Start escrita por Queen Of The Clouds


Capítulo 22
Nunca




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Anastasia

 Sei que parece maldade, mas não me entenda mal: quando o meu suposto primo, Josh, abraçou minha perna o primeiro pensamento que me passou pela cabeça foi chutá-lo para longe com a outra. A dor estava quase insuportável e eu estava começando a ficar com medo de ter quebrado algo. Meu tornozelo também doía. Se eu pisasse em falso em algum momento, tinha certeza de que iria parar no hospital.

Quando percebi que Armin me observava eu disfarcei. Preferia que ele não me visse sentindo uma dor que ele causou, não queria que ele se culpasse.

Eu estava prestes a voltar à minha brincadeira com as crianças quando vi um rosto conhecido na entrada da sala de jogos. Era aquela mulher que falou com o Armin no mercado. Eu não conseguia tirar os olhos dela e fiquei tão distraída que já havia até mesmo me esquecido onde eu estava. Como um lembrete, uma bolinha bateu na minha cabeça. Eu me virei, encontrando Josh que sorria para mim. Havia um dente faltando na sua boca o que me fez sorrir também.

—O que você está olhando?—Perguntou, rodando uma bolinha azul nas mãos. Eu o analisei, pensativa.

Tive uma ideia.

—Josh, quer me ajudar numa coisa?—Eu me ajoelhei na sua frente, de costas para Armin.—Que tal brincarmos de espiões?

—Como?

—Preciso que me diga tudo que aquela mulher e aquele homem estão fazendo.—Eu apontei para Armin e Lily.—Está vendo? A moça loira com o cara...

Lindo de olhos azuis.

Com cabelo preto?—Josh perguntou.

—...isso.—Concordei.

—E o que eu vou ganhar com isso?—Ele não me olhava nos olhos. Eu sorri e baguncei seus cachinhos.

—Você é um garoto esperto... que tal um presente da máquina de chicletes?—Sugeri.

Josh olhou a máquina e torceu o nariz.

—Cinco chicletes.

Eu franzi o cenho.

Na idade dele eu não era tão inteligente assim.

—Dois chicletes.—Falei.

—Quatro.—Ele replicou.

Eu olhei para trás. A mulher já estava se sentando ao lado de Armin.

—Tudo bem, quatro! Agora me diz o que eles estão fazendo.

O garoto olhou por cima dos meus ombros.

—Ahn... eles estão conversando.

—E...?

—Agora ela passou a mão no cabelo dele.

—Continue.—Resmunguei, entre dentes.

—Agora ela está rindo. Qual é o nome dele?

—Armin.

—Ele é seu namorado?

Eu mexi a cabeça, indecisa.

—Hum... mais ou menos.

—Como pode ser mais ou menos seu namorado?

—Se fizer perguntas demais o número de chicletes diminui.

—Um garoto chegou. Ele tem cabelo azul e...—Josh estreitou os olhos e então os arregalou.—Ele é igualzinho ao seu namorado!

Amém, Alexy.

—Eles são gêmeos.

—Legal!—Ele rodou a bolinha na mão outra vez.—Seu namorado apontou para você.

Eu estava prestes a dizer "ele não é meu namorado!", como de costume, até me lembrar do que falei para Josh.

—E o estão fazendo agora?

—Agora eles dois estão convers... ah! Ela beijou ele!

—O quê?!—Eu me virei rapidamente a tempo de ver apenas Lily se afastando de Armin.

Eu encarei Josh.

—Foi no rosto.—Ele sorriu, travesso.

Eu suspirei profundamente.

—Agora a mulher foi embora... e os dois se levantaram.

Finalmente.

—Vamos lá pegar os seus chicletes?

—Ah... você já vai embora?—Ele fez uma cara de choro que eu definitivamente não sabia como lidar. Eu não estava acostumada com crianças.

—E-e-eu preciso ir embora.

—Você podia ficar mais um pouco!

—Josh!—Uma mulher um pouco mais velha do que eu o chamou do lado de fora da piscina.—Vamos embora, filho?

Ele suspirou e levantou os braços.

—Me leva no colo?

Eu cocei a cabeça.

—Não sei se consigo te aguentar...

—Por favor...—Murmurou, fazendo beiço.

Eu respirei fundo e o segurei.

Não acredito que fui manipulada por uma criança.

Eu andei devagar entre as bolinhas, não queria cair pela terceira vez na semana. Quando saí, a mãe de Josh segurou sua mão.

—Fez uma amiga, Josh?

—Sim! E ela vai me dar chiclete!

A mãe dele franziu a testa.

—Ela vai?

Eu dei uma risada e passei a mão na sua cabeça.

—Você tem uma ótima memória. Eu já volto.

Eu passei por Armin e Alexy e pedi para me esperarem. Comprei os chicletes e os entreguei ao garoto.

—Obrigado!

—De nada.Tchau, Josh!

Ele acenou para mim e foi embora, feliz. Eu me aproximei dos gêmeos.

—Vamos embora?

Armin cruzou os braços e sorriu.

—Quando eu disse que você precisava fazer amigos eu estava pensando em alguém da nossa idade, sabe...

Eu empurrei sua cabeça e nós saímos da sala de jogos. Alexy parecia quieto demais, mas resolvi não perguntar o que aconteceu... e para falar a verdade, nem precisei. Armin logo começou a se justificar, como se me devesse alguma satisfação. Ele tagarelava, me contando com todos os detalhes tudo o que aconteceu desde que eu me afastei.

—Armin...—Eu tentei interrompê-lo, mas ele continou.

—Eu só queria dizer que... ela me convidou para sair... e eu aceitei. Por favor, me diga que não vai ficar brava comigo outra vez.

Eu parei de andar, fitando-o.

Ficar brava com ele?

De repente, me senti péssima. Ele estava se justificando tanto para mim porque estava com... medo? Era isso que eu representava para ele?

Eu desci o olhar até as minhas unhas, pintadas com a cor do mar.

É claro que era o que eu representava para ele. Como eu não percebi antes? Eu estava prendendo-o à mim! Assim como Rachel o prendeu... e assim como Viktor me prendeu. Entre nós dois, eu era a pedra no sapato. Durante anos, eu tive minha vida controlada. Muito mal podia decidir o que vestir... e agora também estava impedindo a pessoa que eu mais gostava de fazer o que queria. Eu não podia continuar fazendo isso com Armin... não podia prendê-lo a mim, mesmo amando-o.

Céus. Eu o amava.

—Annya? Você acha que eu deveria ir?

Eu examinei seus olhos, ansiosos pela minha resposta.

—Armin, você não deveria nem pedir a minha permissão.

Alexy resmungou algo e cruzou os braços. Armin ainda me olhava, perplexo, quando finalmente gaguejou:

—E-então... você não se importa?

—Não me importo.

—Mas eu me importo, está bem? Não gosto daquela garota e acho que vocês dois deveriam ficar juntos!—O gêmeo de cabelos azuis protestou, mas eu e Armin ainda nos olhávamos. Sua boca estava entreaberta.

—Annya, você... tem certeza?—Perguntou.

—Sim.

Mas se ele insistisse mais um pouco eu mudaria de ideia. Não conseguia resistir à ele.

Eu desviei o olhar e passei a mão pela nuca.

—Sabe o que eu queria agora? Um milkshake de chocolate. Igual àquele da lanchonete que você me levou. Acha que vende aqui?

—A-acho que s-sim.—Armin respondeu também desviando o olhar.

—Ótimo! Eu vou comprar para mim, vocês querem?—Eles negaram com a cabeça.—Tudo bem. Me esperem no carro, não vou demorar.

Eu me afastei deles com um sorriso, que logo se desfez. Caminhei desanimada pelo shopping até a minha perna reclamar de dor e só então lembrei que precisava voltar com um milkshake em mãos. Eu o comprei e deixei o shopping.

Eu caminhava distraída pelo estacionamento quando gotas pesadas de chuva começaram a cair sobre a minha cabeça. De repente, o som de um trovão fez meus joelhos tremerem. Meus olhos vasculharam todo o estacionamento até finalmente encontrar o jipe vermelho. Eu me apressei para chegar até ele, mas antes que me aproximasse da vaga ouvi a voz de Armin num tom perigosamente alto e carregado de raiva. Não conseguia entender o que ele dizia até me aproximar mais um pouco:

—...você e o resto do mundo esperam que eu fique com a Annya vivendo numa droga de final feliz digno de contos de fadas! Tente entender pela última vez, Alexy: isso nunca irá acontecer! Eu não sinto nada por ela! Eu e Annya nunca ficaremos juntos e não há nada que você possa fazer para mudar isso!! Entendeu agora?!

Senti meu coração apertar. A chuva estava cada vez mais forte e o intervalo entre os trovões cada vez menor. Eu dei um passo em direção ao carro, mas Armin voltou a falar. Não gritava como antes, mas seu tom permanecia furioso, como um rosnado.

—Esqueça as histórias da Disney que mamãe te contou quando tinha dez anos, Alexy. Elas mentem. Não existem "finais felizes".


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