Start escrita por Queen Of The Clouds


Capítulo 21
O fim da diversão




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Anastasia

Eu me sentei no sofá, ao lado de Alexy. Nós cinco estávamos na sala, assistindo a um filme antigo que Arnaud havia escolhido na televisão. Eu já havia me distraído pela terceira ou quarta vez, quando Alexy quebrou o silêncio:

—Então... vamos terminar a noite assim?

—Assim como?

—Sentados na sala assistindo esse filme velho?

Arnaud o encarava, ameaçador.

—Hum... podíamos comemorar meu aniversário de casamento.—Vitória murmurou, olhando as próprias unhas.

—O quê?—Alexy olhou para a mãe.

—É hoje?—Perguntei, surpresa.

—Vocês têm isso?—Armin perguntou, com a cara enfiada no PSP.

Nós quatro nos viramos para ele.

—Claro que têm, Armin!—O gêmeo de cabelos azuis exclamou.

—Nós três podemos sair.—Sugeri.—Vocês não precisam nos aturar todo dia.

Arnaud pausou o filme.

—Annya, você não consegue nem andar.

—Claro que consigo!

—Você está mancando.—Alexy acrescentou.

—É uma forma de andar, não é?

Armin se levantou.

—E para onde vamos, senhorita?

—Para qualquer lugar que não seja aqui.

—Annya, não precisa...—Vitória começou.

—Precisa sim. Esse vai ser o nosso presente: uma folga.

Eu me levantei rápido demais e minha perna falhou. Quando percebi que ia cair, me apoiei em Armin. Disfarcei a careta de dor que estava prestes a fazer e sorri. Ele percebeu que eu não estava cem por cento, mas não falou nada.

No fim, todos concordaram com a minha sugestão, mesmo eu não fazendo a mínima ideia de para onde iríamos.

 

Armin

—Ah, o shopping... como eu adoro o Shopping.—Reclamei. Annya esbarrou em mim e piscou.

—Nós vamos achar um jeito de nos divertir.

—Podemos ir naquela loja?—Alexy perguntou, animado.

—Por que não tentamos fazer algo que o Armin goste, Alexy?

—Ah! Estou fora.—Meu irmão se distanciou nos mandando beijos.—Depois encontro vocês, crianças.

Eu e Annya nos encaramos.

—Quer se sentar?

—O quê? Claro que não!

—Eu vi que você ia cair na sala.

—Viu errado.

—E devo fingir que acredito?

—Sim.

Eu deixei escapar um suspiro e olhei ao redor.

—Então, o que quer fazer? Ir em alguma loja de roupas, experimentar uns sapatos?

Ela me lançou um olhar duro e entrelaçou o braço no meu.

—Só porque faço faculdade de moda não quer dizer que eu goste só disso. Vamos procurar por algo mais interessante.

Em questão de minutos, Annya me levou para o terceiro andar, como se conhecesse o shopping como a palma de sua mão. Nós entramos numa sala de jogos repleta de luzes e cores por todo canto.

—Qual quer jogar primeiro?—Eu olhei para ela.—Já sei. Que tal a máquina de dança?

—Não, obrigada.

—O que foi? Pensei que não estivesse sentindo dor alguma.

Ela cruzou os braços, dramática.

—E não estou. Só não quero dar à esses pobres mortais o privilégio de me ver dançando. Vamos jogar hóquei de mesa.

Eu dei uma risada.

—Você vai perder feio.—Provoquei, indo até o caixa para comprar as fichas.

Annya não falou nada, mas sua expressão confiante me desconcertava. Ela me observava com um sorriso nos lábios.

—Preparada?—Eu coloquei a ficha na máquina e os placares começaram a piscar. Ela continuou em silêncio.

Eu deixei o disco sobre a mesa e o empurrei. Annya se inclinou sobre a mesa e mal consegui ver quando ela o recebeu. O disco rebateu na lateral e escorregou direto até a minha meta. As luzes do placar brilharam com o primeiro ponto da partida.

Eu arqueei a sombrancelha.

—Sorte de principiante, não é?

Ela sorriu, tranquila.

—Claro.

Eu recoloquei o disco sobre a mesa e o lancei. Num piscar de olhos, ela pontuou outra vez.

—Relaxa, um raio não cai no mesmo lugar três vezes.—Ela alongou os braços e estalou os dedos.—O próximo ponto é seu.

Engraçadinha.

Nós continuamos jogando, mas o ponto seguinte não foi meu. E nem os outros. Quando a partida acabou, havia um zero gigante brilhando em vermelho no placar.

Eu deixei o taco sobre a mesa e saí andando.

—Ei, aonde está indo?

—Eu me recuso a jogar com você. Não quero ser mais humilhado.

Eu tentei manter uma expressão séria mas não consegui. Nós dois demos risadas.

—Eu juro que te dou um desconto no próximo jogo.

—Você é cruel, sabia?

Ela sorriu e me puxou para as outras máquinas. As outras partidas não foram tão desiguais. Jogamos jogos de corrida, de luta, de basquete e mais um monte de coisas. Annya parecia feliz e eu me sentia bem por fazê-la sorrir. Quando encontramos um circuito gigante que terminava numa piscina de bolinhas, Annya insistiu que precisava entrar. Era um local reservado para crianças pequenas e eu jurava que ela não ia conseguir, mas ela conseguiu. Por sorte, um garotinho concordou em ser o primo dela por alguns minutos e ela entrou como acompanhante.

Eu me sentei num banco, observando-a. Ela começou uma guerra de bolinhas de plástico com as crianças, que pareceram gostar bastante da ideia de fazer uma bagunça. Annya se divertia tanto quanto elas. Em algum momento, o "primo" dela escorregou e, para não cair, se apoiou na perna de Annya. Ela contorceu o rosto numa expressão de dor e só então percebi que ele havia segurado a perna que eu havia machucado. Quando ela percebeu que eu havia visto a cena, seu rosto suavizou imediatamente e ela sorriu, fingindo estar bem.

Por que ela sempre faz isso?

Eu dei um meio sorriso e virei o rosto. Eu me sentia mal. Toda vez que pensava ter ganhado sua confiança, Annya fazia algo que me dizia o contrário. Ela escondia tudo que sentia de mim: fingia estar bem, fingia não sentir dor, fingia não ter sentimentos... pelo menos uma vez, eu queria que ela confiasse em mim. Eu sei que era difícil. Eu entendia sua insegurança... mas eu nunca dei motivos para ela desconfiar de mim. Sempre tentei mostrar que me preocupava e me importava com ela.

Eu olhei para ela outra vez. De repente, sua expressão parecia preocupada e ela focava em algo atrás de mim. Eu franzi o cenho mas, quando me virei, descobri o porquê. Lily estava na entrada na sala de jogos, olhando em volta.

Eu me virei rapidamente e me afundei na cadeira. Era uma tarefa quase impossível considerando a minha altura, mas eu não queria falar com ela outra vez. Não queria estragar tudo.

Eu senti alguém tocar meu ombro.

Desculpe, Annya.

—Armin?—Escutei sua voz atrás de mim. Eu me ajeitei na cadeira.

—Lily? Oi!

—Que coincidência nos encontrarmos de novo!—Ela bagunçou meu cabelo. Eu o arrumei.

—Com certeza. Estou começando a achar que você está me perseguindo.

—...talvez.—Ela sorriu, sentando-se ao meu lado.—Então, está aqui sozinho?

—Não, estou com a Annya.

—Ah... ela é sua irmã?

—Não.

—Amiga?

—Mais ou menos.

—Namorada?

—Hum... não sei.

Lily me fitava, confusa. Eu dei uma risada. Eu entendia perfeitamente a confusão dela.

—Ela é só minha amiga.

—Entendi. Mas a...

—Armin! Achei você!

Alguém se sentou ao meu lado e de repente eu me vi entre Alexy e Lily. Ele acenou para ela simpaticamente e apertou sua mão.

—Oi, tudo bem? Eu sou o irmão do Armin e melhor amigo da Annya. Acho que você já a conhece, não é?

Lily assentiu, devagar.

—Falando nisso, onde está a Annya?

Eu apontei para a piscina de bolinhas. Annya parecia conversar com o garotinho que a ajudou a entrar.

—Como ela conseguiu...?—Alexy riu e esbarrou no meu ombro. Ele parecia forçado.—Ela é doidinha, né?

Por que o Alexy estava falando como se não a conhecesse?

—Armin, eu acho que já vou embora...—Lily se levantou.

Antes que eu pudesse responder, Alexy passou na minha frente.

—Já vai? Poxa... é por minha causa, não é? Eu atrapalhei vocês?

Eu o olhei, irritado. 

—Não, sem problemas.—Ela mordeu o lábio, parecendo indecisa sobre o que dizer.—Eu só queria saber se... você está livre qualquer dia desses, Armin?

Por um segundo eu olhei para Annya. Eu deveria aceitar? Eu estava voltando a falar com ela... tudo estava se normalizando, mas...

—Hum, acho que ele não quer.—Alexy respondeu por mim.

Eu perdi a paciência e me voltei para ele.

—Talvez eu queira, Alexy.

—Duvido muito.

—Você não pode decidir por mim.

—Não, mas eu...

Eu me virei para Lily.

—Eu adoraria sair com você, Lily.

—Armin!—Alexy reclamou.

—Que tal amanhã, às três? Podemos ir ao cinema.—Sugeri, ignorando meu irmão.

Lily não sabia se olhava para mim ou para Alexy. Parecia assustada.

—Eu espero não estar incomodando...

Meu irmão abriu a boca para responder, mas eu lhe dei uma cotovelada tão forte que o fiz entrar numa crise de tosse.

—Nada disso. Alexy está apenas brincando. Te vejo amanhã?

—C-claro.—Ela se inclinou rapidamente e beijou minha bochecha. Eu não tive reação.—Até amanhã, Armin.

Fiquei  observando-a sumir pelos corredores do shopping, ainda surpreso. No momento que ela deixou meu campo de visão, Alexy tossiu pela última vez e socou meu braço.

Ai!

—Você está maluco?—Ele se levantou, exasperado. Eu fechei a cara.

—Estou completamente normal!

—Pois eu não acho!

—E eu posso saber o porquê?

Nós dois disfarçamos quando Annya passou na nossa frente, pedindo para que a esperássemos. Alexy me socou outra vez.

Ai! Quer parar com essa merda?!

—Você vai sair com a Lily?!—Alexy estava furioso, mas eu, com certeza, não estava muito diferente.—Um dia depois de...

Shh, cala a boca!

Eu o cutuquei quando Annya se despediu do seu falso primo e se aproximou de nós dois.

—Vamos embora?


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Notas finais do capítulo

D: