Start escrita por Queen Of The Clouds


Capítulo 15
Proteção e punição


Notas iniciais do capítulo

Que se iniciem os problemas.
Boa leitura!



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Anastasia

Armin foi para o quarto sem dizer uma única palavra. Vitória se sentou no sofá e escondeu o rosto nas mãos, enquanto Arnaud fez um sinal para que eu seguisse Armin. Quando abri a porta do quarto, ele olhava pela janela, de costas para mim. Havia tirado a blusa. Perdi alguns segundos admirando os músculos retesados em suas costas.

Tudo bem, talvez eu tenha ido longe demais, mas precisava me punir com essa visão perfeita e inalcançável?

Eu me sentei na cama, propositalmente fazendo barulho. Armin me olhou de relance mas logo desviou, revirando os olhos.

—Diga alguma coisa, por favor.

Ele não respondeu, mas eu não o julgava por isso. Fui dura demais com ele. Ele não sabia que eu estava agindo daquela forma por ele, porque eu preferia vê-lo irritado comigo a vê-lo preocupado.

Pelo menos assim eu conseguiria manter a distância segura que planejei.

Eu me levantei para ir embora, mas quando passei pela porta, Armin resmungou:

—Talvez você seja igual à Rachel.

Eu me virei.

—O que disse?

Ele cruzou os braços e me analisou com um olhar cínico.

—Bem, se você não se importa com a própria vida, quem dirá com a dos outros.

Eu ri, sarcástica.

—Você só pode estar brincando.

—Não estou brincando. Me diga: qual é a diferença entre vocês duas?

Eu fechei a porta. Ele não podia estar falando sério. Na verdade, eu sabia que ele não estava falando sério. Ele só parecia querer... me irritar.

E estava conseguindo, sem dúvidas.

—Aonde quer chegar, Armin?

—Só quero saber qual é a diferença entre voc...

—A diferença é que eu sei que a minha vida não vale absolutamente nada comparada à dos outros! Eu sei que as outras pessoas valem mais do que eu! Está satisfeito? Era isso que você queria ouvir?!

Eu me virei de costas para fugir daquele quarto, mas, assim que abri a porta, Armin estendeu o braço sobre a minha cabeça e voltou a fechá-la. Ele estava a poucos centímetros de mim agora.

—Se a sua vida vale tão pouco, então por que a protege tanto?

Senti uma fisgada no peito, mas tentei manter a postura.

—Como se já não bastasse tudo que eu passei, você acha que eu ainda devo passar por mais?

—Não se faça de idiota, Annya.

Eu bufei e desviei o olhar, mas ele ergueu o meu queixo com a ponta do dedo. Meu coração estava acelerado.

—Pare de mentir para si mesma. Você acha mesmo que eu não entendi o que está fazendo? Quando o fio entre nós dois começa a se estreitar você o corta. Não faz sentido, se sente tanto desprezo por sua vida, por si mesma, então por que não se arrisca?

Eu coloquei a mão na maçaneta.

—Me deixe sair.

—Quero que responda minha pergunta.

—Eu só estou me protegendo.

—Se protegendo ou se punindo?

—Eu não sei, está bem?!—Explodi, frustrada.—Você quer psicologia barata? É, talvez você esteja certo! Talvez eu esteja me punindo! Toda vez que crio esperanças elas são esmagadas, então, ao que tudo indica, eu não nasci para ser feliz!—Eu engoli em seco.—Droga, eu não mereço ser feliz!

Minha garganta queimava com as lágrimas que eu não deixava sair.

—É claro que você merece ser feliz.

—Não, não mereço. Eu nem mesmo faria falta à alguém se desaparecesse do mundo.

—Ah, não faria?

—Não.

Ele se afastou, furioso.

—Ah, por favor, Annya! É isso que passa pela sua cabeça? Acha que a sua morte cabe só à você? Acha mesmo?!—Ele espetou seu dedo contra o próprio peito.—A sua morte me mataria! A sua morte mataria os meus pais! A sua morte mataria o meu irmão, mataria a Rosalya! Você nunca pensou nisso?!

—E por que eu deveria ter pensado?!—Gritei de volta.

Por que deveria ter pensado?—Ele dá uma risada.—Você acabou de me contar uma história sobre pessoas que humilharam e te fizeram mal e agora que está rodeada por pessoas que gostam de você parece que... parece que se recusa a enxergar! Meus pais te consideram uma filha! Rosalya e Alexy falam de você como se tivessem o mesmo sangue, como se fossem irmãos!

Eu cruzei os braços.

—Certo! Mas e você?!

Por um momento, ele se calou.

—O que tem eu?

Eu ergui os braços, impaciente.

—O que eu sou para você, Armin?

Ele permanecia me olhando fixamente. De repente, o mar tempestuoso em seus olhos não possuía mais ondas. Não havia nenhum sentimento em seu rosto. Suas sobrancelhas estavam baixas, quase juntas.

—Você disse que se soubesse que a Rachel estava solta, não se aproximaria de mim, mas sabia que um dia ela iria ser solta. O fio entre nós dois tinha data de validade? É isso? Quando chegasse o momento você o cortaria?

Ele permaneceu em silêncio. Eu dei um sorriso de escárnio antes de abrir a porta e ir embora.

—É bom saber que eu não significo nada para você.

 

Armin

Eu gelei. Não sabia o que fazer, nem o que falar. Quando Annya saiu, eu me joguei sobre a cama e cobri os olhos, praguejando.

Por que eu não falei nada? Eu deveria ter dito alguma coisa, mas... não tive coragem. Meu coração tremia de vontade de contar tudo à ela, de abraçá-la e prometer que nada mais de ruim lhe aconteceria, mas... minha boca se recusava a se declarar. Não encontrei as palavras certas.

Mas o que eu deveria ter respondido?

"Rosalya e Alexy te consideram uma irmã, mas eu a considero minha alma gêmea, a metade da minha laranja, o amor da minha vida."

Estremeci só de pensar.

Além disso, e se o sentimento não fosse recíproco? Dizer que eu estava apaixonado por ela poderia piorar tudo. Ela se afastaria por não corresponder aos meus sentimentos e então não haveria mais chance alguma de eu conseguir ajudá-la.

Eu nunca dei tantos tiros no escuro em toda a minha vida e, infelizmente, no fim, eu estava certo: Annya não estava se protegendo, estava se castigando.

Talvez nem ela mesma percebesse o que estava fazendo. Ela passou anos vivendo sem amor, sozinha, cercada de pessoas ruins que, de alguma forma, a fizeram acreditar que ela era a vilã. Eu não podia nem imaginar como deviam ter sido todos esses anos, mas sabia que eles trouxeram resultado: ela achava que era a vilã. Annya acreditava fielmente na ideia de que era uma pessoa horrível, que mereceu tudo que aconteceu à ela e que precisava permanecer em um eterno castigo.

Se eu pudesse tiraria toda a culpa de sobre os ombros dela.

Escutei a porta do quarto ranger e me apressei para olhar quem entrava. Minha mãe encostou a cabeça no batente e suspirou.

—Ela significa muito para você, não é, filhote?

—Não.—Grunhi, voltando a cobrir o rosto. Meu orgulho ainda falava mais alto, apesar de tudo. Ela se sentou ao meu lado.

—Ah, qual é, Armin? Acha mesmo que pode me enganar? Eu sou sua mãe.

Adotiva.

Ela bateu na minha cabeça.

—Desde quando você se importa com isso? Eu não tive a sorte de gerar você, mas tive a sorte de criá-lo. E sei que você é um garoto maravilhoso que...

—Annya não faz sentido, mãe.—Reclamei, frustrado.—Nada do que ela sente faz sentido... é um amontoado de controvérsias. Eu não consigo entendê-la.

—É claro que você não consegue entendê-la. Ela não é como esses jogos que você está aprendendo a programar, cheios de códigos e comandos!—Minha mãe gesticulava, exagerada.—Annya é humana, Armin. Há dezenas de sentimentos dentro daquele corpo e todos eles estão tentando assumir o controle ao mesmo tempo. É isso que você precisa entender.

Eu tirei as mãos do rosto e me sentei na cama, massageando o lugar onde ela me deu um tapa.

Um tapa merecido, eu diria.

—Então, vai atrás dela?

—O quê?

—Não se faça de tonto. Eu sei que você vai atrás dela.

—Ah, claro. Como você sabe disso se nem eu sabia?—Perguntei, encarando-a  com um sorriso cheio de ironia.

Ela respirou fundo.

—Sabe, querido, algumas coisas não podem ser escondidas por muito tempo... e o seu amor por essa garota é uma dessas coisas.

—Eu não tenho nenhum amor por ela.—Neguei, irritado.

Ela revirou os olhos e sorriu.

—Mas a morte dela seria a sua, não é?

Eu fiquei em silêncio.

Não acredito que eles haviam escutado tudo aquilo.

Minha mãe segurou minha mão e murmurou:

—Só... vá atrás dela, querido.


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