Série Lobos II - O Clã da Lua escrita por M Schinder


Capítulo 7
Sétima Caçada: Aliados?


Notas iniciais do capítulo

Pessoal, não sei se tem mais alguém aí, mas gostaria de avisar que as postagens se tornaram mais espaçadas porque estou em época de entrega de trabalhos na faculdade (e provas) e estou participando do #NaNoWriMo desse ano!

Espero que possam compreender e boa leitura :3



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Os dias passaram muito devagar. O feudo foi atacado tantas vezes que eu já não mais via pessoas caminhando tranquilamente pelo lugar ou em forma humana. Muitos foram obrigados a adentrar a Hikari no Mori— a floresta que rodeava o feudo e o castelo e que estava caia cada vez mais nas trevas, muito diferente do que seu nome mostrava.

O feudo Tsume era apenas uma sombra do que fora. O senhor Tsukiko não mais aparecia em público e meu pai era quem governava, transmitia as ordens para nós.

Tudo ficara muito deprimente, nem mesmo Issa, meu pequeno companheiro, passava a felicidade de sempre. Ele ficava muito mais tempo escondido em uma toca, dentro do Iro no Seiiki, onde eu também fizera uma nova moradia, do que dentro do palácio e perto dos outros lobos.

Eu acreditava que as coisas podiam ficar pior. Sempre podiam. Mas os dias se arrastavam cada vez mais e nada do novo líder chegar. Passei tardes pensando se deveria ou não procurar por Ailee e trazê-la de volta, mas Hidetaka me impedia todas as vezes. Afirmava que não seria bom para a princesa retornar para aquele palácio destruído.

~000~

Foi durante a madrugada do primeiro dia de Inverno.

Tudo estava escuro. Eu me encolhia dentro da toca que fizera fora do palácio, meu jeito singelo de mostrar que odiava tudo que acontecia ao meu redor. Em todo aquele tempo, descobrira apenas que o senhor Tsukiko estava doente e que era meu pai quem dava as ordens.

Meu sono sumira quando o bater das asas, provavelmente corujas, se tornaram constantes e insuportáveis. Ergui-me, em minha gigantesca forma de lobo, e sai de minha toca procurando o ser que perturbara a paz da natureza ao meu redor.

Um vulto, todo vestido de preto, caminhava calmamente por entre as árvores. Seu destino era óbvio, o portão lateral da fortaleza de nosso feudo. Aquela visão fez com que todos os pelos de meu corpo se arrepiassem e um calafrio desceu de minha espinha para minhas patas. Eu não conseguia ver seu rosto, mas tinha quase certeza de que era o novo líder por quem todos esperavam.

Lembrando-me da promessa que fizera para Ailee e com cuidado, abaixei-me até ficar quase rente ao chão e deslizei em minhas patas, seguindo-o. Seus passos eram mais curtos e vagarosos que os meus, então o tempo que levamos até a entrada foi mortalmente lento, para mim. Quando chegou, o homem só ergueu uma mão, mostrando algo que eu não consegui identificar, e os guardas correram para permitir sua entrada.

Tudo aconteceu muito depressa. Em um instante, ele estava parado do lado de fora; no outro, já entrava nos arredores do palácio como se fosse seu direito. Adiantei-me para pegar as portas abertas; a distância segura que deixara entre mim e ele teria sido grande demais para um lobo normal, mas, para mim, um salto foi o suficiente para ultrapassar as portas que se fechassem.

− Katsuo! – foi o chiado esganiçado de um dos guardas que abrira o portão.

Ignorei e, ainda em minha forma original, segui para dentro do palácio procurando pelo visitante. Ser um lobo era muito útil quando se estava perseguindo uma presa e eu era um dos melhores em fazer aquilo. Diversas vezes seguira Ailee, quando mais nova ao tentar fugir, apenas para verificar que estava bem. Era mais fácil deixá-la sair do que a tentar impedir. Com aquele homem não foi diferente; segui-lo foi a coisa mais simples. Não parecia ligar para o que acontecia ao seu redor e, graças ao horário, quase nenhum outro guarda cruzou seu caminho.

Todavia, uma coisa era certa. Havia algo de muito estranho. Com o tempo, eu descobrira que Ailee sempre sabia quando eu saia atrás dela, pois, pelo que me explicara depois, ela conseguia sentir a presença de quem ficava a menos de duzentos metros de si. Afirmara que era ainda mais fácil por ser eu, mas eu tinha certeza que aquilo estava ligado aos estranhos poderes de cura que ela demonstrara ao longo dos anos. Aquele homem, sendo um enviado de Izanagi, deveria conseguir fazer a mesma coisa. E, se fosse verdade, ele já sabia que eu estava ali.

Tentando decidir entre abordá-lo de uma vez ou não. Chegamos a divisória principal do palácio. O lugar onde ficavam os quartos da família real. Ali, parado a porta, estava meu pai. Com os braços cruzados e a mesma expressão hostil de sempre. Analisando de cima a baixo o encapuzado, abriu espaço para que adentrasse o corredor mais importante do lugar e os dois sumiram na escuridão.

Eu perdera uma oportunidade valiosa de conversar pessoalmente com o recém-chegado, mas se aquele fosse realmente o homem que comandaria nosso feudo, o senhor Tsukiko teria que fazer as devidas apresentações e teria que ser muito em breve.

− Me disseram que você finalmente voltara para dentro do palácio e eu tive que vir para comprovar com meus próprios olhos.

Aquela voz fez com que meus olhos dourados se erguessem e procurassem uma das poucas pessoas com quem eu conversava dentro da matilha. Hiroíto Seiji fora meu adversário pela vaga de Hogosha. Entretanto, a figura parada a minha frente era muito diferente do adolescente de dezesseis anos que competira com o meu eu de quatorze, na época.

O chefe da parte de caçada, substituindo seu professor Hiroshi que falecera no começo daquele ano, era muito mais alto que eu e possuía uma expressão permanentemente divertida em seu rosto, na forma humana, em contraste com o adolescente rechonchudo e medroso que chegara ao palácio.

Grunhindo, eu assumi minha forma humana, para que pudéssemos conversar. Seiji era um dos poucos jovens que, como eu, realmente apreciava ser um lobo. Mas sempre tivéramos motivos muito diferentes para aquilo.

− O filho pródigo a casa retorna – zombou sentando-se ao meu lado.

Ambos estávamos sentadas na escadaria que dava diretamente a saída para o feudo Tsume.

− Muito engraçado, Seiji. Haha.

− Que mau humor. Por acaso tem alguma coisa haver com a falta da princesa?

Rosnei. Velhos hábitos não se perdiam e não era porque estava em minha forma humana que deixaria de agir como um lobo. Meu companheiro riu e ergueu as mãos como se pedisse desculpas.

− Acalme-se, não estou aqui para brigar – avisou ainda rindo. De repente, como se estivesse acompanhando o vento gelado daquela noite, seu sorriso murchou e uma expressão muito séria surgiu em sua face. – Você viu quem chegou?

− Eu o estava seguindo – respondi sem medo.

Já não sabia mais em quem deveria acreditar. Hidetaka não quisera me chamar quando as novidades surgiram, o que eu considerara um tipo de traição, por mais que ele alegasse que estava preocupado com minha família. Porém, eu também não podia me isolar de todos. Se houvesse alguém que estava tão preocupado quanto eu – e Ailee – com toda aquela situação sem pé nem cabeça, precisava ser localizado.

− Pressenti que algo estava acontecendo e não consegui dormir – explicava olhando para as próprias botas. Seiji, em sua essência, era um garoto inseguro que lutava para se provar a todo o momento. Para mim, era um dos poucos que realmente se mostrava interessado em todo nosso povo, não apenas no status que a matilha dava para os lobos que dela participavam. – O senhor Toshio recebeu-o com uma naturalidade que me assustou.

− É, a mim também... – respondi admitindo algo que nem mesmo notara até aquele momento. – Acho que, a verdade, é que é assustador pensar em ser dominado por uma pessoa desconhecida.

− É realmente assustador...

O eco feito por Seiji da minha frase foi acompanhado pelo ruído do vento. O clima mudava aos poucos, o frio do Outono se aproximava cada vez mais. Com certo alívio, percebi que não estava tão sozinho em minhas hesitações.

− Katsuo, promete que não vai ficar irritado?

Aquela pergunta, feita com uma voz tão baixa e tão de repente, fez com que eu tivesse que respirar muito profundamente. Se Seiji estava perguntando aquilo, era porque havia grandes chances de eu ficar realmente irritado. Mostrando mais convicção do que eu estava sentindo, acenei positivamente. Foi óbvio que ele não acreditou, mas continuou mesmo assim.

− A Ailee não foi mandada para a Hikari no Mori— falou sério. – Ninguém sabe para onde o resto da família Tsukiko foi enviado. Eu verifiquei isso hoje, quando estava caçando.

Vocês devem estar se perguntando, como você reagiu, Katsuo? Pois bem, eu poderia ter gritado; esperneado; surtado de alguma maneira, mas apenas fiquei ali, parado, encarando Seiji e pensando em um jeito de encontrar Ailee e entender o porquê de tudo aquilo estar acontecendo.


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Notas finais do capítulo

Deixem seus reviews para eu saber que não estou sozinha, pessoal! ><.



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