Herdeira da Lua escrita por Julipter, Julipter


Capítulo 31
Especial - Leo e Cheshire




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Janeiro de 2018

Ele estava me cobrando.

Eu não suportava mais aquele gato!

—Para de me encarar com essas fendas que você chama de pupilas. – Eu disse, cruzando os braços.

—Mãe, o Leo ta falando com o gato e não quer jogar comigo! – Artur reclamou, balançando o controle do videogame no ar.

—Vai jogar com a Analu. – Desdenhei.

—Ela não ta em casa. Para de falar com o gato e vem jogar comigo.

—O nome dele é Cheshire e eu preciso ter uma conversa muito séria com ele, você me dá licença? – Empurrei Artur porta a fora e encarei novamente o gato.

Ele era terrível.

Ele rasgava os meus lençóis e deixava minha mãe maluca. Maluquinha.

—Olha só, cara, você tem a sua cama. Por que não sai da minha?

Cheshire deu um miado escandaloso.

—Tá legal! – Marchei até a cama e balancei a coberta. Ele tinha que desgrudar dali! – Essa é a minha cama, são os meus lençóis e é a minha mãe, ouviu? Você não pode pular nos braços dela como se fosse a Itália! Ela não é a Itália, ela tem cabelos pretos!

Foi então que ele saiu voando pelo quarto.

Eu vou matar o gato da Itália. Socorro, eu vou matar o gato dela.

Ele chiou e caiu perfeitamente. Em cima da minha bola.

Senti que ia chorar enquanto apreciava o magnífico som do ar se esvaindo do objeto que proporcionava toda a minha alegria.

E o gato se espreguiçou no chão de forma graciosa.

—Por que eu não te odeio? Você é terrível. – Me joguei na cama, encarando o teto.

Eu não estava jogando videogame com Artur, nem carregando Analu nos ombros por aí.

Videogame me lembrava Itália e das nossas tardes jogando Super Mário enquanto eu falava da minha paixão da semana e ela ria das minha piadas.

Carregar Analu nos ombros me lembrava de quando venci o primeiro jogo daquele campeonato da escola e carreguei Itália até o ponto de ônibus. E aí ela teve uma ressaca e ficou duas semanas sem falar comigo.

Ela foi embora e me deixou o gato. Eu tinha que cuidar dele. Eu precisava cuidar dele, eu precisava senti-la por perto, imitar o sotaque dela toda vez que eu chamasse por Cheshire.

Mas não estava dando certo. Ela me confiou ele e eu não era a pessoa certa pra isso.

Por que não a Julia? Ele faria uma companhia e tanto para a irmã dela naquela casa impecável. Ele daria vida àquela casa impecável!

E o Henri. Foi ele quem deu o gato para Itália. Não era justo que o pegasse de volta? Além disso, estava morando com Lucy. Lucy adora animais.

Ou Matteo. Ela amava tanto o Matteo, e não deixou nada pra ele além de um desenho que jogaram fora.

Por que eu?

Cheshire pulou na cama novamente e se aconchegou ao meu lado. Me virei para ele.

—Eu sei que sente falta dela, carinha. Eu também sinto. Mas já faz meses. Você vai ter que se acostumar comigo. Você... É meu agora.

O gato ronronou quando toquei seu pelo. Eu sorri ao passar o polegar pela manchinha em formato de bota na cabeça dele.

—A gente vai ter que se ajustar um ao outro, pode ser?

Ela me escolheu. Eu tinha que cuidar dele.

De repente, Cheshire se levantou e começou a cheirar o quarto inteiro. Seu rabo estava pra cima.

Ele se debruçou sobre a minha escrivaninha e cheirou a embalagem de café que estava ali. Era do Café da Lili, eu comprei de um sabor novo para experimentar ontem e não gostei nem um pouco.

O gato me olhou.

E saiu correndo pela janela.

—CHESHIRE!

Eu berrei e corri atrás.

Nunca na minha vida eu corri tanto. E eu gostava muito de correr.

Quase fui atropelado pelo menos três vezes. E ele também.

O perdi de vista por um segundo e então avistei um rabinho branco de manchas pretas passando debaixo das pernas de alguém.

Aquele gato era louco. Completamente pirado.

Será que ele estava procurando a Itália? Será que estava voltando pro apartamento dela?

Fiquei sabendo que um velho nada simpático se mudara pra lá. Não seria uma boa experiência.

Não vai pro apartamento. Até porque não dá pra eu correr até lá.

Ele entrou num beco.

Estava querendo que eu fosse assaltado.

Maldito gato.

E, quando me dei conta, era o beco de trás do Café, com as caçambas de lixo.

Lá estava Cheshire, agarrado ao tornozelo de uma moça bonita.

Fiquei estático por três motivos.

1.Vergonha

2.Vergonha alheia

3.Só quando parei de correr percebi o quanto eu precisava de ar.

Apoiei as mãos nos joelhos.

Ele está bem, pensei. Eu é que estou quase tento um ataque.

Voltei o olhar para o gato, e então me dei conta: tornozelos fazem parte do corpo humano. Cheshire estava preso a um corpo.

Levantei os olhos. Eu a conhecia.

Ela tinha longos cabelos azuis, olhos castanhos e lábios rosados. Usava o avental padrão do Café, e, de brinde, dois sacos de lixo nas mãos.

Ah, e estava me encarando.

Era a vocalista da Morgana.

Fernanda.

Ela estava parada com os braços afastados do tronco, como se pensasse que, se movesse um músculo, Cheshire fugiria. Ou simplesmente estivesse com dor, eu sabia o poder daquelas garras.

—V-você perdeu um gato?

Olhei para Cheshire, depois para ela. E sorri.


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