Start escrita por Queen Of The Clouds


Capítulo 19
Inútil




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Anastasia

Acordei assustada com um trovão. Meu coração ainda palpitava, assustado, quando afastei o cabelo do rosto e me levantei. Minhas mãos suavam.

Tinham que ser raios. E tinha que ser comigo, de madrugada, acordada sozinha.

Armin e Alexy ainda estavam dormindo. Já devia passar das três da manhã, ninguém estava perto de acordar. A chuva caía com toda força do lado de fora da casa.

Eu saí do quarto apenas para tomar um copo d'água mas, por mais que eu tentasse ser silenciosa, os degraus de madeira ainda rangiam sob meu peso. Quando cheguei ao penúltimo degrau, a sala foi iluminada por outro raio. Um grito se prendeu na minha garganta. Meus calcanhares giraram e eu tropecei nos meus próprios pés, indo de encontro ao chão.

O som ecoou por toda a sala.

Minhas costas ardiam. Eu estava sem ar e calafrios percorriam meu corpo. Quando pensei em levantar, o trovão fez tremer a casa inteira e meu corpo estremeceu no mesmo ritmo. Eu não conseguia me mexer. Estava aterrorizada. Meu coração batia como se fosse pela última vez.

E poderia ser a última vez. Eu sentia que ia morrer.

Minha visão começou a embaçar e eu senti uma lágrima quente correr pelo meu rosto. Minha cabeça doía como se eu tivesse levado uma martelada.

O que estava acontecendo comigo?

De repente, uma luz surgiu no topo da escada. Eu queria cobrir os olhos da claridade, mas ainda não era capaz de me movimentar.

—Annya?

Eu escutei passos apressados descerem os degraus. Armin se ajoelhou ao meu lado e apagou o flash do celular.

—O-o que aconteceu? Como você...? Como... ah, dane-se.

Ele me pegou no colo, cuidadosamente e se sentou no sofá. Eu agarrei sua blusa e escondi o rosto em seu peito. As lágrimas não paravam de vir.

—Você está bem? Diga alguma coisa, por favor...—Sua mão afagava minha  cabeça carinhosamente.—O que está sentindo?

O que eu estava sentindo? Eu estava assustada, cansada, meu peito doía, sentia falta de ar, tontura, minhas costas ardiam, minha cabeça explodia de dor, meu coração estava acelerado e eu reprimia uma vontade imensa de chorar.

Mas, quando finalmente consegui falar, eu preferi dizer...

—E-eu estou bem...

Armin suspirou e me puxou para mais perto. Ele acariciava minha bochecha com o polegar.

—Foi uma pergunta retórica, eu sei que você não está bem.

Eu fiquei em silêncio e respirei fundo. 

Como ele conseguia me irritar tanto e ao mesmo tempo me acalmar com tanta facilidade?

—Eu vou te levar para o quarto.—Ele disse depois de alguns minutos ao meu lado. Eu neguei com a cabeça.—O que foi? Ainda não está se sentindo bem?

—N-não precisa... eu posso ficar de pé sozinha.

—Mas...

Eu me levantei, fingindo não sentir nada e caminhei até a cozinha, devagar. Era difícil fingir que não estava sentindo tantas coisas.

Eu enchi um copo d'água inteiro. Armin recostou o ombro na moldura da porta, me observando atentamente. Eu estava começando a me irritar. Não acredito que fui acalmada por ele. Nós estávamos brigados, a última coisa que eu queria era a ajuda dele!

Outro raio iluminou a casa. Eu apertei o copo nas mãos e cerrei os olhos, me esforçando para não tremer.

—Algum problema com raios?—Armin questionou, prestando atenção em cada movimento meu.

—São inúteis.

—E você não gosta de coisas inúteis?

—Tenho um fraco por elas.

Ele se aproximou.

—Annya, isso foi uma indireta para mim?

—Se a carapuça serve.—Retruquei, me arrependendo disso no momento seguinte. Odeio essa frase.

Ele revirou os olhos.

—Não vai me dizer o porquê da raiva?

—Não estou com raiva.

Eu terminei de beber a água e me virei para lavar o copo. Ele riu.

—Você está quase enforcando a esponja. Vai com calma.

Eu lhe lancei o meu melhor olhar de ódio, mas isso não pareceu o abalar nem um pouco. Nada parecia arrancar aquela bendita expressão implicante do rosto dele.

—Okay. Vou perguntar mais uma vez: por que está com raiva de mim?

—Por que não pergunta à sua nova amiga do mercado? Talvez ela saiba.

Seu rosto se iluminou e ele sorriu.

—Então não é porque te esqueci no mercado... e muito menos porque te sujei de lama.

Eu ainda estava lavando o copo na pia, quando o senti próximo à mim. Senti cada variação da sua voz rouca ao meu ouvido.

—Você está com ciúmes de mim, Annya?

Eu estremeci e o contornei.

Desse jeito, meu coração ia explodir!

Antes de sair da cozinha, voltei para encará-lo, apenas para que ele pudesse ver minha expressão de sarcasmo. Estava torcendo para que um raio não surgisse e estragasse minha confiança.

—Não sou doente a ponto de sentir ciúmes, Armin. Muito menos de você. Boa noite.


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