Série Lobos II - O Clã da Lua escrita por M Schinder


Capítulo 20
Vigésima Caçada: Meu Destino


Notas iniciais do capítulo

Será que o Katsuo está pronto? Preparado para enfrentar a morte?
Vamos descobrir juntos, porque nem ele mesmo tem certeza!

Boa leitura!



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Fui acordado, pela primeira vez em muito tempo, pelo canto dos pássaros e não por um pesadelo onde minha morte era o espetáculo principal – eu torcia para que fosse só um pesadelo e não outra das visões que o deus mostrava a mim.

Nenhum som vinha do lado de fora – naquele momento e desde que eu chegara estava ocupando o quarto de Hidetaka. Há uma semana estávamos esperando por aquele dia e nada parecia diferente. Suponho que o dia de sua morte não vá parecer diferente dos outros também, mas vamos tentar evitar pensamentos pessimistas.

Ergui-me do chão, tentando esticar todos os músculos e coloquei-me em pé. Manter a forma humana se tornara fácil novamente, mas eu ainda estava com medo de voltar a ser lobo. Se perdesse minha consciência, o que aconteceria a nossos planos?

Estava pronto para me revirar em meus próprios pensamentos quando a porta do quarto deslizou para o lado e o som de madeira batendo contra madeira chegou aos meus ouvidos.

— Vamos, Katsuo. É bom tomar um banho e se preparar — avisou Seiji com um enorme sorriso distorcido no rosto. — Está na hora da caçada.

Sabe aqueles momentos em que você se pergunta se está apoiando a pessoa certa? Conhecem essa sensação? Porque eu não conhecia até o momento em que Seiji me empurrou para o lado de fora e mandou que eu parecesse confiante e vitorioso.

O lobo estava parecendo um maluco com as mudanças de expressões contínuas e a crescente animação a cada vez que fala sobre caçar seus inimigos. Isso porque era ele quem estava chamando-os de família na noite anterior.

O resto do povo estava esperando ansioso por nossa chegada. Pareciam mais prontos do que eu – o que não seria uma coisa muito difícil. Aqueles eram os únicos que tiveram coragem de querer enfrentar a matilha do palácio, a maior parte, incluindo crianças e velhos, ficou no feudo para não levantar suspeitas ou por não querer se encrencar. Vejam por esse ângulo: o lado que ganhasse não implicaria com eles.

— Katsuo irá entrar no palácio enquanto nós chamamos a atenção dos outros lobos — explicou Seiji apontando para os muros que separavam o feudo da morada dos soberanos. Sério, há alguns dias eu acreditava que meu amigo seria um líder melhor do que eu. — Vocês estão prontos?

Eles uivaram e partiram. Enquanto o grupo era guiado por Kriran, Seiji empurrou-me para frente, ainda sorrindo como um maluco.

— Vamos, está na hora.

***

Normalmente, em minha infância, quando chegava a hora dos meus irmãos aprenderem alguma coisa, eu ficava para trás, porque simplesmente não gostava de seguir ordens e fazer a mesma coisa que os outros. Tanto que cresci como um lobo e começava a acreditar que morreria como um.

Acabei dando a volta por trás, evitando ficar próximo do grupo. Alguma coisa me dizia que se fizesse aquilo apenas seria pior para eles. Se Katsuo não está perto, eles não são inimigos.

Issa tinha desaparecido entre o grupo. Era melhor assim. Talvez, se eu precisasse proteger alguém acabasse apenas piorando as coisas ainda mais. Escalei o muro do palácio mais uma vez. Sozinho. Sabe, era ótimo fazer parte de uma alcateia e ter que resolver tudo sozinho. Uma beleza enorme.

Encontrei-me novamente no Iro no Seiiki (Santuário das Cores). As cores haviam desaparecido completamente, o que era muito triste, e o lugar estava vazio como antes. Eu podia ouvir rosnados vindo da direção da entrada principal, dos dois lados. Era óbvio que o confronto havia iniciado.

Tentei desligar meus sentidos do que acontecia do lado de fora.

Só havia um lugar onde meu pai poderia estar junto a Aiko Sora. Caminhei decidido para o lado de dentro. Quase toda a matilha tinha sido chamada para o muro.

Foi fácil cruzar o caminho até a parte onde os quartos da família Tsukiko ficavam, no lugar mais distante do castelo. Observei, com curiosidade a porta de acesso deslizar para o lado. Uma figura baixa, com cabeços brancos e rosto enrugado apareceu na minha frente. Sua tranquilidade me irritou.

— Quem é você? — perguntei sério. Minha voz humana saiu mais alto do que eu queria.

— É a sua chance de voltar atrás, Katsuo — avisou o homem deixando que sua testa se enrugasse. — Se desistir agora, deixo levar a princesa. Deixo os dois em paz. O que me diz?

“Vai se foder” respondi em pensamento, mas decidi que continuar calado era a melhor opção. Eu tinha suspeitas sobre quem era aquele velho, mas meu problema, naquele momento, não era com ele.

— Ou é ela ou a posição, Katsuo — continuou com um sorriso maldoso. — Se você assumir, terá a obrigação de se manter longe, de ser um lobo.

Um calafrio desceu por minha espinha. “A obrigação de ser um lobo”. A cena da morte do primeiro Hogosha voltou a minha mente. Ele era um lobo quando morreu, mesmo tendo a forma humana. Senti o corpo querendo dar meia-volta. Meu lado humano estava morrendo de medo. Queria encontrar Ailee e gritar o que sentia, pedir desculpas por ser fraco e covarde. Fugir com ela. Contudo, meu ser original se manteve firme. O que seria de minha alcateia se eu desistisse ali? O que Ailee pensaria se eu fugisse?

— Vá para o Inferno — pedi cansado de segurar minha raiva.

— Sua escolha — murmurou o homem irritado. — Vamos nos encontrar novamente.

E sumiu, como se nunca estivesse estado lá. No lugar dele, apareceu Tsukuyomi. Sua expressão, pela primeira vez, estava assustada e aparentava querer sair correndo dali.

— Por favor, Katsuo, não entre lá.

— Mas sobre a posição...

— Vocês podem ir embora, começar um novo feudo — insistiu desesperado. — Ailee já está com Hidetaka, estão vindo.

— Se formos embora, o que vai acontecer? — perguntei surpreendendo-o.

— Kobayashi vai conseguir o que ele quer... Mas Izanagi não poderá fazer nada até que se reergam e, depois, eu...

— Esqueça — interrompi-o cansado. — Se esse deus idiota vai continuar atrás da gente, não vou entregar meu feudo a ele desse jeito. Além do mais, não foi você quem disse que eu mando no meu próprio destino? Não vai ser ele que vai ditar o que acontece comigo depois disso.

Empurrei um Tsukuyomi chocado para fora de meu caminho com delicadeza. Vocês querem saber de uma coisa? Cansei. Dos deuses. Do meu pai. Do feudo. De tudo. Ailee decidiria se queria ficar comigo ou se sentia o mesmo que eu; Seiji e Hidetaka seriam os únicos a me dizer que eu tinha a obrigação de ser o líder ou não; meus irmãos quem iriam me dar lição de moral quando eu estivesse errado. Meus passos pesados me guiaram até a sala em que aconteciam as reuniões com o senhor Tsukiko.

— Finalmente você chegou, Katsuo. Já estava sentindo sua falta.

Olhei para meu pai com raiva. Aquele era o homem que estragara tudo que eu conhecia e que me colocara no mundo para enfrentar aquelas dificuldades. Um merda.

— Vamos resolver isso de uma vez, pai.


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Notas finais do capítulo

Eles vão se resolver? Kobayashi tem salvação? O que acham? Apostas?



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