para mim.

—Está tudo bem. Já passou. Acho que agora tenho até um bom motivo para voltar a me envolver com essas coisas.

—E qual é o bom motivo?

Ela arqueou a sobrancelha e sorriu.

—Tente adivinhar.

Nós caminhamos até o cinema no segundo andar. Suas mãos estavam sempre escondidas nos bolsos e ela evitava me olhar nos olhos.

—Qual filme você quer ver?—Perguntei, quando paramos em frente à bilheteria. Ela examinou os filmes em cartaz.

—Não sei. Acho que algum de romance...

—Ah, claro.—Falei, distraído.—É uma boa ideia.

Eu mordi os lábios. De repente me veio à mente o dia em que eu e Annya quase saímos aos tapas com Alexy porque queríamos assistir Batman. Senti minha boca se curvar num sorriso.

Lily estalou os dedos na frente do meu rosto.

—Eu estou brincando! Você deve pensar que eu sou um pé no saco!

Eu ergui as sobrancelhas.

—O-o quê? Não, eu não pensei isso!

—Quer saber? Vamos assistir um filme de terror.

—Terror? Certeza?

—Claro. Acha que eu tenho medo?

—Não, eu acho que eu tenho medo.—Brinquei, fazendo-a rir.

—Eu seguro sua mão, não se preocupe.

Eu sorri e desviei o olhar.

—Então, nesse caso, acho que posso abrir uma exceção.

Nós compramos os ingressos e procuramos nossos lugares na sala do cinema. Parecia estar quase totalmente vazia e depois que o filme começou eu entendi o porquê: a história era péssima. Era o mesmo enredo de sempre... um grupo de amigos decide passar as férias numa casa assombrada onde só uma pessoa vê os fantasmas e todo mundo acha que ela é louca. Apostei comigo mesmo que todos iriam morrer e só iria sobrar o suposto louco.

Mas, apesar do clichê, Lily já havia se assustado pela quarta vez e agora havia segurado meu braço. Eu conseguia ver sua silhueta encolhida na cadeira.

—Pensei que não fosse ficar com medo.—Sussurrei.

—E eu pensei que você fosse ficar com medo.

—Mas eu estou.

—Não vi você se assustar.

—É que eu entrei em pânico e estou paralisado desde o início do filme.

Ela deu risadas. Alguém acima de nós que realmente se importava com o filme pediu silêncio. Ela esperou alguns segundos antes de murmurar:

—E eu posso fazer alguma coisa para te trazer de volta ao normal?

Eu olhei para ela. Sua cabeça estava encostada no meu ombro, mas eu conseguia ver seu rosto. Ela levantou os olhos para mim, devagar, e depois os desceu até a minha boca. 

Naquele momento, eu queria que um despertador tocasse entre nós dois para impedir o que estava prestes a acontecer, mas quando percebi, já era tarde demais. Seus lábios tocaram os meus delicadamente, de forma incerta. Eu tentei afastar o terrível sentimento de que estava cometendo um erro e levei minha mão à sua nuca.

Mas eu não conseguia.

Alguém tossiu atrás de nós dois e Lily se afastou, assustada. Na penumbra, consegui ver seu sorriso tímido em minha direção.

Eu estava tentando. Eu queria tentar. Na verdade, para mim, já não era mais uma questão de tentar, era uma obrigação. Lily parecia ser uma garota legal e eu não queria desperdiçar aquela chance. Eu precisava voltar a ser apenas um cara normal saindo com uma garota normal, sem sentir medo do que viria depois. Eu queria poder depositar minha confiança em alguém outra vez e Lily parecia ser a pessoa perfeita para isso. Ela era simpática, bonita, divertida, doce...

O problema é que eu já havia depositado minha confiança à outra pessoa.

E era os lábios dela que eu queria tocar... mas Annya não estava ali.

Eu estava apaixonado por Annya.

Meu coração bateu mais forte. Era como se eu estivesse prestes a morrer, mas eu nunca havia me sentido tão bem. Eu estava decidido a falar com ela e dizer tudo que eu sentia.

Eu reclamava sobre ela esconder os sentimentos mas eu escondi tanto quanto ela. Tentei, durante esse tempo todo, vê-la como uma amiga mas não conseguia mais mentir para mim mesmo. Não conseguia mais mentir para ela.

Depois disso, o filme de duas horas e meia parecia ter cinco. O tempo não passava. Quando notei, meus dedos batiam no braço da cadeira, nervosos, e eu os parei imediatamente. Lily já sabia que eu também fazia isso quando estava ansioso.

Assim que saímos do cinema, Lily disse que tinha um compromisso e que precisava ir embora. Eu a levei até em casa. Quando estacionei, ela olhou pela janela, com um olhar temeroso.

—Droga, está chovendo...—Murmurou, cabisbaixa.—Eu não queria estragar meu cabelo.

—Eu dou um jeito.—Falei, pegando minha jaqueta no banco de trás e saindo do carro.

Assim que abri a porta, cobri a cabeça dela com o casaco e corremos para o telhado da sua varanda. Ela ria, divertida.

—Quanto cavalheirismo.—Ela deu um passo à frente.

—Só fiz o meu trabalho.Eu encenei uma reverência profunda, o que a fez rir mais ainda.

Ela repousou seus braços sobre os meus ombros e depositou um beijo em meus lábios.

Eu precisava sair dali.

—Lily, eu preciso te dizer uma coisa.

Ela levou um dedo à boca, pedindo silêncio.

—Não diga nada, por favor. Eu quero muito repetir isso tudo outra vez.

—Mas...

—Por favor...

Ela acariciava minha nuca com as pontas dos dedos. Eu queria ser um pouco mais firme. Respirei fundo. Na próxima vez que a encontrasse, contaria tudo.

—Tudo bem...—Cedi.—Acho que podemos fazer isso outra vez.

Seu rosto se iluminou e ela me deu um selinho.

—Legal! Até a próxima, Armin.

Eu voltei para o carro e dirigi como um louco até chegar no chalé. Subi as escadas correndo, mas antes de entrar no quarto, encontrei a porta trancada. Meu irmão e Annya conversavam, com a voz baixa. Eu encostei o ouvido à porta. Meu cabelo pingava pela chuva.

—Talvez vocês não sejam o casal perfeito.—Escutei Alexy dizer.

—Como assim?—Annya perguntou.

—Eu não posso continuar te incentivando a gostar de uma pessoa que não corresponde seus sentimentos, Annya.

Eu nem sabia que ela tinha sentimentos por mim! Se eu tivesse certeza antes, corresponderia totalmente!

—Alexy, eu não gosto dele.

Sei.

Estou falando sério.

—Tudo bem.

Houve uma pausa.

—Okay, digamos que eu gostasse dele, mas... e se agora eu não gostar mais?A vida é assim, as coisas mudam, inclusive os sentimentos.

—Então está dizendo que não gosta mais dele?

—Eu não sinto nada por ele.

Parecia que eu havia recebido um soco na boca do estômago. Meu ânimo murchou. Ouvir isso saindo da boca de Annya foi ainda mais doloroso do que gritar para o meu irmão. Eu falei tudo aquilo porque ela disse que não se importava comigo e eu queria acreditar que ela não se importava. Eu precisava pensar que meu sentimento não era recíproco.

Porque eu estava com medo do que viria depois.

Mas agora que finalmente tive coragem de contar à ela o que sentia... descobri que cheguei tarde demais.

Escutei alguém subir as escadas. Eu queria ficar ali por mais tempo e tentar ouvir mais alguma coisa, mas decidi entrar no quarto. Coloquei um sorriso idiota no rosto e me deitei na cama.

 

Anastasia

Sem Armin por perto, eu me sentia inquieta. Parecia que faltava algo. Droga, eu daria qualquer coisa para saber como estava sendo o encontro com Lily.

Eu deitei na cama dele e suspirei. Alexy estava na cama ao lado, com fones no ouvido e uma expressão séria. Eu o chamei diversas vezes, mas ele não me escutou, nem se mexeu. Eu joguei uma almofada nele e finalmente tive sua atenção. Ele tirou o fone lentamente, e devolveu  a almofada, me acertando.

—O que você quer?—Questionou.

—Quero saber o que aconteceu entre você e Armin.

Sua expressão endureceu.

—Não aconteceu nada.

Eu me sentei na cama e cruzei os braços.

—Ah, verdade? Então por que vocês estão parecendo cães, se estranhando o tempo todo e...

—Annya, não tem nada acontecendo.

—...só faltam os rosnados.

Ele me encarou ferozmente e em seguida voltou toda sua atenção ao seu celular de capa roxa.

Eu suspirei. Não tinha outro jeito para reconciliá-los. Eu precisava mencionar a briga.

—Eu ouvi vocês brigando ontem à noite... no carro.

Ele deixou o celular sobre a cama.

—O que você ouviu?

—O suficiente.

Dessa vez, ele quem suspirou.

—Às vezes, Armin age como um babaca.

—Eu não ligo.—Menti.

—Mas eu ligo. Vai me dizer que não se decepcionou com o que ouviu?

—Não.

—Tem certeza?

—Totalmente.

Alexy me analisou por bastante tempo, tentando identificar qualquer sinal de fraqueza.

—Okay. Então eu desisto. Acho que... talvez vocês não sejam o casal perfeito.

—Como assim?

Ele deu um sorriso fraco.

—Eu não posso continuar te incentivando a gostar de uma pessoa que não corresponde aos seus sentimentos, Annya.

Eu franzi a testa e voltei a me deitar.

—Alexy, eu não gosto dele.

Sei.

—Estou falando sério.

—Tudo bem.

Nós ficamos em silêncio.

—Okay, digamos que eu gostasse dele, mas... e se agora eu não gostar mais? A vida é assim, as coisas mudam, inclusive os sentimentos.

—Então está dizendo que não gosta mais dele?

—Eu não sinto nada por ele.—Afirmei, enrolando uma mecha de cabelo no dedo. Eu não conseguia sustentar o olhar de Alexy. Era horrível mentir para ele, parecia que ele conseguia ler meus pensamentos.

De repente, tive vontade de contar a verdade. Eu cheguei a abrir a boca para dizer à ele como me sentia, mas Armin entrou no quarto e se deitou ao meu lado, sorrindo. Alexy revirou os olhos e deixou o quarto.

—Como foi o encontro?—Perguntei.

—Incrível.

Eu engoli em seco.

—Legal. E você beijou ela?

—Sim.

—Legal.

Idiota, idiota, idiota! Claro que ele beijou ela, Annya! Sua imbecil, o que você esperav...

—Me sinto estranho falando sobre isso com você.

—Sério? Por quê?

—Acho que é porque todo mundo diz que nós nos gostamos e...

—Mas eu não sinto nada por você.—Eu o interrompi.—E você também não sente nada por mim.

Ele olhou para o teto.

—É. Acho que sim.

Acha?

Ele se virou para mim e nos olhamos por alguns segundos. Senti um frio na barriga e também desviei o olhar para o teto.

—Você vai embora, Armin. Sabe que precisa contar isso à ela, não é?

—Preciso?

—Armin!

—Eu estou brincando. Sei que preciso contar, mas... não sei se vai ser fácil.—Ele se deitou de lado e tocou meu cabelo, distraído.—Eu não consegui nem mesmo dizer à ela que eu... não queria encontrá-la de novo.

Eu pisquei, confusa.

—Você não disse que o encontro foi incrível? Por que não quer encontrá-la?

—Foi legal. Lily é uma garota ótima, mas não sei se senti algo por ela.

—Armin, essas coisas levam tempo.—Eu sorri, tentando tranquilizá-lo.—Você não bate os olhos numa pessoa e se apaixona por ela instantaneamente.

—Tem certeza?

Seu olhar encontrou o meu e eu me lembrei de quando nos conhecemos. Na época, eu quase fui hipnotizada por essas mesmas ondas azuis. Me sentia paralisada.

Foi ali que eu me apaixonei por ele?

Armin se aproximou, hesitante. Eu estremeci e fechei os olhos, me afastando.

—O que está fazendo...?

—Eu...

—Armin... eu não acredito que você ia fazer isso outra vez!—Me levantei da cama, irritada, e ele se sentou.

—Isso o quê?

—Você tentou me beijar!

—E isso é algo ruim?

—É péssimo!—Eu corri os dedos pelo cabelo, angustiada.—Você está com a Lily!

—Eu não estou com ela.

—Sim, você está! E não pode sair beijando qualquer uma!

—Annya, você não é qualquer uma.—Retrucou, se levantando.

—Pare de dizer essas coisas!—Vociferei, furiosa.

Armin me olhou, assustado. Eu não queria ter gritado com ele, mas eu estava tão aterrorizada quanto ele. Por que ele fazia aquelas coisas? Por que ele gostava tanto de me confundir? Na noite passada brigou com Alexy e falou com todas as letras que jamais poderíamos ficar juntos... e agora tentou me beijar.

Eu fechei os olhos e respirei fundo.

—Eu vou fingir que nada disso aconteceu...

—Annya...

Eu ergui a mão, calando-o.

—Eu não quero saber.

—Certo... eu errei. Tem razão. Você pode me perdoar?—Perguntou, dando um passo a frente. Eu recuei.

—Nã... não fala comigo.

—Eu...

—Sério. Eu preciso de um tempo.

Eu deixei o quarto e bati a porta.


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