Start escrita por Queen Of The Clouds


Capítulo 18
O centro do universo




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Anastasia

Chutei uma pedra, irritada.

Ai, que olhos lindos! Que cabelo lindo!—Reclamei, afinando a voz.—Idiota, idiota, idiota! Dois idiotas!

Eu não conseguia parar de reclamar enquanto caminhava por aquela maldita estrada. Eu precisava falar ou iria explodir de tanta raiva!

Quando saí do banheiro do mercado, Armin simplesmente não estava mais lá. Procurei pelos corredores do mercado, no estacionamento e perguntei até mesmo ao gerente se o tinha visto! Ele desapareceu, me deixou para trás e eu aposto que aquela garota tinha sua parcela de culpa nessa história!

—Podem ficar juntos!—Berrei para o nada.—Mas fiquem bem longe de mim! No Polo Norte!

Eu desviei de uma poça de lama e continuei marchando pela beira da estrada. De repente, ouvi o som de um carro se aproximando e então, num piscar de olhos, ele passou pela poça, jogando toda a lama em cima de mim. Eu fiquei paralisada olhando a água marrom escorrer pelo meu braço. Eu estava surtando.

Eu... não... acredito.

O carro deu a ré e parou ao meu lado. Só então percebi que era o célebre jipe vermelho.

—Deus me ajude.—Ouvi uma voz familiar dizer. Eu olhei para o motorista. O desespero atravessava seus olhos azuis.—Annya, foi mal. Eu juro que não foi de propósito, sério, me desculpe.

Eu o encarei ferozmente antes de voltar a andar.

—Não quer entrar? Ainda estamos muito longe do chalé.—Ele me acompanhava, devagar.

—Não.

—Annya, entra no carro.

—Não.

—Por favor, eu já pedi desculpas.

—Me deixe em paz.

Ele ficou em silêncio por alguns segundos, antes de voltar a insistir:

—O que eu posso fazer para me desculpar?

—Ir embora.

—Você está com raiva de mim?

Eu me virei, furiosa. Meu cabelo encharcado de lama colou na minha testa e eu o tirei.

—Armin, se você não for embora agora, eu juro que...

—Está bem, está bem! Já entendi! Estou indo...

Havia uma certa tristeza em seu rosto. Ele suspirou antes de acelerar e ir embora. Quando não conseguia mais ver o carro, bati o pé no chão, frustrada.

Argh! Imbecil!

Eu tirei meu tênis e as meias e comecei a andar pela grama. Algumas folhas arranhavam minha perna e vez ou outra sentia um mosquito me morder.

Se eu soubesse como ameaçar um mosquito, eu também o ameaçaria para ele me deixar em paz!

Eu comecei a escutar um estrondo entre as árvores, mas não conseguia identificar o que era. Decidi me aproximar do bosque e para minha surpresa, encontrei a cachoeira de que Vitória havia falado no telefone comigo. Era linda. A água despencava entre as pedras lisas e o sol batia sobre a queda d'água, formando um arco íris. Haviam arbustos repletos de flores brancas e amarelas. Perdi alguns segundos apenas admirando o lugar.

Eu tirei meu short e minha blusa,que um dia foi verde, e os lavei na margem. Depois os deixei sobre uma pedra, junto dos meus tênis. Molhei os pés na beira da água e respirei fundo, numa tentativa de me acalmar.

"Foi só um acidente", eu repetia para mim mesma, como um mantra, "ele não queria fazer aquilo. Deixe para lá."

Eu estava quase me acalmando, quando escutei um ruído entre as árvores que me fez arquejar de susto. Minha raiva foi substituída por medo. Primeiro, pareciam passos, mas depois ouvi sons parecidos com... guizos. Eu procurei ao redor, mas não encontrei nenhum sinal do que poderia originar aqueles sons.

Eu devia estar enlouquecendo.

Balancei a cabeça e mergulhei na água. Tentei ficar o máximo de tempo fora da superfície. Por um momento desejei que os meus problemas sumissem da minha mente assim como a lama que deixava minha pele. Após segundos, quando finalmente emergi, escutei uma conversa atrás de mim.

—Acha que ela está brava?—Armin sussurrou. Aparentemente, meus problemas não desapareceram.

—Eu não sei como você ainda está vivo.—Consegui distinguir a voz de Alexy, mesmo sendo tão parecida com a do outro gêmeo.—Você a sujou de lama!

—E me esqueceu no mercado.—Resmunguei para mim mesma, limpando meu braço.

A água começou a se movimentar ao meu redor e quando me virei, Armin estava a poucos metros de mim.

—O que disse?

—Eu disse que você me esqueceu no mercado.

Naquele momento, a minha raiva era tão grande que superava totalmente o meu constrangimento por estar apenas de calcinha e sutiã. Me contentei apenas em manter o corpo debaixo d'água.

Ele ergueu o dedo indicador e falou, tranquilamente:

—Eu não te esqueci.

—Ah, não? Então presumiu que uma caminhada de quatro quilômetros me faria bem?

—Hum... sim?

Eu joguei uma porção de água nele e nadei até a margem.

—Você é um idiota!

Você é uma idiota!

Eu bufei, vestindo minha blusa. Armin me acompanhava com os olhos.

—Gente...—Alexy tentou apaziguar a situação, mas Armin o interrompeu.

—Tudo bem, eu te esqueci no mercado! Mas você também demorou demais no banheiro!

Eu me virei, boquiaberta.

—Eu não demorei nem dois minutos! Foi você quem se distraiu com aquela... aquela garota idiota!

—E você não pode me desculpar?Você não é o centro do universo para eu me lembrar de você o tempo inteiro!

—Não, Armin, eu sou uma droga de uma estrela!—Vociferei, encarando-o.—Não foi isso que você me falou?!

Ele abriu a boca para responder, mas se calou. Notei um traço de mágoa em seu rosto, antes de me virar e ir embora, deixando-os sozinhos.

Tudo bem, talvez eu ainda estivesse magoada! Eu e ele concordamos em deixar aquela noite para lá, mas eu não conseguia esquecer! Não era tão fácil assim. Muita coisa foi dita naquele dia para ser simplesmente varrida para debaixo do tapete.

O resto do dia passou tão rápido quanto uma lesma. Durante o almoço, o clima estava pesado na mesa. Os gêmeos estavam calados, assim como eu. Tratei de engolir as almôndegas de uma vez antes que Vitória ou Arnaud perguntassem o que aconteceu. As únicas palavras que saíram da minha boca foram elogios à comida. Nada além disso.

Passei a tarde na varanda, olhando o céu e esperando pelas estrelas. Por ser longe da cidade, o céu do campo deveria ser totalmente limpo à noite. No entanto, para o meu azar, o céu foi coberto por nuvens logo ao entardecer.

Depois do jantar, eu fui para o quarto que dividiria com os gêmeos. Havia duas camas de solteiro encostadas na parede e um colchão entre as duas, para mim. Eu me deitei e coloquei as mãos atrás da cabeça. Fechei os olhos.

Geralmente, quando me sentia irritada e ligava a televisão, eu ficava mudando de canal várias vezes. Talvez para descontar a raiva nos botões do controle e poder xingar todos que apareciam na tela. E era exatamente o que eu estava ouvindo naquele momento: alguém estava na sala, resmungando de minuto em minuto e mudando os canais continuamente. Vitória e Arnaud já estavam dormindo e Alexy havia acabado de sair do quarto para escovar os dentes, então eu já sabia quem era.

Eu não falava com o gêmeo de cabelos escuros desde que saí da cachoeira, mas não me importava. Passei o dia inteiro evitando-o e estava feliz por isso. Para falar a verdade, eu me arrependi até mesmo de ter insistido para que ele viesse comigo. Preferia que ele estivesse em outra cidade, trancado no quarto e com a cara enfiada em algum videogame.

Alexy surgiu no quarto e jogou um cobertor em cima de mim.

—Para que isso?

—Geralmente serve pra se aquecer, sabe?

—Eu não preciso me aquecer agora, muito obrigada.

—Mas vai precisar, as madrugadas são bem frias aqui.

Eu revirei os olhos e me cobri. Quando aspirei o ar, fiz uma careta. Alexy percebeu.

—Algum problema?—Perguntou ao ver minha expressão.

—De quem é isso?

—Do meu irmão. Por quê?

Eu voltei a me cobrir, mal-humorada.

—Tem o cheiro dele.


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