Série Lobos II - O Clã da Lua escrita por M Schinder


Capítulo 8
Oitava Caçada: Caminho


Notas iniciais do capítulo

Voltei! Depois de longo tempo (para terminar meus livros da série Viajando pelos Mares), poderei me concentrar um pouquinho nessa aqui :3

Espero que gostem do capítulo!



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O dia em que o senhor Tsukiko passou o poder para o novo senhor feudal, conhecido como Aiko Sora, foi um dia negro para mim e quase toda a população de fora do palácio.

O nosso novo senhor era muito redondo, incrivelmente, na verdade. Eu, pelo menos, nunca vira ninguém com aquela forma. Era muito baixinho também e possuía uma barbicha que me fazia ter vontade de dar risada a cada palavra que escapava por sua boca e a movimentava como uma cobra. Além dessas coisas, sua voz era mais fina do que a de uma criança e nada mudaria minha opinião de que ele não era uma garotinha disfarçada. Se minha situação não fosse tão trágica; se minha população não estivesse perto de sua decadência, eu teria dito muitas verdades para aquele senhor.

Aiko Sora não parecia grande coisa e algo no modo como meu pai agia perto dele me fez acreditar que ele escondia alguma coisa. Sem grandes esperanças de me aproximar dele, pois parecia que eu fora excluído tanto das tarefas quanto do palácio, decidi que ganharia muito mais tentando encontrar Ailee e o resto da família Tsukiko.

Era uma tarde de domingo quando eu estava próximo da saída do palácio. Na porta, parado bem no meio do caminho, estava meu "amado" pai. Encarando minha forma lupina como se estivesse vendo algo minúsculo e insignificante. Percebendo que ele não abriria o caminho, apoiei-me sobre as patas traseiras, levantei o corpo e assumi minha forma humana. Sabem o mais deprimente? Ele continuava sendo maior do que eu, mesmo que eu já estivesse quase completando minha idade adulta.

− Precisa de alguma coisa, pai?

− Para onde está indo? – questionou sério.

− Acho que posso ir e vir quando quiser – retruquei irritado.

− Se sair por essa porta, nunca mais poderá voltar – avisou descruzando os braços e saindo do meio do caminho. Deixando-me completamente pasmo e confuso. – Pode ir se quiser, mas irá perder tudo.

As palavras dele ecoavam por minha mente. Eu estranhara que não havia ninguém nos postos de vigia ou patrulhando pelos jardins, mas as coisas andavam tão esquisitas que não foi um real motivo para me preocupar até aquele momento. Meu pai começou a trilhar seu caminho para o interior do palácio e quando estava quase passando por mim foi que eu entendi que deveria falar alguma coisa ou tentar entender.

− Do que você está falando? – perguntei sem a certeza de que obteria uma resposta.

Meu pai parou no meio do caminho, bem ao meu lado. Pela primeira vez – e podem ter certeza que eu mesmo fiquei muito surpreso, considerando a minha frustração de minutos antes – eu notei que conseguia olhá-lo diretamente nos olhos. Como se finalmente estivéssemos no mesmo nível.

− Você não vai poder mais voltar, se sair – respondeu simples. – Essa é uma das novas regras para toda a matilha. Qualquer um que deixar essas terras será exilado.

− Quem decretou essas regras?

− Se quiser voltar a ver Ailee, tem que ficar aqui – continuou ignorando minha pergunta. – Nunca irá encontrá-la novamente se sair.

Era clara a ameaça e óbvio que ele sabia onde ela estava. Todavia, eu tinha minhas suspeitas sobre quem decidira aquelas coisas e se algum dia Ailee voltaria para casa. Algo fazia com que meu estômago revirasse e, por vários instantes, eu senti como se sair fosse a pior coisa do mundo.

− A escolha é sua – repetiu e, como se a conversa houvesse terminado, ele se virou e continuou em frente como se eu não existisse.

Já sentiram ódio? Pressão? Desespero? Nada disso descrevia o que eu sentia naquele momento. Era como se nada do que eu conhecia pudesse se aproximar do que sentia. Torci meu nariz, segurando com ainda mais força o fio da bolsa que carregava. Estava pronto para dar minhas costas para a porta quando um vento muito mais forte chocou-se contra mim, empurrando-me para trás.

− Mas o quê...? – perguntei-me quando, de repente, o vento aumentou ainda mais e eu quase cai no chão por sua força.

− Ao leste. Jikan no Shinden (templo do tempo). Bokyaku no han'i (cordilheira do esquecimento).

As palavras literalmente acompanharam o vento. Era como se alguém estivesse me dizendo para largar tudo que conhecia; que acreditava; por destinos que eu nem mesmo reconhecia. Olhei para os lados, perdido. Eu era uma pessoa crédula antes, mas, depois dos acontecimentos, todos os pelos em meu corpo começaram a duvidar dos deuses e de suas intenções.

− Nem pensar! Eu não vou arriscar minha vida sem ter a certeza de que estou indo para o caminho certo! De que ela está bem! – gritei com todas as minhas forças para o céu. – Vamos! Respondam! Não são vocês que sabem e podem prever tudo?!

Sabe o que é pior em ser um mortal? Nós nunca somos levados a sério. Nenhuma resposta apareceu nas nuvens; nenhum deus desceu dos céus confirmando o que eu queria saber. Nada. As nuvens continuavam arrastando-se levemente pelo céu enquanto meu coração batia acelerado. A única certeza que eu tinha era que não fazia parte de mais nada; que perdera o lugar que conquistara e entre os de minha raça. Tsukuyomi nos abandonara; Izanagi aproveitara e estava controlando tudo que eu conhecia. Meu pai não agia como se fosse meu pai e Hidetaka escondera coisas de mim – ação que eu nunca esperaria dele. Ser um renegado e estar tão longe de Ailee não faziam parte de meus planos. Um latido baixo retirou-me de meus pensamentos negativos.

Issa estava ali, abanando o rabo e apoiando suas patas dianteiras sobre minhas pernas. Talvez fosse o único ser vivo em todo o feudo Tsume que ainda estivesse feliz por algo. Ele desceu de onde estava e correu em direção a porta, latindo e apontando.

Sabe o que é ainda pior? Eu não fazia a menor ideia do que estava por vir e, mesmo assim, peguei a pequena sacola que carregava comigo e caminhei em direção ao portão, seguindo meu melhor amigo. Cada passo que dava era como se eu caminhasse para a maior loucura de minha vida. Mas, vamos lá, desde quando a minha vida não foi a maior loucura?


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Notas finais do capítulo

E aí? O que acharam? Talvez não seja o melhor retorno, mas retornei e Katsuo está se preparando para sua jornada - ou não kkk.
Espero que deixem suas opiniões nos reviews (ou até mesmo por MP) :3



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