Start escrita por Queen Of The Clouds


Capítulo 17
Espinhos amarelos




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Anastasia

Eu me encontrava num campo de girassóis, numa cena perfeita. O céu estava alaranjado, por conta do pôr-do-sol, e borboletas voavam baixo, ao meu redor. Vez ou outra, sentia-as esbarrar nos meus braços.

Eu escutei aguém pigarrear atrás de mim e me virei rapidamente. Armin estava de... terno?

—Você não vai me responder?—Perguntou, com um sorriso doce.

Eu inclinei a cabeça, sem entender.

—Responder o quê?

—Ah... nada! Só a pergunta mais importante da sua vida.

Ele revirou os olhos, fingindo estar irritado, e segurou minhas mãos.

—Annya, quer se casar comigo?

Meu olhar subiu de nossas mãos para os seus olhos azuis. Eu me soltei, surpresa.

—Armin, eu não...

Ele empalideceu. Seu sorriso se desfez.

—Você vai recusar.

—N-não... quer dizer, sim! Armin, ainda somos jovens demais, nem terminamos a faculdade e... pensei que fossemos só amigos.

Ele franziu a testa, confuso.

—Do que você está falando?Terminamos a faculdade há anos e... você é minha namorada.

—Eu sou... o quê?

—Annya, você não me ama?

Minha visão começou a se turvar e pontos escuros surgiram diante dos meus olhos, como se eu fosse desmaiar. A voz de Armin ficava cada vez mais distante enquanto eu sentia meu corpo pender para trás.

—Annya!

—Armin...

Eu acordei num pulo. Um Armin de verdade me observava.

—Oi?

Armin!—Eu tentei puxar meu lençol e acabei o empurrando para o chão, caindo por cima dele.

Ai... Você não se cansa de me machucar?—Reclamou, massageando a cabeça.

—D-desculpe, mas...—Eu me levantei, esfregando os olhos. Eu tremia.—Espera, o que você está fazendo aqui?

Ele fez uma careta ao se levantar.

—Estou aqui para transformar seus sonhos em realidade.—Disse, abrindo os braços dramaticamente.

Como assim o meu sonho? O meu sonho de segundos atrás?

Ele começou a andar na minha direção, lentamente, enquanto eu recuava na mesma velocidade.

—Aliás, com o que você estava sonhando? Deve ter sido interessante. Até chamou pelo meu nome...

—Eu não te chamei.—Murmurei, indiferente, e comecei a arrumar a cama.

—Então quer dizer que eu não ouvi você suplicando por mim?

—Quer falar logo o que veio fazer aqui?

Eu sentia seu olhar desconfiado sobre mim, mas, por fim, ele ccedeu.

—Bem, já que entramos nas férias de julho... eu vim aqui te convidar para ir num lugar horrível com a minha família.

—Horrível?

—Com certeza, se eu fosse você recusaria.—Ele arrumou as almofadas sobre a cama.—Não tem internet, é cheio de mosquitos, capim, sol e... Alexy. Eca.

—Sei... mas e se eu quiser ouvir a opinião de outra pessoa?—Eu cruzei os braços, o fitando.

Ele suspirou.

—Minha mãe?

—Sua mãe.

Não demorou nem dois minutos para Vitória desmentir tudo o que Armin falou. Ela falou muito bem do campo e insistiu para eu ir. Armin começou a me ajudar a arrumar a mala, mal humorado.

—Minha própria mãe me traindo...—Resmungou.—A vida não é nada fácil.

Eu ria com suas reclamações. Com a sua ajuda, não demorei a terminar de guardar as roupas. O expulsei para a sala, tomei um banho e me troquei.

Quando saí do quarto, Armin cochilava no sofá e o PSP, ainda ligado, escorregava de sua mão. Eu me aproximei o mais silenciosa possível para olhá-lo. Sua boca estava levemente entreaberta e o cabelo caía sobre seu rosto.

Com muito pesar no coração, eu interrompi o meu momento de admiração para acordá-lo. Ele abriu os olhos, devagar e sorriu para mim. Eu me derreti imediatamente.

É verdade... a vida não é nada fácil.

Nós fomos para o carro e logo pegamos a estrada.

Eu e Armin optamos por deixar aquela nossa briga para trás e esquecer tudo o que falamos. Depois disso, ele começou a vir até o meu apartamento, já que eu diminuí as visitas à sua casa. Nós assistíamos filmes e jogávamos juntos. Alguns dias, ele chegou a me pedir um espaço apenas para estudar em paz, sem incômodos ou barulhos.

Ficar sozinha com Armin me deixava tensa. Era diferente estar no quarto dele, sabendo que seus pais e seu irmão andavam pela casa, mas no meu território eu me sentia absurdamente fraca. Eu evitava tocá-lo porque sabia que qualquer faísca entre nós dois me enlouqueceria se não evoluísse para um incêndio.

Eu precisava deixar esse sentimento de lado, mas com o passar do tempo ele só parecia piorar!

—Você está tão quieta...—Armin observou depois de alguns minutos de estrada.

—Desculpe. Estava pensando.

—Sobre...?

Eu coloquei os pés sobre o painel do carro.

—Sobre a última vez que te dei uma surra no Injustice.—Falei, arrogante.

Ele deu uma risada alta.

—Annya, você precisa trilhar um longo caminho até chegar ao meu nível.

—Tadinho de você.

Tadinho?!

—Já que é tão bom assim, vamos jogar outra vez quando chegarmos no campo.

Ele deu tapinhas na minha perna, para que eu as tirasse de cima do painel.

—Para sua sorte, eu não levei meus videogames para lá.

—Por quê?

—Porque a casa é no meio do nada e sempre tem quedas de luz. Não quero arriscar a vida deles.

—Então você me acordou cedo para me levar para uma casa no meio do nada?

—Cedo?—Ele olhou o relógio.—Annya, já passou das onze.

Ele parou num sinal vermelho e me encarou.

—Você tem dormido direito?

—Eu? Claro.

—E essas olheiras?

—Maquiagem borrada.

—Você... não usa... maquiagem!

Eu bufei. Odeio quando não consigo mentir.

Não, eu não tenho dormido direito e... não, eu não sei o porquê. Talvez seja essa coisa da sua ex-namorada psicopata. Ela pode estar atrás de você agora e isso me preocupa.

Ele continuava me olhando, sério.

—O que foi?

—Desde quando você tem a função se preocupar com o Armin?

—Cala a boca.—Revirei os olhos.

—Já faz muito tempo?

—Veio na minha nova atualização.

—Sei. Gostei dela.—Seus olhos azuis me examinavam, pensativos.

—Quer fazer o favor de olhar para frente? O sinal já abriu!

—E isso te preocupa também?

Eu cruzei os braços sobre o peito e o olhei, irritada. Ele apenas riu e acelerou o carro.

Depois de seguir por quase duas horas, eu já não encontrava mais prédios ou casas. Tudo que minha vista alcançava eram colinas verdes e montanhas.

—O que vamos fazer hoje?—Perguntei.—Vitória disse que há uma cachoeira e muitos lagos por aqui.

Ele deu de ombros.

—Não sei você, mas eu vou voltar para casa e passar a madrugada jogando.

—O quê?—Me virei, surpresa.—Não, você vai ficar lá comigo.

—Não vou, não.

—Ah, por favor...—Eu fiz a melhor cara de cachorro sem dono que consegui.

—Annya, você não vai me convencer.—Replicou, me olhando de relance.

Por favor...—Pedi outra vez.

Ele não respondeu nada e eu não insisti mais. Depois de alguns minutos, finalmente chegamos à casa. Era um chalé pequeno de madeira, cercado por uma mureta de tijolinhos e canteiros de flores.

Se eu estivesse num conto de fadas, aquela, sem dúvidas, seria a casa de uma fada.

Quando entrei, logo senti um aroma saboroso no ar. Armin e eu fomos até a cozinha, onde Arnaud e Vitória cozinhavam juntos. Armin pigarreou quando seu pai deu um selinho em Vitória. Eu cutuquei sua costela, mas ele me ignorou.

—Eu trouxe a encomenda de vocês, pombinhos.—Resmungou, apontando para mim.

—Annya, querida!—Vitória me abraçou e beijou minha testa.—O almoço está quase pronto. Armin, já que não vai ficar, quero que...

—Na verdade, eu vou ficar.—Murmurou, baixinho. Eu me virei, espantada, sem conseguir esconder minha felicidade.

—Sério?—Meu sorriso era tão grande que provavelmente podia ser visto até de costas.

—É, mudei de ideia.

—Que bom que resolveu ficar, filho!—Arnaud deu tapinhas em suas costas.

Maravilhoso.—Balbuciou, sarcástico. Eu esbarrei em seu ombro.

—Pare de reclamar, vai ser divertido.

—Com certeza.—Vitória entregou um papel em sua mão.—Mas já que está aqui, pode comprar essas coisas no mercado para mim?

—Mas acabamos de cheg...—Ele começou a reclamar, mas o olhar reprovador da sua mãe o calou.—Acabamos de chegar e já estamos saindo. Vem, Annya.

Ele segurou minha mão e me puxou para o carro outra vez.

 

Armin

Nós compramos tudo o que havia na lista e fomos para o caixa. No caminho, Annya parou para olhar uma estante de esmaltes. Ela rodava os frascos nas mãos e suspirava, colocando-os no lugar.

—Por que não escolhe um? Eu compro para você.—Perguntei, me aproximando pelas suas costas.

—Não precisa, faz anos que não pinto as unhas. Já desacostumei.

—Por causa do Viktor?

Annya demorou a responder:

—Sim. Vamos logo antes que a fila do caixa aumente.—Ela mudou de assunto e pegou uma das cestas de compras da minha mão.

Assim que ela se afastou, eu escolhi os quatro frascos que ela havia olhado e peguei um kit de manicure. Verifiquei se ela não olhava e coloquei-os na cesta, discretamente.

Uma garota alta estava atrás de Annya na fila. Enquanto nós tínhamos duas cestas cheias, ela carregava apenas uma caixa de suco.

—Se quiser, pode passar na nossa frente.—Sugeri. Ela sorriu.

—Obrigada.

Ela passou por Annya e de repente parou na minha frente, segurando meu queixo.

—Uau... seus olhos são lindos.

Eu sorri, sem graça, e recuei um passo.

—Hum... obrigado. Gostei do... cabelo.—Eu apontei para uma mecha azul escondida entre seus fios loiros.

—Sério? Eu achei que não combinou comigo. Mal posso esperar para essa tinta sair.

Escutei Annya respirar profundamente atrás de mim.

—Ei, garota, é a sua vez.—Falou, indicando a atendente que esperava-a.

Depois que nós três passamos pelo caixa, notei que a mulher estava de pé na entrada da loja, me observando.

Ela estava me esperando?

Eu ainda estava olhando-a, quando Annya passou rapidamente por mim e me entregou as sacolas que carregava.

—Vou ao banheiro.

—O-okay.—Guaguejei, quando a mulher começou a se aproximar de mim.

—Oi. É... eu já estava indo embora, mas...—Ela me dirigiu um sorriso, nervosa.—Hum... meu nome é Lily.

—O meu é Armin.

Ela estendeu a mão, mas a recolheu rapidamente.

—Desculpe, eu apertaria sua mão se você não estivesse com tantas bolsas. Parece um cabideiro.

Eu dei uma risada.

—Espero que ninguém jogue um casaco na minha cabeça.—Brinquei, fazendo-a rir.

—Você mora por aqui?—Perguntou.

—Eu moro em outra cidade, mas meus avós tem um chalé aqui. Vou passar alguns dias com a minha famíli...

Eu mal terminei de falar e meu celular tocou.

—Falando em família... deve ser minha mãe. Preciso levar essas compras para ela. Foi um prazer conhecê-la, Lily.

Ela tirou um papel prontamente dobrado de seu bolso e o estendeu à minha frente.

—Eu posso te dar o meu número?Podíamos sair qualquer dia... se estiver entediado.

Eu não queria pegar aquele papel. Eu não estava entediado e não queria sair com ela... mas eu era péssimo em dizer "não" e antes mesmo que eu pudesse pensar na possibilidade de negar, ela colocou o papel no bolso do meu casaco. Eu sorri, tentando ser simpático.

—Foi um prazer conhecê-la, Lily.—Repeti, sem graça.

—O prazer é todo meu.

Eu assenti, sem jeito, e me apressei para chegar no carro e ir embora. Quando rodei a chave e saí do estacionamento, tive a impressão de ter esquecido algo, mas todas as compras pareciam estar ali.

Entediado? Eu? A última coisa que eu sentia ultimamente era tédio.

Ela era bonita, bem humorada e simpática, mas Rachel também era... e Íris também. Se um dia Annya se revelasse tão louca quanto elas duas, pelo menos seria um diferencial na minha vida, porque pelo menos bem humorada e simpática ela não era.

Eu sorri com a ideia. Apesar de pensar isso, jamais passou pela minha cabeça que Annya me faria qualquer mal. Não havia chances disso acontecer. Ela entendia os meus medos e, apesar de toda aquela camada de sarcasmo e grosseria, eu sabia que ela se preocupava comigo. Era minha melhor amiga e talvez até mais do que isso. Eu sentia que...

Meu cérebro deu um estalo e eu freei o carro. Olhei para o banco do carona vazio e soltei um xingamento enorme.

Lembrei o que esqueci no mercado.


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Notas finais do capítulo

Oi! Acompanhem a história e me contem o que estão achando nos comentários!